Resumo
No pós-industrialismo, a teoria administrativa está atravessando um período de intensas e profundas revisão e crítica. Desde os tempos da teoria estruturalista não se via tamanha onda de revisionismo. O mundo mudou e também a teoria administrativa está mudando. Mas para onde? Quais caminhos? Algumas dicas podem ser oferecidas pelo que está acontecendo com a ciência moderna que também está passando por uma forte revisão em seus conceitos. Afinal, a teoria administrativa não fica incólume ou distante deste movimento de crítica e renovação.
Na verdade, a teoria administrativa passou por três períodos em sua trajetória:
1) O período cartesiano e newtoniano da administração. foi a criação das bases teóricas da administração iniciada por Taylor e Fayol envolvendo principalmente a administração científica, a teoria clássica e a neoclássica. A influência predominante foi a física tradicional de Isaac Newton e a metodologia científica de René Descartes. Foi um período de calmaria e de relativa permanência no mundo das organizações.
2) O período sistêmico da administração. Aconteceu com a influência da teoria dos sistemas que substituiu o reducionismo, o pensamento analítico e o mecanicismo pelo expansionismo, pensamento sintético e teleologia, respectivamente a partir da década de sessenta. A abordagem sistêmica trouxe uma nova concepção da administração em busca do equilíbrio na dinâmica organizacional em sua interação com o ambiente externo. Teve sua maior influência no movimento de DO e na teoria da contingência. Foi um período de mudanças e de busca da adaptabilidade no mundo das organizações.
3) O período atual da administração. Está acontecendo graças à profunda influência das teorias do caos e da complexidade na teoria administrativa. A mudança chegou para valer no mundo organizacional.
Os paradoxos das ciências
As ciências sempre guardaram um íntimo relacionamento entre si. Principalmente depois da revolução sistêmica e cibernética: o que ocorre um uma área científica logo permeia nas demais provocando um desenvolvimento científico que, se não é homogêneo, pelo menos se torna relativamente concomitante ou se faz com relativo atraso. Um acontecimento na biologia do século dezenove e cinco outros acontecimentos na física do século vinte estão produzindo intensa influência na teoria administrativa no início do século vinte e um.
1) O darwinismo organizacional. No século dezenove, após coletar uma enorme massa de informações, Charles Darwin ( que viveu entre mil oitocentos e nove e mil oitocentos e oitenta e dois ) escreveu seu famoso livro, As origens das espécies, no qual apresenta a sua teoria da evolução das espécies. Concluiu que todo organismo vivo - seja planta ou animal - é resultado, não de um ato criador isolado ou de um evento estático no tempo, mas de um processo natural que vem se desenrolando há bilhões de anos. Tudo evoluiu gradativamente desde os sistemas simples até os mais complexos. A complexidade organizada dos seres vivos ocorre sem necessidade de intervenção de qualquer força não natural. Em outras palavras, a vida vem se transformando continuamente através dos tempos. A evolução é orientada por um mecanismo incrível chamado seleção natural das espécies. Este mecanismo seleciona os organismos mais aptos a sobreviver e elimina automaticamente os demais. Não são os mais fortes da espécie os que sobrevivem, nem os mais inteligentes, mas os que se adaptam melhor às mudanças ambientais. O raciocínio de Darwin é o seguinte: se em uma espécie existem variações nas características que os indivíduos herdam de uma geração para outra, e s algumas destas características são mais úteis do que outras, então, estas últimas vão disseminar-se mais amplamente na população e, com o tempo, vão acabar predominando. O conjunto da população acabará tendo estas características mais eficientes na arte da reprodução, e esta espécie pode tornar-se completamente diferente daquilo que já foi. Para que este mecanismo seletivo possa atuar, são necessárias três condições:
a) Deve haver variação, ou seja, as criaturas não podem ser idênticas.
b) Deve haver um meio ambiente em que nem todas as criaturas possam sobreviver e no qual algumas se darão melhor que outras.
c) Deve haver algum mecanismo por meio do qual a cria herda características dos pais.
A evolução pela seleção natural das espécies explica o mundo vivo. O ser humano é o último passo da caminhada evolutiva de um determinado tipo de chimpanzé. Passados quase duzentos anos de sua divulgação, a ideia da evolução também está sendo aplicada às organizações como organismos vivos.
2) teoria dos quanta. No ano de mil e novecentos, o cientista alemão Max Planck ( que viveu entre mil oitocentos e cinquenta e oito e mil novecentos e quarenta e sete ) apresentou a sua teoria dos quanta que iria operar uma completa revolução na física tradicional. Planck descobriu que no mundo das partículas subatômicas, as leis de Newton não funcionam. Até então, a física clássica de Isaac Newton estabelecia uma exata correspondência entre a causa e efeito. O mundo newtoniano e previsível como um mecanismo de relojoaria passou a ser entendido como aleatório tanto quanto um jogo de dados. Era como se Deus fosse um excelente jogador. A física quântica deixou de ser determinística para ser probabilística.
Ao estudar os problemas que envolviam trocas de energia e emissão de radiações térmicas, Planck chegou à conclusão de que a quantidade de energia emitida ou absorvida é igual a um múltiplo inteiro de uma certa quantidade mínima, a que denominou de quantum ( significa uma quantidade de alguma coisa ) elementar de ação. Para a teoria quântica, a energia é algo descontínuo e discreto, ou seja, o seu crescimento se faz por acréscimos constantes, tais como um muro feito de tijolos que só pode aumentar segundo múltiplos inteiros de um tijolo. Em outras palavras, a energia é transmitida em pequenos pacotes - os quanta - e não de modo contínuo.
A física quântica mostra que no nível subatômico não há partículas estáveis e nem bolcos de construção de matéria, mas apenas ondas de energia em contínuo movimento que podem, em certas condições, formar partículas. Todos os fenômenos subatômicos podem atuar como uma onda ( vibrações ) ou como partículas ( com posição localizada no espaço e no tempo ). É a energia - e não a matéria - a substância fundamental do universo. Mas, os efeitos do mundo quântico não se limitam apenas ao pequeno. Einstein apontou seus efeitos macroscópico no universo.
3) Teoria da relatividade. Em mil novecentos e cinco, Albert Einstein ( que viveu entre mil oitocentos e setenta e nove e mil novecentos e cinquenta e cinco ) aplicou a hipótese quântica ao efeito fotoelétrico para obter uma explicação para o fenômeno. Admitiu que cada elétron é liberado por um quantum de luz, denominando-o fóton, a que está ligada a uma energia proporcional a respectiva frequência. Assim, a luz tem um caráter dual: ela é onda e é partícula ao mesmo tempo, o que confundia totalmente os cientistas. Daí surgiu a teoria da relatividade, vinculada às noções de espaço e de tempo e aos métodos de medida destas duas grandezas. Einstein demonstrou que:
a) A massa é uma forma de energia variante em função da velocidade ( e = mc [ c ] ). Isto liquidou a noção de objetos sólidos. Segundo esta fórmula, a energia ( força ) contida na matéria é equivalente à massa desta matéria multiplicada pela velocidade da luz ao quadrado. Portanto, até mesmo a menor partícula de matéria contém um imenso potencial de energia concentrada. O espaço assemelha-se a um oceano invisível fervilhante de atividade, uma teia ou rede de campos de energia subatômicos.
b) O espaço e o tempo estão em permanente interação, ou seja, são relativos e não absolutos, são dependentes do observador e constituem partes integrantes de um continuum quadridimensional - o espeço-tempo. Na medida em que a velocidade das partículas se aproxima da velocidade da luz, a descrição até então tridimensional precisa incorporar o tempo como uma quarta coordenada determinada relativamente ao observador. ocorre então uma espacialização do tempo.
c) A força da gravidade tem o efeito de curvar o espaço-tempo. Isto derrubou a geometria euclidiana e o conceito de espaço vazio.
4) Princípio da incerteza. Werner Heisemberg ( que viveu entre mil novecentos e um e mil novecentos e setenta e seis ) criou a mecânica quântica em substituição à mecânica clássica de Newton para o estudo das partículas subatômicas em movimento. Estas partículas nunca são estáticas e estão sempre em contínuo movimento em inexplicáveis e inesperados saltos quânticos provocando a imprevisibilidade e a indeterminação. Daí o princípio da incerteza - ou princípio da indeterminação: o processo de observar um fenômeno altera este fenômeno. Ou seja, a observação de qualquer fenômeno equivale a alterar a posição e velocidade destas partículas. A substância fundamental do universo é a energia e não a matéria. Isto enterrou o velho determinismo da física clássica de Newton. A objetividade newtoniana é substituída pela subjetividade quântica. A velha visão mecanicista, determinística e reducionista do mundo cai por terra. Isto demorou a ser percebido pela teoria administrativa. Além disto, as partículas não determinam o comportamento das partes, outro princípio que a teoria administrativa somente captaria décadas depois.
5) Teoria do caos. Na década de sessenta, Edward Lorenz do Instituto de Tecnologia de Massachussetts ( MIT ) desenvolveu um modelo que simulava no computador a evolução das condições climáticas. Dados os valore iniciais de ventos e temperaturas, o computador fazia uma simulação da previsão do tempo. Lorenz imaginava que pequenas modificações nas condições iniciais provocariam alterações igualmente pequenas na evolução do quadro como um todo. A surpresa: mudanças infinitesimais nas entradas podem ocasionar alterações drásticas nas condições futuras do tempo. Como dizia Lorenz, uma leve brisa em Nevada, a queda de um grau em Massachussetts, o bater de asas de uma borboleta na Califórnia podem causar um furacão na Flórida um mês depois. Uma estrambólica variação em cadeia do chamado efeito dominó. Da previsão do tempo ao mercado de ações, das colônias de cupins à internet, a constatação de que mudanças diminutas podem acarretar desvios radicais no comportamento de um sistema veio reforçar a nova visão probabilística da física. O comportamento dos sistemas físicos, mesmo os relativamente simples, é imprevisível. O estado final de um sistema não é um ponto qualquer; certos percursos com maior frequência. Os chamados atratores estranhos ( strange attactors ) permitem que os cientistas prevejam o estado mais provável de um sistema, embora não quando precisamente ele vai ocorrer. É o que acontece com a previsão do tempo ou de um maremoto, por exemplo.
A palavra caos tem sido tradicionalmente associada à desordem. Nas mitologias e cosmogonias antigas, caos era o vazio escuro e ilimitado que precede à criação do mundo. Desde tempos imemoriais, o ser humano se defronta com o desconhecido e o percebe como caótico e atemorizante. Desde os tempos de Descartes, a lógica e a racionalidade da ciência constituíram uma luta contante contra o caos: tornar o mundo conhecido e reduzir incerteza.
Contudo, na ciência moderna, caos significa uma ordem mascarada de aleatoridade. O que parece caótico é, na verdade, o produto de uma ordem subliminar, na qual pequenas perturbações podem usar grandes efeitos devido à não linearidade do universo. Para a ciência moderna, os fenômenos deterministas - que obedecem ao princípio da linearidade de causa e efeito - constituem uma pequena minoria nos eventos naturais. Tudo na natureza muda e evolui continuamente. Nada no universo é passivo ou estável. A noção de equilíbrio - tão cara à teoria de sistemas - constitui um caso particular e pouco frequente. Na verdade, não existem mudanças no universo. O que existe é mudança. O estado de equilíbrio, o determinismo e a causalidade linear são casos muito singulares em um universo primordialmente evolutivo, onde tudo é fluxo, transformação e mudança. No decorrer do século vinte, a ciência passou da visão clássica para um realidade em permanente estado de equilíbrio para uma visão de uma realidade sujeita a perturbações e ruídos, mas que tendia naturalmente a retornar ao equilíbrio, graças à abordagem sistêmica.
Para a teoria do caos, a desordem, a instabilidade e o acaso no campo científico constituem a norma e a regra, a lei. A influência destas ideias na teoria administrativa é marcante. Afinal, ainda estão sendo buscadas a ordem e a certeza em um mundo carregado de incertezas e instabilidade. Os modelos de gestão baseados na velha visão do equilíbrio e da ordem estão caducos. Além do mais, quando se faz um esforço para integrar a administração com outras ciências, os resultados caminham em uma direção completamente diferente. A ciência moderna mostra que o sistema vivo é, para si, o centro do universo e sua finalidade é a produção de sua identidade. O sistema procura interagir como o ambiente externo sempre de acordo com uma lógica própria e singular.
6) Teoria da complexidade. Em mil novecentos e setenta e sete, Ilya Prigogine ganhou o prêmio Nobel de Química ao aplicar a segunda lei da termodinâmica aos sistemas complexos, incluindo organismos vivos. A segunda lei estabelece que os sistemas físicos tendem espontânea e irreversivelmente a um estado de desordem ou de entropia crescente. Contudo, ela não explica como os sistemas complexos emergem espontaneamente de estados de menor ordem desafiando a tendência á entropia. Prigogine verificou que alguns sistemas quando elevados à condições distantes do equilíbrio - à beira do caos - iniciam processos de auto-organização, que são períodos de instabilidade e de inovação dos quais resultam sistemas mais complexos e adaptativos. Exemplos destes sistemas adaptativos e autoorganizantes são os ecossistemas de uma floresta tropical, formigueiros, cérebro humano e a internet. São sistemas complexos que se adaptam em redes ( networks ) de agentes individuais que interagem para criar um comportamento autogerenciado, mas extremamente organizado e e cooperativo. Estes agentes respondem à retroação ( feedback ) que recebem do ambiente e, em função dela, ajustam seu comportamento. Aprendem com a experiência e introduzem o aprendizado na própria estrutura do sistema. Em outras palavras, aproveitam as vantagens da especialização sem cair na rigidez burocrática. Se, ao invés de formigas, abelhas ou neurônios, considerar seres humanos reunidos em redes cooperativas, verifica-se que esta descoberta científica ingressou na teoria administrativa com muito atraso, indicando que as organizações são sistemas complexos, adaptativos e que se auto-organizam até alcançarem um estado de aparente estabilidade.
Prigogine elaborou a teoria das estruturas dissipativas - também conhecida como teoria do não equilíbrio - para explicar a ordem por meio das perturbações que governam o fenômeno da evolução. A evolução é, basicamente, um processo de criação de complexidade por meio do qual os sistemas se tornam progressivamente capazes de utilizar maiores quantidades de energia do ambiente para ampliação de suas atividades.
A palavra complexidade tem sido utilizada para representar aquilo que é compreendido e dominado com mais dificuldade. A complexidade constitui uma nova visão das ciências. A velha cibernética despertou a curiosidade dos cientistas. O emaranhado das ciências interdisciplinares levou à constatação de que a realidade que cerca o homem apresenta segredos ainda não totalmente desvendados para inteligência humana. As fronteiras do conhecimento exploradas pela teoria do caos e teoria das estruturas dissipativas - levam a conclusões impressionantes.
A teoria da complexidade é a parte da ciência que trata do emergente, da física quântica, da biologia, da inteligência artificial e de como os organismos vivos aprendem e se adaptam. Ela é um subproduto da teoria do caos. No estudo do comportamento das partículas fundamentais que constituem todas as coisas do mundo, a física quântica proporciona conclusões ambíguas e indeterminadas: como pode a realidade se revelar ao ser humano por meio de um mundo de coisas concretas e determinadas se ela é constituída de aspectos indeterminados? O mundo quântico tem as suas esquisitices. A lógica da ciência da complexidade substitui o determinismo pelo indeterminismo e a certeza pela incerteza. Os físicos tiveram de reconstruir as bases sobre as quais a ciência vinha se desenvolvendo desde o mundo mecânico, previsível e linear de Isaac Newton. Há autores que pregam um paralelo entre o mundo da ciência e o mundo dos negócios, mostrando que, da mesma forma, também a teoria administrativa terá de se estabelecer sobre bases novas que definam a nova lógica para a atuação das organizações. Para abordar os movimentos ondulatórios dos negócios seria necessária uma total recauchutagem da teoria administrativa?
Todas estas contribuições - o darwinismo organizacional, a teoria dos quanta, a teoria da relatividade, o princípio da incerteza, a teoria da caos e a teoria da complexidade - vieram trazer uma nova conceituação da ciência moderna não está apenas descobrindo novos campos científicos, mas está redefinindo o próprio sentido do que seja a ciência, como:
a) A ciência abandona o determinismo e aceita o indeterminismo e a incerteza, inerentes ao homem e às suas sociedades.
b) A ciência abandona o idéia de uma simplicidade inerente aos fenômenos do mundo natural e abraça a complexidade também inerente ao homem e suas sociedades.
c) A ciência abandona o ideal de objetividade como única forma válida de conhecimento, assumindo enfim a subjetividade, marca maior da condição humana.
A complexidade significa a impossibilidade de se chegar ao conhecimento completo a respeito da natureza. A complexidade não pode apenas reconhecer a incerteza e tentar dialogar com ela.
A quinta onda
A era industrial predominou em quase todo o século vinte e cedeu lugar à era da informação. Nesta nova era, as mudanças e transformações passam a ser gradativamente mais rápidas e intensas. Sobretudo, descontínuas. A descontinuidade significa que as mudanças não são mais lineares ou sequenciais e nem seguem uma relação causal ( causa e efeito ). Elas são totalmente diversas e alcançam patamares diferentes do passado. A simples projeção do passado ou do presente não funciona mais, pois as mudanças não guardam alguma similaridade com o que se foi. Como dizia Joseph Schumpeter: a economia saudável é aquela que rompe o equilíbrio por meio da inovação tecnológica. Ao invés de tentar otimizar o que já existe, a atitude produtiva é a de inovar por meio daquilo que ele chamou de destruição criativa. Na visão de Schumpeter, os ciclos em que o mundo viveu no passado foram todos eles determinados por atividades econômicas diferentes. Cada ciclo - como qualquer ciclo de vida de produto - tem as suas faces. Só que estas ondas estão ficando cada vez mais curtas fazendo com que a economia renove a si mesma mais rapidamente para que o novo ciclo possa começar.
O primeiro elemento central da quinta onda é a internet. A world wide web - www - a rede mundial de computadores de pessoas, equipes e organizações. E a inquebrantável lógica desta nova onda e de que não há ais lugar para se fazer as mesmas coisas do passado. Claro que precisamos conhecer o que foi feito no passado como base elementar para o conhecimento do homem e para o poder de criação e inovação. Todavia, o que se aprendeu no passado passa a ter pouco valor prático para o futuro que se aproxima cada vez mais rapidamente. Trata-se de uma nova dimensão de tempo e de espaço à qual ainda não se está acostumado.
O segundo elemento central da quinta onda é a globalização dos negócios. Ela é um processo de mudança que combina um número crescentemente maior de atividades por meio das fronteiras e da tecnologia da informação, permitindo a comunicação praticamente instantânea com o mundo. E, de lambuja, promete dar a todas as pessoas em todos os cantos o acesso ao melhor do mundo. A globalização constitui uma das mais poderosas e difusas influências sobre nações, organizações, ambientes e trabalho, comunidades e vidas. Para Kanter, quatro processos abrangentes estão associados à globalização:
a) Mobilidade de capital, pessoas e ideias. Os principais ingredientes de um negócio -capital, pessoas e ideias - estão adquirindo cada vez mais mobilidade. Estão migrando de um lugar para o outro com incrível rapidez e facilidade. A transferência de informações em alta velocidade torna o lugar irrelevante.
b) Simultaneidade - em todos os lugares ao mesmo tempo. O processo de globalização significa ma disponibilidade cada vez maior de bens e serviços em muitos lugares ao mesmo tempo. O intervalo de tempo entre o lançamento de um produto ou serviço em um lugar e sua adoção em outros lugares está caindo vertiginosamente, em especial no que se refere às novas tecnologias.
c) Desvio - múltiplas escolhas. A globalização é ajudada pela competição além das fronteiras apoiada por um trânsito internacional mais fácil, desregulamentação e privatização de monopólios governamentais, que aumentam as alternativas. O desvio significa inúmeras rotas alternativas para atingir e servir os clientes. O surgimento de serviços de entrega de encomendas vinte e quatro horas por dia em qualquer lugar do mundo substitui os serviços postais governamentais. O mesmo ocorre com o fax. Transferências eletrônicas de fundos substituem os bancos centrais. Os novos canais são mais universais, menos específicos ao local e podem ser explorados em qualquer lugar.
d) Pluralismo - o centro não pode dominar. No mundo inteiro, os centros monopolistas estão se dispersando e sofrendo um processo de descentralização. O pluralismo se reflete na dissolução e dispersão de funções para todo o mundo, independentemente do lugar.
Estes quatro processos juntos - mobilidade, simultaneidade, desvio e pluralismo - ajudam a colocar um número maior de opções nas mãos do consumidor individual e dos clientes organizacionais que, em contrapartida, geram uma cascata de globalização, reforçando mutuamente os ciclos de retroação que fortalecem e aceleram as forças globalizantes. Pensar como o cliente está se tornando a lógica global de negócios. Além disto, dois fenômenos ocorrem simultaneamente: o regulamentado está se tornando desregulamentado ( o que reduz o controle político ), enquanto o desorganizado está ficando organizado ( o que aumenta a coordenação dos setores ).
Para vencer em mercados globais e altamente competitivos, as organizações bem-sucedidas compartilham uma forte ênfase em inovação, aprendizado e colaboração por meio das seguintes ações:
a) As organizações organizam-se em torno da lógica do cliente. Atendem rapidamente às necessidades e desejos dos clientes em novos conceitos de produtos e serviços e transformam o conceito geral do negócio quando as tecnologias e mercados mudam.
b) Estabelecem metas elevadas. Tentam definir os padrões mundiais nos nichos almejados e buscam redefinir a categoria a cada nova oferta.
c) Selecionam pensadores criativos com um visão abrangente. Definem seus cargos de forma abrangente e não de forma limitada, estimulam seus funcionários a adquirir múltiplas habilidades, trabalhando em vários territórios e dão a eles as melhores ferramentas para executar suas tarefas.
d) Encorajam o empreendimento. Investem em equipes de empowerment para que elas possam buscar novos conceitos de produtos e serviços, deixam que elas coloquem em prática suas ideias e reconhecem fortemente a iniciativa.
e) Sustentam o aprendizado constante. Promovem a ampla circulação de informações, observam os concorrentes e inovadores no mundo inteiro, medem seu próprio desempenho com base em padrões mundiais de qualidade e oferecem treinamento contínuo para manter atualizado o conhecimento das pessoas.
f) Colaboram com os parceiros. Combinam o melhor de sua especialização e da de seus parceiros, desenvolvendo aplicações customizadas para os clientes.
Daí outros paradoxos: as organizações bem-sucedidas apresentam uma cultura que combina características aparentemente opostas; padrões rígidos e interesse pelas pessoas; ênfase em inovações proprietárias e uma habilidade de compartilhar com os parceiros. E seus principais ativos são os três Cs: conceitos, competência e conexões, que elas estimulam e repõem continuamente. Desta maneira as organizações bem-sucedidas estão criando o shopping center global do futuro. E, no processo de globalização, elas se tornam classe mundial: focalizadas externamente e não internamente, baseando-se no conhecimento mais recente e operando através das fronteiras de funções, setores, empresas, comunidades ou países em complexas redes de parcerias estratégicas.
Referência:
Chiavenato, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração - 8ª edição -Rio de Janeiro : Elsevier, 2011. ( pp. 531 - 542 ).
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