quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Gestão de pessoas: a análise do trabalho e as qualidades das pessoas

A administração científica, apesar de todo o seu sucesso mundial, não conseguiu resolver o problema da administração do trabalhador e do trabalho. E, como acontece com frequência na história das ideias, seus insights são apenas meio insights. Ela tem dois pontos cegos: um de engenharia e outro de filosofia. E o que ela não vê é tão importante quanto o que vê; na verdade, se não for possível ver onde a administração científica tem sido cega, é até possível que se percam os benefícios de sua visão genuína.

O primeiro desses pontos cegos é a crença de que, como se deve analisar o trabalho em seus movimentos componentes mais simples, também deve-se organizá-lo numa série de movimentos individuais, cada um executado, se possível, por um trabalhador individual. É possível que o próprio Taylor tenha percebido a necessidade de integrar; Harry Hopf decerto se deu conta dessa premência. porém, praticamente todos os outros autores - e todos os profissionais - veem no movimento individual a essência da boa organização do trabalho.

Isso é falsa lógica. Confunde o princípio da análise com o princípio da ação. Segregar e integrar são coisas diferentes. Confundir as duas  é extremamente acientífico. O princípio da ciência é a constatação de que a classificação, embora absolutamente necessária, não indica nada importante sobre a natureza do objeto classificado.

A crença em que o trabalho é mais bem desempenhado da maneira como é analisado também é péssima engenharia.

A melhor prova disso é a maior realização decorrente da aplicação dos conceitos basilares da administração científica: o alfabeto. Seu inventor, um funcionário anônimo numa cidade comercial semita há muito esquecida há mais de três mil e quinhentos anos, nunca receberá a medalha de outro do Congresso Internacional de Administração. Mas sua análise dos elementos básicos, simples e padronizados, subjacentes aos milhares de pictogramas, ideogramas, logogramas, sinais silábicos e marcas fonéticas das diferentes formas de escrita de seu tempo e sua substituição por duas dúzias de sinais capazes de expressar todos os sons e de transmitir toda as palavras e pensamentos foi pura administração científica - do mais alto nível. No entanto, o alfabeto seria não só totalmente inútil, mas também uma barreira completa à comunicação se fosse dito "ge-a-te-o" quando a intenção fosse dizer "gato", apenas por que é soletrada a palavra com essas quatro letras.

O trabalho de integrar letras em palavras não é simples. mesmo crianças com deficiência conseguem aprender as letras; porém, até as mais brilhantes têm dificuldade em dar o salto de "ge-a-te-o" para "gato". Com efeito, praticamente todas as dificuldades de leitura das crianças ( o maior problema do ensino fundamental ) se situam na integração das letras em palavras. Sebe-se que muita gente nunca aprende a fazer isso, mas aprende a reconhecer palavras e sílabas comuns - aprende pictogramas e ideogramas, em vez de letras. Mas o alfabeto não só triunfou, apesar da dificuldade de integração, como também fez da integração seu triunfo e sua verdadeira realização.

Finalmente, a confusão entre análise do trabalho e ação no trabalho é má interpretação das propriedades dos recursos humanos. A administração científica tem a pretensão de organizar o trabalho humano. Mas presume - sem qualquer tentativa de testar ou de validar a presunção - que o ser humano é uma máquina-ferramenta ( embora mal projetada ).

É absolutamente verdadeiro que temos de analisar o trabalho em seus elementos componentes. É inequívoco que é possível melhorar o trabalho melhorando a maneira como se executa cada uma das operações. Mas é simplesmente falso que, quanto mais o trabalho se limita ao movimento ou à operação individual, melhor o ser humano o executará. Isso não é verdade nem mesmo em relação à máquina-ferramenta. Afirmá-lo em relação ao ser humano é tolice. O ser humano não é bom nos movimentos individuais. Analisando como máquina-ferramenta, o ser humano é mal projetado. É preciso deixar de lado todo um conjunto de considerações, como vontade, personalidade, emoções, apetites, e alma. Ainda que se observe as pessoas apenas como recurso produtivo e somente do ponto de vista de engenheiros interessados exclusivamente em insumos e produtos, não há escolha a não se aceitar o fato de que a contribuição específica das pessoas é sempre executar muitos movimentos a serem integrados, equilibrados, controlados, medidos e avaliados. As operações individuais de fato devem ser analisadas, estudadas e melhoradas. Mas os recursos humanos serão empregados produtivamente apenas se o trabalho for composto de operações, se exigir e ativar as qualidades específicas das pessoas. Outras informações podem ser obtidas no livro Fator humano e desempenho, de autoria de Peter F. Drucker.

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http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/gestao-de-pessoas-a-analise-do-trabalho-e-as-qualidades-das-pessoas/112070/    

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