domingo, 23 de agosto de 2020

Tecnologia: começa com um novo conhecimento que é convertido em um processo produtivo

A imprevisibilidade da tecnologia é um slogan antigo. De fato, ele abriga, em grande parte, o medo generalizado da tecnologia. No entanto, não chega nem mesmo a ser verdade que a invenção não pode ser antecipada e planejada. Na verdade, o que tornou grandes os grandes inventores do século dezenove ( Edison, Siemens ou os irmãos Wright ) foi precisamente o fato de saberem como antecipar a tecnologia, definir o que era necessário e o que provavelmente teria impacto real, e planejar a atividade tecnológica para a inovação específica com maior impacto tecnológico; e, em consequência, com o maior impacto econômico.


Em relação á inovação, é ainda mais verdadeiro que é possível antecipar e planejar; de fato, em relação à inovação, é preciso antecipar e planejar para ter algum efeito. Certamente é com a inovação, mais do que com a invenção, que o empresário está preocupado. A inovação não é um termo técnico, e sim social e econômico. Ela é a mudança na capacidade de produção de riqueza dos recursos através de novas maneiras de fazer as coisas. Ela não é idêntica á invenção, embora, em geral, venha em seguida a ela. A inovação se preocupa com o impacto na capacidade econômica e na capacidade de produção e de utilização dos recursos. Esta é a área em que a empresa está envolvida.


Deve-se dizer que a tecnologia não é mais previsível do que qualquer outra coisa. na verdade, as previsões da tecnologia são, na melhor das hipóteses, inúteis e suscetíveis de estar totalmente erradas. Júlio Verne, o escritor francês e ficção científicas de há mais de cem anos, é lembrado hoje porque suas previsões acabaram se revelando incrivelmente proféticas. Mas o que se esquece é que Júlio Verne foi apenas um de várias centenas de escritores de ficção científica do final do século dezenove ( que, de fato, foi bem mais a era dos livros de ficção científica do que até mesmo as últimas décadas ). E os outros duzentos e noventa e nove escritores de ficção científica da época, cuja popularidade muitas vezes rivalizava e às vezes até excedia a de Julio Verne, estiveram todos completamente errados. O mais importante, porém, é que ninguém poderia ter feito algo de concreto na época com as previsões de Júlio Verne. Na maioria delas, as bases científicas necessárias para criar a tecnologia prevista não existiam na época e não viriam a existir por muitos anos depois.


Para o empresário ( mas também para o economista ou o político ), o que importa não é a previsão, e sim a capacidade de agir. e esta não pode ser baseada em previsão.


Porém, a tecnologia pode ser antecipada. Não é muito difícil ( embora não seja fácil ) analisar as empresas existentes, os setores industriais existentes, as economias e os mercados existentes para encontrar onde é necessário realizar uma mudança na tecnologia e onde ela é passível de se mostrar economicamente eficaz. Seria um pouco menos fácil, embora ainda dentro dos limites da capacidade humana, pensar nas áreas em que existiria elevado potencial para uma tecnologia nova e eficaz.


Em primeiro lugar, é possível categoricamente dizer que, sempre que um setor industrial desfrutar de uma demanda elevada e crescente, sem conseguir mostrar lucratividade correspondente, existe a necessidade de se realizar uma grande mudança tecnológica e de haver oportunidade neste sentido. este setor industrial pode ser considerado, quase de forma axiomática, como tendo uma tecnologia inadequada, não econômica ou totalmente inapropriada. Um exemplo deste tipo de setor econômico seria a indústria siderúrgica nos países desenvolvidos desde a Segunda Guerra Mundial ou a indústria do papel. Estes são setores industriais em que mudanças relativamente pequenas no processo ( ou seja, mudanças relativamente pequenas na tecnologia ) poderiam produzir importantes mudanças na economia do setor. Assim, estas indústrias que se poderiam tornar propensas à mudança de tecnologia. O processo é economicamente deficiente ou tecnologicamente deficiente; às vezes ambos.


De forma semelhante, também é possível encontrar vulnerabilidades e restrições que fornecem oportunidades para novas tecnologias na economia de um negócio e no mercado e na estrutura do mercado. As perguntas "Quais são as demandas do cliente e do mercado que a atual empresa e a atual tecnologia não satisfazem adequadamente?" e "Quais são as demandas não satisfeitas do cliente e do mercado?" ( ou seja, as questões básicas para o planejamento de mercado ) também são as questões básicas para se definirem quais tecnologias são necessárias, apropriadas e propensas a produzir resultados econômicos com o mínimo esforço.


Uma maneira especialmente proveitosa para se identificarem áreas em que as inovações tecnológicas poderiam ser acessíveis e altamente produtivas seria perguntar: "Do que temos medo neste negócio e neste setor econômico, Quais são as coisas que todos asseguram que nunca poderão acontecer, mas que no entanto, é sabido perfeitamente bem que podem acontecer e poderiam nos ameaçar, Onde, em outras palavras, nós mesmos sabemos no fundo de nosso coração que nossos produtos, nossa tecnologia, nossa abordagem da satisfação que fornecemos para o mercado e o cliente não são verdadeiramente apropriados e não mais atendem completamente à sua função?". A resposta típica de uma empresa a estas perguntas é negar que tenham validade. Trata-se de responsabilidade do gestor que queira administrar a tecnologia em benefício de seu negócio e de sua empresa superar esta reação quase reflexa e forçar que ele mesmo e sua empresa levem a sério estas questões. O necessário nem sempre é uma nova tecnologia. Pode igualmente ser uma mudança para novos mercados ou para novos canais de distribuição. Mas, a menos que a pergunta seja feita, algumas oportunidades tecnológicas serão perdidas ( na verdade, serão equivocadamente consideradamente consideradas ameaças ).


Estas abordagens ( das quais apenas um esboço básico pode ser dado neste texto )  são aplicadas da mesma forma às necessidades da sociedade e às necessidades do mercado. Afinal, a função do empresário é converter a necessidade, seja do consumidor individual ou da comunidade, em oportunidades para a empresa. A empresa e o empresário são pagos exatamente para identificar e satisfazer estas necessidades. Os maiores problemas atuais das cidades, do meio ambiente ou de energia são igualmente oportunidades para novas tecnologias e para se converter a tecnologia existente em ação econômica eficaz. Ao mesmo tempo, ao administrar a tecnologia, o empresário também deve começar com as necessidades de seu próprio negócio por novos produtos, novos processos, novos serviços, em substituição àquilo que rapidamente está se tornando velho e obsoleto; ou seja, o que deve ser substituído hoje. Ao se identificarem as necessidades e as oportunidades tecnológicas, também se deve começar, portanto, com o pressuposto de que é provável que qualquer coisa que a empresa esteja fazendo atualmente ficará obsoleta muito em breve.


Esta abordagem pressupõe uma vida limitada e relativamente curta para quaisquer que sejam os produtos, processos e tecnologias aplicadas hoje em dia. Estabelece, então uma defasagem, ou seja, o volume de vendas a que produtos e processos ainda não existentes terão de atender em dois, cinco ou dez anos. Ela identifica o escopo e a extensão do esforço tecnológico necessário. Mas também estabelece o tipo de esforço que seria necessário, pois determina por que os produtos e processos atuais podem tornar-se obsoletos e estabelece as especificações para sua substituição.


Finalmente, para conseguir antecipar a tecnologia, identificar o que é necessário e o que é possível, e, acima de tudo, o que é provável que seja tecnologia produtiva, o administrador de empresas precisa entender a dinâmica da tecnologia. Não é verdade que a tecnologia seja misteriosa. Ela segue tendências relativamente regulares e previsíveis. Ela não é ciência, como se costuma dizer. Ela não é nem mesmo ciência aplicada. No entanto, ela começa com um novo conhecimento que é convertido, em um processo razoavelmente bem compreendido, em uma aplicação eficaz, ou seja, economicamente produtiva. Outras informações podem ser obtidas no livro Rumo à nova economia, de autoria de Peter F. Drucker.


Mais em:


https://administradores.com.br/artigos/tecnologia-come%C3%A7a-com-um-novo-conhecimento-que-%C3%A9-convertido-em-um-processo-produtivo .    

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