quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Ataques ao STF: foragido entrega-se à polícia em SC

Preso em Joinville ( Estado de Santa Catarina - SC ), onde entregou-se na Delegacia do Departamento da Polícia Federal ( DPF ) nesta terça-feira ( vinte e seis de outubro de dois mil e vinte e um ), após permanecer quase dois meses foragido, o caminhoneiro bolsonarista Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão, não foi interrogado. Seguiu direto para o Presídio Regional, e ainda não há informações de quando será ouvido pelas autoridades.

Zé Trovão foi preso em Joinville após se entregar à PF
Zé Trovão foi preso em Joinville após se entregar ao DPF ( Foto : Reprodução )

O caso, no entanto, deixou um rastro de perguntas ainda sem resposta. A coluna separou três dos principais questionamentos que as autoridades ainda precisam responder.

1 – Como Zé Trovão entrou no Brasil sem ser preso

Quando o Supremo Tribunal Federal ( STF ) expediu mandado de prisão contra Gomes, por descumprimento de ordens judiciais, ele estava no México. Ainda em setembro, a PF colocou o nome dele na lista vermelha da Interpol, onde estão os brasileiros com mandado ativo de prisão. Com isso, notificou a polícia internacional de que Gomes era procurado pela Justiça no Brasil.

Assim como funciona no Brasil, no México a prisão de um estrangeiro precisaria ser referendada pela Justiça local. O fato do mandado mirar em um aliado do governo brasileiro tornou o caso uma saia-justa diplomática, e é provável que por esse motivo não tenha havido encaminhamento. Mas, com o mandado de prisão ativo, Gomes seria detido no momento em que retornasse ao país. O que não aconteceu.


Nem a Polícia Federal, nem a defesa do caminhoneiro, informam como ele entrou no Brasil. Fontes ouvidas pela coluna da jornalista Dagmara Spautz, do jornal Diário Catarinense ( DC ) apontam a possibilidade de que Gomes tenha seguido até a Argentina ou o Paraguai de avião, e feito o restante do trajeto por meio rodoviário. Mas chama atenção que não tenha sido identificado em nenhuma fronteira brasileira. Ao site local Top Elegance, Gomes disse antes de se apresentar à polícia que já estava em casa, em Joinville, desde o último domingo ( vinte e quatro de outubro de sois mil e vinte ).

 

2 – Por que se entregou


Há diferentes versões sobre os motivos que teriam feito Gomes, foragido, retornar ao Brasil. A primeira delas foi levantada por fontes próximas ao caminhoneiro e pela sua antiga defesa, que apontaram dificuldades financeiras para que ele continuasse no México. As fontes de financiamento teriam se esgotado ao longo do tempo.

Em uma petição anexada ao inquérito que investiga a organização dos atos de Sete de Setembro, que corre em sigilo no Supremo, seu antigo advogado afirmou que o caminhoneiro é pai de um filho recém-nascido em Joinville, que depende “do trabalho e da renda paterna”.

A advogada Thaise Mattar Assad, que assumiu recentemente o caso de Gomes e o acompanhou nesta terça-feira, disse à coluna que, além de questões familiares, Gomes passou a “confiar na Justiça” e por isso se entregou. Ela informou que apresentará um pedido de liberdade para o caminhoneiro ao ministro Alexandre de Moraes.


Mas há ainda uma leitura política sobre o contexto da entrega do bolsonarista Gomes, que coincide com uma nova mobilização de caminhoneiros - desta vez, insatisfeitos com o preço do diesel e a tabela do frete. Seria um recado à categoria, um "sacrifício" pró-governo ( manobra arriscada, já que Gomes não é reconhecido como liderança pelos motoristas ). O presidente Jair Bolsonaro ( sem partido ) chegou a anunciar um auxílio para caminhoneiros para tentar frear os ânimos da categoria.


3 – Quem financiou seu turismo internacional pela América Central


É fundamental para as autoridades entender como um desconhecido caminhoneiro catarinense, alçado a influencer bolsonarista, consegue fazer turismo pela América Central enquanto é procurado pelo DPF. Segundo informações do próprio DPF, Gomes passou pelo Panamá e pelo México, onde hospedou-se em Guadalajara, Cidade do México e em Cancún, conhecido destino turístico caribenho.

Caminhoneiros creditam ao setor do agronegócio mais próximo a Bolsonaro o financiamento de Gomes. Isto explicaria como ele conseguiu deixar o país e se movimentar livremente no exterior.


Esta hipótese, no entanto, era afastada por sua antiga defesa. Seu ex-advogado disse Dagmara que o caminhoneiro vinha se mantendo com “o básico do básico”, por meio de recursos que enviados por amigos e conhecidos - especialmente de SC, das cidades de Joinville, São Francisco do Sul e Itajaí. Uma chave Pix e uma conta bancária que eram usadas para o envio de doações anônimas para o caminhoneiro, foram bloqueadas pelo STF.

Identificar a fonte de recursos do turismo internacional de Gomes pode ajudar a explicar o financiamento de atos de teor golpista que estão na mira do Supremo e são inconstitucionais.


Com informações de:


Dagmara Spautz, do jornal Diário Catarinense ( DC ).

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