sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Direitos Humanos: Bolsonaro veta distribuição de absorventes femininos

O veto do presidente Jair Bolsonaro a trechos de um projeto que previa a distribuição gratuita de absorventes a mulheres de baixa renda recebeu críticas de mulheres que atuam em ações voltadas justamente a fazer esse papel de combate à chamada pobreza menstrual. A repercussão também foi negativa em Santa Catarina

Projeto Menstruando sem Tabu atende mensalmente 1,5 mil mulheres na Grande Florianópolis
Projeto Menstruando sem Tabu atende mensalmente 1,5 mil mulheres na Grande Florianópolis
( Foto: 
O projeto Menstruando Sem Tabu atende mensalmente 1,5 mil mulheres na Grande Florianópolis e mais 250 em Criciúma, por meio de uma parceria com outra entidade. Apesar disso, há pelo menos outras 5 mil mulheres na região da Capital que estão em uma espécie de lista de espera, mas que por enquanto a iniciativa não consegue atender.


A fundadora do coletivo, Laís Santos, não escondeu a decepção com a notícia de veto à distribuição de absorventes por parte do governo Bolsonaro.

– É muito triste que questões como essa fiquem barradas pelo financeiro. É tão importante quanto distribuir camisinha nos postos, remédios nos postos de saúde – defende.

Laís diz saber que projetos isolados como o que ela lidera não vão conseguir atender a todas, e via na proposta uma forma de garantir equidade entre mulheres de diferentes classes sociais.

– Não é só o absorvente, é o que a falta de acesso a esse item acarreta para a pessoa que menstrua. (O governo) Vai gastar com o SUS depois porque a pessoa vai apresentar desde infecção urinária até coisas mais graves – questiona.

Tecido, papel higiênico, miolo de pão, papelão e jornal estão entre os itens usados por mulheres de baixa renda que precisam conter o fluxo durante o período menstrual.

“Muitas vão para o tecido, papel higiênico”

Laís Santos rebate críticas de pessoas que consideram o absorvente um gasto baixo para as famílias, e lembra que no momento atual do país muitas famílias têm dificuldade até mesmo para comprar comida.

– Uma chefe de família que hoje recebe o auxílio (emergencial) de R$ 375 muitas vezes tem cinco, seis pessoas que menstruam na mesma casa. Se for somar isso, vai dar R$ 60, para uma renda de R$ 375. Muitas abrem mão de comprar absorvente e vão para o tecido, papel higiênico. Tem relatos que você fica chocado. Entre comprar comida e absorvente, a pessoa vai decidir por comida. É uma batalha perdida – analisa a voluntária.

O veto de Bolsonaro à distribuição de absorventes também rendeu críticas de lideranças de SC nas redes sociais. A vereadora de Florianópolis, Carla Ayres (PT), que apresentou projeto sobre combate à pobreza menstrual na Capital, afirmou que combater os diferentes tipos de pobreza não seria prioridade do governo atual.

– Esperamos que o Congresso derrube o veto de Bolsonaro e que as pessoas que menstruam possam ter sua dignidade menstrual – publicou em uma rede social.

A vereadora de Criciúma, Giovana Mondardo (PCdoB), também é autora de um projeto transformado em lei para combate à pobreza menstrual. No Twitter, a parlamentar defendeu que “dignidade menstrual é direito básico” e prometeu pressionar pela derrubada dos vetos no Congresso.

A reportagem tentou contato com as duas cereadoras para comentar o veto de Bolsonaro, mas não teve retorno até a publicação.

Projeto previa distribuição a estudantes e mulheres presas

A proposta que teve artigos vetados por Bolsonaro previa a doação de absorventes a estudantes de baixa renda matriculadas em escolas da rede pública, mulheres em situação de rua ou em situação de vulnerabilidade social extrema; mulheres apreendidas e presidiárias; e mulheres internadas em unidades para cumprimento de medida socioeducativa.

Pesquisa divulgada em maio deste ano revelou que 28% das mulheres brasileiras deixaram de ir à aula por não conseguirem comprar o item de higiene menstrual. O Congresso ainda vai analisar o tema e pode derrubar os vetos de Bolsonaro

Com informações de:


Jean Laurindo ( jean.laurindo@somosnsc.com.br ).

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