Um fator de complexidade está sempre em todos os problemas gerenciais, em todas as decisões, em todas as ações - não uma nova tarefa, propriamente dita, da administração, mas uma nova dimensão, o tempo.
A administração sempre precisa considerar tanto o presente quanto o futuro; tanto o curto quanto o longo prazo. Um problema gerencial não está resolvido, caso se produzam lucros imediatos pondo em risco, no longo prazo, a saúde e, talvez, até a sobrevivência da empresa. Uma decisão gerencial é irresponsável se criar o risco de desastre no ano em curso a bem de um futuro grandioso. O caso muito comum do grande líder empresarial que gera resultados econômicos espantosos, durante seu mandato, mas, ao sair da empresa, deixa atrás de si nada mais que um casco adernado, prestes a soçobrar, é um exemplo de ação gerencial irresponsável e de fracasso no equilíbrio do pressente e do futuro. Os resultados econômicos imediatos são, na verdade - e não passam de - , consequência ilusória da devolução do capital. Em todos os casos em que presente e futuro não são satisfeitos em conjunto, em que as necessidades intertemporais não são harmonizadas, ou ao menos equilibradas, o capital, ou seja, os recursos que produzem riqueza estão em perigo, são danificados ou são destruídos.
Hoje, há especialmente uma consciência dessa dimensão temporal, em relação ao impacto no longo prazo, sobre o meio ambiente e sobre os recursos naturais, de decisões econômicas de curto prazo. Porém, o mesmo problema de harmonizar o hoje e o amanhã existe em todas as áreas e, principalmente, no que se refere a pessoas.
A dimensão temporal é inerente à administração porque a administração trata de decisões para a ação. E a ação sempre almeja resultados no futuro. qualquer pessoa com a atribuição de agir - em vez de pensar ou de saber - compromete-se com o futuro.
Duas são as razões por que a dimensão temporal é de particular importância no trabalho da administração, e também de especial dificuldade. Em primeiro lugar, é da essência do progresso econômico e tecnológico que o lapso temporal para a fruição e exploração de uma decisão se alongue continuamente. Edison, na década de mil oitocentos e oitenta, precisava de dois anos, ou algo parecido, entre o começo do trabalho em laboratório com uma ideia e o começo das operações da fábrica-piloto. Hoje, para os sucessores de Edison, talvez se estenda a quinze anos. Há cem anos, uma fábrica se pagava em dois ou três anos; hoje, com o investimento de capital por trabalhador vinte vezes maior que em mil novecentos e vinte, o período de retorno (pay back)é de dez ou doze anos. Uma organização humana, como uma força de vendas ou um grupo de gestão, talvez demore ainda mais para produzir frutos e recuperar o capital.
A segunda característica peculiar da dimensão temporal é que a administração - quase como peculiaridade sem igual - precisa viver sempre, ao mesmo tempo, no presente e no futuro.
Também os líderes militares consideram ambos os tempos. Mas, em geral, eles poucas vezes precisam viver em ambas as épocas, concomitantemente. Durante a paz, eles não conhecem o presente; o presente é apenas uma preparação para uma guerra futura; durante e guerra, eles conhecem apenas o futuro mais efêmero; a preocupação única é ganhar a guerra em curso. Tudo o mais é deixado para os políticos. Que isso não seja mais verdade numa época de pós-guerra fria, de quase guerras e de ação política talvez seja a causa mais importante para a crise de liderança militar e moral que aflige as forças armadas hoje. Os militares hoje não vivem nem paz nem guerra; vive em algo denominado defesa, que é um estado de preparação constante muito semelhante ao que ante se considerava guerra total, com o objetivo não de vencer mas de evitar conflitos. Em consequência, os objetivos militares e o planejamento militar no sentido tradicional não mais se aplicam. Ambos assumem um conflito intenso entre presente e futuro, em vez da ambiguidade profunda do moderno mundo político e militar.
Mas a administração sempre deve viver em ambos os tempos. Precisa assegurar o desempenho da empresa no presente - ou não haverá empresa capaz de operar no futuro. Mas também precisa preservar a capacidade de operar, de crescer e de mudar no futuro; do contrário, estará destruindo capital - ou seja, a capacidade dos recursos de produzir riqueza amanhã.
A única certeza a respeito do futuro é que será diferente. É até possível que haja grandes leis da história, grandes correntes de continuidade em operação, abrangendo épocas inteiras. Mas, nos intervalos temporais das escolhas e das ações conscientes - lapsos de anos, em vez de séculos - em que atual os gestores de qualquer instituição, a incerteza do futuro é o que importa. A continuidade no longo prazo não é relevante; e, seja como for, só é discernível em retrospectiva e apenas na contemplação da história, de como ela se desdobrou.
Para o gestor, o futuro é descontinuidade. No entanto, o futuro, por mais diferente que venha a ser, só pode ser alcançado a partir do presente. Quanto maior for o salto para o desconhecido, mais fortes deverão ser os alicerces da plataforma de lançamento. A dimensão temporal confere à decisão gerencial suas características especiais. É o ato pelo qual os gestores integram presente e futuro. Outras informações podem ser obtidas no livro Pessoas e desempenhos, de autoria de Peter F. Drucker.
Mais em http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/ponte-para-o-futuro-para-o-administrador-o-futuro-e-descontinuidade/108727/
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