sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Responsabilidade social: o equilíbrio ótimo entre os trade-offs

Qualquer solução para um problema de impacto envolve escolhas excludentes, ou trade-offs. Além de certo nível, a eliminação de um impacto custa mais em dinheiro ou energia, em recursos ou em vidas, que o benefício alcançável. É preciso decidir quanto ao equilíbrio ótimo entre custos e benefícios. Trata-se de algo que os profissionais do setor compreendem, mas que é ignorado pelas pessoas de fora - razão pela qual a solução externa tende a esquecer totalmente a questão das escolhas excludentes.

Qual é a escolha excludente entre a preocupação mais que oportuna pelo meio ambiente natural, ameaçado pelas minas de carvão a céu aberto e as vidas salvas pela substituição da mineração subterrânea pela mineração a céu aberto? As minas subterrâneas jamais podem ser verdadeiramente seguras. Elas sempre acarretarão riscos para a saúde, em consequência da poeira de carvão e da atmosfera contaminada em que se executa o trabalho bastante seguro, com poucos riscos para a saúde. Mas onde está a escolha excludente entre vidas humanas, de um lado, e a beleza natural e os cursos d'água limpos e não poluídos?

Porém, na questão das minas a céu aberto, também há a escolha excludente entre os custos dos danos ambientais e os custos em empregos, padrão de vida e riscos para a saúde de moradias frias, além da segurança de ruas escuras, fatores implícitos da energia cara e escassa.

As consequências da omissão da administração em enfrentar determinado impacto e em refletir sobre as escolhas excludentes são demonstradas pela experiência americana com as emissões automotivas.

Que tais controles seriam necessários, sabe-se desde o fim da Segunda Guerra Mundial, quando a poluição atmosférica tornou-se preocupação comum em Los Angeles. A indústria automobilística, contudo, confiou nas relações públicas, que lhe garantiram não estar o público preocupado coma poluição atmosférica. Até que, de repente, na década de sessenta, o público entrou em pânico e impôs legislação drástica de controle das emissões. Se os novos controles efetivamente reduziriam a poluição, isso foi e continuou sendo duvidoso, pois, embora cortassem as emissões de velhos poluentes - desde que se garanta a emissão adequada dos equipamentos de controle - , os novos controles também causam novas formas de poluição, ao aumentarem em muito a energia necessária para movimentar os carros, acentuando, portanto, o consumo de gasolina, o que, por seu turno, exigirá mais refino de petróleo - uma das atividades industriais mais poluentes. Ao mesmo tempo, aumentam substancialmente os custos do automóvel e dos serviços automotivos. Quais teriam sido as escolhas excludentes certas, ainda não se sabe - pois a indústria não fez seu trabalho. Mas tanto a indústria quanto o público pagarão os custos e sofrerão as consequências.

O público recebe de bom grado as soluções inteligentes para estes problemas se a administração pressionar por sua adoção antes que ocorra um escândalo. Esta tem sido a experiência da Comissão para o Desenvolvimento Econômico ( Comittee for Economic Development - CED ), dos Estados Unidos, nos vinte anos de sua existência ou de qualquer outro grupo empresarial ou industrial que assumir responsabilidade por um impacto e arregimentar o conhecimento, a competência e a seriedade de seus melhores profissionais.

A maioria dos gestores sabe disso. E, no entanto, eles esperam contra todas as suas chances que o problema se solucione por si mesmo. Adiam a reflexão sobre o tema e, muito menos, tomam qualquer iniciativa. Na melhor das hipóteses, fazem discursos. E resistem na retaguarda de terem perdido.

A responsabilidade pelos impactos sociais é incumbência da administração - não por se tratar de responsabilidade social , mas por ser responsabilidade empresarial. O ideal é converter a eliminação do impacto em oportunidade de negócios. Mas, sempre que esta solução não for possível, o desenvolvimento da regulação adequada, com o equilíbrio ótimo das escolhas excludentes - além do debate público do problema e da promoção da melhor solução regulatória - , é atribuição da administração. Outras informações podem ser obtidas no livro Fator humano e desempenho, de autoria de Peter F. Drucker.

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http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/responsabilidade-social-o-equilibrio-otimo-entre-os-trade-offs/113411/

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