segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Lucro: maximização versus bem público

Os gestores, com sua retórica, tornaram impossível para o público a compreensão da realidade econômica. Esta situação também infringe a necessidade de que os gestores, como líderes, não prejudiquem conscientemente ( * vide nota de rodapé ), e se aplica, mormente, aos Estados Unidos, mas também à Europa Ocidental. Isto porque, no Ocidente, os gestores ainda se referem, constantemente, à motivação do lucro. E ainda definem o objetivo da empresa como maximização do lucro. Não enfatizam a função objetiva do lucro. Não falam em riscos - ou muito raramente o fazem. Não salientam a necessidade de capital. Quase nunca mencionam o custo do capital, muito menos dizem que a empresa deve gerar lucro suficiente para obter o capital necessário ao custo mínimo.

Os gestores frequentemente se queixam da hostilidade ao lucro. No entanto, raramente atinam de que sua própria retórica é uma das principais razões desta hostilidade. Porquanto, com efeito, nos temos adotados pela administração ao falar em público, não se apresenta justificativa possível para o lucro, não se dá explicação para a sua existência, nem se lhe atribui função específica. Destaca-se apenas a motivação do lucro, ou seja o desejo de alguns capitalistas anônimos - a razão pela qual este desejo merece a indulgência da sociedade, mais que a bigamia, por exemplo, jamais se elucida. Porém, a geração de lucro é necessidade fundamental da economia e da sociedade.

Na maioria das grandes empresas americanas, a prática gerencial é perfeitamente racional. A retórica é que é obscura e, portanto, ameaça prejudicar tanto as empresas quanto a sociedade. Decerto, poucas empresas americanas encaram a lucratividade como necessidade mínima. Em consequência, com mais probabilidade, subestimam a lucratividade realmente necessária, que dirá a necessidade de compensação pela erosão inflacionária do capital. Mas, conscientemente ou não, baseiam o planejamento do lucro no duplo objetivo de garantir acesso ao capital necessário e de minimizar o custo de capital. No contexto americano, quando mais não seja por causa da estrutura do mercado de capitais dos Estados Unidos, alcançar elevado índice preço/lucro nas negociações com ações nas bolsas de valores é, de fato, fundamental para a minimização do custo do capital. Assim, a otimização do lucro é estratégia perfeitamente racional, que tende a diminuir, no longo prazo, o custo de capital efetivo.

Porém, esta mesma realidade torna ainda menos justificável continuar usando a retórica da motivação do lucro. Ela não atende a nenhum propósito, exceto confundir e amargurar.

Estes exemplos de áreas em que os gestores não se empenham em observar a regra de não prejudicar conscientemente ( * vide nota de rodapé ) são basicamente exemplos americanos. Eles se aplicam, até certo ponto, à Europa Ocidental. Mas não são pertinentes ao Japão. O princípio, contudo, é válido em todos os países, tanto naqueles em desenvolvimento quanto nos desenvolvidos. Estes casos são extraídos da administração de empresas. E também se aplica aos gestores de todas as instituições na sociedade das organizações.

Em qualquer sociedade pluralista, a responsabilidade pelo bem público tem sido problema e questão central. A sociedade pluralista das organizações não será exceção. Seus líderes representam interesses especiais, ou seja, instituições destinadas a atender a necessidades específicas e parciais da sociedade. Com efeito, os líderes da sociedade pluralista das organizações são os servos destas instituições. Ao mesmo tempo, eles compõem o principal grupo de liderança que a sociedade conhece e tende a produzir. Eles devem servir tanto á própria instituição quanto ao bem comum. para que a sociedade seja eficaz, para não falar em manter-se como sociedade livre, as pessoas que são denominadas gestoras devem continuar privativas de suas instituições. Não importa quem os remunera, e como, elas deverão preservar sua autonomia. Mas elas também devem ser públicas em sua ética.

Nesta tensão entre a atuação privativa do gestor, a autonomia necessária da instituição do gestor e a necessidade da prestação de contas quanto à própria missão e propósito, de um lado, e o caráter público do gestor, de outro, se situa o problema ético específico da sociedade das organizações. Primum non nocere ( * vide nota de rodapé ) pode parecer exigência débil em comparação com as exortações instigantes de desempenho de estadista, hoje tão comuns nos manifestos de responsabilidade social. Porém, como os édicos descobriram há muito tempo, não é fácil cumprir a norma. Sua própria despretensão e autolimitação a converterem em norma certa para a necessária ética dos gestores, a ética das responsabilidade. Outras informações podem ser obtidas no livro Fator humano e desempenho, de autoria de Peter F. Drucker.

P.S.: Notas de rodapé: O termo em latim Primum non nocere, que significa observar a regra de primeiro não prejudicar conscientemente, é melhor detalhado em http://www.administradores.com.br/artigos/carreira/etica-muito-ajuda-aquele-que-nao-atrapalha/113573/ .

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