A lição do caso da Ford Motor Company é que a administração e os
administradores constituem a necessidade específica de uma empresa e constituem
seu órgão específico e sua estrutura básica. É possível afirmar categoricamente
que nenhuma em,presa pode prescindir de administradores. Não se pode alegar que
a administração realiza o trabalho do proprietário por delegação. A
administração é necesária, não só porque o encargo é grande demais para um só
indivíduo, como também administrar uma empresa é algo essencialmente distinto
de administrar uma propriedade própria.
Henry Ford não percebeu a necessidade de introduzir administradores e
uma administração porque acreditava que um empreendimento grande e complexo
evolui organicamente a partir da loja ou oficina dirigida por uma só pessoa.
Evidentemente, Ford começou com coisas pequenas. Porém, o crescimento acarretou
mais do que uma mera alteração de tamanho. A certa altura, quantidade
transformou-se em qualidade. Num determinado instante, Ford já não dirigia mais
o seu próprios negócio. A Ford Motor Company havia se tornado um empreendimento
empresarial, isto é uma organização que exigia estrutura e princípios
diferentes – uma organização que exigia administradores e uma administração.
Em termos legais, a administração ainda é tida como uma delegação dos
poderes de proprietário. Mas a verdadeira doutrina que pouco a pouco vai
tomando forma é que a administração precede, e inclusive excede o direito de
propriedade, pelo menos nas grandes empresas. Mesmo a posse absoluta de tal
empreendimento depende de uma administração profícua. Se o dono não se sujeitar
á necessidade de administração de sua empresa, seu direito de propriedade –
embora legalmente irrestrito – será na realidade restringido, ou mesmo tirado
de suas mãos.
Esta ideia provavelmente foi estabelecida pela primeira vez como uma
doutrina legal incipiente no início da década de cinquenta pela força aérea
americana (USAF) ao lidar com Howard Hughes e a Hughes Aircraft Company. Hughes
era dono absoluto da empresa. Recusava-se a permitir que administradores
profissionais a dirigissem, insistindo em dirigi-la, como Ford, trinta anos
antes, fizera na Ford Motor Company. Diante disso, a força aérea, a maior
cliente da empresa, deu a Hughes ultimato: ou entrega suas ações a um curador e
deixa que uma administração profissional assuma o controle, ou então a USAF
forçaria sua empresa à falência e o obrigaria a desistir de tudo. Hughes
manteve o título de proprietário através de uma de suas fundações, mas abdicou
totalmente do controle.
O próximo caso também envolve Howard Hughes. Como dono absoluto de uma
das principais empresas aéreas americanas, a Transworld Airways (TWA), diz-se
que sujeitava os interesses dessa firma aos das suas outras empresas. Para um
proprietário, esta é uma atitude perfeitamente logal; ele pode fazer o que
quiser como o que é seu. Mas as administração da TWA acionou Hughes em cento e
cinquenta milhões de dólares por danos. Perdeu a questão, mas somente em mil
novecentos e setenta e três e na Suprema Corte – tendo ganho em duas instâncias
inferiores – devido a um detalhe jurídico: a Suprema Corte decidiu que isso
era da alçada da Comissão da Aeronáutica civil sobre a qual os foros comuns não
tinham jurisdição. Mas o princípio de que mesmo o proprietário deve agir como
administrador, ao menos numa grande empresa, não foi contestado. A
administração não evoluiu geneticamente, por assim dizer,m de uma pequena firma
administrada pelo dono, sendo uma consequência do seu crescimento. Foi ab
initio, idealizada para empresas grandes e complexas.
A grande estrada de ferro americana que cobria enormes distâncias – e
que precisava lutar com as complexas interações entre o trabalho de engenharia
em construir uma via permanente, a tarefa financeira de levantar somas muito
grandes de capital e as funções de relações políticas para obter alvarás,
concessões de terras e subsídios – foi a primeira empresa que se pode dizer
“administrada”. E realmente, a estrutura administrativa idealizada pouco após a
Guerra da Secessão permanece praticamente inalterada até os dias de hoje. Na
europa continental, mais ou menos na mesma época, criou-se uma administração
para os primeiros bancos fundados expressamente para serem bancos nacionais, e
não locais. E no longínquo Japão, os construtores da chamada Zaibatsu (grandes
grupos empresariais) do Período Meiji – Mitsui, Sumimoto e os sucessores de
Iwasaki na Mitsubishi – criaram, usando métodos tradicionais japoneses de uma
nova forma, um sistema administrativo para o grande e complexo empreendimento.
Foi
somente trinta ou quarenta anos depois, por volta do início do século, que o
conceito de administração foi transferido da empresa que começou grande para a
empresa que havia crescido até se tornar grande. Mas ou menos na mesma época,
Andrew Carnegie e John D. Rockfeller Júnior introduziram a administração nas
indústrias siderúrgicas e petrolíferas, respectivamente. Pouco depois, Pierre
S. Du Pont reestruturou a empresa da sua família (E.I. du Pont de Nemours &
Co.), dando-lhe uma administração, não só para favorecer seu crescimento mas
também par ajudar a preservar o controle pela família. A estrutura
administrativa criada por Pierre du Pont para a empresa da sua família entre
mil novecentos e quinze e mil novecentos e vinte tornou-se, alguns anos depois,
o ponto de partida da estrutura da administração profissional da General Motors
Company após os du Ponts terem adquirido o controle do conglomerado automotivo
trôpego e quase falido e posto Alfred P. Sloan Júnior como seu presidente.
Outras informações podem ser obtidas no livro Fator humano e desempenho, de autoria de Peter F. Drucker.
Mais em: http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/governanca-corporativa-separacao-entre-proprietarios-e-administradores/108458 .
http://www.boardplace.com.br/artigos/governanca-corporativa-separacao-entre-proprietarios-e-administradores/
http://www.boardplace.com.br/artigos/governanca-corporativa-separacao-entre-proprietarios-e-administradores/
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