O gestor é servo. Como servo, o senhor do gestor é a organização que ele gerencia e sua primeira responsabilidade é em relação a ela. A principal atribuição do gestor é fazer com que a organização, seja empresa, hospital, escola ou universidade, exerça sua função e faça sua contribuição, que é a razão de ser de sua existência. Qualquer pessoa que use sua posição como chefe de grande instituição para se tornar figura pública e assumir liderança em relação a problemas sociais, enquanto sua empresa ou universidade se deteriora em consequência da negligência, não é líder. Estes gestores são irresponsáveis e desleais em relação à confiança de que são depositários e às atribuições de que são mandatários.
O exercício, pela instituição, de sua função específica é também necessidade básica e interesse fundamental da sociedade. a sociedade não tende a ganhar, mas, sim, a perder, se a capacidade de execução, pela instituição, de sua tarefa específica for reduzida ou prejudicada. Se ela não se desincumbir com responsabilidade de sua missão, a instituição não será capaz de executar nenhuma outra tarefa. A empresa falida não é empregador desejável e dificilmente será bom vizinho da comunidade. Tampouco criará capital para os empregos do futuro nem as oportunidades para os trabalhadores do futuro. A universidade que não prepara os líderes e os profissionais do futuro não demonstra responsabilidade social, não importa os bons trabalhos de que participe.
A primeira limitação da responsabilidade social é, portanto, a responsabilidade mais alta pelo exercício específico das tarefas da instituição, que é o senhor do gestor. Este aspecto necessita de ênfase especial no caso do empreendimento de negócios, a instituição econômica da sociedade. Qualquer solução de um impacto social ou de um problema social, exceto para convertê-lo em oportunidade de desempenho e de resultados, gera custos sociais indiretos. Estes custos não podem comprometer o lucro, não importa o que diga a retórica popular. Eles são pagos como parte dos custos correntes - isto é, pelos consumidores ou pelos pagadores de impostos - ou pelo capital - isto é, pela redução empobrecimento dos empregos do futuro e pelo comprometimento do padrão de vida. A única maneira de cobrir os custos e de acumular capital é mediante o desempenho econômico. Todas as outras satisfações das necessidades da comunidade são pagas, de uma maneira ou de outra, pelo superávit da economia.
Mais uma vez aqui se sobressai a necessidade dos gestores de antecipar-se aos problemas e de refletir sobre as escolhas excludentes envolvidas nas soluções. Em que ponto a solução se torna proibitivamente dispendiosa para a sociedade, por prejudicar a capacidade de desempenho das instituições existentes e necessárias, como as econômicas, de assistência médica, de educação ou de defesa? Qual é o equilíbrio ótimo entre a necessidade de cuidar do problema social e a necessidade de preservar a capacidade de desempenho das instituições sociais existentes? Em que ponto corre-se o risco de comprometer o desempenho social - e, assim, criar novos problemas mais complexos - sobrecarregando as instituições existentes?
Os gestores devem ser capazes de refletir sobre os limites da responsabilidade social, estabelecidos pelo dever de preservar a capacidade de desempenho do empreendimento do qual estão incumbidos.
No caso das organizações de negócios, isto exige o conhecimento dos objetivos das principais áreas, uma vez que esses objetivos estabelecem as metas de desempenho mínimas para a consecução da missão do empreendimento. Quanto elas forem alcançadas, a empresa será capaz de cumprir seu papel. Se os objetivos de determinada área será capaz de cumprir sem papel. Se os objetivos de determinada área estiverem seriamente comprometidos, a capacidade de desempenho de toda a empresa estará em perigo.
Acima de tudo, a administração precisa definir a lucratividade mínima exigida pelos riscos do negócio e pelos compromissos com o futuro. Ela necessita deste conhecimento para tomar as próprias decisões. Mas, igualmente, deve explicar suas decisões a outros atores - os políticos, a imprensa, o público. Enquanto as administrações continuarem prisioneiras da própria ignorância quanto às necessidades objetivas e quanto às funções do lucro - ou seja, enquanto pensarem e argumentarem em termos de motivação pelo lucro, não serão capazes de tomar decisões racionais quanto às responsabilidades sociais nem de explicar estas decisões a outros, dentro e fora da empresa.
Um jogo de palavras muito popular hoje recomenda: "Não basta que as empresas façam bem; também é preciso que façam o bem". Mas, para fazer o bem, as empresas precisam, primeiro, fazer bem ( na verdade, fazer muito bem ).
Sempre que uma empresa desconsidera as limitações do desempenho econômico e assume responsabilidades sociais além de sua capacidade econômica, enfrenta problemas.
A Union Carbide ( * vide nota de rodapé ) não demonstrou responsabilidade social ao instalar a fábrica em Vienna, West Virgínia, para reduzir o desemprego na região. Na realidade, ela foi irresponsável. A empresa mal conseguia manter a cabeça fora d'água, o que, inevitavelmente, significava que a fábrica não tinha condições de assumir responsabilidade social, nem pelos próprios impactos. Como, para começar, a fábrica era antieconômica, a Union Carbide ( * vide nota de rodapé ) resistiu durante muito tempo em atender a todas as demandas antipoluição. De mais a mais, esta demanda específica não podia ser prevista no fim da década de quarenta, quando as preocupações com o nível de emprego superava em muito qualquer preocupação com o meio ambiente. Mas sempre se devem esperar demandas de alguma espécie. Portanto, fazer alguma coisa coisa a pretexto de responsabilidade social, que seja economicamente racional e inviável, é, portanto, atitude irresponsável. É sentimentalismo. E as consequências são sempre maiores danos.
Do mesmo modo, a Deltec ( * vide nota de rodapé ), em Buenos Aires, talvez estivesse vulnerável à acusação de que, manter uma fábrica aberta, quando todas as outras unidades de processamento de carne já haviam fechado as portas, era sentimentalismo, não responsabilidade social. Foi uma presunção de responsabilidade além dos limites viáveis. As intenções eram boas e honrosas - como no caso da Union Carbide ( * vide nota de rodapé ). É possível argumentar-se que a Deltec ( * vide nota de rodapé ) assumiu um risco calculado. Além disso, o desfecho foi muito mais resultado da política interna argentina que de qualquer outra coisa que a Deltec ( * vide nota de rodapé ) tenha feito ou omitido. No entanto, a administração da Deltec ( * vide nota de rodapé ) assumiu risco mais alto que o compatível com a verdadeira responsabilidade social.
A mesma limitação à responsabilidade social se aplica às instituições macroeconômicas. Também nestas entidades os administradores têm o dever de preservar a capacidade de desempenho da instituição sob seus cuidados. Prejudicá-la, por mais nobre que seja o motivo, é irresponsabilidade. Estas instituições são ativos de capital da sociedade, não são remunerados para se destacarem como heróis na imprensa popular. Eles são pagos pelo desempenho e pela responsabilidade. Outras informações podem ser obtidas no livro Fator humano e desempenho, de autoria de Peter F. Drucker.
P.S.: * Nota de rodapé: Os casos da Union Carbide e da Deltec são melhor estudados em http://www.administradores.com.br/artigos/marketing/responsabilidade-social-o-impacto-das-empresas-na-sociedade/113327/ .
Mais em
http://www.administradores.com.br/artigos/marketing/responsabilidade-social-o-dever-de-preservar-a-capacidade-de-desempenho/113465/
Mais em
http://www.administradores.com.br/artigos/marketing/responsabilidade-social-o-dever-de-preservar-a-capacidade-de-desempenho/113465/
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