terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Orçamento: da ênfase na eficácia para ênfase no custo

A pressão constante das leis tributárias, que resultam em um desvio do científico e tecnológico para o financeiro e do longo prazo na direção do curto prazo, é ainda agravada pelas leis antitruste ( de defesa da concorrência ), que, provavelmente, são mais responsáveis do que qualquer outro fator isolado por afastar a indústria americana do desenvolvimento de uma base voltada para a ciência e tecnologia e por colocá-la na direção de um conglomerado baseado no financeiro.


Na economia mundial, mesmo as empresas que são muito grandes no cenário nacional estão se torando marginais, se não pequenas. A grande empresa de mil novecentos e trinta e oito, ou até mesmo de mil novecentos e cinquenta e oito, é uma empresa pequena, ou marginal, na economia de mil novecentos e setenta e nove ( ano da crise do petróleo ). No entanto, a lei antitruste norte-americana ( que vale para qualquer empresa do mundo que tenham ações na bolsa de valores de Nova Iorque ( NYSE - sigla em inglês ) é severa em relação ao aumento de escala das empresas, exceto quando através da formação de um conglomerado que, no entanto, não dispõe do núcleo fundamental da unidade tecnológica. Este conglomerado está mais focado nos resultados financeiros do que nos resultados tecnológicos. Consequentemente, o investimento em pesquisa de longo prazo e na aplicação do conhecimento científico na produção econômica se torna difícil nos conglomerados. As pessoas que são boas na construção e gestão de conglomerados têm forte orientação para os aspectos financeiros. A empresa do passado, unificada em termos de tecnologia e organizada em torno de um processo ( como o de produzir vidro ), era basicamente voltada para a tecnologia e, portanto, buscava a ciência para seu futuro. Já o conglomerado que engloba tudo passando por latas e eletrônicos, restaurantes fast-food e lojas de roupas, companhias aéreas e bancos e brinquedos, é necessariamente voltado para o aspecto financeiro. A pesquisa passa a ser um centro de custo, e não uma produtora da riqueza do futuro.


Forças semelhantes operam no governo em relação ao interesse e ao investimento em ciência. Mesmo o empresário mais míope ainda precisa focar no curto e no longo prazo. Mas o orçamento governamental é sempre míope. Ele não conhece algum intervalo de tempo superior ao ano fiscal. Ele precisa justificar a alocação de recursos com base no curto prazo e, principalmente, em conveniências políticas. Por isto, algumas mentes mais sábias e mais experientes da ciência americana alertavam contra a dependência do governo, há sessenta e cinco anos. Seus temores se mostraram bem fundados. Assim que a ciência deixa de ser um artigo de fé e popular, e se torna uma das aplicações de fundos governamentais, e não a aplicação de fundos governamentais, as pressões do processo orçamentário a tornam uma opção de baixa prioridade para os políticos e também para a burocracia.


Existe também o desencanto com os resultados. A questão não é se a ciência exagerou em sua promessa de resultados ou se a indústria e o governo esperavam milagres; os resultados que a empresa e o governo antecipavam quando se apressavam a gastar de forma pródiga em pesquisa científica raramente eram atingidos. Certamente, a relação entre trabalho científico e resultados, seja em termos de bens e serviços ou de benefícios como escolas melhores ou assistência médica melhor, é bem mais difícil e complexa do que os cientistas e as autoridades pensavam.


Em função destas pressões e desdobramentos, a indústria e o governo estão se desviando na direção do que poderia ser chamado de um orçamento escolástico, em que o orçamento é um sistema fechado, com sua própria lógica.


Tanto o executivo de empresa quanto o executivo do governo proclamam sua fé na pesquisa, mas nenhum deles pode praticá-la hoje. A mentalidade dos executivos ( seja na empresa ou no governo ) e seus valores se desviaram inexoravelmente, portanto, do que Thorstein Veblen chamou, cerca de cem anos atrás, de instinto de artesanato para o que considerava espírito empresarial - a expressão correta atualmente seria espírito orçamentário. Trata-se de uma mudança da preocupação com a geração de recursos que produzam riqueza na direção de retornos imediatos. Trata-se de uma mudança na eficácia do custo de uma ênfase na eficácia para uma ênfase sobre o custo. Além disto, talvez esta tendência seja muito mais pronunciada no governo atual do que nas empresas. Outras informações podem ser obtidas no livro Rumo à nova economia, de autoria de Peter F. Drucker.


Mais em:


https://administradores.com.br/artigos/or%C3%A7amento-da-%C3%AAnfase-na-efic%C3%A1cia-para-%C3%AAnfase-no-custo .

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