segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Administração: a colaboração de profissionais de outras áreas na gestão

O que caracteriza um administrador? O que define um administrador? as palavras "administrador" e "administração" são, na melhor das hipóteses, dúbias. Provenientes do inglês americano (manager e management revelam-se ambiguas, pois mesmo na Inglaterra seu significado é diferente), mantiveram na tradução a nebulosidade que os termos têm nos Estados Unidos.

A palavra manager não tem equivalente exato em alemão, francês, espanhol, português, italiano ou russo; e os termos usados nessas línguas são tão imprecisos e indefiníveis quanto manager é no inglês.

A maioria das pessoas, quando tenta explicar o que quer dizer com "administrador", dirá que se trata de um "patrão". Mas quando a placa da banca dos engraxates de um aeroporto disser: "John Smith - Manager", todos saberão (ao menos nos Estados Unidos) que isso não significa que o sr. Smith seja o patrão - isto é, o proprietário - e sim que ele é um funcionário contratado que goza de um mínimo de autoridade e cujo salário é um pouco acima daqueles empregados que engraxam os sapatos.

Nos primórdios da história da administração, um administrador era definido como alguém "responsável pelo trabalho de outras pessoas". E, para a época, isto bastava. Distinguia a função do administrador da função do "dono". Deixava bem claro que administrar era um tipo específico de trabalho passível de ser matematicamente analisado, estudado e aperfeiçoado. A definição abrangia principalmente as novas organizações permanentes e de grande porte que começavam a surgir para desempenhar as tarefas econômicas da sociedade.

Contudo, a definição não é nada satisfatória. E, na realidade, nunca o foi. Desde o começo, houve pessoas na empresa, frequentemente em cargos de responsabilidade, que evidentemente pertenciam à administração mas que, no entanto, não "administravam", isto é, não eram responsáveis pelo trabalho de outros. O tesoureiro de uma firma, responsável pela obtenção e aplicação do dinheiro na empresa, poderá ter subordinados e ser assim um administrador conforme a definição tradicional. Mas é o próprio tesoureiro quem executa a maior parte do trabalho que lhe compete. É ele quem lida com os grandes acionistas da empresa, com os bancos e financeiras e outros. Ele presta uma "contribuição individual", mas não é um administrador. todavia, faz parte da alta administração.

Além do que, a definição enfoca os instrumentos da tarefa, ao invés da tarefa em si. O indivíduo encarregado das pesquisas de mercado de uma empresa poderá ter um grande número de subalternos e ser, portanto, um administrador no sentido clássico. Mas, na realidade, não faz diferença às suas funções e contribuição o fato de ele ter uma grande equipe, uma pequena equipe ou nenhuma equipe de auxiliares. Em termos de pesquisa e análise de mercado, a mesma contribuição poderia ser prestada por um indivíduo sem nenhum auxiliar direto. ele poderá talvez inclusive colaborar muito melhor se não for forçado a gastar muito tempo com os subordinados e o trabalho destes. E, assim, sua pesquisa de mercado poderá ser mais eficaz para a empresa, melhor compreendida por seus colegas na administração e mais integrada nas decisões empresariais básicas e na definição de "qual é, e qual deveria ser o nosso negócio".

De acordo com a definição tradicional de administrador como "alguém responsável pelo trabalho dos outros", seria necessário versar a cerca de um "gerente de pesquisadores de mercado". Ao invés, sempre se referiu ao "gerente de pesquisas de mercado". A expressão de uso corrente está certa, pois compreende intuitivamente qual é e qual deve ser a responsabilidade de uma posição administrativa e como o indivíduo que a ocupa deve ser definido.

A definição clássica tornou-se cada vez mais inadequada, transformando-se numa barreira à administração eficaz, à organização eficaz e ao verdadeiro desempenho.

O setor de maior expansão em qualquer organização, principalmente nas empresas modernas, é o das pessoas que administram, no sentido de serem responsáveis pela contribuição à empresa e pelos resultados por ela obtidos. entretanto, tais pessoas evidentemente não são administradores pois, via de regra, não são os patrões e nem são responsáveis pelo trabalho dos outros. Este grupo de maior e mais rápido crescimento nas empresas de hoje é o dos profissionais que colaboram das mais variadas maneiras, que trabalham sozinhos (talvez com um auxiliar e uma secretária) e que, não obstante, têm impacto sobre a capacidade geradora de riquezas da firma, sobre a direção dos seus negócios e sobre o seu desempenho.

Tais indivíduos não estão restritos ao trabalho de pesquisa, embora tenha sido neste trabalho que surgiram pela primeira vez como um grupo distinto. O químico-chefe de um laboratório tem responsabilidade e toma importantes decisões, muitas delas de impacto irreversível. Mas o mesmo vale para o indivíduo que arquiteta e molada a organização da empresa e idealiza os cargos administrativos; e também para o perito analista de custos que define e aloca os custos. Ao definir os parâmetros para a administração, é este último quem, na realidade, tem a maior influência na decisão de manter ou abandonar um certo produto. Incluem-se nesta categoria as pessoas encarregadas de estabelecer e manter os padrões de qualidade dos produtos da empresa, as que trabalham no sistema distribuidor, através do qual os produtos da firma são colocados no mercado, e também o diretor de publicidade, que pode ser o responsável pela política básica de promoção de uma empresa, por suas mensagens publicitárias, a mídia utilizada e a avaliação da eficácia de uma campanha.

A definição clássica é, em grande parte, responsável pelo fato de cada profissional colaborador representar um problema dentro da estrutura e um problema para si próprio. Seu título, salário, função e oportunidades são confusos, ambíguos e causas de insatisfação e atrito. Não obstante, o número desses profissionais de carreira vem aumentando rapidamente.

É preciso haver uma maior flexibilidade na designação de pessoas para cargos administrativos - para forças-tarefas e para outras unidades organizacionais que não se enquadram no tradicional conceito de "organização de linha", ou seja, a organização onde um dos seus membros é o chefe enquanto os outros são subordinados.

Os administradores, no sentido tradicional do termo, precisarão ser capazes de enfrentar situações em que não são superiores, e em que podem até ser subalternos de não-administradores numa equipe ou força-tarefa. E, do outro lado, os profissionais de carreira sem função ou título administrativo no sentido tradicional terão de liderar equipes de trabalho ou chefiar forças-tarefas. A diferença clássica entre administradores e não administradores irá cada vez mais se tornar incômoda e inadequada. Outras informações podem ser obtidas no livro Fator humano e desempenho, de autoria de Peter F. Drucker.

Mais em: http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/administracao-a-colaboracao-de-profissionais-de-outras-areas-na-gestao/108928/ 

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