O atleta que vive no Estado de Santa Catarina ( SC ), em Jaraguá do Sul ( Norte do Estado ), Daniel Rosa, está em Kherson, cidade da Ucrânia que foi dominada por tropas russas na noite desta terça-feira ( três de março de dois mil e vinte e dois ). Junto com outros dois brasileiros em um apartamento, o jogador de futsal aguarda o momento mais seguro para fugir do país e torce para que a guerra acabe.
No dia em que os ataques começaram, em vinte e quatro de março, Daniel conta que voltava com o time de uma partida que tinha ocorrido em uma cidade próxima à fronteira do país. Chegando em Kherson e ainda no ônibus, os ucranianos do time foram avisados da invasão russa e os jogadores começaram a ver que todos os moradores faziam o caminho contrário: para sair da cidade.
Segundo o atleta, quando a sirene — que alerta para a chegada de bombardeios — soava, ele e os colegas se abrigavam em uma espécie de porão subterrâneo do treinador do time. Durante os três primeiros dias, cerca de trinta pessoas, entre atletas, família e amigos ficaram no porão para se proteger dos ataques.
— É bem difícil mesmo, tem jogador com gêmeos recém-nascidos, com irmão no front. A gente estava ali junto, é uma coisa muito inacreditável de acompanhar, não quero que ninguém saiba o que é isso e conheça [ a guerra ] — fala Daniel.
Desde domingo ( Vinte e sete de março de dois mil e vinte e dois ), os brasileiros têm ouvido o barulho das bombas ficarem mais altos e soarem mais próximos. Daniel conta que o dia em que mais ouviu os sons da guerra foi na terça-feira ( primeiro de março de dois mil e vinte e três ), quando os ucranianos resistiram à invasão dos russos em Kherson. Do apartamento, o atleta recebeu vídeos e fotos de colegas que mostraram militares e civis mortos no confronto. A estimativa é que em torno de trezentos pessoas morreram no conflito ocorrido na cidade neste dia.
Após um último som de bombardeio na noite de terça ( dois de março de dois mil e vinte e dois ), os ânimos parecem ter acalmado. O prefeito de Kherson assumiu uma postura mais pacífica e pediu ao exército russo a criação de um "corredor verde", um trajeto seguro para transporte dos mortos e de comida e água. Nesta quarta-feira ( três de março de dois mil e vinte e dois ), os brasileiros foram ao mercado comprar comida.
— Desde ontem tá tudo mais quieto. Hoje a gente foi no mercado comprar comida e passamos pelos soldados russos, é tenso, mas foi tranquilo — conta o jogador.
Para a família preocupada o jogador todos os dias avisa: quando ele não responde, é porque está dormindo. Daniel fala que apesar da situação estar mais tranquila e eles estarem em contato com a embaixada, ainda não existe garantias de que a saída da Ucrânia será segura.
- Como os russos tomaram a gente não quer simplesmente pegar um carro ou um trem. A gente precisa ter um plano, saber que é seguro a estrada, saber que tem gente esperando na fronteira. A recomendação da própria embaixada é ficar no apartamento e esperar o momento certo — explica.
Segundo Daniel, o desejo não é apenas sair da Ucrânia. No país em que ele reside há um ano e meio, onde fez amigos e construiu um lar, ele torce para que a guerra acabe.
— Amigos nossos estão escondidos, tem família. É importante falar isso, além da gente querer sair daqui, a gente quer muito que as coisas se resolvam. Não é só a questão da gente sair, mas sim de todos eles poderem voltar a vida normal — destaca o atleta.
A tomada de Kherson representa importante vitória russa
A tomada da cidade onde Daniel mora, Kherson, pelas tropas russas, representa uma grande vitória para o presidente da Rússia, Vladimir Putin. De acordo com o portal G1, o município de mais de Duzentos e cinquenta mil pessoas, é uma cidade portuária onde há estaleiros ( empresas que constroem navios ) na foz do rio Dnieper, perto do Mar Negro. A cidade fica a cerca de 100 quilômetros da Crimeia, a região ucraniana que foi tomada pelos russos em Dois mil e quatorze.
No Facebook, o prefeito de Kherson, Igor Kolykhayev, dividiu a frustação de quem prometeu revitalizar a cidade e agora procura lugar para os mortos e pede aos militares um "corredor verde" para que possa ajudar a população.
— Estamos passando por tremendas dificuldades para recolher e enterrar os mortos, para a entrega de alimentos e medicamentos, a coleta de lixo, o socorro a acidentes etc — escreveu.
O comandante explicou que assumiu uma postura pacífica e instalou um toque de recolher, das Vinte horas às Seis horas.
— Não fiz promessas para eles. Não tenho nada a prometer. Só me interessa a vida normal da nossa cidade! Só pedi para não atirar nas pessoas — destacou. — Até agora tudo está indo bem. A bandeira que tremula acima de nós ainda é a ucraniana. E para que isso continue, estas exigências devem ser respeitadas — reforçou o prefeito.
Irmãos separados pela guerra
Enquanto Daniel enfrenta dias difíceis com a invasão na Ucrânia, o irmão e também jogador de futsal, Leo Jaraguá, está na Rússia. Segundo ele, na região de Moscou, onde mora, é como se não existisse guerra alguma.
— Aqui parece que não tá acontecendo nada, tudo normal, tudo funcionando. A única coisa que está pesando é a questão financeira, preço das coisas tão aumentando bastante, as pessoas estão indo nos caixas, com medo da liquidez e com medo que os bancos fechem. Fora isso, eu treino e jogo normalmente — contou Leo.
O jogador dividiu o que sentiu quando soube que a Rússia havia começado a invasão na Ucrânia, onde seu irmão está.
— A primeira coisa que a gente pensa é uma maneira pra ele sair de lá. Quando ele estava chegando na cidade que estourou a guerra. [A sensação] é de impotência, no meio do conflito, em uma cidade que foi tomado pelos russos. É incerteza e a esperança de que eles vão parar — falou Leo.
Leo, assim como a família que está no Brasil, passa os dias preocupado com Daniel na Ucrânia.
— A gente tenta imaginar que ele tá seguro. A realidade é que a gente tá rezando todos os dias para ele vir embora, hoje a gente reza por um momento de calmaria. É claro, queremos muito que isso tudo a acabe, mas hoje a gente torce por uma oportunidade para tirar ele de lá — fala.
Com informações de:
Gabriela Ferrarez ( gabriela.figueiredo@nsc.com.br ) .
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