O total de pessoas que vivem em extrema pobreza chegou a 71.939 em julho deste ano nas cinco maiores cidades de Santa Catarina. O número desses municípios aumentou até 30% desde o início da pandemia de Covid-19. O conceito tem relação direta com a fome e consiste em habitantes que têm renda familiar per capita de até R$ 89 ao mês.
A cidade que teve maior crescimento nesse grupo de pessoas mais vulneráveis financeiramente foi Florianópolis. O número de moradores nessa condição aumentou 30,4%, passando de 17,2 mil em março de 2020, mês de início da pandemia, para 22,4 mil em julho de 2021.
O movimento foi praticamente o mesmo na maior cidade do Estado, Joinville. A menor variação ocorreu em Blumenau. Ainda assim, o número aumentou 21,2%, saltando de 9,6 mil para 11,6 mil ao longo de quase um ano e meio de pandemia.
Em todo o Estado, há 355,6 mil pessoas vivendo em situação de extrema pobreza, um número 17,8% maior do que havia em março de 2020, no início da pandemia. Dessa forma, as cinco maiores cidades de SC têm 20% de todas as pessoas que vivem com menos de R$ 89 por mês no Estado. Os dados mais recentes são referentes a julho, do Cadastro Único (CadÚnico), do Ministério da Cidadania.
Florianópolis alega ter aumentado ações para cadastrar famílias
A secretária de Assistência Social de Florianópolis, Cláudia Goulart, em contato após a publicação da reportagem, ponderou que o fato de Florianópolis ter apresentado o maior percentual de aumento de famílias em extrema pobreza no CadÚnico desde 2018, incluindo os meses da pandemia, não significa um crescimento da população com este perfil na cidade.
Segundo ela, isso seria reflexo de um esforço maior do município para cadastrar as famílias, com ações como o aumento de pontos de cadastramento e uma lei municipal que desde 2018 obriga as famílias a estarem cadastradas no CadÚnico para receber benefícios da área social.
Crescimento da extrema pobreza na pandemia em SC
Florianópolis: 30,39%
Joinville: 28,13%
Chapecó: 25,95%
São José: 25,44%
Blumenau: 21,16%
* Alta entre março de 2020 e julho de 2021, segundo dados do CadÚnico
Em Blumenau, atendimentos mais que dobraram
O aumento no número de pessoas nas faixas de pobreza e extrema pobreza confirma a percepção das equipes que atuam no atendimento desses públicos. A secretária de Desenvolvimento Social de Blumenau, Patrícia Morastoni Sasse, conta que nos primeiros meses de pandemia o atendimento passou de uma média de 8 mil para 17 mil pessoas por mês.
Grande parte da procura era referente a trabalhadores autônomos. Um público que não costumava fazer parte dos atendimentos da área de desenvolvimento social e que ficou praticamente sem renda com o fechamento das atividades nos meses de restrições mais severas.
As famílias que procuram o município podem ter acesso, de acordo com o perfil, a benefício financeiro municipal para compra de alimentos, que somaram 23,7 mil repasses desde o início da pandemia, 350% a mais do que em períodos normais. Além disso, houve acesso a doações de cestas básicas, kits de higiene e limpeza e outros atendimentos da área social.
– A alimentação é a necessidade mais imediata, mas nosso olhar é em relação a vulnerabilidades da família. Se há situação de violência, desemprego ou outra dificuldade identificada, elas passam a ser atendidas de forma continuada, com acompanhamento – detalha a secretária.
Joinville teve procura de trabalhadores que perderam renda
Em Joinville, o município identificou que o serviço de assistência social passou a ser mais conhecido após a pandemia, fazendo com que famílias que já tinham renda baixa e ainda foram afetados pela crise da Covid procurassem o setor.
Os atendimentos oferecidos a esses públicos envolvem auxilio para redução de taxas de água e luz e benefícios sociais como o BPC, formação profissional, doação de fraldas e acesso ao restaurante popular, com almoço a R$ 1. A cidade também oferece um auxílio-natalidade, de R$ 300 a R$ 1,2 mil, para mães inscritas no Cadastro Único, com renda familiar per capita de até meio salário mínimo.
- No começo da pandemia, observamos aumento na faixa da extrema pobreza. Eram pessoas que já tinham emprego que não ganhava muito, e acabaram perdendo, porque as próprias pessoas que contratavam também foram cortando serviços. A gente ainda vai precisar aguardar alguns meses, mas hoje já começamos a observar diminuição da extrema pobreza – conta a secretária de Assistência Social, Fabiana Cardozo.
Florianópolis criou auxílio emergencial municipal
Florianópolis registrou o maior aumento de pessoas em extrema pobreza nesses 17 meses de pandemia. Além do auxilio emergencial do governo federal e da ajuda oferecida pelo governo do Estado (SC Mais Renda), a Capital também implantou um benefício próprio municipal, o Auxílio Municipal Emergencial (AME). O programa oferece auxilio de R$ 1,5 mil em cinco parcelas, ou de R$ 1.875, no caso de famílias chefiadas por mulheres solo, todos com renda familiar per capita de até R$ 178 mensais. A ação atendeu 2,6 mil pessoas e tem possibilidade de extensão a mais famílias. Atualmente o pagamento está no terceiro mês.
Além disso, o município também ofereceu credenciamento de hospedagem para atender de forma imediata famílias que pudessem ter sido despejadas e benefícios como o cartão calamidade, com recursos para compra de alimentos a famílias que procuravam os Centros de Referência de Assistência Social (Cras). Cestas básicas arrecadadas nos pontos de vacinação também foram doados em campanhas pelo Instituto Somar a famílias em vulnerabilidade, que também receberam apoio como kits de alimentos da área da educação quando as escolas estavam fechadas.
A secretária de Assistência Social de Florianópolis, Maria Cláudia Goulart da Silva, afirma que o principal impacto da pandemia foi para famílias que nunca tinham procurado a assistência social e precisarem procurar pelo serviço. Também na Capital os autônomos e profissionais da área de eventos foram públicos que enfrentaram essa situação.
– Não temos identificado registros de famílias que estão deixando de se alimentar, pessoas ou famílias que passem fome na cidade, porque elas acessam esse tipo de auxilio, alimentação, cestas básicas. O que se percebe é um aumento da procura por esse tipo de apoio, e de famílias em situação de vulnerabilidade – conta.
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Ela cita que questões econômicas, como o aumento dos alimentos, carne e itens como gás de cozinha também prejudica as famílias, reduzindo a qualidade nutricional das pessoas.
Com o início de retomada econômica, embora os indicadores ainda não evidenciem isso, o município começa a perceber casos de pessoas que estão retomando sua renda, o que pode reduzir a demanda crescente dos atendimentos da área social nos próximos períodos.
Com informações de:
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