É certo que as instituições de ensino de administração dos Estados Unidos da América ( EUA ) melhorarão radicalmente no curto prazo.
Com rapidez elas melhorarão, contudo, isto ainda não é sabido, embora possa acontecer mais rápido do que qualquer um espere ( se é que não já está acontecendo ). Tampouco está claro como estas mudanças ocorrerão, mas as recompensas econômicas para o conhecimento e a capacitação em administração, depois de noventa anos de persistente declínio, estão em forte ascensão - assim como as penalidades por sua inexistência.
É uma crença universal de que, durante o século vinte, aumentaram as exigências de um emprego como administrador. No entanto, isto se sustenta como verdade apenas em relação a uma minoria deles e, em geral, apenas para os empregos de administrador que sempre tiveram como pré-requisito alto grau de conhecimento em administração, como o também ocorre com os de físico ou engenheiro. Para muitos outros postos de trabalho na administração, a formação educacional em administração dos candidatos geralmente é mais desenvolvida, sem que isto implique uma mudança real do conhecimento ou capacitação exigidas. Onde antes se exigia um diploma do ensino médio ou técnico em administração, por exemplo, hoje se exige formação universitária em administração, embora o posto de trabalho, em si, não tenha passado por qualquer alteração. Mas, para o grupo mais numeroso e aquele que é, de longe, o mais bem avaliado do século vinte - o de mão de obra de baixa qualificação na indústria manufatureira - , nem o conhecimento nem as exigências educacionais se tornaram mais rigorosos. E, enquanto neste grupo as recompensas econômicas pela aquisição de conhecimento ou capacitações eram extremamente altas há noventa anos, hoje diminuíram a ponto de quase desaparecerem.
Há mais de cem anos, um trabalhador industrial precisava de três anos de trabalho continuado para ganhar setecentos e cinquenta dólares, que era o preço original daquele milagre o baixo custo - o Ford Modelo T. E estes duzentos e cinquenta dólares anuais em dinheiro era tudo que um trabalhador deste tipo ganhava naquele tempo - e isto somente na improvável hipótese de estar trabalhando dez horas por dia, seis dias por semana e cinquenta semanas por ano. Não havia benefícios, como previdência social, aposentadoria, seguro de vida em grupo, assistência médica, seguro-saúde, fundo de garantia por tempo de serviço ( FGTS ), nem, é claro, pagamento de horas-extraordinárias por trabalho além do horário do expediente ou aos domingos.
O descendente direto deste trabalhador manual do passado é o operário sindicalizado das indústrias de produção em massa - aço, automóveis, máquinas elétricas, borracha, químicos - , que custa, no mínimo, cinquenta mil dólares por ano ( metade disto em benefícios ), ou o equivalente a noive vezes o preço de um automóvel de baixo custo novo ( em números de mil novecentos e oitenta e três, é claro, desatualizados ). E isto ainda não reflete inteiramente o ganho real de renda, tendo em vista que o operário de hoje, com cinco dias por semana de oito horas de trabalho, tem uma jornada anual trinta por cento menos que sues antecessores, há mais de cem anos. O valor de sua hora trabalhada, comparada aos preços dos automóveis, teve aumento de quarenta a cinquenta vezes. E, embora o custo médio de mão de obra para trabalho de baixa especialização na indústria manufatureira esteja bem abaixo do custo em indústrias de produção em massa, de grande porte e sindicalizadas - quinze dólares por hora, contra vinte e cinco dólares a hora na U.S. Steel - , mesmo assim representa uma renda anual real de trinta mil dólares, ou cinco automóveis novos, ou um aumento de vinte vezes em relação a mais de cem anos atrás ( em valores de mil novecentos e oitenta e três, é claro, desatualizados ).
Esta mudança fundamental na posição econômica do operário de baixa qualificação em países desenvolvidos é o evento social central do século vinte. Jamais houve algo remotamente semelhante na história social. Em grande parte, isto reflete, é claro, o disparado crescimento da produtividade no século vinte. Contudo, embora geralmente denominado aumento na produtividade do trabalho, isto foi conseguido inteiramente mediante o maior investimento de capital, melhores máquinas e ferramentas e, acima de tudo, melhor administração.
Diferentemente de tudo aquilo que Marx considerava científico e absolutamente certo, o trabalho, e especialmente, a mão de obra menos culta e qualificada ( o proletariado, segundo Marx ) receberam todos os frutos do aumento da produtividade e, talvez, um pouco mais. Embora a principal obra de Marx, O Capital, tenha ficado inacabada com sua morte. Suas obras acabadas mais conhecidas são manifestos contratados por trabalhadores e empresários enquanto ele não encontrava um patrocinador para seu livro de economia que ficou inacabado.
Este foi, certamente, um dos feitos mais meritórios da humanidade. O operário de hoje não trabalha mais e por mais tempo do que o de mil novecentos e sete; ele trabalha menos horas e, graças a Deus ( deus de Marx, que era judeu ), com apenas uma fração de tarefas pesadas braçais e dos acidentes de antigamente. Acima de tudo, seu trabalho não demanda conhecimentos ou capacitações adicionais. Na verdade, é puro eufemismo chamá-lo de trabalhador de menor qualificação - nada que se aprenda em apenas três semanas, como ocorre com a maior parte das tarefas de uma linha de produção, pode ser considerada uma necessidade de capacitação. Levava muito mais tempo para que alguém se tornasse um bom cavador de buracos usando pá e picareta.
Entretanto, na maioria das outras ocupações da economia dos EUA, a renda real aumentou com muito mais rapidez. Na verdade, quanto mais capacitações ou conhecimento um posto de trabalho necessite, menos sua renda real aumentou. No começo do século, vendedores de lojas de varejo ganhavam mais ou menos o mesmo que os operários - talvez um pouco mais. Hoje, ganham, em média, entre um terço e metade. Médicos e advogados tinham uma renda real pelo menos cinco vezes maior que a dos operários. O total de seu pacote de remuneração hoje é, em média, menos do dobro do que ganham os operários. Hoje, mesmo fazendo o ajuste pelo menor número de horas trabalhadas, férias mais longas e planos de pensão, os docentes ganham bem menos que um operário sindicalizado.
A maior compreensão das diferenças de renda foi na indústria manufatureira. O diferencial entre pessoas qualificadas ( maquinistas e eletricistas, por exemplo ) e de menor qualificação caiu para cerca de vinte e cinco por cento. Há mais de cem anos, os trabalhadores qualificados ganhavam três vezes mais. Um dos primeiros anúncios da Ford alegava que o Modelo T custava não mais que um bom artesão ganhava em um ano. As pessoas com curso universitário em mil novecentos e dez começavam ganhando vinte dólares por semana, ou três vezes o que ganhava um operário. Hoje, seu salário inicial é menor que o de um operário. Até mesmo os queridinhos da indústria, os detentores de MBAs de prestigiosas escolas de negócio, geralmente precisam trabalhar, no mínimo, cinco anos até que seu pacote de remuneração ultrapasse aquele de um operário sem qualificação que tenha conseguido sobreviver ao período de experiência de trinta dias.
Não é preciso ser um fiel igualitário para se considerar a maior parte destes novos fatos benéficos. Contudo, o subproduto - nem intencional nem previsto - tem sido a consistente desvalorização do conhecimento e das capacitações, com uma regular deterioração dos incentivos para manter a capacidade de desempenho das instituições de ensino.
Há mais de cem anos, a escola era, de modo disparado, o único meio adequado para se escapar da pobreza e da insegurança total. Além disto, era o único meio de se conseguir certa afluência, respeito próprio e respeito da comunidade. O conhecimento e as capacitações não significavam, é claro, garantia de sucesso, mas, sem estas duas coisas, o fracasso era praticamente certo. Assim, havia uma enorme pressão da comunidade nas instituições de ensino para que mantivessem os padrões e que exigissem alto desempenho. São muito comentadas as demandas que os imigrantes judeus destituídos fizeram junto às instituições de ensino de Nova Iorque no primeiro quarto do século vinte. O que raramente se percebe é que foram estas demandas que transformaram aquilo que, em mil oitocentos e noventa ou mil e novecentos, era um sistema de ensino medíocre, ou mesmo inferior, na panela de pressão educacional descrita tão vividamente nas memórias dos escritores judeus nova-iorquinos.
A comunidade rural do Iowa ou os imigrantes suecos de Minnesota colocaram a mesma pressão em suas escolas - e pela mesma razão. "Apenas nos avise se tiver qualquer problema com algum bagunceiro ou qualquer aluno que não queira aprender. Nós cuidaremos dele.". Este foi o recado da comunidade de idosos, passado para a jovem professora que acabara de chegar a uma escola de uma única sala de aula, de uma cidade rural da Nova Inglaterra. E os idosos não estavam brincando.
Empregos que requerem conhecimento e habilidades - ou pelo menos as respectivas credenciais - ainda têm prestígio social muito maior, é claro. E muitas outras forças, além da econômica, exercem influência na escola. Desde a Segunda Guerra Mundial, o conhecimento e as capacitações deixaram de ser os únicos salva-vidas econômicos. Um professor universitário ainda acredita que é uma desgraça um filho seu abandonar os estudos para ir trabalhar em uma linha de produção. Mas o filho consegue levar uma vida tão confortável quanto a de seu pai. E o que o operário vê é que seu filho mais velho, que trabalha como operador de máquina em uma fábrica de vidro, ganha tanto quanto seu filho mais novo, que acabou de se formar na universidade estadual, e que chegou a este patamar salarial muito mais rápido. Não surpreende que este trabalhador passe a querer uma escola atencisa, em vez de uma exigente.
Mas agora este estado de coisas acabou. E teria acabado mesmo que a recuperação da economia chegasse a restaurar os empregos de chão de fábrica, com todos os benefícios e pacote remunerativo completo. A mudança para o trabalho qualificado como área de crescimento da economia e o movimento de larga escala para novas tecnologias significam, acima de tudo, que a produtividade será, cada vez mais, determinada pelo conhecimento e as capacitações que os trabalhadores puderem incorporar às suas tarefas. E, ao final, a produtividade sempre determinará a capacidade de pagamento e o nível de salários reais.
Esta é a razão pela qual é possível dizer, com segurança, que as instituições de ensino americanas irão melhorar - e rápido. Outras informações podem ser obtidas no livro As fronteiras da administração, de autoria de Peter F. Drucker.
Mais em:
https://administradores.com.br/artigos/produtividade-determinando-a-capacidade-de-pagamento-e-o-n%C3%ADvel-de-sal%C3%A1rios .
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