quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Responsabilidade social: quando usurpação de autoridade vira irresponsabilidade

As demandas por responsabilidade social, que, na verdade, reivindicam às empresas - ou a qualquer outra instituição - que exorbitem de sua autoridade, devem ser rejeitadas. É preciso resistir a elas a bem do interesse próprio das empresas; o usurpador de poder sempre está em situação instável. Também é necessário não ceder às pressões com fundamento na própria responsabilidade social, pois elas são, na verdade, incitações à irresponsabilidade. O fato de serem sinceras, como produto de angústia autêntica, ou meramente retóricas, para acobertar a ânsia de poder, é irrelevante. Sempre que uma empresa, ou qualquer outra instituição, for instada a assumir responsabilidade social, além da própria área de atuação e dos próprios impactos a que deu causa, é melhor perguntar-se: "Temos e devemos ter responsabilidade nesta área?". Se a resposta for não, a única reação pautada pela responsabilidade social é não ceder à demanda.

No entanto, em muitos casos, talvez não baste dizer não. A administração deve relutar em assumir responsabilidade por um problema social que comprometeria ou prejudicaria a capacidade de desempenho da empresa ( ou da universidade ou do hospital ). Ela deve rechaçar as demandas que vão além da capacidade da instituição. Ela precisa rejeitar a reivindicação quando a responsabilidade implica autoridade ilegítima. Mas, então, quando o problema for real e iminente, é melhor que ela reflita alternativa. Se o problema for sério, algo deve ser feito, em última instância. E se, nestes casos, a administração se pautar por outro obstrucionismo e bloquear qualquer abordagem - mesmo que a sua objeção a qualquer curso de ação proposto tenha sido legítima e de fato responsável - , é provável que a solução derradeira seja ainda mais danosa.

Nas sociedades pluralistas, a responsabilidade pelo bem comum é problema central que nunca é resolvido. A única maneira de eliminar a preocupação com a responsabilidade social seria a adoção do totalitarismo. Pois a definição do governo totalitário é ter autoridade para tudo e não ser responsável por nada.

Por este motivo, a administração das grandes instituições, inclusive empreendimentos de negócios, precisa preocupar-se com as doenças graves da sociedade. Tanto quanto for possível, ela converte a solução para estes problemas em oportunidade de desempenho e de contribuição. No mínimo, a administração deve refletir sobre a natureza do problema e sobre a maneira de enfrentá-lo. Não há como descartar o problema como algo irrelevante, pois nessa sociedade de organizações não existe alternativa para enfrentar os verdadeiros problemas. Nesta sociedade, os gestores de instituições constituem o grupo de liderança.

Mas também é sabido que as sociedades desenvolvidas precisam de instituições eficazes, com suas próprias administrações autônomas. Ela não pode funcionar como sociedade totalitária. Com efeito, o que caracteriza a sociedade desenvolvida - e realmente a diferencia como tal - é o fato de a maioria de suas tarefas sociais ser executada por e mediante instituições organizadas, cada qual com a própria administração autônoma. Estas instituições, inclusive a maioria dos órgãos governamentais, são entidades com propósitos específicos. A maior irresponsabilidade social é prejudicar a capacidade de realização destas instituições, assumindo tarefas além de sua competência e usurpando a autoridade legítima, em nome da responsabilidade social. Outras informações podem ser obtidas no livro Fator humano e desempenho, de autoria de Peter F. Drucker.

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