segunda-feira, 8 de maio de 2023

Crime eleitoral: Empresário de SC fica inelegível; prefeito e vice de Brusque cassados

A decisão do Tribunal Superior Eleitoral ( TSE ) que cassou o prefeito e o vice-prefeito de Brusque ( na região da Foz do Rio Itajaí,l no Estado de Santa Catarina - SC ) e tornou Luciano Hang inelgível do entendimento de que a campanha, em Dois mil e vinte, a favor de José Ari Vequi ( do Movimento Democrático Brasileiro - MDB ) e Gilmar Doerner ( do partido Republicanos ), foi muito além do exercício da liberdade de expressão e de declarar voto na dupla, como alega Hang. O uso da estrutura da Havan para impulsionar os então candidatos se configurou em claro abuso de poder econômico, segundo os cinco ministros da Corte que votaram pela cassação.





— Hang pode votar e deve votar em quem ele bem entender, pode defender a candidatura que ele bem entender, pode criticar os demais partidos adversários, isso não está em discussão. O que não é possível é colocar a força da sua empresa com claro abuso do poder econômico em detrimento de uma candidatura e a favor de outra candidatura não só durante todo o período eleitoral, mas ampliando isso na véspera das eleições — afirmou o presidente do TSE, o ministro Alexandre de Moraes, durante a leitura de seu voto pela condenação.

Moraes narrou, com exibição de Dezenove prints em seu voto, diversas situações em que Hang usou a estrutura da Havan. De acordo com o presidente do TSE, ele confundiu a pessoa física com a jurídica para desequilibrar as eleições em Brusque, com vídeos públicos em suas redes sociais que tiveram ampla repercussão e que foram gravados no interior de suas lojas.

— Em todos os vídeos, não era só uma manifestação pessoal, era utilizando a força da empresa, que, sabemos, é uma empresa extremamente bem sucedida, principalmente no Sul do país, em SC e aqui em Brusque, com inúmeros empregados e inúmeros fornecedores, reiteradamente utilizando a empresa para promover uma determinada candidatura [ de Vequi e Doerner ] — afirmou.

O Moraes disse que Hang ainda feriu a isonomia das eleições em Brusque ao fazer uso de sua empresa em outras práticas consideradas ilegais, como assédio eleitoral. Para Moraes, houve uma "campanha paralela", e não apenas uma ilegalidade isolada.

— No dia Quatorze de novembro, [ Hang ] aparece entrevistando diversos funcionários, em uma forma de coação, imagine se um funcionário vai se negar a ser entrevistado pelo patrão... nesse momento, [ aparece ] entrevistando funcionários e funcionárias venezuelanas induzindo a comunidade brusquense a não votar no Partido dos Trabalhadores ( PT ) porque Brusque viraria "uma Venezuela". Ainda no dia 14, véspera de eleição, também entrevista uma pessoa recém-contratada na Havan pedindo voto, dizendo categoricamente "não vote errado aqui", ou seja, não só induzindo, mas coagindo um eleitor — exemplificou Moraes, entre as várias publicações de Hang citadas por ele.

— Não tenho nenhuma dúvida que houve quebra na isonomia, houve abuso do poder econômico claramente, com imagens claras de assédio eleitoral aos seus funcionários e aos seus fornecedores. Houve a tentativa de se fazer uma confusão para o eleitor entre a pessoa física e jurídica, tanto que ele mesmo se identifica como "véio da Havan", colocando a força da empresa na cidade de Brusque contra uma candidatura, inclusive com desinformação, com fake news, com várias notícias falsas e fraudulentas, e ao mesmo tempo pedindo voto — completou Moraes.

O ministro destacou que a conduta de Hang se deu com concordância de Vequi e Doerner, que chegaram a aparecer em vídeos com o empresário. Moraes lembrou que a eleição de Dois mil e vinte foi especialmente sensível à prática de abuso econômico, pois ocorreu durante a pandemia, quando a campanha de rua foi substituída pela divulgação nas redes sociais. Ele afirmou que a prática de assédio eleitoral se tornou amplamente recorrente desde então.

Moraes foi acompanhado em seu voto pelos ministros Benedito Gonçalves, Carlos Horbach, Carmen Lúcia e Sérgio Banhos. O caso só foi ao plenário da Corte justamente por iniciativa de Moraes, que havia divergido do entendimento do relator da ação, o então ministro Ricardo Lewandowski, de que faltavam elementos para se configurar abuso do poder econômico. O ministro Raul Araújo ainda votou em acordo com o relator, deixando o placar final em Cinco votos a Dois.

O caso chegou ao TSE por conta de um recurso apresentado pelos diretórios brusquenses dos partidos Podemos, PT, Partido Socialista Brasileiro ( PSB ) e Partido Verde ( PV ). Antes de ir à Corte superior, eles haviam tido apelo negado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina ( TRE-SC ).

Ao julgar a ação, o TRE-SC havia entendido não haver provas suficientes sobre eventual desequilíbrio ou irregularidade das eleições municipais de Brusque em Dois mil e vinte. A Corte estadual pontuou, na ocasião, que os candidatos investigados não impulsionaram as postagens de Hang e que o empresário apenas exerceu o seu direito à liberdade de expressão ao se manifestar.

Com informações de:

Paulo Batistella ( paulo.batistella@nsc.com.br ) e


Luana Amorim ( luana.amorim@nsc.com.br ) .

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