Nos próximos anos será estabelecido o caminho de longo prazo para os trabalhadores da indústria básica pesada americana. Será que os rendimentos dos trabalhadores e os empregos deste segmento continuarão a diminuir - talvez até mais rápido em bons períodos, quando a indústria consegue arrecadar recursos para investimentos em automação? Ou será que as taxas de emprego se estabilizarão e o valor real dos rendimentos será mantido, pelo menos para a maioria? A decisão será tomada pelos próprios empregados da indústria básica pesada e por seus sindicatos.
A produtividade nas indústrias básicas pesadas americanas precisa ser melhorada consideravelmente. Mas a baixa produtividade não é a verdadeira vilã. Certamente, a Toyota tem um número muito menor de trabalhadores em sua folha salarial por automóvel do que a General Motors Company ( GMC ). Por outro lado, comparada à GMC, a Toyota compra o dobro - ou mais - de componentes de fornecedores externos. Quando se fazem os devidos ajustes, descobre-se que os carros fabricados em Detroit ainda requerem um número menor de homens / hora para sua produção. Entretanto, o custo destes homens / hora é cinquenta por cento maior que o dos japoneses. Apesar disto, a Toyota, em Nagoya, ou a Mercedes, em Stuttgart, não contratam mão de obra barata; o pacote remuneratório total dos trabalhadores japoneses ou alemães é exatamente o mesmo que aquele da maioria dos trabalhadores industriais americanos for ada indústria básica pesada, sejam eles sindicalizados ou não - cerca de trinta mil dólares por ano ( em dólares de mil novecentos e oitenta e cinco ), ou quinze dólares a hora, contando todos os adicionais e benefícios. Acontece que uma hora de trabalho em uma siderúrgica integrada nos Estados Unidos da América ( EUA ) - na U.S. Steel, Behtlehem ou Armco, por exemplo - ou em qualquer outra das principais indústrias básicas pesadas custa vinte e cinco dólares ( quinze dólares em salário pago em dinheiro e mais dez dólares em adicionais e benefícios ). Isto equivale a cinquenta mil dólares por ano para um trabalhador em tempo integral. E nenhuma indústria seria capaz de superar esta desvantagem de custo de mão de obra em um mercado competitivo, não importa o quanto aumente sua produtividade.
Na raiz de tudo isto - e, na verdade, muito mais importante que dólares e centavos - , estão os pressupostos básicos implícitos nas remunerações das indústrias básicas pesadas americanas. Um pressuposto cultivado como artigo de fé, especialmente por líderes sindicais de menor expressão, agentes de negócio ou líderes locais, é o de que as grandes empresas têm um controle oligopolista do mercado, isto é, elas podem, praticamente sem qualquer limite, passar adiante os custos mais altos na forma de preços mais elevados. Persiste a antiga ilusão de que os capitalistas pagam salários a partir dos lucros - embora os salários e rendimentos em uma economia adiantada representem cerca de oitenta e cinco por cento das receitas e dos lucros de, no máximo cinco por cento ou seis por cento. a maior parte dos líderes sindicais ainda enxerga a força de trabalho de forma homogênea e como se fosse composta por adultos do gênero masculino, trabalhando em tempo integral, e que seriam os principais provedores de suas famílias. Finalmente, existe uma forte crença de que o valor de um benefício não é determinado pelo que ele traz para o beneficiário, o empregado, e, sim, pelo que custa para o empregador. Se determinado benefício custar mais ao empregador, é automaticamente visto um ganho para o trabalhador e uma vitória do sindicato. Estes pressupostos talvez fossem defensáveis ha setenta anos, quando salários em dinheiro correspondiam a noventa por cento do total de remunerações dos trabalhadores americanos e dos benefícios eram exatamente isto, não mais do que seis ou sete por cento. Isto em uma época em que se acreditava ( como era o caso de Eleonor Roosevelt, por exemplo ) que as mulheres casadas estariam alijadas da força de trabalho americana até mil novecentos e oitenta. Hoje, no entanto, estes pressupostos são absurdos e altamente prejudiciais, principalmente para o empregado.
A primeira coisa que a indústria básica pesada precisa - e os próprios trabalhadores confirmariam isto - é do maior número possível ( expansão ) de empregos, menor taxa de perda de postos de trabalho ( desemprego estrutural ) e maior continuidade no emprego ( menor turn over ). O melhor seria provavelmente uma velocidade mais lenta na redução de postos de trabalho a um ponto em que, apesar da automação e das mudanças estruturais da indústria, esta perda não exceda a queda do número de novos entrantes na força de trabalho ( de cerca de trinta por cento nos próximos oito anos, como resultado da queda de natalidade - fator demográfico - após os anos sessenta ), que estão disponíveis para trabalhos manuais tradicionais.
Mas isto é quase certamente mais do que se poderá conseguir. A segunda necessidade da indústria básica pesada é, portanto, de um amortecedor para as consequências d diminuição de empregos, isto é, para o provisionamento de aposentadorias prematuras das pessoas mais velhas e dos retreinamento e da recolocação das pessoas de meia-idade.
A terceira seria a necessidade de se manter o máximo rendimento possível para os trabalhadores da indústria básica pesada.
E a quarta, a necessidade urgente de reestruturação dos benefícios, de forma que eles possam atender á realidade da força de trabalho de hoje. É necessário assegurar de que o benefíciário consiga extrair o máximo possível pelo dinheiro destinado a benefícios.
Estas necessidades poderão ser classificadas por ordem de importância de forma diferente por outras pessoas, mas haverá pouca discordância quanto a seu conteúdo. Elas resultam, contudo, de políticas remuneratórias radicalmente diferentes e altamente controversas.
Em primeiro lugar, uma grane parte dos salários precisa ser flexível, e não fixa. Deve estar atrelada a desempenho, lucratividade e produtividade, sendo que a remuneração em dinheiro deve ser maior - talvez, bem maior - em anos bons e menor - talvez, bem menor - em anos ruins. Esta talvez seja a maior quebra de tradição à qual a administração deverá resistir tanto quanto os líderes sindicais. Gerentes intermediários e supervisores, particularmente, se oporão a isto. Não há nada de que se ressintam mais do que um subordinado ganhar mais dinheiro que eles. Contudo, os trabalhadores também têm, tradicionalmente, aceitado pagamento por produtividade e lucratividade apenas como um bônus adicional a seu salário fixo. De modo geral, rejeitam a ideia de haver cortes em seus salários em épocas difíceis. "Não é justo penalizar os trabalhadores por falta de desempenho dos empregados da empresa", este tem sido o argumento de praxe, mas quilo de que se precisa agora - e o que é hoje do próprio interesse dos trabalhadores - é um ajuste das flutuações econômicas mediante a aplicação de custos salariais flexíveis, em vez de aumentar o desemprego. Isto porque, nas indústrias básicas pesadas, é improvável que o desemprego seja cíclico ou temporário, mas sim estrutural e permanente. Um terço dos pagamentos em dinheiro nestas indústrias - o terço que excede o salário prevalente da indústria americana - pode ser, então, considerado flexível e contingente do desempenho ( e, é claro, nos anos bons, isto poderia exceder em muito um terço ). Onde quer que se tenha feito algo parecido, como na Lincoln Electric, em Cleveland, por exemplo, os resultados foram salários dos trabalhadores substancialmente maiores, por longos períodos, com alta estabilidade no emprego.
E, então, para satisfazer a segunda necessidade, as remunerações geradas a partir de produtividade e lucratividade poderão ser usadas como amortecimento para o encolhimento dos postos de trabalho, para prover os fundos de pensão necessários ao atendimento dos aposentados prematuros, mais velhos, ao retreinamento de pessoas de meia-idade e aos recursos necessários para sua recolocação ( trabalhadores mais jovens, com menos de trinta anos de idade, costumam ser altamente móveis e capazes de encontrar, por si próprios, novas colocações ).
Hoje, os benefícios são os mesmo para todos, novos e velhos, homens e mulheres, casados e solteiros. Com uma força de trabalho que se tornou tão heterogênea quanto a americana, isto significa que uma parte substancial do dinheiro dos benefícios é desperdiçada: alguns estimam este valor em quarenta centavos de dólar por dólar. Se os dois parceiros de um mesmo casal trabalharem - e, entre os que têm menos de cinquenta anos de idade, esta é a regra hoje - , ambos terão direito a um plano completo de saúde, embora apenas um possa ser reembolsado. A esposa, ainda que trabalhe em tempo integral, geralmente não permanece o tempo necessário em um único emprego para ter direito a uma pensão de aposentadoria - no entanto, ela é descontada pelo valor integral da contribuição, além de pagar à Previdência social, da qual, mesmo que viva por mais tempo que seu marido, jamais terá um tostão de volta. contudo, a contribuição para o fundo de aposentadoria e da Previdência Social já soma mais de um quinto de seu salário em dinheiro. Com o aumento previsto para a Previdência social, estas contribuições logo passarão de um quarto do salário. Mas há também o homem solteiro, que tem por volta de vinte e oito anos de idade e, que em sua idade, se sairia muito melhor se colocasse de quinze a vinte por cento de seus rendimento em um fundo de aposentadoria, em vez de ganhar um salário maior em dinheiro, mas sujeito a altíssima tributação. Da mesma forma, o mesmo empregado, vinte anos mais tarde, com quarenta e oito anos de idade e filhos na universidade, poderá beneficiar-se muito ao trocar uma contribuição menor para a aposentadoria por um salário em dinheiro maior, e assim por diante. Com os benefícios uniformes e totalmente inflexíveis, os sindicatos, compreensivelmente, precisam ser duros nas negociações para obter benefícios para todos. Cada um dos ganhos ajuda apenas uma minoria de seus membros, mas penaliza todo mundo ao criar desemprego, com a indústria cada vez menos capaz de competir. O que as indústrias básicas pesadas precisam - e, diga-se de passagem, aquilo que os japoneses sempre tiveram - é de um pacote de remuneração total. O valor total disponível por hora ou por empregado é fixo, mas cada trabalhador pode escolher quanto do pacote deve ser em dinheiro e quanto em benefícios. E entre estes benefícios, quais das opções disponíveis oferecem os maiores benefícios reais para o indivíduo, segundo seu status na vida e no círculo familiar. Sempre que benefícios tão flexíveis foram introduzidos, os resultados foram o aumento mensurável da satisfação dos empregados, para não dizer dos rendimentos reais, e um acentuado corte de custos dos benefícios, às vezes chegando a um terço ou mais.
Peter F. Drucker chegou a dizer que, sempre que discutia estes assuntos sindicais, eles assentiam e diziam: "Você está inteiramente certo. É disto que se precisa.". Então, acrescentavam imediatamente: "Mas por que deveríamos colocar nossos pescoços para fora e propor algo tão difícil, tão novo e tão diferente de tudo aquilo que dissemos a nossos sindicalizados durante todos estes anos? Não somos pagos para cuidar dos interesses da empresa. Isto é trabalho de sua administração.". Acontece que isto é uma interpretação totalmente equivocada da realidade. As indústrias básicas pesadas têm alternativas. Elas podem transferir os empregos que requerem trabalho braçal para o Terceiro Mundo - começando pelo México, que fica logo ali, ao sul dos EUA - , onde existe abundante mão de obra de baixo custo. Podem também automatizar - e, do ponto de vista tecnológico, é possível agora facilmente multiplicar a velocidade da automação. No entanto, também o movimento sindical nas empresas privadas da economia americana tem encolhido regularmente nos últimos setenta anos e já encontra-se em um patamar abaixo da proporção da força de trabalho que foi organizada antes de os atuais sindicatos da indústria de produção em massa nascerem na grande onda de sindicalização das indústrias básicas pesadas. Na verdade, são os trabalhadores destas indústrias e seus líderes sindicais que não têm escolha. Ou tomam a iniciativa de desenvolver novos conceitos e políticas para remunerações e benefícios ou terão de se defrontar com a rápida diminuição e o eventual desparecimento de seus sindicatos ou fusão destes com outros. E não seria o líder dos trabalhadores, segundo a famosa frase do fundador dos sindicatos das indústrias básicas pesadas, John L. Lewis, "pago para zelar pelos interesses de seus sindicalizados"? Outras informações podem ser obtidas no livro As fronteiras da administração, de autoria de Peter F. Drucker.
Mais em:
https://administradores.com.br/artigos/administra%C3%A7%C3%A3o-sindical-novos-conceitos-de-remunera%C3%A7%C3%B5es-e-benef%C3%ADcios .
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