domingo, 14 de junho de 2020

Epidemia: Os órgãos de controle recém-criados em SC e suas contradições. SIG e CGE investigam compra de ventiladores mecânicos

Há pouco mais de um ano, o governador do Estado de Santa Catarina ( SC ) Carlos Moisés da Silva ( do Partido Social Liberal - PSL ) passava com relativa tranquilidade por seu primeiro teste no mundo da política pós-eleitoral: sem votos contrários, aprovou na Assembleia Legislativa do Estado de SC ( ALESC ) sua reforma administrativa ( Lei Complementar - LC número setecentos e quarenta e um de dois mil e dezenove ) ( * vide nota de rodapé ). Verdade que tirando alguns cortes de cargos comissionados e a junção de estruturas, a reforma trazia muita narrativa e pouca ousadia.

Na cota da ousadia, no entanto, estavam a Secretaria Executiva de Integridade e Governança ( SIG ) e a Controladoria-Geral do Estado ( CGE ), ambas com o DNA daquele que inicialmente foi considerado mentor da reestruturação prometida pelo novo governo, o professor Luiz Felipe Ferreira da Universidade Federal de Santa Catarina ( UFSC ).

De volta a dois mil e vinte, ao mundo em meio à pandemia, à desastrada compra de duzentos ventiladores mecânicos por trinta e três milhões de reais pagos antecipadamente, à força-tarefa ( *2 vide nota de rodapé ) e à Comissão Parlamentar de Inquérito ( CPI ) ( *3 vide nota de rodapé ) que investigam o caso, às acareações que não explicam, à prisão preventiva do advogado Douglas Borba ( do Partido Progressista - PP ), o chefe da Casa Civil ( CC ) que articulou aquela aprovação unânime da reforma que criou inéditos instrumentos de controle da gestão, fica a dúvida: o que deu errado?

Está claro que SIG e CGE não mostraram a que vieram. Estruturas para controle e punição posterior de erros e malfeitos já as tínhamos - caríssimas, por sinal. Uma delas, o Tribunal de Contas do Estado de SC ( TCE / SC ), apontou que o conflito de atribuições dos dois novos órgãos causou retrocesso no controle interno ( CI ). Herdados pela CGE, os auditores antes lotados na Secretaria de Estado da Fazenda ( SEF ) questionam dia sim, dia sim, a capacidade de Ferreira - contador e professor universitário - para pilotar o órgão. Cada vez mais esta ideia se alastra no Centro Administrativo ( CA ) - e se não há mudanças agora é por falta de ambiente.

Mas é bom lembrar que os deputados estaduais não permitiram que a CGE fosse criada nos moldes iniciais. Das trinta e oito atribuições previstas no Projeto-de-Lei Complentar ( PLC ) da reforma administrativa, restaram apenas nove no texto aprovado. Na época, Ferreira chegou a reclamar em seu Facebook, numa noite de domingo, que os “artigos voltados ao combate à corrupção, controle interno, transparência, acordo de leniência, integridade, correição foram suprimidos pela ALESC”.

Estes ítens caíram durante as negociações comandadas por Borba para a aprovação por unanimidade - e em muitos casos parecia haver mesmo exagero nos poderes da CGE. Mas é curioso, olhando agora, que uma das atribuições retiradas do texto era a que dizia ser função da nova estrutura “sugerir à autoridade administrativa competente a suspensão de contratos ou atos administrativos, sempre que sua continuidade possa resultar em dano ou prejuízo ao erário”.

Fala que eu te escuto





Esperidião Amin em sessão virtual do Senado
Senador Esperidião Amin ( do Partido Progresista - PP de SC ) em sessão virtual do Senado
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No início da semana, o senador Esperidião Amin ( PP / SC ) recebeu telefonema de Silva para tratar de um de seus temas prediletos: o julgamento no Supremo Tribunal Federal ( STF ) da histórica causa dos royalties de petróleo em litígio com o Estado do Paraná ( PR ). O governador também ligou para os senadores Dário Berger ( do partido Movimento Democrático Brasileiro - MDB ) e Jorginho Mello ( do Partido Liberal - PL ), mas é com Amin que ele acredita que pode estreitar laços - inclusive em outros temas.

Memória

A primeira morte por gripe espanhola em Florianópolis ( Capital do Estado de SC ) na pandemia de mil novecentos e dezoito aconteceu em vinte e três de setembro, cinco dias antes da posse do governador Hercílio Luz. Ao fim da crise, a Capital registraria dez mil casos e cento e vinte e seis mortes. Hercílio Luz reestruturou o departamento de higiene e saúde pública ( não havia, ainda, Secretaria de Estado) e posteriormente teve nas obras de saneamento um dos marcos de sua gestão. A crise do passado deixou lições e legados. O que nos reservará a atual?

Juiz Kennedy






Kennedy Nunes na CPI dos Respiradores
Kennedy Nunes na CPI dos ventiladores mecânicos
( Foto : )

Quando parecia que a tão esperada acareação entre Borba, o ex-secretário de Estado da Saúde ( SES ), e Hélton Zeferino e a servidora Márcia Regina Geremias Pauli ( *3 vide nota de rodapé ) ia virar um debate entre seus respectivos advogados, coube ao deputado estadual Kennedy Nunes ( do Partido Social Democrático - PSD ) acabar com a festa. O pessedista interveio para dizer que a CPI dos ventiladores mecânicos não era um tribunal e que não cabia aos advogados falar com os parlamentares. Só depois disto a acareação funcionou - embora as três versões tenham se mantido.

Reflexão

O deputado estadual Valdir Cobalchini ( MDB ) fez uma curiosa reflexão na acareação de terça-feira ( nove de junho de dois mil e vinte ) na CPI. Diante da versão de que Zeferino levou quinze dias para comunicar Silva de que havia problemas na compra dos ventiladores mecânicos, o emedebista ressaltou que se isto aconteceu com os governadores anteriores, o secretário seria sumariamente exonerado assim que o titular soubesse. Para Cobalchini, este é o tipo de tema que precisa chegar ao conhecimento do governador do Estado em questão de horas.

Concisas

- Um dia vamos dar boas risadas com o humor involuntário de projetos-de-lei ( PLs ) como o que “autoriza o funcionamento de parques de diversões durante o período de pandemia”, de Nilson Berlanda ( PL ).

- Das ironias da vida: o prefeito de Lages, Antonio Ceron ( PSD ), comemora que sua cidade não registrou mortes pelo coronavírus e apresenta um número de doentes menor que o de cidades do mesmo porte. Mas está com o vírus - sem sintomas, felizmente.

- Não vá a festas juninas no feriadão. Se for, use máscara.

P.S.:

Notas de rodapé:

* A construção da LC 741 / 2019 é melhor detalhada em:

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