terça-feira, 16 de outubro de 2018

Administração: a separação entre o planejamento e a execução

O primeiro ponto cego da é a crença de que, como se deve analisar o trabalho em seus movimentos componentes mais simples, também deve-se organizá-lo numa série de movimentos individuais, cada um executado, se possível, por um trabalhador individual. O segundo ponto cego da administração científica é a separação entre planejamento e execução - um e seus princípios cruciais. Mais uma vez, um bom princípio analítico está sendo confundido com um princípio de ação. Porém, a separação entre planejamento e execução reflete um conceito filosófico duvidoso e perigoso, defendido por uma elite detentora do monopólio de conhecimentos esotéricos que lhe dão o direito de manipular a plebe ignara.

A descoberta de que o planejamento é diferente da execução foi um dos mais valiosos insights de Taylor. Enfatizar que o trabalho se torna mais fácil, mais eficaz e mais produtivo quanto mais for planejado antes de fazer foi contribuição mais importante para a ascensão da America industrial que o cronômetro e os estudos de tempos e movimentos. Trata-se da base de toda a estrutura da administração moderna. O fato de hoje ser falado com seriedade e significado sobre administração por objetivos é resultado direto da descoberta de Taylor de que planejamento é diferente de execução, e de como ele insistiu na importância dessa constatação.

No entanto, da separação de planejamento e execução na análise do trabalho, não se pode concluir que o planejador e o executor sejam duas pessoas diferentes. Não deflui daí que o mundo industrial deve ser dividido em duas classes de pessoas; umas poucas que decidem o que fazer, que descrevem o trabalho, que estabelecem a velocidade, o ritmo e os movimentos e comandam outras pessoas, e as muitas outras que se limitam a cumprir ordens e a agir conforme as instruções.

Planejamento e execução são partes separadas do mesmo trabalho; não são trabalhos segregados. Nenhum trabalho pode ser executados. Nenhum trabalho pode ser executado com eficácia se não contiver elementos de ambos os componentes. Não se pode apenas planejar o tempo todo. É preciso haver ao menos traços de execução entremeados com o planejamento. Do contrário, não é trabalho; é sonho. Tampouco é possível, acima de tudo, apenas executar; sem traços de planejamento no trabalho, o trabalhador não exerce o controle indispensável, mesmo na tarefa rotineira mais mecânica e repetitiva. Defender a segregação de ambas é como exigir que a deglutição e a digestão dos alimentos sejam funções executadas por organismos diferentes. Para serem compreendidos, os dois processos orgânicos devem ser estudados separadamente. Envolvem diferentes órgãos, estão sujeitos a diferentes doenças e são executadas em diferentes partes do corpo. Porém, para nutrir-se, o mesmo corpo precisa de ambos, do mesmo modo como o trabalho deve envolver planejamento e execução.

A separação enter planejamento e execução proposta por Taylor foi, ao mesmo tempo, especificamente americana e especificamente do século dezenove. Ela descendente da mais antiga tradição americana: a teocracia dos primeiros puritanos a Nava Inglaterra. Ela reveste os conceitos da elite clerical de Increase Mather e de Cotton Mather, pai e filho, com roupagem moderna, mas os deixa, sob outros aspectos, quase imutáveis. E, como os clérigos puritanos, Taylor daí deduziu que a elite planejadora tinha o direito divino de governar. Não é à toa que hoje ouve-se esse direito de governar expresso como a prerrogativa da administração - o termo sempre foi aplicado como direito outorgado por unção divina ou sacerdotal.

Porém, a separação entre o planejamento e execução também foi parte da filosofia elitista que assolou o mundo ocidental na geração entre Nietzsche e a Primeira Guerra Mundial - filosofia que gerou uma prole monstruosa na época de Peter F. Drucker. Taylor pertence à mesma estirpe de Sorel, Lenin e Pareto. Geralmente se considera que esse movimento foi antidemocrático. A afirmação de que o poder se fundamenta na competência técnica - seja por conspiração revolucionária, seja por exercício da administração - é tão hostil à aristocracia quanto a democracia. Ambas contestaram a pretensão com o mesmo princípio absoluto: o poder deve fundamentar-se na responsabilidade moral; tudo o mais é tirania e usurpação.

A separação entre planejamento e execução priva os administradores do plenos benefícios dos insights da administração científica. Ela reduz acentuadamente os resultados a serem obtidos com a análise do trabalho e, sobretudo, as melhorias a serem produzidas pelo planejamento. Peter F. Drucker viu casos que a produtividade aumentou acentuadamente depois que os trabalhadores foram incumbidos do planejamento do trabalho. O mesmo crescimento da produtividade ( para não mencionar os avanços nas atitudes e na autoestima dos trabalhadores ) também foi observado quando se combinou o divórcio entre planejamento e execução como o casamento entre planejador e executor. Outras informações podem ser obtidas no livro Fator humano e desempenho, de autoria de Peter F. Drucker.

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