segunda-feira, 27 de maio de 2019

Ética: a negação da autoridade e o ataque de birra

Há uma importante tradição da ética no Ocidente, a ética da prudência. Ela remonta até Aristóteles e sua entronização da prudência como virtude cardeal. ela continuou por quase dois mil anos na tradição literária popular da educação do príncipe cristão, que atingiu seu triunfo supremo e sua redução à absurdidade no livro intitulado O príncipe, de autoria de Maquiavel. Seu espírito pode ser mais bem resumido pelo conselho que o então senador Harry Truman deu a uma testemunha do Exército que depôs em sua comissão no período inicial da Segunda Guerra Mundial: "Generais nunca deveriam fazer algo que precisasse ser explicado para uma comissão do Senado - não há nada que possa explicar a uma comissão do Senado.".

Generais, quer a organização seja um exército, uma sociedade anônima ou uma universidade têm grande visibilidade. Eles devem esperar que o seu comportamento será visto, examinado, analisado, discutido e questionado. Assim sendo, a prudência exige que eles evitem atos que não possam ser facilmente entendidos, explicados ou justificados. Mas, os generais, como pessoas de visibilidade. Sua única escolha é se o seu exemplo levará outros a agir de forma correta ou a agir de forma errada. Sua única escolha é entre direção e má direção, entre liderança ou má liderança. Eles, portanto, têm a obrigação ética de dar o exemplo de comportamento correto e de evitar dar exemplo de comportamento errado.

A ética da prudência não explica claramente o que seja comportamento correto. Ela pressupõe que aquilo que é comportamento incorreto está bastante claro - e, se houver alguma dúvida, ele é questionável e deve ser evitado. A prudência torna uma obrigação ética do líder exemplificar os preceitos da ética com seu próprio comportamento.

Ao seguir a prudência, qualquer um, independentemente de posição, tornar-se líder, um homem superior e uma pessoa que se tornará realizada, para usar a expressão contemporânea. A pessoa se torna um homem superior evitando qualquer ato que a tornaria o tipo de pessoa que não se quer ser, que não se respeita, que não se aceita como superior. "Se você não quer ser um alcoviteiro quando se olhar no espelho para fazer a barba pela manhã, não contrate garotas de programa na noite anterior para entreter congressistas, clientes ou vendedores.". Em qualquer outra base, contratar garotas de programa pode ser condenado como algo vulgar e de mau gosto, e pode ser rejeitado como algo que pessoas de gosto delicado não fazem. Pode até ser ilegal. Mas, somente na prudência, é eticamente relevante. é isto o que Kierkegaard, o mais rígido moralista do século dezenove, queria dizer quando falou que a estética é a verdadeira ética.

A ética da prudência pode degenerar facilmente. A preocupação com aquilo que se pode justificar torna-se, com muita facilidade, a preocupação com as aparências - Maquiavel não foi, em absoluto, o primeiro a apontar isto em um príncipe; ou seja, em alguém com autoridade e de grande visibilidade, as aparências podem importar mais do que a substância. Assim, a ética da prudência degenera na hipocrisia das relações públicas. A liderança pelo exemplo correto facilmente degenera na impostura do carisma e num disfarce para a má direção e a má liderança - são sempre os Hitlers e os Stalins que são os grandes líderes carismáticos. e a realização advinda do autodesenvolvimento em uma pessoa superior - o que Kiekegaard chamou de tornar-se um cristão - pode transformar-se na presunção do fariseu que agradece a Deus por não ser igual às outras pessoas, ou na autoindulgência em lugar da autodisciplina, ou na indolência moral em lugar do respeito próprio e em dizer "eu gosto" em vez de "eu sei".

No entanto, apesar destas tendências degenerativas, a ética da prudência certamente é apropriada para uma sociedade de organizações. é claro que não será a ética nos negócios - não faz absolutamente alguma diferença, na ética da prudência, se o executivo é um general do Exército, um secretário do Departamento do Tesouro em Washington, um senador, um juiz, um vice-presidente sênior de um banco ou um administrador hospitalar. Mas uma sociedade de organizações é uma organização. elas são funcionárias e importantes somente através de sua responsabilidade de agir corretamente. Mas é exatamente a isto que a ética da prudência se refere.

Da mesma forma, os executivos dão exemplos, em qualquer que seja a organização. Eles dão o tom, criam o espírito, decidem os valores para a organização e para as pessoas que fazem parte dela. em outras palavras, eles lideram de verdade ou enganam que lideram. E eles só podem escolher entre uma ou outra liderança. Acima de tudo, a ética ou estética do autodesenvolvimento parece ter sido feita sob medida para o dilema específico do executivo da organização moderna. Em si, ele é um ninguém, na realidade é um anônimo. Uma semana depois que tiver se aposentado e saído da espaçosa sala de canto do vigésimo-sexto andar do arranha-céu da sua empresa ou do conjunto de seis salas de canto de seu gabinete de secretário na Constitution Avenue, ninguém no prédio o reconhecerá mais. e os vizinhos no agradável bairro retirado em que mora numa confortável casa de classe média - muito diferente de qualquer coisa que se poderia chamar de palácio - só sabem que "o Joe trabalha em algum lugar da Park Avenue" ou que "trabalha em alguma coisa do governo". No entanto, coletivamente, estes executivos anônimos são os líderes da sociedade moderna. Sua função demanda a autodisciplina e o respeito próprio do homem superior. Para corresponder às expectativas de desempenho que a sociedade tem com relação a eles, eles precisam buscar a autorrealização, não se contentar com a mediocridade apática. No entanto, mesmo no auge da carreira e do sucesso, eles continuam sendo dentes da engrenagem maior da organização e facilmente substituíveis. e é exatamente disto que a autorrealização na ética, "o tornar-se um cristão" kierkegaardiano, trata: como se tornar o homem superior, importante e autônomo sem ser um figurão e muito menos um príncipe.

Assim sendo, o que se esperaria é que a discussão da ética nos negócios se concentrasse na ética da prudência. Algumas das palavras, tais como autorrealizar-se realmente soam iguais, embora signifiquem algo muito diferente mas, de modo geral, a discussão da ética nos negócios, ainda que mais judiciosamente envolvendo a ética da organização, nada terá a ver com a prudência.

A razão, claramente, é que a ética da prudência é a ética da autoridade. E, embora a atual discussão da ética nos negócios ( ou da ética da administração universitária, da administração hospitalar ou do governo ) clame pela responsabilidade, ela rejeita direto qualquer autoridade e, é claro, particularmente qualquer autoridade do executivo da empresa. A autoridade não é legítima; é "elitismo". Mas não pode haver responsabilidade onde se nega a autoridade. Negá-la não é anarquismo nem radicalismo, muito menos socialismo. Em uma criança, chama-se ataque de birra. Outras informações podem ser obtidas no livro Os novos desafios dos executivos, de autoria de Peter F. Drucker.

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