Já no início da sessão, a defesa enfática da médica do tratamento precoce com cloroquina para tratar Covid-19 e o discurso contra vacinas irritou senadores e até o presidente da CPI. Ela se disse contra uma vacinação “aleatória” da população e foi imediatamente cortada pelo presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM). “Não acreditem nela!”, interrompeu Aziz.
Yamaguchi negou o funcionamento de um “gabinete paralelo” de Bolsonaro, ao mesmo tempo em que entregou integrantes do “ministério das sombras”, como se refere Calheiros sobre o grupo de conselheiros de Bolsonaro que atuavam fora do Ministério da Saúde. Ela citou nomes como o empresário Carlos Wizard, o ex-assessor especial da Presidência Arthur Weintraub, o médico Luciano Azevedo e o deputado Osmar Terra, considerado um dos maiores defensores da tese da imunidade de rebanho, como pessoas que trataram da crise com o Planalto.
A médica negou ainda que houve tratativas para uma mudança na bula da cloroquina, como afirmaram os ex-ministros da Saúde Henrique Mandetta e Nelson Teich e o diretor da Agência Nacional e Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em seguida, caiu em contradição sobre o número de reuniões que teve com o presidente e de quem partiu os convites dentro do governo para que ela participasse do grupo de aconselhamento. Ela afirmou, por exemplo, que nunca participou de encontro com Bolsonaro sozinha. “Falsa declaração: documentos obtidos pela CPI comprovam que no dia 15/5/20, às 10h45, a declarante esteve no Palácio do Planalto, em reunião com o presidente da República”, apontou documento de checagem do relator.
“Gabinete da cloroquina”
Nise se referiu a um gabinete de “crise” montado, segundo ela, oficialmente, mas do qual teria participado apenas como “colaboradora eventual”. Ao senador Humberto Costa (PT-PE), ela admitiu que o tal gabinete não tratou de número de mortos, medidas de isolamento, uso de máscaras, nem sobre vacinas.
“Não sei que gabinete de crise era esse de Bolsonaro”, reagiu Costa. “Tudo o que se tinha que falar e discutir como medida, não se falava. Esse gabinete era, na verdade, da cloroquina. Enquanto o Brasil discutia todas essas medidas, o presidente não era aconselhado sobre coisas tão importantes, evidentes”, criticou o senador, reforçando a existência de um gabinete paralelo.
Desconhecimento e desinformação
No momento mais constrangedor da sessão, o senador Otto Alencar (PSD-BA), que é médico, constatou que a médica não tem conhecimento de infectologia. Ela não soube responder perguntas como a diferença entre um vírus e um protozoário.
“A senhora não sabe nada de infectologia, nem estudou, doutora. A senhora foi aleatória mesmo, superficial. A senhora não podia de jeito nenhum estar debatendo um assunto que não é do seu domínio. Isso não é honesto, doutora”, alfinetou Alencar.
Imunidade de rebanho
A médica foi interrompida pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE) no começo de sua fala, ao insistir na imunidade de rebanho, defendida por Bolsonaro, que aposta na contaminação em massa pela livre circulação do vírus. Yamaguchi afirmou que a imunidade é “um fato” e que acontece quando uma grande quantidade de pessoas foi imunizada ou teve contato com o vírus.
“Ser acometido por um vírus não produz imunidade”, desmentiu Carvalho. “Nós não podemos nos escudar por uma profissão milenar [medicina] para desinformar a população, sob nenhuma hipótese. Isso é contra os princípios fundamentais que nos fazem ser médicos: a defesa da vida”, afirmou o senador.
E concluiu: “A senhora disse uma frase que não é correta: não existe imunidade para um vírus quando você é contaminado por outro vírus. Por favor”, reclamou Rogério Carvalho.
“Eu acho que foi muito produtiva a vinda da doutora Nise Yamaguchi”, afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE). “Fica muito evidente que ela sempre foi uma voz importante para a construção dessa concepção profundamente equivocada que o presidente da República tem e que conduziu o Brasil a essa tragédia sanitária, econômica, política e social”.
Wajngarten
Rogério Carvalho defendeu a reconvocação do ex-chefe da Secom Fábio Wajngarten à CPI. De posse de dados divulgados pela Lei de Acesso à Informação, o senador afirmou que o governo gastou apenas R$ 5 milhões em campanhas por vacina mas torrou 19,5 milhões na divulgação de “tratamento precoce” e mais R$ 30 milhões em campanhas incentivando o retorno das atividades.
“Isso mostra claramente que a pandemia foi conduzida no sentido de promover a expansão do contágio entre todos os brasileiros e brasileiras. E nós estamos colhendo os frutos mais fúnebres, que são 462 mil mortes”, lamentou o senador.
Com informações de pt.org.br .
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