Enquanto Jair Bolsonaro estiver ocupando o Palácio do Planalto, o pesadelo brasileiro está longe do fim. Em meio ao cenário de guerra que resultou em 400 mil mortes, especialistas antecipam a possibilidade de uma terceira onda de Covid-19 varrer o país e aprofundar ainda mais a crise. Enquanto a vacinação engatinha, a população continua exposta a novas cepas do vírus, que aumentam o risco de infecção e morte. Pesquisadores temem que os dois fatores, associados ao relaxamento das regras de distanciamento social, possam ter um efeito devastador.
“O Brasil está se especializando no método sanfona de controle da pandemia”, critica o neurocientista Miguel Nicolelis, em entrevista à BBC. “Fecham quando está altíssimo por uma, talvez duas semanas, e aí, quando cai 4 pontos, abrem tudo de novo e volta (a subir)”.
Militante em favor da adoção urgente de um lockdown nacional, Nicolelis prevê meses duríssimos para o país, consequência da irresponsabilidade do governo federal ao atuar na crise. Ele antevê a marca de 500 mil vítimas fatais, a ser atingida em 40 dias. Pior: o país ruma para acumular mais de um milhão de fatalidades até 2022.
“No ritmo atual, nós não vamos nem conseguir vacinar as pessoas antes que alguma variante brasileira, ou da África do Sul, ou da Índia, ou da Inglaterra, escape às vacinas”, ressalta Nicolelis. “Essa variante indiana é assustadora. Se as variantes entrarem aqui e passarem a competir com a P-1 (variante brasileira), e as vacinas que temos não derem conta, podemos ter um milhão de óbitos até 2022”, adverte.
Celeiro de variantes
“O Brasil virou celeiro de novas variantes. Com a atual política adotada [em nível nacional], não há perspectiva de a pandemia rescindir em menos de dois ou até três anos”, observou o biólogo, pesquisador e doutorando do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Lucas Ferrante, em entrevista ao Valor. Ferrante calcula que uma nova onda de infecções pode castigar o Brasil em até 45 dias.
“A falta de coordenação nacional é responsável por três de cada quatro mortes no Brasil”, definiu o epidemiologista Pedro Hallal, ex-reitor da Universidade de Pelotas, em depoimento ao Portal IG. “Hoje saiu um comentário na (revista científica britânica) Nature falando em uma de cada duas. Acho que ainda é conservador, acho que três de cada quatro, com os dados que eu vejo”, considerou Hallal.
”Não há dúvida de que muito mais gente morreu e seguirá morrendo hoje no Brasil do que seria o naturalmente esperado pelo curso natural da pandemia”, disse.
Lockdown + vacina
Hallal sustenta que o Brasil só terá condições de sair do ciclo de infecções e morte se adotar um lockdown sério por pelo menos três semanas e acelerar as vacinações para 1,5 milhão de doses por dia. É a combinação das duas medidas que poderá dar um respiro aos sistemas de saúde, ainda sobrecarregados pelo elevado número de internações, especialmente de doentes mais jovens.
“Vamos precisar construir uma inteligência epidemiológica para monitorar o número de caso e o tipo de vírus que está circulando, porque no momento que se encontre novas cepas, é fundamental tomar medidas para bloquear essas variantes” avalia o pesquisador Adriano Massuda.
“O que aconteceu em Manaus, por exemplo, com a identificação de uma nova cepa e a transferência de pacientes para outras regiões do país, ajudou a disseminar a variante para todo o Brasil”, criticou.
Relaxamento do distanciamento
“Se flexibilizar geral, o risco é muito grande”, advertiu a professora titular de epidemiologia do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Gulnar Silva. Ela também defende um lockdown em todo o país para frear o vírus. “Quando a curva baixar bastante podemos fazer testagem, rastrear os casos, isolar os doentes e os suspeitos, fazer quarentena dos contatos, o que deveria ter sido feito desde o início”, recomendou.
Com informações de pt.org.br , BBC, Valor e IG .
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