quarta-feira, 29 de maio de 2019

Ética: a prudência e o autodesenvolvimento

A ética nos negócios - esta discussão deveria ter deixado claro - está para a ética como a pornografia leve está para o Eros platônico; a pornografia leve também fala de algo que chama de amor. E à medida que a ética nos negócios se aproximar mais da ética, ela se aproximará da casuística ( *1 casuísmo: vide nota de rodapé ) e, previsivelmente, acabará como uma folha de figueira para os impudicos e como uma intercessão especial pelos poderosos e pelos ricos.

Claramente, um elemento importante do peculiar cozido que se resolveu chamar de ética nos negócios é a pura hostilidade às empresas e a toda atividade econômica - uma das mais antigas tradições americanas e talvez o único ingrediente ainda potente da herança puritana. Do contrário, sequer falar-se-ía de ética nos negócios. Na ética que for, não ha nada que justifique considerar uma esfera de atividade importante como tendo problemas éticos próprios e muito menos uma ética própria. A atividade empresarial ou econômica pode ter dimensões políticas ou legais especiais, como no caso de empresas e governo, para citar o nome de um outrora popular curso de faculdade, ou no caso das leis antitruste. E a ética nos negócios pode ser boa política ou bom cabo eleitoral. Mas isto é tudo. Porque a ética trata das ações corretas de indivíduos. Assim sendo, certamente não faz diferença nenhuma se o cenário é um hospital comunitário, com os atores endo o chefe de enfermagem e o consumidor um paciente ou se o cenário é a National Universal General Corporation ( NUGC ), os atores, um gerente de controle de qualidade, e o consumidor, o comprador de uma bicicleta.

Porém, uma explicação para a popularidade da ética nos negócios é certamente também a fraqueza humana da qual Pascal acusou os casuístas ( *1 casuísmo: vide nota de rodapé ) da sua época: a ânsia de poder e proeminência de uma elite letrada que jurou humildade. A ética nos negócios está na moda e propicia discursos em conferências, palestras remuneradas, trabalhos de consultoria e muita publicidade. Certamente a ética nos negócios, com suas histórias de maus atos em altos postos, também alimenta o antiquíssimo prazer com as fofocas da sociedade e o desejo libidinoso que - Peter F. Drucker chegou a dizer que acreditava, que foi Rabelais que disse isto  - se transforma em fornicação quando um camponês dá uma rolada no feno, e em romance, quando quem o faz é o príncipe.

De modo geral, a ética nos negócios poderia muito bem ser chamada de ética chique em lugar de ética - e, com efeito, pode ser considerada mais um evento para atrair a atenção da mídia do que filosofia ou moral.

Mas esta discussão das principais abordagens da ética e de suas preocupações decerto demonstra também que a ética tem tanto a dizer ao indivíduo na atual sociedade de organizações quando já teve a dizer ao indivíduo em sociedades anteriores. Ela é tão importante e necessária hoje quanto sempre foi. E certamente exige trabalho duro e sério.

Uma sociedade de organizações é uma sociedade de interdependência ( *2 vide nota de rodapé ). A relação específica que o filósofo confuciano ( *2 vide nota de rodapé: Confúcio ) postulava como universal e básica pode não ser adequada, ou mesmo apropriada, para sociedade moderna e para os problemas éticos dentro da sociedade moderna e entre a organização moderna e seus clientes partes constituintes. Mas os conceitos fundamentais certamente o são. Na verdade, se houver uma ética viável para as organizações, é quase certo que ela terá de adotar os conceitos principais que tornaram a ética confuciana ( *2 vide nota de rodapé: Confúcio ) durável e eficaz:

1) definição clara das relações fundamentais;

2) regras de conduta universais e gerais - isto é, regras que obrigam moralmente qualquer pessoa ou organização, de acordo com suas regras, função e relações;

3) concentrar-se no comportamento correto e não e evitar maus atos, e no comportamento e não nos motivos ou intenções. E, finalmente;

4) uma ética organizacional eficaz, na verdade uma ética organizacional que mereça ser seriamente considerada como ética, que terá de definir comportamento como o comportamento que otimiza os benefícios de cada parte e torna, assim, o relacionamento harmonioso, construtivo e mutuamente benéfico.

Mas uma sociedade de organizações é também uma sociedade na qual muitas pessoas não são, em si, importantes, sendo até efetivamente anônimas, embora tenham grande visibilidade e importância como líderes na sociedade. Portanto, é uma sociedade que precisa enfatizar a Ética da Prudência e o autodesenvolvimento. Esta sociedade deve esperar que os seus gerentes, executivos e profissionais exijam de si mesmos rejeitar comportamentos que não respeitariam nos outros e que de resto pratiquem comportamentos apropriados para o tipo de pessoa que eles gostariam de ver no espelho no futuro pela manhã. Outras informações podem ser obtidas no livro Os novos desafios dos executivos, de autoria de Peter F. Drucker.

P.S.: Notas de rodapé:


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