quinta-feira, 25 de março de 2021

Gabinete do ódio: presidente mente para fugir de responsabilidade por mortes evitáveis

Acuado pela pressão do Congresso e de estados e municípios, com a popularidade em queda livre em função da crise que ele mesmo criou, Jair Bolsonaro decidiu apostar na perda de memória coletiva para se safar do peso de 300 mil mortos por Covid-19, uma marca trágica ultrapassada nesta quarta-feira (24). Na noite de terça-feira (23), Bolsonaro mentiu em cadeia nacional de rádio e TV, afirmando que a vacinação será “o ano dos brasileiros”. Ao mesmo tempo, para se livrar da responsabilidade, Bolsonaro se reuniu com os presidentes da Câmara e do Senado, do STF e alguns governadores para tratar da criação de um comitê de crise, mais de um ano após a chegada do vírus ao país.

Bolsonaro genocida

No momento em que o Brasil anunciava a tenebrosa marca de 3.158 vidas perdidas em um único dia, Bolsonaro tentava apagar o rastro de sangue deixado por sua estratégia de sabotagem ao combate à pandemia, adotada desde o início do surto. “Estamos fazendo e vamos fazer de 2021 o ano da vacinação dos brasileiros. Somos incansáveis na luta contra o coronavírus”, disse, alterando dados e escondendo ações que permitiram o aumento das contaminações pelo vírus. 

“Ao final do ano, teremos alcançado mais de 500 milhões de doses para vacinar toda a população. Muito em breve, retomaremos nossa vida normal”, declarou, esquecendo-se de mencionar que o Ministério da Saúde reduziu a oferta de vacinas pela sexta vez desde o inicio do ano. 

Dados do próprio ministério apontam que, de 57,1 milhões doses programadas para serem repassadas até 30 de abril, apenas 47,3 milhões serão entregues, fato omitido por ele. São 8,85 milhões de doses da vacina de Oxford a menos, além da retirada de 1 milhão de doses da Pfizer na previsão da pasta. Além disso, Bolsonaro incluiu no pacote vacinas ainda não contratadas ou não aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Mentiroso


“Bolsonaro foi para a televisão mentir para o povo”, denunciou o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP). “A verdade é que o genocida prometeu milhões de doses de vacina, mas não entregou o valor prometido de março e não entregará o de abril. Enquanto isso, 30 mil pessoas perderam a vida enquanto decidia sobre qual ministro controlaria”, condenou Padilha.

Bolsonaro mencionou que o acordo para a produção da vacina de Oxford foi assinado em julho mas omitiu que a Anvisa só aprovou o uso emergencial do imunizante em janeiro, quando também liberou a CoronaVac. “Sempre afirmei que adotaríamos qualquer vacina, desde que aprovada pela Anvisa. E assim foi feito”, disse.

Ao falar da adesão brasileira ao consórcio Covax, da Organização Mundial da Saúde (OMS), ele não explicou os motivos por trás da decisão do governo em obter doses para cobrir apenas 10% da população. O Brasil poderia ter adquirido doses para abranger até 50% da população.

Atraso


Em outra oportuna omissão, o ocupante do Planalto tentou vender a imagem de um líder comprometido com a saúde da população, ao ressaltar que trabalhou pessoalmente para viabilizar 100 milhões de doses da americana Pfizer. Mas não disse porque o governo ignorou as 70 milhões de vacinas oferecidas pela empresa americana em agosto de 2020.

Ainda no início do mês, a falta de compromisso com a saúde apareceu cristalina em ataque direto ao combate à pandemia: “Nós temos que enfrentar os nossos problemas, chega de frescura e de mimimi”, disse Bolsonaro. “Vão ficar chorando até quando? Temos de enfrentar os problemas. Respeitar, obviamente, os mais idosos, aqueles que têm doenças, comorbidades, mas onde vai parar o Brasil se nós pararmos?”, questionou.

Fuga desesperada da responsabilidade


A catástrofe bateu à porta do Planalto. Nesta quarta-feira (24), após reunião entre os Três Poderes, foi anunciada a criação de um comitê de crise para o enfrentamento da pandemia, um gesto de alguém desesperado e cada vez mais próximo de sofrer uma condenação por crimes contra a humanidade pelo Tribunal Penal Internacional.

O comitê, montado às pressas por Bolsonaro e que chegou com mais de um ano de atraso, não inclui os governadores, que passarão a ser  “representados” pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, nem a Frente de Prefeitos. Foram enviados apenas um representante de cada região do país.

Também não foram convidados a participar o Comitê de Governadores do Nordeste, o Comitê Científico do Consórcio Nordeste e outras autoridades da área de pesquisa científica.

Tratamento precoce


Em pronunciamento ao lado das autoridades, Bolsonaro falou em “vida em primeiro lugar” mas voltou a defender o “tratamento precoce” com o uso de medicamentos sem comprovação científica e não recomendados por autoridades de saúde como a OMS“Tratamos também da possibilidade de tratamento precoce”, disse Bolsonaro. “Isso fica a cargo do ministro da Saúde, que respeita o direito e o dever do médico de tratar infectados ‘off label’”.

Na terça-feira, a Associação Médica Brasileira (AMB) emitiu nota defendendo o banimento do uso de remédios sem eficácia contra a Covid-19.

“Reafirmamos que, infelizmente, medicações como hidroxicloroquina/ cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da COVID-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida”, diz nota da entidade.

Com informações de pt.org.br , Folha de S. PauloG1 e AMB .

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