Na delação premiada tornada pública nesta quarta-feira ( Dezenove de fevereito de Dois mil e vinte e cinco ) , o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do governo do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro ( do partido Liberal - PL ), descreve que três grupos diferentes frequentavam o entorno do ex-presidente após o resultado das eleições de 2022.
Veja quem era quem no entorno de Bolsonaro ( Foto : Reprodução )Um deles é descrito como mais conservador e defendia que Bolsonaro desmobilizasse os protestos montados após o resultado da eleição e se transformasse no líder da oposição. Já um grupo mais radical passou a articular uma tentativa de golpe. A divisão dos núcleos colocou em lados diferentes até mesmo os filhos de Bolsonaro — Flávio estava no primeiro grupo, enquanto Eduardo é colocado na ala dos mais radicais, favoráveis à ruptura democrática.
As informações fazem parte dos depoimentos prestados por Cid e que ajudaram a formatar a denúncia apresentada na mesma semana contra Bolsonaro e oputros Trinta e três investigados por crimes como golpe de Estado e abolição violenta do Estado democrático de direito.
Os conservadores
Cid descreve a existência de um grupo mais conservador, de linha política e que aconselhava Bolsonaro a atuar para ser um grande líder da futura oposição. Segundo o militar, esse núcleo orientava Bolsonaro a “ mandar o povo para casa ” , pondo fim aos protestos nas ruas e em frente aos quartéis nas semanas seguintes à vitória de do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ( do Partido dos Trabalhadores - PT ) no segundo turno. Neste grupo estariam o senador Flávio Bolsonaro ( PL ), o advogado-geral da União Bruno Bianco e o ex-ministro da Casa Civil Ciro Nogueira ( do Partido Progressista - PP ).
Os moderados
Um segundo grupo é descrito por Cid como mais “ moderado ” . Eles estavam descontentes com o caminho vislumbrado para o Brasil, com o que chamavam de abusos jurídicos, mas segundo Cid “ entendiam que nada poderia ser feito diante do resultado das eleições ” , que “ qualquer coisa em outro sentido seria um golpe armado ” , podendo representar um regime militar com duração de mais Vinte ou Trinta anos .
Segundo Cid, esse grupo temia que Bolsonaro pudesse ser influenciado por pessoas mais radicais a “ assinar uma doideira ” — que poderia ser a minuta do golpe idealizada e encontrada com pessoas próximas a Bolsonaro.
Deste segundo grupo faziam parte o general Freire Gomes, então comandante do Exército e o general Paulo Sergio, à época ministro da Defesa.
Ainda dentro desse núcleo mais moderado havia uma ala que defendia que Bolsonaro deveria sair do país. Essa era a tese defendida por Mauro Cid e pelo atual senador Magno Malta, que chegou a ser do grupo mais radical, mas depois passaria a ter defendido a saída do país. O argumento também era defendido por pessoas como o empresário do agronegócio Paulo Junqueira, que chegou a bancar uma viagem de Bolsonaro ao exterior.
Os radicais
O último grupo descrito na delação de Cid é o dos radicais. Uma parte desse grupo defendia a busca por indícios de supostas fraudes nas urnas eletrônicas, o que poderia justificar um questionamento do resultado das eleições e da posse de Lula.
Essa ala pressionaria o Ministério da Defesa em busca de elementos que pudessem pôr em dúvida a credibilidade das urnas — naquele ano, as Forças Armadas atuaram no papel de observadores do processo eleitoral. Essa parte tinha o endosso de lideranças como o general Eduardo Pazzuelo, ex-ministro da Saúde da gestão Bolsonaro, e do presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
Outra parte deste grupo era ainda mais extremista e segundo Cid seria “ a favor de um braço armado ” , pretendendo “ de alguma forma incentivar um golpe de Estado” e defender que Bolsonaro “ assinasse o decreto [ do golpe ] ” .
Segundo Cid, esses radicais acreditavam que em caso de um golpe Bolsonaro teria o apoio do povo e dos Colecionadores de armas, Atiradores desportivos e Caçadores ( CACs ) , que poderiam atuar como uma “ tropa civil em caso de um golpe ” . Cid também afirma que a ala “ romantizava ” o Artigo Cento e quarenta e dois da Constituição Federal de Mil novecentos e oitenta e oito ( CF - 88 ) como fundamento para uma ruptura democrática.
O grupo dos mais radicais seria formado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, pelo ex-assessor internacional de Bolsonaro, Felipe Martins, pelo ex-ministro Onix Lorenzoni, pelo ex-ministro Gilson Machado, os atuais senadores Magno Malta e o catarinense Jorge Seif, além da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e do general Mario Fernandes.
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