O desvio da ciência e da indústria do respeito mútuo e da vantajosa interdependência para o antagonismo e o afastamento que caracteriza os últimos cinquenta anos são perigosos, em primeiro lugar, para a indústria americana. O grande perigo é aquilo que Peter Ferdinand Drucker chamou de espírito do orçamento vir a paralisar a capacidade de inovação e de mudança.
Sabe-se muito pouco sobre a relação real entre conhecimento científico e tecnologia, mas é sabido que a ciência gera a visão e a capacidade de realização. Seria uma troca muito pobre intercambiar a maior capacidade analítica do formulador de política no governo e na empresa pela falta de visão e a falta de vontade para inovar, e a paralisia da capacidade de mudança, com os impactos da ciência do século vinte na visão de Drucker, bem como na tecnologia disponível e no estilo de vida americano, apenas começando a ser significativos.
No entanto, o perigo do desvio para o antagonismo e o afastamento é ainda maior para a ciência do que para a indústria. É possível, e mesmo bastante fácil, comprar a aplicação da ciência. Por sua própria natureza, a ciência é pública. A tecnologia ( a aplicação da ciência ) normalmente é disponibilizada de uma forma previamente empacotada e aplicável e por um preço razoável. Isto tem sido demonstrado por países bastante diferentes, como a antiga União Soviética ( atual Federação Russa ) e Japão. Em ambos, os investimentos em ciência têm sido mantidos baixos; na Federação Russa, eles têm se concentrado essencialmente em poucas áreas selecionadas consideradas de importância fundamental para a defesa; e, no Japão, têm sido reservados para áreas que foram consideradas de prestígio intelectual. Em ambos os países, os frutos tecnológicos da ciência foram prontamente disponibilizados através de compra do mundo exterior.
Em outras palavras, não é verdade que um país desenvolvido moderno precise de uma base científica. Ele pode comprá-la ou importá-la. Se a ciência americana perder o apoio da indústria e das autoridades governamentais por desprezar ambos em nome da pureza científica, pode descobrir que, por longos anos, o país consegue sobreviver sem ela. No final, isto poderá custar caro.
Em termos puramente oportunistas, a ciência dos Estados Unidos da América ( EUA ) não pode se dar ao luxo de ser afastada da indústria. Claramente, a expectativa de que o governo viria a ser um patrono mais confiável ( ou menos exigente ) do que a indústria não pode mais ser mantida. O governo pode vir a ser um patrono bem menos cofiável e bem mais restritivo do que o setor econômico jamais o faria, seja em relação à pesquisa biomédica, com seus modismos politicamente populares e programas de impacto, seja em relação à demanda para a pesquisa científica se concentrar em projetos, e não em conhecimento ou na exigência de a ciência ser aquilo que eleja políticos ou agrade a um grupo intelectual.
Igualmente, não é mais possível ancorar a ciência dos EUA no treinamento de PhDs ( doutores ) para ensino em faculdade ou universidade. Por longos anos no futuro, as faculdades e as universidades serão amplamente dotadas de pessoal, especialmente nas disciplinas científicas tradicionais. Ao mesmo tempo, o emprego no governo para pessoas formadas em ciências alcançou um patamar e pode, de fato, diminuir, em vez de subir, pois o abastecimento de novos cientistas já está completo e os cortes de custos poderão cair em áreas de resultados em longo prazo ( ou seja, em áreas que empregam cientistas em grande número ), e não em áreas com desempenho imediato.
Nos próximos anos, a ciência dos EUA terá, portanto, de olhar para a indústria, a fim de encontrar emprego para seus formados. Novamente se tornará regra esperar, como ocorria há oitenta ou noventa anos, que os formados mais capazes encontrem emprego e sustento na indústria. A alternativa é um corte acentuado em ciência na instituição acadêmica, especialmente no trabalho de pós-graduação em ciência, e quase certamente uma queda de padrão e de qualidade. Outras informações podem ser obtidas no livro Rumo à nova economia, de autoria de Peter F. Drucker.
Mais em:
Nenhum comentário:
Postar um comentário