Quem assistiu ao vídeo da reunião ministerial que ganhou status de prova no inquérito que apura as denúncias do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública ( MJ ) Sérgio Moro contra o presidente Jair Bolsonaro ( sem partido ) garante que as imagens complicam a situação de Bolsonaro. O tom e a escolha das palavras colocariam em xeque a versão de Bolsonaro sobre as polêmicas trocas de comando no Departamento da Polícia Federal ( DPF ).
Não que isto ainda surpreenda. Bolsonaro não teve pudores em nomear o delegado Alexandre Ramagem, amigo da família, assim que teve oportunidade - nomeação revertida pela Justiça numa manobra questionável, diga-se de passagem. Impedido de indicar o amigo, o presidente mexeu as peças no tabuleiro: indicou Rolando Alexandre, que rapidamente trocou a chefia do DPF no Estado do Rio de Janeiro ( RJ ). Xeque-mate.
Para Bolsonaro, o problema é que a reunião ministerial confirma a versão de Moro e aparentemente expôs com clareza, e em palavras, o motivo para as substituições: proteger a família de investigações.
Chegado aos monarquistas brasileiros, Bolsonaro, que se orgulha de ter sido forjado na caserna, demonstra com cada vez mais frequência atitudes que só seriam toleradas entre os reis absolutistas da Europa, séculos atrás. Naquela época, os governantes, que se diziam ungidos por Deus, eram senhores do céu e da terra. E tinham o hábito de proteger a própria linhagem a qualquer custo.
Bolsonaro não mede consequências para controlar qualquer sombra de investigação sobre a prole. Nem que, para isto, tenha de mergulhar o país em consecutivas crises políticas em meio a uma pandemia que já se mostra o maior desafio sanitário da história.
Se comprovado o que se disse sobre a reunião ministerial, será o retrato de um governante mesquinho e autocentrado. Eleito para governar duzentos milhões de brasileiros, mas preocupado apenas em blindar seu entorno.
Com atitude semelhante dos últimos presidentes da República, o escândalo da Operação Lava Jato, e tudo o que representou para o Brasil, talvez nunca tivesse vindo à tona. É este o nível de gravidade da interferência de Bolsonaro no DPF. Não se trata de fazer uma indicação, mas de subjugar um órgão fiscalizador do Estado.
Quanto aos reis absolutistas, citados, a era deles acabou quando se tornaram populares as ideias iluministas, a partir do século dezoito. O contraponto aos monarcas com poder ilimitado, quem diria, foi a ciência e a racionalidade.
Com análise de:
Dagmara Spautz do jornal Diário Catarinense ( DC ) .
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