sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Golpe de 2016: ao relembrar 5 anos, ex-presidente diz: "depende de nós" revertê-lo

Foi o povo nas ruas que resistiu, cinco anos atrás, ao golpe de 31 de agosto de 2016, que tirou Dilma Rousseff da Presidência. E é o povo nas ruas que vai garantir, agora, a vitória sobre os golpistas, para fazer com que o Brasil retome seu caminho de inclusão, democracia plena e soberania. Esse é um consenso entre as lideranças do Partido dos Trabalhadores que participaram, nesta terça-feira (31), do lançamento do livro Brasil: 5 anos de golpe e destruição, organizado por Sandra Brandão e editado pela Fundação Perseu Abramo (FPA) (clique aqui para baixá-lo de graça).


Último a discursar (assista à íntegra do evento abaixo), o presidente Lula disse ter certeza de que o golpe, baseado em um impeachment fraudulento sem crime de responsabilidade, ocorreu para “pôr um freio na possibilidade de o PT continuar governando este país”. Segundo Lula, o PT ousou desafiar interesses internacionais (ao buscar formar um bloco sul-americano e buscar diálogo com outros países que não os Estados Unidos e da Europa) e da elite econômica do país.

“É difícil imaginar um país com 350 anos de mentalidade escravista aceitar que o povo pobre suba um degrau. Não dois, um. Que as pessoas adquiram o direito de tomar café, almoçar e jantar; o direito de ter aumento de salário mínimo todo ano; que a empregada doméstica seja reconhecida nos seus mais elementares direitos, tenha férias, 13º, hora para almoço”, afirmou Lula, acrescentando: “A gente não queria que o pobre fosse melhor. A gente queria que o pobre fosse igual.”

Vítima do desdobramento do golpe, que o prendeu por 580 dias e o impediu de concorrer às eleições em 2018, Lula disse que foi na prisão, graças à vigília Lula Livre, que recuperou a certeza de que é a mobilização popular que salvará o país. “Eu poderia ter dúvida de alguma coisa, mas quando vi brasileiros de todos os cantos do país ficar 580 dias na frente daquela Polícia Federal defendendo a minha inocência e a honra do PT, vi que temos de acreditar em uma coisa: só depende de nós e podemos voltar. E a gente não quer voltar para se vingar. A nossa vingança vai ser outra. Vai ser mais educação, mais salário, mais emprego, mais cultura, mais oportunidade, mais bolsa de estudo. Essa vai ser nossa vingança. Vai ser dizer: ‘Ó nós aqui outra vez, para fazer mais e melhor’.”

Organização e luta


Dilma Rousseff também destacou a importância da mobilização popular. Ela celebrou que o PT esteja, neste momento, fortalecendo sua histórica identidade com os movimentos populares e as demais forças progressistas e democráticas. “A mudança na correlação de forças virá da capacidade do povo brasileiro de se auto-organizar. São as lutas populares que importam, as manifestações de rua que importam”, analisou.

A presidenta lembrou que, no discurso proferido logo após a concretização do golpe, ela afirmou que aquela história não terminaria ali, e que as forças progressistas resistiriam e voltariam a governar o país. “E isso depende da nossa capacidade de nos articularmos com as outras forças populares e democráticas.”

O mesmo observou a presidenta nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), que fez um especial agradecimento a todos que, cinco anos atrás, resistiram e ajudaram a mostrar que o processo contra Dilma era um golpe. “Foi importante resistir, marcar, naquele momento, mostrando para a história, que aquilo não era um impeachment, era um golpe. Que aquilo era contra a Constituição e contra o povo brasileiro. Fizemos a luta política na Câmara dos Deputados e no Senado. Mas o nosso povo fez nas ruas. A nossa militância aguerrida, bravia, foi para as ruas e enfrentou aquele momento, enfrentou a narrativa política. E hoje todos sabem que aquilo não foi um impeachment, foi um golpe”, disse.

Agora, o momento é de articulação para que o Brasil escape das mãos dos golpistas, acrescentou Gleisi. “Ainda vai ser preciso muita luta para que tenhamos a centralidade da democracia no Brasil. Não trabalhamos com ódio nem temos problema em conversar com ninguém. Mas é importante lembrar que nós temos uma missão, que o que nos traz aqui é um projeto muito claro e que nós temos lado, que é o da maioria do povo brasileiro. E é esse lado que vai nos dar sempre força para seguir em frente. Temos de beber da lição de Paulo Freire: além de esperançar o povo brasileiro, é com a organização popular e com a participação que, efetivamente, vamos mudar este país. Sem isso, não conseguiremos fazer as mudanças que são necessárias.”

A esperança vencerá o ódio


O ex-ministro da Educação Fernando Haddad disse acreditar que, com luta, será possível transformar sofrimento em um grito definitivo de liberdade. “Que esse sofrimento todo seja, a partir de agora, um momento não só de profunda reflexão sobre o que é a história deste país — a história de violência contra os negros, as mulheres, os trabalhadores. Seja também um processo em que nós assimilemos todos os desmandos que presidiram este país por mais de 500 anos e tenhamos, no bicentenário da Independência, nossa verdadeira alforria e demos o grito final de liberdade deste país, em relação àqueles de fora que nos oprimem e sobretudo àqueles que, dentro do nosso país, servem de quinta coluna, contra o povo e a soberania nacional.”

Já o presidente da FPA, Aloizio Mercadante, lembrou que só o projeto defendido pelo PT pode restaurar a democracia plena no país. “As forças conservadoras do Brasil estão divididas entre o neoliberalismo bolsonarista e o neoliberalismo tardiamente antibolsonarista. No entanto, ambos são incapazes de restaurar a democracia plena no Brasil, aprofundá-la e consolidá-la, pois essas duas correntes políticas apostam no Estado mínimo, na desigualdade, na destruição de direitos, na exclusão social e na dependência como elementos constituidores de um elemento econômico e social elitista e excludente. Uma democracia real não pode ser construída dessa maneira. (…) Resistimos e voltaremos. A esperança, que venceu o medo em 2002, vencerá o ódio em 2022.”

Com informações de pt.org.br .

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