A empresa deve utilizar recursos produtores de riqueza para se desincumbir de seu propósito de criar clientes. Portanto, compete-lhe usar de maneira produtiva esses recursos. Essa é a função da administração da empresa. em seu aspecto econômico, ela é denominada produtividade.
Nos últimos anos, todo mundo fala em produtividade. Que o aumento da produtividade - a melhor utilização dos recursos - é fundamental para melhoria do padrão de vida e consequência da atividade empresarial não chega a ser novidade. E já deveria ter sido percebido, a essa altura, que o flagelo da economia moderna, a inflação descontrolada, é deficiência mórbida, provocada pela produtividade inadequada. Mas, na verdade, é sabido muito pouco sobre produtividade; na verdade, ainda não ha capacidade de medi-la, pelo menos na visão de Peter F. Drucker.
Produtividade significa equilíbrio de todos os fatores de produção, a fim de gerar o máximo de produto com o mínimo de esforço. Isso é muito diferente de produtividade por trabalhador ou por hora de trabalho; na melhor das hipóteses, ela se reflete de maneira distante e imprecisa nesses padrões tradicionais.
Tais critérios ainda se baseiam no princípio do século dezoito, de que o trabalho manual é, em última instância, o único recurso produtivo; que o trabalho manual é, na verdade, o único esforço real. Esses padrões ainda expressam a falácia mecanicista - de que Marx, para o descrédito permanente da economia marxista (talvez válida para a época), foi o último crédulo - , segundo a qual todas as realizações humanas poderiam ser medidas em unidades de esforço muscular. O aumento da produtividade nas economias modernas nunca é produto do esforço muscular. Em outras palavras, é sempre resultado de eliminar o esforço muscular ou de substituir o trabalhador por algo diferente. Um desses substitutos, obviamente, são os bens de capital, as máquinas e equipamentos, ou seja, a energia mecânica.
Ao menos tão importante quanto - embora despercebido há até bem pouco tempo - é o aumento da produtividade decorrente da substituição do trabalho manual, qualificado ou não qualificado, pelo conhecimento, resultando em mudança de operários braçais para trabalhadores do conhecimento, como gestores, técnicos e profissionais.
Um pouco de reflexão mostrará que a taxa de formação de capital, à qual os economistas atribuem tanta importância, é fator secundário. Alguém deve planejar e projetar o equipamento - tarefa conceitual, teórica e analítica - antes de sua instalação e uso. O fator básico para o desenvolvimento econômico deve ser a taxa de "formação de cérebros", ou seja, a velocidade com que um país produz pessoas com imaginação e visão, educação e habilidades teóricas e analíticas.
No entanto, o planejamento, o projeto e a instalação de bens de capital representam apenas um dos fatores que contribuem para o aumento da produtividade, por meio da substituição de músculos por cérebros. Pelo menos tão importante é a mudança direta da natureza do trabalho, de manual, qualificado e não qualificado, de muitas pessoas, para o intelectual, que requer análises teóricas e planejamento conceitual, sem qualquer investimento em bens de capital.
Essa contribuição se tornou evidente pela primeira vez na década de cinquenta, na análise do hiato de produtividade entre a indústria americana e a indústria europeia. Alguns estudos - como o do Stanford Research Institute e o da Organização para a Cooperação Econômica (OCE) - mostraram claramente que o diferencial de produtividade entre a Europa Ocidental e os Estados Unidos não é uma questão de investimento de capital. Em muitas indústrias europeias, a produtividade equivalia a pelo menos dois terços abaixo de sua contraparte nos Estados Unidos, ainda que os investimentos em máquinas e equipamentos fossem equivalentes. A única explicação era a proporção mais baixa de gestores e técnicos e a má estrutura organizacional da indústria europeia, com sua dependência em relação às habilidades manuais.
No ano de mil e novecentos, a empresa manufatureira típica dos Estados Unidos gastava provavelmente não mais que cinco ou oito dólares com pessoal técnico ou profissional em nível gerencial para cada cem dólares em salários de mão de obra direta. Hoje, em muitas empresas industriais, os dois itens de despesas são iguais - ainda que os salários da mão de obra direta, proporcionalmente, tenham subido com muito mais rapidez. Fora das áreas de manufatura, transportes e mineração, como, por exemplo, em distribuição, finanças, seguro e serviços (ou seja, em dois terços da economia americana), o aumento de produtividade tem sido consequência, principalmente, da substituição de tarefas manuais por atividades de planejamento, de músculos pod cérebro e de suor por conhecimento.
As maiores oportunidades para aumentar a produtividade decerto serão encontradas no trabalho do conhecimento em si, mormente na administração. O vocabulário das empresas - principalmente em contabilidade - em relação à produtividade ficou tão obsoleto a ponto de se tornar enganoso. O que os contadores denominam "trabalho produtivo" são trabalhadores manuais que operam máquinas, ou seja, o tipo de mão de obra menos produtivo. O que os contadores denominam de "trabalho não produtivo" - todas as pessoas que contribuem para a produção, sem operar máquinas - é um saco de gatos. Inclui trabalho manual pré-industrial, de baixa produtividade, como faxineiros; alguns trabalhos tradicionais de alta qualificação de de alta produtividade, como ferramenteiros; novos trabalhos industriais de alta qualificação, como eletricistas de manutenção; e alguns técnicos e profissionais do conhecimento, como supervisores, engenheiros industriais e pessoal de controle de qualidade. Finalmente, os que os contadores agregam num único conjunto, como despesas gerais - o próprio termo cheira a desaprovação - contém o que deveria ser o recurso mais produtivo, isto é, gestores, pesquisadores, planejadores, projetistas, inovadores. No entanto, também pode envolver elementos parasitários, se não destrutivos, na forma de pessoal altamente dispendioso, necessário apenas em consequência da má organização, da flata de espírito de equipe e da confusão de objetivos, o que, em última instância, significa malversação ou má gestão.
É preciso um conceito de produtividade abrangente o suficiente para reunir todos os esforços que contribuem para o produto e expressá-los em relação aos resultados, em vez de assumir que o trabalho é o único esforço produtivo. Porém, mesmo esse conceito - embora um grande passo à frente - ainda seria inadequado se sua definição de esforço se limitar às atividades mensuráveis, como custos visíveis e diretos, ou seja, de acordo com a definição contábil e como símbolo de esforço. Há fatores de impacto substancial, se não decisivo, que nunca se manifestam com cifras de custo.
Primeiro, há o conhecimento - o recurso mais produtivo, se aplicado de maneira adequada, mas também o mais dispendioso, e totalmente improdutivo, se mal aplicado. Os trabalhadores do conhecimento são, por necessidade, trabalhadores de alto custo. Depois de passar muitos anos na escola, eles também representam elevado investimento social.
Outro é o tempo - o recurso mais perecível. O uso das pessoas e das máquinas em tempo integral ou apenas em tempo parcial fará grande diferença de produtividade. Nada é menos produtivo que a ociosidade de bens de capital dispendiosos ou a perda de tempo de pessoas altamente remuneradas e capazes. Igualmente improdutiva é concentração de mais recursos produtivos, incompatíveis com o tempo disponível, em condições de conforto - por exemplo, a tentativa de rodar três turnos numa fábrica apinhada ou em equipamentos obsoletos ou sensíveis.
O tempo mais produtivo - ou menos produtivo - é o dos próprios gestores. No entanto, é, em geral, o menos conhecido, o menos analisado e o menos gerenciado de todos os fatores de produtividade.
A produtividade também é consequência do mix de produtos, do equilíbrio entre várias conjugações dos mesmos recursos. Como todos os gestores devem saber, os diferenciais entre os valores de mercado de diversas combinações raramente são proporcionais aos esforços componentes. Com frequência, mal se percebe qualquer relação entre valor de mercado e composição dos esforços. Uma empresa que produz um volume constante de bens, com os mesmos materiais e habilidades e com uma quantidade constante de trabalho direto e indireto, pode ganhar fortunas ou ir à falência. Obviamente, daí resultam variações consideráveis na produtividade dos mesmos recursos - mas não aquelas que manifestam nos custos e são identificáveis por análise dos custos.
Outro fator importante é o que Peter F. Drucker denomina de "mix de processos". É mais produtivo para a empresa comprar ou fazer, montar seus produtos ou terceirizar a montagem, comercializar sob marca própria, por meio da própria organização de distribuição, ou vender para atacadistas independentes, que usarão suas marcas próprias? Em que a empresa mais é capaz? Qual é o uso mais produtivo de seus conhecimentos, capacidades e limitações específicas. Sempre que tentam ir além dos próprios meios, é provável que fracassem, por maior que seja o potencial de lucratividade do empreendimento.
As pessoas capazes de dirigir negócios altamente estáveis talvez não consigam ajustar-se a negócios instáveis e em rápido crescimento. Como demonstra a experiência, indivíduos que progrediram em empresas em rápido crescimento não raro destroem o negócio se ele entrar em período de consolidação. Pessoas boas em dirigir empreendimentos fundamentados em pesquisas de longo prazo dificilmente serão boas na venda sob pressão de novidades e de modismos. A utilização das capacidades específicas da empresa e de sua administração, assim como a observância das próprias limitações, são importantes fatores de produtividade. Os conglomerados podem otimizar a produtividade do capital, mas se caracterizarão por baixa produtividade - e por resultados ruins - em outras áreas igualmente importantes.
Finalmente, a produtividade é profundamente afetada pela estrutura organizacional e pelo equilíbrio entre as várias atividades da empresa. Se a falta de organização adequada levar os gestores a perder tempo na tentativa de descobrir o que fazer, em vez de se concentrarem na ação, os recursos escassos da empresa estarão sendo desperdiçados. Se a alta administração estiver interessada apenas em engenharia (talvez porque essa seja a origem dos principais gestores), enquanto a empresa necessita de mais atenção em marketing, a consequência será baixa produtividade. Os danos daí resultantes provavelmente serão maiores que a queda na produção por hora de trabalho direto.
Esses fatores vão além dos que, em geral, são considerados por contadores e economistas, a saber, produtividade do trabalho, do capital e dos materiais. No entanto, eles são igualmente importantes.
Portanto, é preciso considerar todos esses fatores, não só na conceituação de produtividade, mas também na definição de objetivos. Também devem-se desenvolver critérios para medir a impacto da substituição de trabalho por capital sobre a produtividade, bem como a contribuição do conhecimento para a produtividade do trabalho e do capital - e meios para distinguir entre despesas gerais criativas e das despesas gerais parasitas, além de avaliar os efeitos da utilização do tempo, do mix de produtos, do mix de processos, da estrutura organizacional e do equilíbrio de atividades sobre a produtividade.
Não só cada administração, mas também a economia, precisa de conceitos e critérios adequados para a mensuração da produtividade. A falta desses elementos é a maior lacuna nas estatísticas econômicas, debilitando com gravidade todas as políticas econômicas. Também ocorre uma frustração das tentativas de combater a depressão e a inflação. Outras informações podem ser obtidas no livro Fator humano e desempenho, de autoria de Peter F. Drucker.
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