Os senadores que integram a CPI da Covid receberam a versão atualizada de uma das mais importantes provas de que Jair Bolsonaro adotou, de propósito, uma estratégia de disseminação do novo coronavírus no Brasil. A pedido da Comissão Parlamentar de Inquérito, pesquisadores do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário (Cepedisa), ligado à Universidade de São Paulo (USP), atualizaram a pesquisa Mapeamento e análise das normas jurídicas de resposta à Covid-19 no Brasil.
Uma versão preliminar havia sido publicada em janeiro de 2021. Na atualização, o período estudado vai até o fim de maio deste ano. Para chegar às conclusões, a equipe se debruçou tanto sobre manifestações públicas de Jair Bolsonaro e outras autoridades quanto sobre atos administrativos, como a publicação de normas federais. Ao fim, os especialistas são taxativos e dizem que o conjunto de evidências comprovam que Bolsonaro buscou a imunidade de rebanho dos brasileiros sem vacina (entenda melhor no vídeo abaixo), mesmo sabendo que a estratégia provocaria milhares de mortes que outras medidas poderiam evitar.
“O presente estudo permite concluir, com vasto respaldo documental, que a partir de abril de 2020, o governo federal passou a promover a ‘imunidade de rebanho’ por contágio como meio de resposta à pandemia. Ou seja, optou por favorecer a livre circulação do novo coronavírus, sob o pretexto de que a infecção naturalmente induziria à imunidade dos indivíduos, e a redução da atividade econômica causaria prejuízo maior do que as mortes e sequelas causadas pela doença”, escrevem os cientistas na conclusão.
Ainda segundo o estudo, o estímulo para que o maior número de brasileiros pegasse o vírus ocorreu por meio de dois pilares: “a disseminação da falsa crença de que existe um tratamento precoce para a doença e o constante estímulo ao desrespeito massivo de medidas sanitárias básicas, como o distanciamento físico e o uso de máscaras”. Essas duas estratégias eram ainda apoiadas pela “recorrente banalização do sofrimento e da morte, além da desqualificação dos indivíduos que, com razão, temem a doença”.
Para o deputado federal Henrique Fontana (PT-RS), o estudo comprova, “de maneira irrefutável”, que o grande responsável pelo colapso sanitário que o Brasil vive é o governo Bolsonaro. “Esse estudo foi feito em cima de discursos e falas do presidente, de normas federais que foram editadas, de ações do governo federal ao longo de toda a pandemia. O mais interessante é a demonstração, por meio da análise de atos reais, da tentativa de propor a chamada imunidade de rebanho, que sem dúvida nenhuma levou à morte de milhares de brasileiros que poderiam ter sido evitadas”, avalia o parlamentar, que é médico.
Genocídio nunca mais
Embora tenha sido o primeiro a chamar a atenção para o fato de que centenas de milhares de mortes foram causadas de propósito por Bolsonaro e seus cúmplices (que começam a ser revelados a partir da descoberta do Gabinete Paralelo), o estudo da USP não é o único.
Outra pesquisa, realizada em parceria pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e Universidade de Michigan, nos EUA, concluiu que Bolsonaro usou sua autoridade para estimular a imunidade de rebanho. “Bolsonaro interferiu no Ministério da Saúde como nunca antes visto no período democrático. Ele interveio em protocolos de tratamento e até no modo de divulgação dos dados da pandemia”, declarou ao Estado de S. Paulo a professora da FGV Elize Massard, uma das autoras. Além disso, um terceiro estudo, este da Universidade de Harvard, concluiu que a falta de uma coordenação nacional na gestão da pandemia facilitou a propagação do coronavírus no Brasil.
Além de apontar para o cometimento de crime contra a humanidade praticado por Jair Bolsonaro e aqueles que o apoiaram na empreitada, estudos como esse ajudarão o Brasil a não viver novamente um capítulo tão tenebroso de sua história quanto o atual. Como afirmam os pesquisadores da USP no levantamento atualizado para a CPI, o trabalho da CPI da Covid “será decisivo para que, em futuras emergências, jamais a imunidade de rebanho por contágio volte a ser promovida em nosso país, e as políticas públicas de saúde voltem a ser orientadas, independentemente da natural alternância de poder, por evidências científicas, no estrito cumprimento do dever constitucional de proteção e defesa da saúde pública”.
Com informações de pt.org.br .
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