Onde foram parar os empregos? Nos últimos anos, esta tem sido uma pergunta constante em todos os países industrializados do Ocidente. Mas, para os Estados Unidos da América ( EUA ), outra pergunta é pelo menos tão importante quanto esta - ou até mais importante - , embora nunca tenha sido feita: De onde vieram todos os empregos? Todos os países desenvolvidos industrializados estão perdendo emprego nas indústrias básicas e pesadas - até o Japão. Mas somente a economia americana está criando novos empregos em um ritmo muito mais acelerado do que as indústrias de base e pesadas estão perdendo os antigos. Um ritmo que quase não tem precedentes na história em tempos de paz.
Entre mil novecentos e sessenta e cinco e mil novecentos e oitenta e quatro, a população americana na faixa dos dezesseis aos sessenta e cinco anos cresceu trinta e oito por cento ( de cento e vinte e nove milhões para cento e setenta e oito milhões ). Naquele período, contudo, o número, o número de empregos cresceu apenas quarenta e cinco por cento ( de setenta e um milhões para cento e três milhões ). No outono de mil novecentos e oitenta e quatro, este número provavelmente atingiu cento e cinco milhões ou cento e seis milhões, o que pode ter significado um aumento de quase cinquenta por cento desde mil novecentos e sessenta e cinco. E mais da metade deste crescimento ocorreu após a crise de energia, no outono de mil novecentos e setenta e três - anos de choques do petróleo, duas recessões e um quase colapso das indústrias básicas pesadas. é verdade que a recessão dos anos de mil novecentos e oitenta e um e mil novecentos e oitenta e dois, apesar de todo o trauma, não chegou a diminuir o acelerado ritmo de criação de novos empregos - em seu momento mais agudo, no outono de mil novecentos e oitenta e dois, havia quinze milhões de empregos a mais, em comparação com mil novecentos e setenta e três, apesar do desemprego recorde.
No Japão, nestes anos entre mil novecentos e setenta e quatro e mil novecentos e oitenta e quatro, o emprego cresceu de cinquenta e um milhões para cinquenta e seis milhões - cerca de dez por cento, apenas metade da taxa dos EUA. Na Europa Ocidental, o emprego diminuiu. em mil novecentos e oitenta e quatro, mesmo considerando o desemprego cíclico da economia, havia três milhões de postos de trabalho a menos, em comparação com mil novecentos e setenta e quatro.
E a economia americana, em mil novecentos e oitenta e quatro, tinha mais dez milhões de empregos além do que mesmo os mais otimistas haviam previsto. Experts cuidadosos e respeitados, como Eli Ginzberg, da Universidade da Columbia ( UC ), acreditavam que, no final dos anos setenta e começo dos oitenta, o governo federal dos EUA teria de se tornar empregador de primeira hora, a fim de abria empregos para os filhos do baby boom. Entretanto, sem qualquer ajuda do governo, criaram-se pelo menos metade destes postos de trabalho. Isto ocorreu para que fosse possível acomodar algo que ninguém havia previsto havia quinze anos antes: a entra de de mulheres casadas no mercado de trabalho. De onde vieram todos estes empregos?
Não vieram dos setores que, por quase quarenta anos e durante os anos sessenta, forneceram virtualmente todos os novos empregos da economia americana: governo e grandes empresas. O governo deixou de expandir seus postos de trabalho no começo dos anos setenta. Somente nos anos entre mil novecentos e setenta e nove e mil novecentos e oitenta e quatro, as grandes empresas industriais listadas entre as quinhentas maiores da revista Fortune perderam, de forma permanente, cerca de três milhões de empregos. A quase totalidade da criação de novos empregos ficou por conta de empresas empreendedoras e inovadoras.
"Aha!", dirão todos, "alta tecnologia".Mas estarão errados. A alta tecnologia é imensamente importante: como proponente de uma visão, de um ritmo; como promotora de entusiasmo e construtora do futuro. Mas, como construtora do presente, ela é quase marginal, representando não mais do que dez por cento dos empregos criados na década entre mil novecentos e setenta e quatro e mil novecentos e oitenta e quatro. Na época, Peter F. Drucker considerava razoavelmente seguro dizer que a taxa de criação de novos empregos deste setor não aumentaria significativamente antes de de mil novecentos e noventa.
A criação de novos empregos se concentra, principalmente, nas empresas de baixa ou nenhuma tecnologia. Uma das indicações disto pode ser encontrada na revista Inc., em sua lista anual de empresas com ações em bolsa de crescimento mais rápido com mais de cinco e menos de quinze anos de funcionamento. Ao limitar o ranking a empresa com ações sem bolsa, cria-se um viés de alta tecnologia. No entanto, oitenta das cem empresas que apareciam na lista de mil novecentos e oitenta e dois eram decididamente de baixa ou nenhuma tecnologia: fabricantes de vestuário feminino, cadeias de restaurantes e coisas deste tipo. E a lista da Inc. das quinhentas empresas de capital fechado de crescimento mais rápido é liderada por uma fabricante de equipamentos exportivos para uso doméstico.
A análise mais esclarecedora, contudo, é um estudo, conduzido pela empresa de consultoria McKinsey & Co., sobre o crescimento de empresas de porte médio - aquelas com vendas anuais entre vinte e cinco milhões de dólares e um bilhão de dólares. Em sua maioria, estes empreendimentos não são do setor de alta tecnologia - e são manufaturas, não prestadores de serviços. Este grupo de empresas de médio porte cresceu três vezes mais rapidamente que as duzentas e cinquenta maiores empresas da revista Fortune em vendas, lucros e oferta de empregos no período entre mil novecentos e setenta e cinco e mil novecentos e oitenta. Ainda durante o pior momento da recessão dos anos de mil novecentos e oitenta e um e mil novecentos e oitenta e dois, quando as duzentas e cinquenta maiores empresas da Fortune tiveram de cortar quase dois por cento de seus postos de trabalho em um ano, as empresas de médio porte criaram um milhão de empregos, ou um por cento da força de trabalho empregada do país. E tudo o que estas empresas t~em em comum é que estão organizadas com orientação para o empreendedorismo sistemático e a inovação deliberada
Já faz cerda de quarenta anos que a dinâmica da economia americana tem se inclinado para empresas empreendedoras e inovadoras - em sua maioria, de baixa ou nenhuma tecnologia. Em economia, quarenta anos é um tempo longo, longo o suficiente para que se comece a discutir uma mudança estrutural. Dez anos já é um tempo longo para isto. A explicação para esta mudança ainda não está clara. certamente, houve uma forte transformação dos valores, atitudes e aspirações de muitos jovens com boa educação - bem diferente daquela prometida nos anos setenta, em "The Greening of America" - livro de Charles A. Reich, publicado em mil novecentos e setenta, que se tornou um hino à contracultura dos anos sessenta e a seus valores - quando a verdadeira mudança efetivamente teve início. Existem muitos jovens por aí, hoje em dia, dispostos a assumir riscos e que desejam alcançar o sucesso material com paixão suficiente para impor a si próprios a extenuante disciplina e as intermináveis horas de trabalho necessárias a um empreendedor.
Mas de onde vem o dinheiro? Há quatro décadas, havia a preocupação com a possibilidade de não haver capital disponível para novos empreendimentos. Hoje, ao que parece, existe ma sobra de dinheiro para este fim. O maior fator da explosão empreendedora - e o único que verdadeiramente representa uma nova tecnologia - é, provavelmente, uma revolução da administração: o desenvolvimento, desde a Segunda Guerra Mundial, de um corpo organizado de conhecimento sobre empreendedorismo e inovação.
O desenvolvimento americanos contesta claramente a explicação mais séria e difundida sobre a crise econômica vivida a partir de mil novecentos e setenta e cinco e a mais séria e difundida previsão sobre as décadas que se seguiram: a teoria do não crescimento, baseada na teoria das ondas longas de Kondratieff ( o russo Nicolai Kondratieff, nascido em mil oitocentos e noventa e dois, foi executado em algum momento da década de trinta, por ordem de Stalin, devido ao fato de que seu modelo econômico previa com precisão que a coletivização reduziria, ao invés de aumentar, a produção agrícola ).
Segundo a teoria da onda longa, economias desenvolvidas entram em um longo período de inexorável estagnação a cada cinquenta anos. As tecnologias que sustentaram o crescimento nos primeiros estágios ascendentes do ciclo de Kondratieff ainda parecem ter se saído bem nos vinte anos anteriores ao estouro de Kondratieff. E, de fato, elas apresentam lucros recordes e pagam salários sem precedentes; ao se tornarem maduras, já não precisam investir tão pesadamente.
Mas o que parece uma saúde pujante é, na verdade, uma doença degenerativa. O lucro recorde e os salários recordistas já se tornaram liquidação de capital. Então, quando a maré vira com o estouro Kondratieff, estas indústrias maduras praticamente entram em colapso da noite par ao dia. As novas tecnologias já estão por aí, mas até os primeiros anos do século vinte e um, já não seriam capazes de gerar os empregos suficientes ou de absorver capital suficiente para alimentar um novo período de crescimento econômico. Naqueles vinte anos, teria havido, então, estagnação Kondratieff e crescimento zero ou pífio. e não há nada que alguém - muito menos o governo - possa fazer, a nãos er esperar o ciclo se esgotar.
As indústrias pesadas de base nos EUA e na Europa Ocidental realmente parecem acompanhar o ciclo Kondratieff. E, mesmo no Japão ainda com alguns anos de atraso, parecem seguir na mesma direção. Quanto à alta tecnologia, também está confirmado: a atividade ainda não gera, em volume suficiente, novos empregos ou a absorção de novos capitais para contrabalançar o encolhimento das indústrias pesadas de base.
Entretanto, a criação de empregos por empresas empreendedoras e inovadoras nos EUA é incompatível com Kondratieff. Ou, melhor dizendo, guarda enorme similaridade com a onda atípica de Kondratieff ocorrrida na Alemanha e nos EUA após mil oitocentos e setenta e três. Neste período, estes países tiveram vinte e cinco anos de grande turbulência e de transformações econômicas e sociais, mas também vinte e cinco anos de rápido crescimento econômico.
Esta curva atípica de Kondratieff foi descoberta e descrita por Joseph Schumpeter ( que viveu entre mil oitocentos e oitenta e três e mil novecentos e cinquenta ) em seu clássico Business Cycles ( publicado em mil novecentos e trinta e nove ). Este foi o livro que introduziu Kondratieff ao Ocidente, mas também destacou que a estagnação de Kondratieff ocorreu apenas na Inglaterra e na França após mil oitocentos e setenta e três, período em que o economista russo baseou sua onda longa. A Alemanha e os EUA também tiveram um colapso da economia. Mas a recuperação começou quase imediatamente e, cinco anos mais tarde, ambos os países estavam em rápida expansão, continuando assim até a Primeira Guerra Mundial. E o que tornou estes dois países atípicos e impulsionou sua economia no final do século dezenove foi a mudança para uma economia empreendedora.
Existem gigantescas ameaças na economia mundial. Existem a crise do bem-estar social ( welfare state ), com seus aparentemente incontroláveis déficits governamentais, e o resultante câncer inflacionário. Há, em todo o mundo, a crise dos produtores de commodities, que produz efeito nos países do Terceiro Mundo e até nas propriedades rurais do Estado americano de Iowa. durante vários anos, os preços das commodities têm sido mais baixos em relação aos preços dos bens manufaturados do que em qualquer momento desde a Grande Depressão. E, em toda a história econômica, nunca houve um período prolongado de preços muito baixos de commodities que não fosse sucedido por uma depressão da economia industrial. E, certamente, a diminuição dos empregos nas indústrias pesadas de base e sua conversão ao foco da capital, e não na mão de obra, isto é, na automação, colocará fortes pressões - econômicas, sociais e políticas - no sistema.
Contudo, pelo menos para os EUA, a previsão de Kondratieff de crescimento zero ou pífio está praticamente eliminada pelo que já aconteceu na economia americana e pelo aumento de quase cinquenta por cento dos empregos, desde que as indústrias pesadas de base atingiram o pico de Kondratieff em mil novecentos e sessenta e quatro. Outras informações podem ser obtidas no livro As fronteiras da administração, de autoria de Peter F. Drucker.
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https://claudiomarcioaraujodagama.blogspot.com/2019/07/energia-os-carteis-e-o-declinio-do.html .
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