A tecnologia tem sido notícia de primeira página por muito mais de um século; e nunca tanto quanto hoje. No entanto, apesar de toda a conversa sobre tecnologia, não se fez muito esforço par entendê-la ou estudá-la, quanto mais administrá-la. Os economistas, historiadores e sociólogos destacam a importância da tecnologia, mas depois começam a tratá-la com uma indiferença benigna, se não com total desprezo ( sobre isto, vide Nota histórica ao final deste texto ).
De forma ainda mais surpreendente, as empresas e os empresários têm feito incrivelmente pouco para entender a tecnologia e ainda menos para administrá-la. A empresa moderna é, em uma extensão bastante considerável, fruto da tecnologia. Certamente, a grande organização empresarial é principalmente a resposta dos negócios ao desenvolvimento tecnológico. A indústria moderna nasceu quando a nova tecnologia da geração de energia ( principalmente energia hidráulica no início ) forçou as atividades de produção para fora das residências e oficinas para debaixo do mesmo teto de uma fábrica moderna, começando com a indústria têxtil na Grã-Bretanha do século dezoito. e os grandes empreendimentos empresariais atuais têm suas raízes no primeiro negócio importante: nas grandes ferrovias de meados do século dezenove, ou seja, na inovação tecnológica. Desde então, o crescimento das indústrias, até chegar às companhias farmacêuticas e de informática de hoje, tem sido , em grande parte, a consequência de novas tecnologias.
Ao mesmo tempo, as empresas têm crescentemente se tornado as criadoras de tecnologia. Cada vez mais a inovação tecnológica vem do laboratório das indústrias e se torna mais efetiva através de empreendimentos empresariais. Cada vez mais, a tecnologia depende dos negócios das empresas para se tornar uma inovação ( isto é, com uma ação efetiva na economia e na sociedade ).
No entanto, os administradores de empresas, ou pelo menos uma maioria bastante considerável deles, ainda olha para a tecnologia como algo inerentemente imprevisível. Em termos organizacionais e administrativos, a atividade tecnológica ainda tende a ser separada do principal trabalho da empresa e organizada como uma atividade de Pesquisa & Desenvolvimento ( P&D ) isolada e bastante diferente que, embora dentro da empresa, não faz parte realmente do negócio. Além disto, até recentemente os administradores de empresas, em regra, não se viam como guardiões da tecnologia ou de alguma forma preocupados com seu impacto e consequência.
Todo administrador de empresas deve ter claro que esta postura não é mais adequada. De fato, a tese deste texto é que os administradores de empresas precisam aprender que a tecnologia é uma oportunidade de uma responsabilidade administrativa. Isto significa especialmente:
1) A tecnologia não é mais misteriosa e imprevisível do que os desdobramentos na economia e na sociedade. Ela pode ser antecipada racionalmente e exige antecipação racional. Os administradores de empresas precisa entender as dinâmicas da tecnologia. No mínimo, precisam entender as dinâmicas da tecnologia. No mínimo, precisam entender onde é provável haver maior impacto econômico coma a mudança tecnológica e como converter a mudança tecnológica em resultados econômicos.
2) A tecnologia não está separada dos negócios e não deve ser administrada como tal, se é que deve ser administrada. Qualquer que seja o papel desempenhado pelos departamentos de P&D ou laboratórios de pesquisa, a empresa como um todo precisa estar organizada como uma entidade inovadora e precisa ser capaz de realizar inovações e mudanças tecnológicas ( mas também sociais e econômicas ). Isto requer grandes mudanças na estrutura, nas políticas e na atitude.
3) O administrador de empresas precisa se preocupar com os impactos e as consequências da tecnologia sobre o indivíduo, a sociedade e a economia, tanto quanto com quaisquer outros impactos e consequências de suas ações. Isto não é uma conversa sobre responsabilidade pelo impacto de suas próprias ações. E o indivíduo sempre é responsável por seu impacto.
Nestes últimos quarenta anos, tem sido amplamente noticiado um desencantamento com a tecnologia. Não é de forma alguma a primeira vez que isto ocorre na história recente ( de fato, desencantamentos semelhantes ocorreram regularmente a cada cinquenta anos aproximadamente desde meados do século dezoito ). Porém, é fato que esta tecnologia foi mais importante nas últimas décadas do século vinte e que, além disto, mudará mais no século vinte e um do que mudou nas últimas décadas do século vinte. As grandes necessidades atuais, como crise de energia, crise ambiental e os problemas da moderna sociedade urbana, tornaram isto absolutamente certo. De fato, é possível prever, com elevada probabilidade, que os próximos anos verão a mesma quantidade e a mesma rapidez de mudanças tecnológicas como na era heroica das invenções ( os sessenta anos entre meados do século dezenove e a deflagração da Primeira Guerra Mundial ). Neste período, que começou em mil oitocentos e cinquenta e seis, com a descoberta de Perkin dos corantes de anilina e com o projeto da Siemens do primeiro dínamo que funcionou, e que terminou em mil novecentos e onze, com a invenção do tubo o vácuo e, com ele, a eletrônica moderna, nascia o mundo moderno do século vinte ( e até mesmo o mundo pós-moderno dos século vinte e um ). Nesta era heroica, surgia, em média, uma grande nova invenção a cada quinze a dezoito meses, seguida quase imediatamente pelo aparecimento de uma nova indústria baseada nela. Os últimos anos, é fato, se pareceram muito mais com este período do final do século dezenove do que com os cinquenta anos posteriores à Primeira Guerra Mundial, que, em termos tecnológicos, foram anos de refinamento e modificação, e não de invenção. Para as empresas e os empresários que persistem na atitude tradicional em relação à tecnologia ( a atitude que enxerga nela de misterioso, algo externo e algo pelo qual outras pessoas são responsáveis ), ela passará a ser uma ameaça mortal. No entanto, para as empresas e os empresários que aceitam que a tecnologia é sua ferramenta e também sua responsabilidade, ela passará a ser uma grande oportunidade.
Nota histórica
A falta de qualquer preocupação séria com a ou com o estudo da tecnologia dentro das grandes disciplinas acadêmicas é de fato surpreendente. Na verdade, é tão surpreendente que merece alguma documentação.
O economista do século dezenove normalmente destaca a importância central da tecnologia. Porém, ele não vai além de expressar sua elaborada admiração em relação à tecnologia. Em seu sistema, a tecnologia está relegada ao obscuro limbo das influências externas ( algo como terremotos, gafanhotos ou vento e clima ) e, como tal, incompreensíveis, imprevisíveis e, de certa forma, não muito respeitáveis. A tecnologia poderia ser utilizada para explicar fenômenos que não se encaixavam no modelo teórico do economista. Mas não podia ser usada ser usada como parte do modelo. O economista keynesiano do século vinte nem mesmo faz referência formal à tecnologia que seu predecessor do século dezenove julgava apropriada. Ele a ignora. Certamente, existem exceções. Joseph Schumpeter, o grande economista austro-americano, em seu primeiro e mais conhecido trabalho sobre as dinâmicas do desenvolvimento econômico, colocou a inovação no centro de seu sistema econômico. E o inovador era, em grande parte, um inovador tecnológico. Mas Schumpeter teve poucos sucessores. Entre os economistas contemporâneos, somente Kenneth Boulding, da University of Colorado, parece prestar alguma atenção na tecnologia. As escolas dominantes, seja a keynesiana, neokeynesiana ou de Milton Friedman, dedicam tão pouca atenção à tecnologia quanto as escolas pré-industriais de economistas, tais como os mercantilistas anteriores a Adam Smith. Porém, eles têm sido muito menos desculpa por este desprezo da tecnologia.
Os historiadores, em geral, têm prestado bem menos atenção à tecnologia do que os economistas. A tecnologia foi mais ou menos considerada algo que não merece atenção de um humanista. Mesmo os historiadores econômicos têm dado muito pouca atenção à tecnologia até bem recentemente. O interesse por tecnologia como objeto de estudo para o historiador somente começou com o livro de Lewis Mumford, Technics and Civilizatios ( Nova Iorque: Harcourt Brace, de mil novecentos e trinta e quatro ). Somente vinte e cinco anos depois é que teve início um trabalho sistemático sobre o estudo da história da tecnologia, com a publicação, na Inglaterra, entre mil novecentos e cinquenta e quatro e mil novecentos e cinquenta oito, de A History of Technologi, editado por Charles Singer ( Londres: Osford University Press, entre mil novecentos e cinquenta e quatro e mil novecentos e cinquenta e oito ), com cinco volumes; e, logo depois, nos Estados Unidos da América ( EUA ) e de seu jornal, o Technology and Culture. A relação entre tecnologia e história foi posteriormente discutida no primeiro livro didático americano, Technology in Western Civilization, editado por melvin Kranzberg e Carroll W. Pursell Júnior ( Nova Iorque: Oxford University Press, de mil novecentos e sessenta e sete ), com dois volumes; e em Tecnologia, administração e sociedade ( Campus / Elsevier, em dois mil e onze ) ( especialmente nos ensaios Trabalho e ferramentas, publicado pela primeira vez em Technology and Culture [ inverno de mil novecentos e cinquenta e nove ], "A revolução tecnológica, "Notas sobre a relação entre tecnologia, ciência e cultura", publicado pela primeira vez em Technology and Culture [ outono de mil novecentos e sessenta e um ] e "A primeira revolução tecnológica e suas lições", apresentado como Discurso da Presidência para a Sociedade para a História da Tecnologia em dezembro de mil novecentos e sessenta e cinco e publicado pela primeira vez em Technology and Culture [ primavera de mil novecentos e sessenta e seis ] ). O professor de história medieval da University of California, Lynn White Júnior, realizou um trabalho pioneiro sobre o impacto das mudanças tecnológicas na sociedade e na economia, especialmente em seu livro Medieval Technology and Social Change ( Londres: Oxford University Press, de mil novecentos e sessenta e dois ). No entanto, o único trabalho que tenta com sucesso integrar a tecnologia na história, principalmente na história econômica, é o recente livro dos historiador econômico de Harvard, David S. Landes, The Unbound Prometheus: Tecnological Change and Industrial Development in Western Europe: 1750 to Present ( Londres: Cambridge University Press, de mil novecentos e sessenta e nove ). Fora dos países de língua inglesa, somente um historiador graduado deu alguma atenção á tecnologia, o alemão Franz Schabel, em seu Deutsche Geschchte im Neunzebnten Jahrhundert ( Friburgo: Herder, entre mil novecentos e vinte e nove e mil novecentos e trinta e sete ).
Talvez ainda mais desconcertante seja a atitude dos sociólogos. Embora a palavra tecnologia tenha suas origens no século dezoito, veio a ser um termo amplamente utilizado como slogan, se não como manifesto, dos primeiros sociólogos no final do século dezoito. chamar a primeira faculdade técnica em mil setecentos e noventa e quatro de Ecole Polytechnique foi, por exemplo, uma clara declaração sobre a importância central da tecnologia para sociedade e para a estrutura social. E os primeiros pais da sociologia, especialmente os grandes sociólogos franceses, Saint-Simon e Auguste Comte, viram a tecnologia como, de fato, a grande força libertadora da sociedade. Marx ainda ecoa algo disto, mas depois relega a tecnologia para o reino dos fenômenos secundários. Desde então, os sociólogos tenderam a seguir Marx e a colocar a ênfase nas relações de propriedade, nas relações de parentesco e em tudo o mais, mas não na tecnologia. Existem muitos slogans como os da alienação, mas não houve praticamente algum trabalho feito a este respeito. A tecnologia quase não é mencionada nas grandes teorias sociológicas do século vinte ( isto é, pós-marx ), de Max Weber a marcuse, e Levy-Bruhl a Lévi-Strauss e Talcott Parsons. A tecnologia não existe para o sociólogo ou é um vilão não especificado.
Em outras palavras, os acadêmicos ainda não começaram a estudar a tecnologia como a maneira como o homem trabalha, como uma extensão do limitado equipamento físico da criatura biológica que é o homem, como uma parte ( uma importante parte ) da história e da realização intelectual do homem, como uma realização humana que, por sua vez, influencia profundamente a condição humana. Entretanto, o empresário não pode esperar pelos acadêmicos. Ele precisa administrar a tecnologia já. Outras informações podem ser obtidas no livro Rumo à nova economia de autoria de Peter F. Drucker.
Mais em:
https://administradores.com.br/artigos/tecnologia-uma-grande-oportunidade .
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