Os próximos anos provavelmente exigirão inovações e mudanças tecnológicas tão grandes quanto as que alguma vez esta geração já tenha testemunhado. Boa parte, porém, em acentuado contraste com o século dezenove, precisará ser feita pelas organizações estabelecidas, principalmente pelas empresas estabelecidas.
Não é verdade, como geralmente se diz, que as grandes empresas monopolizam a inovação. Pelo contrário, os últimos cinquenta anos foram preeminentemente anos em que pequenas empresas e, muitas vezes, empresas novas e totalmente desconhecidas produziram uma parcela muito grande das inovações mais eficazes. A Xerox não era nada mais do que um pequeno comércio de papel em mil novecentos e cinquenta. Mesmo a IBM ainda era uma pequena companhia, e um simples pigmeu, em seu próprio setor de equipamentos de escritório, durante a Segunda Guerra Mundial. Muitos dos gigantes farmacêuticos de hoje eram pequenas companhias ou mal existiam no final da Segunda Guerra Mundial, e assim por diante.
Mas, ainda assim, cada vez mais, o maior esforço em mudança tecnológica está no desenvolvimento e a na introdução no mercado. Estas atividades não requerem genialidade; requerem uma grande quantidade de gente competente e grandes somas de capital. Estes dois requisitos são, de fato, encontrados em instituições estabelecidas, sejam empresas ou governos.
No geral, as empresas existentes precisarão se transformar em organizações inovadoras. Nos últimos cinquenta a setenta e cinco anos, a ênfase tem sido, apropriadamente, em administrar aquilo que já é conhecido e entendido. Pois o ritmo da inovação tecnológica ( e até mesmo o ritmo da mudança econômica ) nos últimos setenta e cinco anos foi especialmente lento, ao contrário da crença popular.
Agora a empresa precisará tornar-se novamente empreendedora. A função empreendedora, como viu claramente o primeiro economista da Europa continental, J.B.Say ( que viveu entre mil setecentos e sessenta e sete e mil oitocentos e trinta e dois ) há quase dois séculos, consiste em transferir os recursos existentes das áreas de menor produtividade para as áreas de maior produtividade. Não significa, portanto, criar riqueza descobrindo novos continentes, e sim descobrindo novos e melhores usos para os recursos existentes e para os potenciais econômicos conhecidos e já explorados. A tecnologia, embora não seja a única utilizada para este fim, é uma ferramenta importante, podendo até mesmo ser considerada a mais importante.
A grande tarefa da empresa pode ser definida como a de reagir à lei de entropia, específica de qualquer sistema econômico: a lei da produtividade decrescente do capital. Foi nesta lei que Karl Marx baseou sua previsão sobre o fim iminente do sistema burguês ( denominação da época do que hoje se conhece como capitalismo liberal neoliberal ). Pode-sem dizer hoje que aquele sistema realmente acabou ou se transformou num outro sistema hoje conhecido pelo mesmo nome mas totalmente diferente daquele sistema burguês do século dezenove. No entanto, além de o capital não ter se tornado menos produtivo, ele tem continuamente aumentado sua produtividade nos países desenvolvidos ( em reação à tendência assumida pela lei da entropia e obedecendo-a ). Portanto, Karl Marx estava certo em sua premissa. Largada à própria sorte, qualquer economia realmente se moverá rumo a uma produtividade de capital cada vez menor. A única maneira de se evitar a entropia, a única maneira de se evitar que ela degenere em uma rigidez estéril, é a constante renovação da produtividade do capital através do empreendedorismo, ou seja, transferindo recursos de um uso menos produtivo para um mais produtivo. isto é o que leva, portanto, a tecnologia a se tornar mais importante quanto mais altamente desenvolvida em termos tecnológico forem a sociedade e a economia.
Nos próximos anos, quando o mundo terá de lidar com problema populacional, problema energético, problema de recursos e problema básico de comunidade ( isto é, a cidade ) ( e isto, em grande parte já está acontecendo ), esta função provavelmente se tornará cada vez mais importante; a propósito, isto ocorrerá independentemente de qual seja a estrutura política, social ou econômica de uma economia desenvolvida, isto é, independentemente de o sistema ser capitalista do tipo liberal ou neo liberal, socialista, comunista com as modificações introduzidas nos século vinte e vinte e um ou qualquer outra coisa nova que tenha surgido ou venha a surgir na sociedade pós-capitalista.
Isto exigirá que os empresários aprendam como construir e administrar uma organização inovadora. Em geral, a organização inovadora tem sido discutida em termos de criatividade e de atitudes. Na verdade, porém, ela precisa de políticas, práticas e estrutura. Ela requer, em primeiro lugar, que a gestão antecipe as necessidades tecnológicas, identifique-as, planeje para elas e trabalhe para que sejam satisfeitas.
Ela requer, em segundo lugar, de forma talvez mais importante, que a gestão abandone, de maneira sistemática, o passado.
A criatividade é, em grande medida, uma desculpa para não se fazer algo. O problema em muitas organizações incapazes de inovar e se renovar é que elas não conseguem desprender-se do passado, do desgastado, daquilo que não é mais produtivo. Pelo contrário, elas tendem a alocar nisto seus melhores recursos, especialmente seu melhor pessoal. Qualquer corpo que não consegue eliminar os resíduos de produtos acaba envenenando a si próprio. Para tornar uma organização inovadora, é necessário adotar uma política sistemática de se abandonar aquilo que efetivamente não se mostra mais produtivo, aquilo que verdadeiramente não esteja mais contribuindo. A organização inovadora requer, acima de tudo, que cada produto, cada processo e cada atividade sejam postos periodicamente em julgamento por sua continuidade ( talvez a cada dois ou três anos ). A pergunta a ser feita é a seguinte: "Se já não fizéssemos isto atualmente, faríamos o mesmo a partir de agora ( sabendo o que sabemos hoje )?". Se a resposta for negativa, então não se deve perguntar: "Devemos abandonar isto?". A pergunta a ser fazer em seguida é: "Como podemos abandonar isto, e com que rapidez?".
A organização que, sistematicamente, se desprende do antigo, seja ela uma empresa, uma universidade ou uma agência governamental, não precisa se preocupar com a criatividade. Ela terá um apetite tão saudável pelo novo que a principal tarefa da administração será selecionar, dentre a grande quantidade de boas ideias novas, aquelas com maior potencial de contribuição e aquelas com maior potencial de execução bem-sucedida.
Além disto, a organização inovadora precisa de políticas específicas. Ela precisa de sistemas de informação e de medição que sejam apropriados à realidade econômica da inovação ( a regular, moderada e contínua taxa de retorno sobre o investimento [ ROI - sigla em inglês ] seria uma medida errada ). A inovação, por definição, representa apenas custos por muitos anos, antes de gerar lucro. Ela é, em primeiro lugar, um investimento e se transforma em retorno somente muito depois. Mas isto também significa que a taxa de retorno deve ser bem maior do que a maior taxa de retorno para a qual os gestores planejam no tipo tradicional de empresa. Precisamente pelo fato de que o tempo de espera ser longo e a taxa de fracasso ser elevada, uma inovação bem-sucedida em uma organização inovadora deve visar á criação de um novo negócio com potencial para a geração de riqueza, em vez de uma adição simples e agradável ao que já se possui e ao que já se faz normalmente.
Finalmente, é necessária a contatação de que o trabalho inovador não pode ser organizado e realizado dentro das unidades administrativas normais, ou seja, departamentos preocupados principalmente com o trabalho de hoje e do futuro. Ele precisará ser organizado em separado, com princípios estruturais diferentes e em componentes estruturais diferentes. Acima de tudo, as demandas de autodisciplina na gestão e de clareza no direcionamento e nos objetivos são muito maiores no trabalho inovador e devem ser estendidas para um círculo muito maior de pessoas. Assim, a organização inovadora, embora fazendo parte organicamente do negócio em andamento, precisa ser separada estrutural e administrativamente. Para que os empresários possam construir e liderar organizações inovadoras, precisarão, então conseguir fazer ambas as coisas: administrar o já conhecido e criar o novo e desconhecido. Precisarão conseguir otimizar o negócio existente e maximizar o negócio em potencial.
Para a maioria dos empresários, estas ideias são estranhas e, de fato, um pouco assustadoras. Mas existem muitas empresas realmente inovadoras no mercado ( em praticamente todos os países ) mostrando que a tarefa pode ser realizada e que certamente é factível. Na verdade, é necessário, em primeiro lugar, o reconhecimento ( que falta até agora no pensamento administrativo e em quase toda literatura sobre gestão ) de que a organização inovadora é uma organização distinta e diferente, e não apenas uma organização tradicional ligeiramente modificada. Outras informações podem ser obtidas no livro Rumo à nova economia, de autoria de Peter F. Drucker.
Atualmente, afirma-se com frequência que a tecnologia estaria se movendo à velocidade da luz em comparação com épocas anteriores. Não há evidências para esta afirmativa. Igualmente, afirma-se que o novo conhecimento está sendo convertido em nova tecnologia muito mais rapidamente do que em qualquer época anterior. Isto é demonstrável como falso. Na verdade, há uma boa quantidade de evidências que revelam que leva mais tempo hoje para converter o novo conhecimento, principalmente o novo conhecimento científico, do que levava no século dezenove ( se não, também, nos séculos dezoito e anteriores ). Existe um tempo de espera, e ele é bastante longo.
Passaram-se mais de vinte anos desde o projeto do primeiro dínamo eficaz da Siemens até o desenvolvimento da primeira lâmpada elétrica de Edison, que pela primeira vez, tornou possível uma indústria elétrica. Levou pelo menos o mesmo prazo ( na verdade, levou mais tempo ) desde o projeto do primeiro computador funcional no início dos anos quarenta até a produção de computadores verdadeiramente eficazes; sem falar no desenvolvimento do software sem o qual o computador é um centro de custo ( como foi a primeira companhia elétrica ), e não um produtor de riqueza e de ativos econômicos. E existem inúmeros exemplos similares. O tempo de espera para a conversão de novo conhecimento em tecnologia efetiva varia muito, dependendo do setor econômico. Talvez ele seja menor na indústria farmacêutica. Mas, mesmo neste caso, ele é mais próximo de dez anos do que de dez meses. E, em qualquer setor industrial, o tempo de espera parece ser relativamente constante.
O que encurtou foi o tempo entre a introdução de uma nova tecnologia no mercado e sua aceitação geral. Há menos tempo para se estabelecer uma posição pioneira, e muito menos para uma posição de liderança. Porém, mesmo neste caso, o tempo de espera não encurtou tão significativamente, como muitas pessoas, incluindo muitos empresários, concluem. Tanto para a lâmpada elétrica quanto para o telefone, ou seja, nos anos oitenta do século dezenove, o tempo de espera entre uma invenção tecnológica bem-sucedida e sua ampla aceitação ( na verdade, em todo o mundo ) foi de alguns meses. Dentro do período de cinco anos após Edison ter mostrado sua lâmpada elétrica a jornalistas convidados, cada uma das principais indústrias do setor elétrico existentes atualmente no mundo ocidental ( excetuando-se apenas a Phillips, na Holanda ) se estabelecera nos negócios, e era líder em seu respectivo mercado. O mesmo vale para o telefone e para os equipamentos telefônicos.
Em outras palavras, cabe ao empresário entender qual novo conhecimento está se tornando aceitável e disponível, a fim de avaliar se possível impacto tecnológico e trabalhar na conversão dela em tecnologia; isto é, em processos e produtos. Para tanto, ele precisa conhecer não apenas a ciência e a tecnologia de seu próprio campo. Acima de tudo, precisa saber que, com muita frequência, se não usualmente, as grandes inovações tecnológicas tê origem em um campo da ciência ou do conhecimento que é diferente daquele onde a velha tecnologia tem suas bases de conhecimento que é diferente daquele onde a velha tecnologia tem suas bases de conhecimento. Neste sentido, a abordagem típica da pesquisa, ou seja, a abordagem de se desenvolver conhecimento especializado no campo em que já se é ativo, talvez seja uma referência para a liderança tecnológica, e não seu principal pilar, como, em geral se pensa. Em outras palavras, é preciso haver um especialista em tecnologias, e não um cientista. Muitas vezes um leigo, com boa percepção para a ciência e a tecnologia, e com legítimo interesse intelectual, faz isto muito melhor do que um especialista altamente treinado em um campo técnico ou científico ( que, provavelmente, seria prisioneiro de seu próprio conhecimento avançado ).
Não é necessário, nem mesmo desejável, que o empresário se torne um cientista ou mesmo um especialista em tecnologia. Seu papel consiste em administrar a tecnologia. Isto requer uma compreensão do processo da tecnologia e de suas dinâmicas. Isto requer uma compreensão do processo da tecnologia e de suas dinâmicas. Também requer disposição para antecipar a tecnologia do futuro e, acima de tudo, disposição para aceitar que a tecnologia de hoje, com seus processos e produtos, está rapidamente se tornando obsoleta. Isto requer identificar as necessidades para uma nova tecnologia e as oportunidades do mercado e nas necessidades da sociedade. Acima de tudo, requer a aceitação do fato de que a tecnologia precisa ser considerada uma importante oportunidade de negócio, para cuja identificação e exploração o empresário é pago. Outras informações podem ser obtidas no livro. Rumo à nova economia, de autoria de Peter F. Drucker.
A imprevisibilidade da tecnologia é um slogan antigo. De fato, ele abriga, em grande parte, o medo generalizado da tecnologia. No entanto, não chega nem mesmo a ser verdade que a invenção não pode ser antecipada e planejada. Na verdade, o que tornou grandes os grandes inventores do século dezenove ( Edison, Siemens ou os irmãos Wright ) foi precisamente o fato de saberem como antecipar a tecnologia, definir o que era necessário e o que provavelmente teria impacto real, e planejar a atividade tecnológica para a inovação específica com maior impacto tecnológico; e, em consequência, com o maior impacto econômico.
Em relação á inovação, é ainda mais verdadeiro que é possível antecipar e planejar; de fato, em relação à inovação, é preciso antecipar e planejar para ter algum efeito. Certamente é com a inovação, mais do que com a invenção, que o empresário está preocupado. A inovação não é um termo técnico, e sim social e econômico. Ela é a mudança na capacidade de produção de riqueza dos recursos através de novas maneiras de fazer as coisas. Ela não é idêntica á invenção, embora, em geral, venha em seguida a ela. A inovação se preocupa com o impacto na capacidade econômica e na capacidade de produção e de utilização dos recursos. Esta é a área em que a empresa está envolvida.
Deve-se dizer que a tecnologia não é mais previsível do que qualquer outra coisa. na verdade, as previsões da tecnologia são, na melhor das hipóteses, inúteis e suscetíveis de estar totalmente erradas. Júlio Verne, o escritor francês e ficção científicas de há mais de cem anos, é lembrado hoje porque suas previsões acabaram se revelando incrivelmente proféticas. Mas o que se esquece é que Júlio Verne foi apenas um de várias centenas de escritores de ficção científica do final do século dezenove ( que, de fato, foi bem mais a era dos livros de ficção científica do que até mesmo as últimas décadas ). E os outros duzentos e noventa e nove escritores de ficção científica da época, cuja popularidade muitas vezes rivalizava e às vezes até excedia a de Julio Verne, estiveram todos completamente errados. O mais importante, porém, é que ninguém poderia ter feito algo de concreto na época com as previsões de Júlio Verne. Na maioria delas, as bases científicas necessárias para criar a tecnologia prevista não existiam na época e não viriam a existir por muitos anos depois.
Para o empresário ( mas também para o economista ou o político ), o que importa não é a previsão, e sim a capacidade de agir. e esta não pode ser baseada em previsão.
Porém, a tecnologia pode ser antecipada. Não é muito difícil ( embora não seja fácil ) analisar as empresas existentes, os setores industriais existentes, as economias e os mercados existentes para encontrar onde é necessário realizar uma mudança na tecnologia e onde ela é passível de se mostrar economicamente eficaz. Seria um pouco menos fácil, embora ainda dentro dos limites da capacidade humana, pensar nas áreas em que existiria elevado potencial para uma tecnologia nova e eficaz.
Em primeiro lugar, é possível categoricamente dizer que, sempre que um setor industrial desfrutar de uma demanda elevada e crescente, sem conseguir mostrar lucratividade correspondente, existe a necessidade de se realizar uma grande mudança tecnológica e de haver oportunidade neste sentido. este setor industrial pode ser considerado, quase de forma axiomática, como tendo uma tecnologia inadequada, não econômica ou totalmente inapropriada. Um exemplo deste tipo de setor econômico seria a indústria siderúrgica nos países desenvolvidos desde a Segunda Guerra Mundial ou a indústria do papel. Estes são setores industriais em que mudanças relativamente pequenas no processo ( ou seja, mudanças relativamente pequenas na tecnologia ) poderiam produzir importantes mudanças na economia do setor. Assim, estas indústrias que se poderiam tornar propensas à mudança de tecnologia. O processo é economicamente deficiente ou tecnologicamente deficiente; às vezes ambos.
De forma semelhante, também é possível encontrar vulnerabilidades e restrições que fornecem oportunidades para novas tecnologias na economia de um negócio e no mercado e na estrutura do mercado. As perguntas "Quais são as demandas do cliente e do mercado que a atual empresa e a atual tecnologia não satisfazem adequadamente?" e "Quais são as demandas não satisfeitas do cliente e do mercado?" ( ou seja, as questões básicas para o planejamento de mercado ) também são as questões básicas para se definirem quais tecnologias são necessárias, apropriadas e propensas a produzir resultados econômicos com o mínimo esforço.
Uma maneira especialmente proveitosa para se identificarem áreas em que as inovações tecnológicas poderiam ser acessíveis e altamente produtivas seria perguntar: "Do que temos medo neste negócio e neste setor econômico, Quais são as coisas que todos asseguram que nunca poderão acontecer, mas que no entanto, é sabido perfeitamente bem que podem acontecer e poderiam nos ameaçar, Onde, em outras palavras, nós mesmos sabemos no fundo de nosso coração que nossos produtos, nossa tecnologia, nossa abordagem da satisfação que fornecemos para o mercado e o cliente não são verdadeiramente apropriados e não mais atendem completamente à sua função?". A resposta típica de uma empresa a estas perguntas é negar que tenham validade. Trata-se de responsabilidade do gestor que queira administrar a tecnologia em benefício de seu negócio e de sua empresa superar esta reação quase reflexa e forçar que ele mesmo e sua empresa levem a sério estas questões. O necessário nem sempre é uma nova tecnologia. Pode igualmente ser uma mudança para novos mercados ou para novos canais de distribuição. Mas, a menos que a pergunta seja feita, algumas oportunidades tecnológicas serão perdidas ( na verdade, serão equivocadamente consideradamente consideradas ameaças ).
Estas abordagens ( das quais apenas um esboço básico pode ser dado neste texto ) são aplicadas da mesma forma às necessidades da sociedade e às necessidades do mercado. Afinal, a função do empresário é converter a necessidade, seja do consumidor individual ou da comunidade, em oportunidades para a empresa. A empresa e o empresário são pagos exatamente para identificar e satisfazer estas necessidades. Os maiores problemas atuais das cidades, do meio ambiente ou de energia são igualmente oportunidades para novas tecnologias e para se converter a tecnologia existente em ação econômica eficaz. Ao mesmo tempo, ao administrar a tecnologia, o empresário também deve começar com as necessidades de seu próprio negócio por novos produtos, novos processos, novos serviços, em substituição àquilo que rapidamente está se tornando velho e obsoleto; ou seja, o que deve ser substituído hoje. Ao se identificarem as necessidades e as oportunidades tecnológicas, também se deve começar, portanto, com o pressuposto de que é provável que qualquer coisa que a empresa esteja fazendo atualmente ficará obsoleta muito em breve.
Esta abordagem pressupõe uma vida limitada e relativamente curta para quaisquer que sejam os produtos, processos e tecnologias aplicadas hoje em dia. Estabelece, então uma defasagem, ou seja, o volume de vendas a que produtos e processos ainda não existentes terão de atender em dois, cinco ou dez anos. Ela identifica o escopo e a extensão do esforço tecnológico necessário. Mas também estabelece o tipo de esforço que seria necessário, pois determina por que os produtos e processos atuais podem tornar-se obsoletos e estabelece as especificações para sua substituição.
Finalmente, para conseguir antecipar a tecnologia, identificar o que é necessário e o que é possível, e, acima de tudo, o que é provável que seja tecnologia produtiva, o administrador de empresas precisa entender a dinâmica da tecnologia. Não é verdade que a tecnologia seja misteriosa. Ela segue tendências relativamente regulares e previsíveis. Ela não é ciência, como se costuma dizer. Ela não é nem mesmo ciência aplicada. No entanto, ela começa com um novo conhecimento que é convertido, em um processo razoavelmente bem compreendido, em uma aplicação eficaz, ou seja, economicamente produtiva. Outras informações podem ser obtidas no livro Rumo à nova economia, de autoria de Peter F. Drucker.
A tecnologia tem sido notícia de primeira página por muito mais de um século; e nunca tanto quanto hoje. No entanto, apesar de toda a conversa sobre tecnologia, não se fez muito esforço par entendê-la ou estudá-la, quanto mais administrá-la. Os economistas, historiadores e sociólogos destacam a importância da tecnologia, mas depois começam a tratá-la com uma indiferença benigna, se não com total desprezo ( sobre isto, vide Nota histórica ao final deste texto ).
De forma ainda mais surpreendente, as empresas e os empresários têm feito incrivelmente pouco para entender a tecnologia e ainda menos para administrá-la. A empresa moderna é, em uma extensão bastante considerável, fruto da tecnologia. Certamente, a grande organização empresarial é principalmente a resposta dos negócios ao desenvolvimento tecnológico. A indústria moderna nasceu quando a nova tecnologia da geração de energia ( principalmente energia hidráulica no início ) forçou as atividades de produção para fora das residências e oficinas para debaixo do mesmo teto de uma fábrica moderna, começando com a indústria têxtil na Grã-Bretanha do século dezoito. e os grandes empreendimentos empresariais atuais têm suas raízes no primeiro negócio importante: nas grandes ferrovias de meados do século dezenove, ou seja, na inovação tecnológica. Desde então, o crescimento das indústrias, até chegar às companhias farmacêuticas e de informática de hoje, tem sido , em grande parte, a consequência de novas tecnologias.
Ao mesmo tempo, as empresas têm crescentemente se tornado as criadoras de tecnologia. Cada vez mais a inovação tecnológica vem do laboratório das indústrias e se torna mais efetiva através de empreendimentos empresariais. Cada vez mais, a tecnologia depende dos negócios das empresas para se tornar uma inovação ( isto é, com uma ação efetiva na economia e na sociedade ).
No entanto, os administradores de empresas, ou pelo menos uma maioria bastante considerável deles, ainda olha para a tecnologia como algo inerentemente imprevisível. Em termos organizacionais e administrativos, a atividade tecnológica ainda tende a ser separada do principal trabalho da empresa e organizada como uma atividade de Pesquisa & Desenvolvimento ( P&D ) isolada e bastante diferente que, embora dentro da empresa, não faz parte realmente do negócio. Além disto, até recentemente os administradores de empresas, em regra, não se viam como guardiões da tecnologia ou de alguma forma preocupados com seu impacto e consequência.
Todo administrador de empresas deve ter claro que esta postura não é mais adequada. De fato, a tese deste texto é que os administradores de empresas precisam aprender que a tecnologia é uma oportunidade de uma responsabilidade administrativa. Isto significa especialmente:
1) A tecnologia não é mais misteriosa e imprevisível do que os desdobramentos na economia e na sociedade. Ela pode ser antecipada racionalmente e exige antecipação racional. Os administradores de empresas precisa entender as dinâmicas da tecnologia. No mínimo, precisam entender as dinâmicas da tecnologia. No mínimo, precisam entender onde é provável haver maior impacto econômico coma a mudança tecnológica e como converter a mudança tecnológica em resultados econômicos.
2) A tecnologia não está separada dos negócios e não deve ser administrada como tal, se é que deve ser administrada. Qualquer que seja o papel desempenhado pelos departamentos de P&D ou laboratórios de pesquisa, a empresa como um todo precisa estar organizada como uma entidade inovadora e precisa ser capaz de realizar inovações e mudanças tecnológicas ( mas também sociais e econômicas ). Isto requer grandes mudanças na estrutura, nas políticas e na atitude.
3) O administrador de empresas precisa se preocupar com os impactos e as consequências da tecnologia sobre o indivíduo, a sociedade e a economia, tanto quanto com quaisquer outros impactos e consequências de suas ações. Isto não é uma conversa sobre responsabilidade pelo impacto de suas próprias ações. E o indivíduo sempre é responsável por seu impacto.
Nestes últimos quarenta anos, tem sido amplamente noticiado um desencantamento com a tecnologia. Não é de forma alguma a primeira vez que isto ocorre na história recente ( de fato, desencantamentos semelhantes ocorreram regularmente a cada cinquenta anos aproximadamente desde meados do século dezoito ). Porém, é fato que esta tecnologia foi mais importante nas últimas décadas do século vinte e que, além disto, mudará mais no século vinte e um do que mudou nas últimas décadas do século vinte. As grandes necessidades atuais, como crise de energia, crise ambiental e os problemas da moderna sociedade urbana, tornaram isto absolutamente certo. De fato, é possível prever, com elevada probabilidade, que os próximos anos verão a mesma quantidade e a mesma rapidez de mudanças tecnológicas como na era heroica das invenções ( os sessenta anos entre meados do século dezenove e a deflagração da Primeira Guerra Mundial ). Neste período, que começou em mil oitocentos e cinquenta e seis, com a descoberta de Perkin dos corantes de anilina e com o projeto da Siemens do primeiro dínamo que funcionou, e que terminou em mil novecentos e onze, com a invenção do tubo o vácuo e, com ele, a eletrônica moderna, nascia o mundo moderno do século vinte ( e até mesmo o mundo pós-moderno dos século vinte e um ). Nesta era heroica, surgia, em média, uma grande nova invenção a cada quinze a dezoito meses, seguida quase imediatamente pelo aparecimento de uma nova indústria baseada nela. Os últimos anos, é fato, se pareceram muito mais com este período do final do século dezenove do que com os cinquenta anos posteriores à Primeira Guerra Mundial, que, em termos tecnológicos, foram anos de refinamento e modificação, e não de invenção. Para as empresas e os empresários que persistem na atitude tradicional em relação à tecnologia ( a atitude que enxerga nela de misterioso, algo externo e algo pelo qual outras pessoas são responsáveis ), ela passará a ser uma ameaça mortal. No entanto, para as empresas e os empresários que aceitam que a tecnologia é sua ferramenta e também sua responsabilidade, ela passará a ser uma grande oportunidade.
Nota histórica
A falta de qualquer preocupação séria com a ou com o estudo da tecnologia dentro das grandes disciplinas acadêmicas é de fato surpreendente. Na verdade, é tão surpreendente que merece alguma documentação.
O economista do século dezenove normalmente destaca a importância central da tecnologia. Porém, ele não vai além de expressar sua elaborada admiração em relação à tecnologia. Em seu sistema, a tecnologia está relegada ao obscuro limbo das influências externas ( algo como terremotos, gafanhotos ou vento e clima ) e, como tal, incompreensíveis, imprevisíveis e, de certa forma, não muito respeitáveis. A tecnologia poderia ser utilizada para explicar fenômenos que não se encaixavam no modelo teórico do economista. Mas não podia ser usada ser usada como parte do modelo. O economista keynesiano do século vinte nem mesmo faz referência formal à tecnologia que seu predecessor do século dezenove julgava apropriada. Ele a ignora. Certamente, existem exceções. Joseph Schumpeter, o grande economista austro-americano, em seu primeiro e mais conhecido trabalho sobre as dinâmicas do desenvolvimento econômico, colocou a inovação no centro de seu sistema econômico. E o inovador era, em grande parte, um inovador tecnológico. Mas Schumpeter teve poucos sucessores. Entre os economistas contemporâneos, somente Kenneth Boulding, da University of Colorado, parece prestar alguma atenção na tecnologia. As escolas dominantes, seja a keynesiana, neokeynesiana ou de Milton Friedman, dedicam tão pouca atenção à tecnologia quanto as escolas pré-industriais de economistas, tais como os mercantilistas anteriores a Adam Smith. Porém, eles têm sido muito menos desculpa por este desprezo da tecnologia.
Os historiadores, em geral, têm prestado bem menos atenção à tecnologia do que os economistas. A tecnologia foi mais ou menos considerada algo que não merece atenção de um humanista. Mesmo os historiadores econômicos têm dado muito pouca atenção à tecnologia até bem recentemente. O interesse por tecnologia como objeto de estudo para o historiador somente começou com o livro de Lewis Mumford, Technics and Civilizatios ( Nova Iorque: Harcourt Brace, de mil novecentos e trinta e quatro ). Somente vinte e cinco anos depois é que teve início um trabalho sistemático sobre o estudo da história da tecnologia, com a publicação, na Inglaterra, entre mil novecentos e cinquenta e quatro e mil novecentos e cinquenta oito, de A History of Technologi, editado por Charles Singer ( Londres: Osford University Press, entre mil novecentos e cinquenta e quatro e mil novecentos e cinquenta e oito ), com cinco volumes; e, logo depois, nos Estados Unidos da América ( EUA ) e de seu jornal, o Technology and Culture. A relação entre tecnologia e história foi posteriormente discutida no primeiro livro didático americano, Technology in Western Civilization, editado por melvin Kranzberg e Carroll W. Pursell Júnior ( Nova Iorque: Oxford University Press, de mil novecentos e sessenta e sete ), com dois volumes; e em Tecnologia, administração e sociedade ( Campus / Elsevier, em dois mil e onze ) ( especialmente nos ensaios Trabalho e ferramentas, publicado pela primeira vez em Technology and Culture [ inverno de mil novecentos e cinquenta e nove ], "A revolução tecnológica, "Notas sobre a relação entre tecnologia, ciência e cultura", publicado pela primeira vez em Technology and Culture [ outono de mil novecentos e sessenta e um ] e "A primeira revolução tecnológica e suas lições", apresentado como Discurso da Presidência para a Sociedade para a História da Tecnologia em dezembro de mil novecentos e sessenta e cinco e publicado pela primeira vez em Technology and Culture [ primavera de mil novecentos e sessenta e seis ] ). O professor de história medieval da University of California, Lynn White Júnior, realizou um trabalho pioneiro sobre o impacto das mudanças tecnológicas na sociedade e na economia, especialmente em seu livro Medieval Technology and Social Change ( Londres: Oxford University Press, de mil novecentos e sessenta e dois ). No entanto, o único trabalho que tenta com sucesso integrar a tecnologia na história, principalmente na história econômica, é o recente livro dos historiador econômico de Harvard, David S. Landes, The Unbound Prometheus: Tecnological Change and Industrial Development in Western Europe: 1750 to Present ( Londres: Cambridge University Press, de mil novecentos e sessenta e nove ). Fora dos países de língua inglesa, somente um historiador graduado deu alguma atenção á tecnologia, o alemão Franz Schabel, em seu Deutsche Geschchte im Neunzebnten Jahrhundert ( Friburgo: Herder, entre mil novecentos e vinte e nove e mil novecentos e trinta e sete ).
Talvez ainda mais desconcertante seja a atitude dos sociólogos. Embora a palavra tecnologia tenha suas origens no século dezoito, veio a ser um termo amplamente utilizado como slogan, se não como manifesto, dos primeiros sociólogos no final do século dezoito. chamar a primeira faculdade técnica em mil setecentos e noventa e quatro de Ecole Polytechnique foi, por exemplo, uma clara declaração sobre a importância central da tecnologia para sociedade e para a estrutura social. E os primeiros pais da sociologia, especialmente os grandes sociólogos franceses, Saint-Simon e Auguste Comte, viram a tecnologia como, de fato, a grande força libertadora da sociedade. Marx ainda ecoa algo disto, mas depois relega a tecnologia para o reino dos fenômenos secundários. Desde então, os sociólogos tenderam a seguir Marx e a colocar a ênfase nas relações de propriedade, nas relações de parentesco e em tudo o mais, mas não na tecnologia. Existem muitos slogans como os da alienação, mas não houve praticamente algum trabalho feito a este respeito. A tecnologia quase não é mencionada nas grandes teorias sociológicas do século vinte ( isto é, pós-marx ), de Max Weber a marcuse, e Levy-Bruhl a Lévi-Strauss e Talcott Parsons. A tecnologia não existe para o sociólogo ou é um vilão não especificado.
Em outras palavras, os acadêmicos ainda não começaram a estudar a tecnologia como a maneira como o homem trabalha, como uma extensão do limitado equipamento físico da criatura biológica que é o homem, como uma parte ( uma importante parte ) da história e da realização intelectual do homem, como uma realização humana que, por sua vez, influencia profundamente a condição humana. Entretanto, o empresário não pode esperar pelos acadêmicos. Ele precisa administrar a tecnologia já. Outras informações podem ser obtidas no livro Rumo à nova economia de autoria de Peter F. Drucker.
Administrador Cláudio Márcio Araújo da Gama ( CRA-SC 24.673 ). Pré-candidato a vereador de Florianópolis ( Capital do Estado de Santa Catarina ) pelo Partido dos Trabalhadores. Compromisso com a Ética, Participação Popular e Controle Social.
O processo de impeachment contra o governador do Estado de Santa Catarina ( SC ), Carlos Moisés da Silva ( do Partido Social Liberal - PSL ), e a vice-governadora, Daniela Cristina Reinehr ( sem partido ), foi oficialmente aberto nesta quinta-feira ( trinta de agosto de dois mil e vinte ) na Assembleia Legislativa do Estado de SC ( ALESC ) ( * vide nota de rodapé ). A leitura da denúncia foi feita pelo Primeiro-secretário, Laércio Schuster Junior ( do Partido Socialista Brasileiro - PSB ), no começo da sessão daquela manhã. O comunicado foi feito pelo presidente da ALESC, Julio Garcia ( do Partido Social Democrático - PSD ). Schuster vai entregar em mãos o processo de impeachment a Silva, Daniela e ao secretário de Estado da Administração ( SEA ), Jorge Eduardo Tasca. Isto deve ocorrer por volta das quatorze horas e trinta minutos.
Silva e Daniela vão responder à denúncia assinada pelo defensor público Ralf Zimmer Júnior. Ele aponta crime de responsabilidade dos agentes públicos na concessão de aumento salarial aos procuradores do Estado por "decisão administrativa". Garcia seguiu o parecer favorável da Procuradoria da ALESC a este pedido. Outros três tiveram parecer contrário e o quinto segue em análise.
Ao oficializar que seria feita a leitura da denúncia de Zimmer Junior, nesta quinta-feira ( trinta de julho de dois mil e vinte ), Garcia disse que nesta fase os encaminhamentos são jurídicos: "Estou agindo no estrito cumprimento das minhas responsabilidades". Depois, Garcia citou ter recebido críticas nos últimos dias e disse vai respondê-las "no momento e no foro adequados".
Pelo rito, Silva e a vice serão intimados da denúncia e terão dez sessões para a defesa. Depois, a comissão especial ( CE ) com nove deputados indicados pelos blocos partidários começa a analisar a questão e emite um parecer que será analisado em formato de projeto no plenário da ALESC.
Em entrevista ao jornalista Renato Igor ( do jornal Diário Catarinense - DC ), nesta quarta-feira ( vinte e nove de julho de dois mil e vinte ), o advogado de Silva, Marcos Probst, afirmou irá contestar judicialmente o rito divulgado pela ALESC ( * vide nota de rodapé ). Já Daniela afirma que o impeachment da sua função é inconstitucional, como publicou o jornalista Upiara Boschi ( do DC ).
Está suspensa a tramitação do processo de impeachment aberto pela Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina ( SC ) ( ALESC ) contra o governador Carlos Moisés da Silva ( do Partido Social Liberal - PSL ) ( * vide nota de rodapé ), a vice-governadora Daniela Cristina Reinehr ( sem partido ) e o secretário de Estado da Administração ( SEA ) Jorge Eduardo Tasca. Em decisão liminar, o desembargador Luiz Cézar Medeiros atendeu ao pedido da defesa de Silva, que questiona o rito do processo definido pela Mesa Diretora ( MD ) da ALESC.
Conforme havia antecipado o jornalista Renato Igor ( do jornal Diário Catarinense - DC ), Silva entrou com um mandado de segurança no Tribunal de Justiça do Estado de Sc ( TJSC ) nesta quarta-feira ( cinco de agosto de dois mil e vinte ) questionando o ato da MD que regulamentou o processo de impeachment por entender que ele diverge da Lei federal de mil novecentos e cinquenta que regulamenta o instrumento.
Segundo o advogado de Silvar, Marcos Probst, a ALESC suprimiu as fases do processo que permitem a ampla defesa, ao permitir que o afastamento dos acusados dos cargos seja realizados já na votação da admissibilidade do processo - quando são necessários os votos de dois terços dos quarenta parlamentares.
A decisão de Medeiros acolhe o pedido da defesa de Silva pela suspensão do rito do impeachment por entender que há "fortes indícios de ilegalidade". Aponta o magistrado que o processo "suprime as fases referentes ao exercício da ampla defesa e contraditório" e impede "a possibilidade de apresentação de contestação de produção de provas para corroborar os argumentos defensivos".
Medeiros ressalta que “o Supremo Tribunal Federal ( STF ) reiteradamente tem se manifestado no sentido da inconstitucionalidade das normativas estaduais que suprimem ritos ou etapas do procedimento de apuração da prática de crimes de responsabilidade pelos governadores”.
Medeiros justifica a decisão liminar pelo “perigo da demora”, porque pelo rito em andamento a deliberação da denúncia seria realizada já no dia vinte e cinco de agosto de dois mil e vinte. Em sua decisão, Medeiros suspende a tramitação do processo de impeachment até o julgamento do final do mandado de segurança apresentado por Silva.
O relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito ( CPI ) que investiga a compra emergencial de duzentos ventiladores mecânico com pagamento antecipado sem exigência de garantias ( * vide nota de rodapé ) será entregue aos membros da CPI nesta quarta-feira ( doze de agosto de dois mil e vinte ). Dentro dele haverá um novo pedido de impeachment contra o governador do Estado de Santa Catarina ( SC ), Carlos Moisés da Silva ( do Partido Social Liberal - PSL ) . Será o sétimo a entrar na Assembleia Legislativa do Estado de SC ( ALESC ) neste ano de dois mil e vinte. Segundo o relator da CPI, o deputado Ivan Naatz, houve conduta omissiva e comissiva de Silva no processo de compra junto à empresa Veigamed.
Em entrevista ao telejornal Bom Dia SC ( BDSC ), da NSC TV ( afiliada da Rede Globo de Televisão - RGTV em SC ), nesta quarta-feira ( doze de agosto de dois mil e vinte ), o parlamentar disse que o relatório vai encaminhar o pedido ao presidente da ALESC sobre a suposta prática de crime de responsabilidade. O documento, porém, ainda será analisado e discutido pelos demais membros da CPI antes de ser encaminhado à Mesa Diretora ( MD ).
Dentro do relatório, de acordo com Naatz, estará também um pedido de responsabilização civil e criminal que será enviado ao Ministério Público do Estado de SC ( MPSC ), além de sugestões de Projetos-de-lei para tramitação na própria ALESC e no Congresso Nacional ( CN ).
No entendimento do relator, formou-se uma organização com empresários e agentes públicos para a compra fraudulenta de duzentos ventiladores mecânicos. Dentro do relatório haverá também um pedido de ressarcimento dos trinta e três milhões de reais aos cofres públicos.
A coluna de Ânderson Silva ( do jornal Diário Catarinense - DC ) procurou o governo do Estado, que vai avaliar sobre um posicionamento em relação ao que disse o deputado durante a entrevista.
Duas pessoas pediram para que fossem retiradas suas assinaturas do pedido de impeachment contra o governador do Estado de Santa Catarina ( SC ), Carlos Moisés da Silva ( do Partido Social Liberal - PSL ) e a vice Daniela Cristina Reinehr ( PSL ) ( * vide nota de rodapé ). José Marciel Neis, presidente da Associação das Empresas de Transporte Turístico e Fretamento ( AETTUSC ), e Nilton Silva Pacheco, que é presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Turístico e Fretamento Eventual ( SINFRETTUSC ), fizeram a solicitação ao advogado Leonardo Borchardt, que protocolou o documento na segunda-feira dez de agosto de dois mil e vinte na Assembleia Legislativa do Estado de SC ( ALESC ).
“Eu nunca assinei pedido de impeachment. Foi conversado conosco sobre ações quanto à problemática que o governo tem causado. É muito marketing e pouca ação. O nosso setor de transporte de passageiros está sendo massacrado. Está uma bagunça. O governo decide uma coisa; os prefeitos, outra. Queremos a apuração de responsabilidade de quem prejudicou o nosso setor. Queremos isonomia.Um avião pode voar com cento e cinquenta pessoas e nós não podemos trabalhar. Mas não queremos nos envolver com política. Se for política, estamos fora. Por isto pedimos para retirar o nosso nome do processo”, explicou Pacheco.
Agora, com a desistência de duas pessoas, dos dezesseis que assinaram o documento, ficam quatorze no pedido de afastamento de Silva e Daniela. O caso está em análise na procuradoria jurídica da ALESC.
Borchardt, em conversa com a coluna de Renato Igor ( do jornal Diário Catarinense - DC ), explicou que deve ter havido algum equívoco de interpretação, mas se comprometeu em atender a solicitação dos dois empresários.
“Embora na procuração esteja tudo muito claro, deve ter havido algum problema de interpretação. Hoje vamos pedir uma retificação na ALESC e retirar o nome dos dois empresários do pedido”, concluiu.
Em meio a uma onda de iniciantes na política alçados ao poder pela onda de renovação nas eleições de dois mil e dezoito, Júlio Garcia ( do Partido Social Democrático - PSD ) foi uma espécie de contraponto. De volta à política partidária e eleitoral após uma década como conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina ( SC ) ( TCE-SC ), ele voltou à Assembleia Legislativa do Estado de SC ( ALESC ) que já comandara por duas vezes e logo foi eleito presidente. Seu protagonismo foi ampliado desde que aceitou um dos pedidos de Impeachment contra o governador Carlos Moisés da Silva ( do Partido Social Liberal - PSL ) ( * vide nota de rodapé ), dando instrumento a uma crise política iniciada após o escândalo da compra emergencial de duzentos ventiladores mecânicos com pagamento antecipado sem exigências de garantias e sem entrega dos equipamentos pelo fornecedor ( *2 vide nota de rodapé ). Durante a semana, ele recebeu o colunista Upiara Boschi do jornal Diário Catarinense ( DC ) no gabinete da presidência para uma conversa sobre o impeachment, o governo Silva e - especialmente - política. Nem nova, nem velha: política.
Veja a entrevista exclusiva de Garcia.
Quando decidiu se aposentar do cargo de conselheiro do TCE-SC, voltar à política partidária, disputar eleição, eleger-se deputado estadual, o senhor imaginou que seria um mandato tão diferente, tão conflituoso?
Ninguém imaginava que a eleição de dois mil e dezoito fosse ser tão atípica. O resultado da eleição acabou determinando os fatos que a ela se sucederam. Um governo novo, um governo diferente, uma composição da ALESC diferente. Uma renovação surpreendente, a maior da história. Tudo isto passou a ser uma grande novidade.
O senhor foi duas vezes presidente da ALESC quando havia um parlamento mais experiente, experimentado ( de dois mil e cinco a dois mil e oito ), com pessoas “do ramo”. Hoje é presidente de um parlamento com muitas pessoas não só em primeiro mandato, mas também em sua primeira experiência política. Qual é a diferença?
Hoje vivemos um tempo completamente diferente na sociedade. A própria eleição mostrou isto. A presença dos novos oxigenou o parlamento, fez com que a composição da ALESC fosse adaptada aos tempos em que estamos vivendo. Aconteceu isto em todos os Estados, no Brasil todo. É normal, a gente tem que encarar. A virtude do líder, a virtude do político é andar adequadamente ao seu tempo.
Mudou seu jeito de liderar?
Teve que ser adaptado aos momentos atuais, mas não mudou na essência. Qual foi sempre o grande alicerce da liderança que eu possa ter exercido em outro momento? Foi o respeito às pessoas e a valorização do trabalho de cada um. Isto não mudou, mas convivendo com tempos novos. Eu me adaptei com facilidade.
A mesma eleição que produziu esta renovação no parlamento também resultou em um governo novo, um governo de uma pessoa que era de fora da política que é o Silva. Na nossa última entrevista, em junho de dois mil e vinte, o senhor disse que o governo não tinha dado certo, mas que tinha tempo de se recuperar. Ainda acha que tem?
Naquela época a realidade era aquela. O governo não tinha dado certo. Silva, por falta de conhecimento, não tinha conseguido montar uma equipe que lhe desse sustentação. Eu tive a oportunidade de dizer isto a ele pessoalmente. Sempre há tempo de se recuperar, basta que se tenha desejo de promover as mudanças e conseguir implementá-las.
O senhor acha que o próprio governo tem esta autocrítica de que não deu certo?
Acho que não. Falta humildade ao governo. O governo precisa fazer sua autocrítica se desejar fazer as mudanças necessárias. Aquela arrogância da nova política tem que ser deixada de lado.
Eu tive a oportunidade em dizer no discurso da minha posse que não acreditava nesta história de nova e velha política. Existe a política, como você bem definiu, a política estabelecida pelo dicionário.
O senhor se sentia pessoalmente citado quando Silva falava em velha política?
Ah, sim. Sem dúvida alguma. Homenageado a cada citação.
Como foram os dias que antecederam sua decisão de levar adiante o processo de impeachment com base no parecer da Procuradoria da ALESC?
No primeiro momento, eu arquivei um processo de impeachment ( em fevereiro de dois mil e vinte ) atendendo à recomendação da Procuradoria. A primeira fase do impeachment é eminentemente jurídica. Quem fala nesta situação é a Procuradoria da ALESC e eu atendi o que ela manifestou. Não é diferente no segundo caso. Houve a manifestação pelo arquivamento de alguns pedidos e para que pudesse prosperar um dos pedidos. O encaminhamento foi dado, mas eu não sou o autor.
É preciso ficar bem claro que Garcia não é o autor do processo de impeachment, é apenas o condutor do rito, que tem de zelar pelo cumprimento da lei.
A Procuradoria da ALESC fez com todo o zelo, sem alguma interferência política, toda a construção do rito, levando em conta a Lei número mil e setenta e ove de mil novecentos e cinquenta e a modulação que foi feita pelo Supremo Tribunal Federal ( STF ) em dois mil e dezesseis. Houve respeito à ordem jurídica, mas no direito a interpretação é elástica e temos de respeitar.
A ALESC pretende defender o rito que definiu em todas as instâncias jurídicas?
Não, a ALESC pretende que tenha um rito estabelecido e validado pela Justiça. Não queremos escolher o rito. Adotamos aquele que entendemos que era chancelado pelo STF.
Não queremos defender e nem vamos brigar por este ou aquele rito, queremos é um rito definido para que a gente possa caminhar com tranquilidade e fazendo as coisas na forma da lei.
O caso que mobilizou a sociedade em crítica à atuação do governo Silva é o da compra emergencial de duzentos ventiladores mecânicos com pagamento adiantado sem exigência de garantias e sem a entrega dos equipamentos ( *2 vide nota de rodapé ), tema de uma Comissão parlamentar de Inquérito ( CPI ) ( *2 vide nota de rodapé ) aqui na ALESC, operação policial ( *3 vide nota de rodapé ), etc. Mas o processo de impeachment ( *2 vide nota de rodapé ) é sobre uma equiparação salarial de procuradores que seria irregular. Esta diferença entre o tema que desgasta o governo na sociedade e o do processo de impeachment ( * 2 vide nota de rodapé ) não causa confusão?
É questão de interpretação. O processo tem no seu início apenas base jurídica. Os pareceres que vi até agora a respeito do processo é de que ele tem fundamento jurídico, por isto teve continuidade. A decisão no meio do processo é eminentemente política e depois ela é mista, porque um tribunal misto vai julgar ( se refere às etapas do processo em que o afastamento do governador e da vice-governadora é votado pelo plenário da ALESC e, depois, o julgamento do impeachment em si é definido por um grupo de cinco deputados e cinco desembargadores ).
Pergunto isto porque um caminho, o dos procuradores, envolve a vice-governadora Daniela Cristina Reinehr ( PSL ). As consequências são completamente diferentes, porque uma suposta perda de mandato por ambos resultaria em nova eleição - direta se for este ano de dois mil e vinte, indireta ano que vem de dois mio e vinte e um. O senhor acha que existe clima na sociedade para o impeachment da dupla Silva-Daniela?
Acho que não tem clima nenhum, a sociedade está preocupada com outras coisas. Às vezes as pessoas me perguntam se é momento de a ALESC dar prosseguimento a um pedido de impeachment. A minha resposta é muito simples. Será que é momento do TCE-SC continuar fazendo seu papel fiscalizador? Será que é o momento da Justiça estar cumprindo seu papel? Será que é o momento do Ministério Público do Estado de SC ( MPSC ) cumprir sua tarefa?
Cada um tem de cumprir o seu papel. A pandemia tem de ser cuidada, mas nós temos de cuidar da economia, do social e também do cumprimento da lei. Uma coisa não tem algo a ver com a outra e não atrapalha a outra.
A gente tem visto uma epidemia de processos de impeachment, como os casos contra os governadores dos Estados de Rio de Janeiro ( RJ ) e Pará ( PA ) e da cidade de Porto Alegre ( Capital do Estado do Rio Grande do Sul - RS ). Isto é uma consequência da nova política escolhida pela urna em dois mil e dezoito ou é uma reação da política tradicional?
Não é reação da política tradicional, de jeito algum. Aqui em SC não vejo alguma reação da política tradicional.
O que eu vejo é que a base jurídica dos pedidos de impeachment são analisados juridicamente. Não vejo qualquer relação entre a chamada velha política e nova política. São processos específicos.
O senhor não estava no plenário em mil novecentos e noventa e sete, mas viveu nos bastidores a época do processo de impeachment contra o ex-governador Paulo Afonso Vieira ( do então Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB, atual Movimento Democrático Brasileiro - MDB ). Vê similaridades nos casos e no sentimento político?
Situações completamente diferentes.
Naquela época, o senhor era do grupo do então Partido da Frente Liberal ( PFL, atual partido Democratas - DEM ) que não defendia o impeachment de Vieira…
Quem representava nosso grupo naquela época eram os deputados Ciro Roza e Onofre Agostini. Esta pergunta deve ser dirigida a eles, eles que votaram ( ambos se abstiveram na votação da abertura do processo de impeachment, quando a oposição a Vieira conseguiu apenas 25 dos 27 votos necessários para o afastamento ).
Voltando àquele momento em que o senhor aceita o parecer da Procuradoria da ALESC e deflagra o processo de impeachment. Como foram as conversas na véspera? O senhor parecia tenso na leitura.
Conversei com a maioria esmagadora dos deputados e o clima interno era pela abertura. Não digo que seja o clima para termos votos para um impeachment, mas o clima interno era pela abertura.
Eu não tinha como, diante de um parecer favorável da Procuradoria da ALESC, engavetar um processo. Eu não faria isto. Fiz com muita tranquilidade, mas confesso que não foi uma coisa agradável. Eu não estava tenso, mas não era um coisa confortável.
Esta leva de pedidos de impeachment em que estava o que foi aceito foi apresentada em maio de dois mil e vinte. Esta semana foi protocolado mais um, reunindo diversos casos contra Silva e Daniela, uma espécie de “impeachment do conjunto da obra”. A Procuradoria da ALESC pode ser mais rápida na análise deste pedido do que foi com os outros?
Na primeira leva de pedidos eu não tive alguma conversa com a Procuradoria da ALESC, apenas elaborei o despacho e subscrevi. No segundo vou agir da mesma forma. Não vou conversar, não vou interferir. O que a Procuradoria fizer, está bem feito. Tanto em relação ao prazo quanto ao embasamento jurídico.
Se o processo de impeachment culminar na perda de mandato de governador e vice, o resultado é a realização de uma nova eleição. Direta se até o processo for concluído até o final do ano de dois mil e vinte, indireta se apenas em dois mil e vinte e um. Caso haja a nova eleição, que perfil de governo o senhor acha que SC deve ter?
Quem vai assumir, se acontecer o impeachment, vai ter uma responsabilidade muito grande que é de estabelecer uma convergência em SC. Ainda mais no período de crise que estamos vivendo.
Um governo de coalizão?
Coalizão e convergência.
O senhor tem este perfil?
Não. Acho que não. Na democracia é sempre melhor que a eleição seja direta.
Há tempo para que seja concluído o processo neste ano de dois mil e vinte?
Não tenho como avaliar. Agora mesmo estamos aguardando pela Justiça. Não somos nós que estabelecemos os prazos da Justiça. No resto, serão respeitados os prazos da Constituição, da lei e do regimento interno.
Se o impeachment for consumado, o senhor está na linha sucessória para assumir e tocar o governo até uma eleição, direta ou indireta. Já se pegou pensando como será se tiver de assumir?
Não gosto de fazer exercício de futurologia. Nunca pensei nisto.
Onde o governo Silva errou?
Difícil estabelecer erros pontuais. Errou no conjunto. Na escolha da equipe, no menosprezo às pessoas que têm experiência e no desrespeito com aqueles que já governaram e fizeram política em SC.
A maioria esmagadora dos políticos de SC honra a política catarinense. Não somos um Estado pujante apenas por estarmos localizados entre os Estados de Rio Grande do Sul ( RS ) e Paraná ( PR ). Somos um Estado pujante porque sempre tivemos bons políticos a governar e a participar do processo político em SC. O desrespeito a estas pessoas se constituiu, na minha avaliação, em um erro.
Também foi escolhida uma equipe fraca que contribuiu para fracasso do governo até aqui.
Em relação à pandemia, o que o senhor acha que o governo poderia ter feito diferente?
Acho que o governo precisa atender o que as autoridades da saúde dizem. Defendo que todas as atividades funcionem, cada uma com seu protocolo. O protocolo não pode ser político, tem que ser técnico. Se o ônibus tiver que andar com trinta por cento dos passageiros, que ande com trinta por cento. Se o restaurante tem de funcionar com metade da capacidade, que funcione com metade. Mas todos os segmentos funcionarem pelo menos para poder pagar as contas e não haver um colapso na economia com consequências sociais.
No início do combate à pandemia, quando o governo tomava as medidas mais rígidas de restrições para forçar o isolamento social, a ALESC acabou tomando a iniciativa de uma série de medidas para reduzir o impacto destas medidas na economia. O Poder Executivo Estadual ( PEE ) foi omisso em relação a isto naquele momento e por isso a ALESC assumiu este protagonismo?
Sempre que a ALESC assumiu o protagonismo foi porque o governo errou.
Errou nos incentivos ( tentativa de revisar incentivos fiscais durante dois mil e dezenove ), errou nos agrotóxicos ( quando quis implantar a taxação dos insumos agrícolas, também em dois mile dezenove ). Errou na condução, errou na Reforma Administrativa ( RA ) ( *4 vide nota de rodapé ). Em tudo que pôde a ALESC corrigiu os erros do governo. Em um primeiro momento se impondo e no segundo momento negociando com o próprio governo. O secretário de Estado da Fazenda ( SEF ), Paulo Eli, esteve várias vezes aqui negociando e a ALESC deu uma contribuição expressiva para que o governo desse certo. Quando veio a pandemia, de pronto decretamos o estado de calamidade.Nós não faltamos ao governo em algum momento, a ALESC protagonizou favoravelmente, tomando sempre em conta os interesses maiores de SC.
Voltando a dois mil e dezoito, à gênese disto tudo, às vezes a gente olha para a eleição de um nome de fora da política como se fosse uma questão da natureza: veio a onda e aconteceu. Mas em vários Estados os partidos tradicionais conseguiram resistir às ondas e eleger governadores. No que os partidos de SC erraram para perder a eleição para um desconhecido?
Foi a escolha dos candidatos ( Gelson Merisio pelo PSD e Mauro Mariani pelo MDB ). Eu disse isto em dois mil e dezoito. Foram candidaturas que acabaram não permeando na simpatia do eleitorado e aí abriu espaço para a onda levar o candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, a onda dezessete.
O PSD, seu partido, governo SC com Raimundo Colombo nos dois mandatos que antecederam o atual. Como o partido se prepara para tentar voltar ao governo nas eleições de dois mil e vinte e dois?
Sobre dois mil e vinte e dois, tenho uma coisa a dizer que depende de decisão minha: não serei candidato a algo. Esta é uma decisão pessoal que eu tomei. Em relação ao resto, o futuro a Deus pertence.
Porque esta decisão?
Acho que já dei minha cota de participação. É preciso que agora eu ajude a que novas lideranças surjam. Tem de haver na política a renovação. Meu retorno se deu por circunstâncias que não eram previstas, uma decisão do nosso grupo político. Minha participação como candidato já está encerrada.
Quando o PSD filiou o ex-prefeito blumenauense Napoleão Bernardes, ex-filiado ao partido da Social Democracia Brasileira ( PSDB ), a especulação é de que ele possa ser o nome majoritário do partido. O senhor faz parte desta construção?
Temos grandes quadros no PSD, como os outros partidos também têm. Temos Bernardes, o Milton Hobus ( deputado estadual ), o Raimundo Colombo. Os outros partidos também têm, o MDB, o DEM, o Partido dos Trabalhadores ( PT ) têm seus nomes. Todos os partidos tem seus nomes.
É nítido que na política eleitoral o senhor gosta das grandes composições. Vai trabalhar por uma grande aliança em dois mil e vinte e dois?
Vou trabalhar para que em dois mil e vinte e dois os catarinenses escolham um governo à altura da tradição da política de SC.
Como o senhor está vendo esta eleição municipal que teremos em novembro de dois mil e vinte, tão eclipsada por pandemia, impeachment e cuja campanha não vai poder ser feita na base do aperto de mão?
Não vai ter aperto de mão, mas vai ter rede social. Está funcionando. Quem se adaptar mais rápido à nova realidade vai acabar levando vantagem. Tenho acompanhado nos municípios onde os pré-candidatos se saem melhor na comunicação através das redes sociais, eles estão avançando. Onde não houve esta movimentação, os pré-candidatos vão atrasando a campanha. Mas vai ser uma campanha atípica, cujos resultados ainda não conseguimos antever.
Em dois mil e dezoito havia uma insatisfação com a classe política e o bolsonarismo ascendente que acabaram se concentrando no número do dezessete. Nesta eleição não vai ter dezessete, porque o PSL não é mais o partido de Bolsonaro, a insatisfação pode estar mais difusa, o eleitor talvez tenha receio de apostar em desconhecidos. O que o senhor acha que vai ser esta eleição? O que o eleitor vai dizer na urna?
A eleição municipal é muito peculiar de cada realidade. O candidato a prefeito fica muito próximo do eleitor, o eleitor conhece o candidato. É uma eleição diferente de uma nacional, em que o candidato não conhece os municípios, as regiões, os Estados, chega apenas por via aérea. No município a eleição é de conhecimento pessoal. Não tem candidato desconhecido do eleitor.
Em maio do ano de dois mil e dezenove foi deflagrada a Operação Alcatraz ( *5 vide nota de rodapé ), do Departamento da Polícia Federal ( DPF ), em que o senhor é um dos investigados. Em outubro de dois mil e dezenove, foi indiciado pelo DPF, mas o o Ministério Público Federal ( MPF ) ainda não apresentou denúncia. Na época o senhor negou as acusações e disse que não falaria mais sobre o assunto, que seria tema para seus advogados, mas eu queria saber como o senhor se sente com esta possibilidade de ser ou não denunciado.
Com muita tranquilidade. Se o MPF não se manifesta, não sou eu que devo me manifestar. Vou aguardar com serenidade como tenho feito até aqui.
Sua defesa recorre nos tribunais superiores alegando que esta investigação não deveria ser federal, mas sim estadual. O senhor tem convicção desta tese?
Não sou advogado, não sou jurista. Não saberia dizer quais as razões. Quando você contrata os advogados, é porque confia. Estou tranquilo em relação a isto.