quarta-feira, 31 de julho de 2019

Comércio internacional: a poupança interna e o risco do protecionismo

Jamais um grande país deveu a seus credores estrangeiros em sua própria moeda, como é o caso dos Estados Unidos da América ( EUA ) hoje. todas as outras principais nações devedoras - Brasil ( que no século vinte e um passou a ser credor externo e modificou o perfil de suas dívidas ), México, Zaire ( atual Congo ) - devem na moeda de seu credor, principalmente em dólares. Assim como ocorreu nos anos vinte com a Alemanha e outros países europeus - os grandes devedores daquela época. Contudo, a dívida externa dos EUA hoje é toda em dólares.

As vantagens para o país são enormes e tão sem precedentes quanto a situação em si. Pela primeira vez, um país devedor está em posição de se beneficiar tanto em sua conta de capital quanto em sua conta de comércio ao desvalorizar sua moeda. Historicamente, um país devedor obtém posição competitiva para seus produtos por meio da desvalorização de sua moeda, embora apenas por um curto período. Assim, as exportações aumentam e as importações diminuem, e um déficit comercial se transforma em superávit comercial. Assim ocorreu durante o governo do presidente Carter dos EUA, quando a política americana abruptamente forçou a desvalorização do dólar. Entretanto, ao mesmo tempo, a balança de pagamentos do país se deteriora, uma vez que os juros e o principal devem ser pagos na moeda do devedor. Se a dívida externa estiver alta, a penalidade na balança de pagamentos poerá ser maior que o ganho a ser obtido na balança comercial. Esta é, por exemplo, a razão pela qual, em mil novecentos e trinta e um, os alemães escolheram ( olhando para trás, constata-se que a decisão foi equivocada ) impor controle monetário para manter uma taxa de câmbio grosseiramente supervalorizada em favor do marco ( moeda alemã da época - a atual é o euro ), em vez de desvalorizá-lo e aumentar as exportações e o emprego.

Uma queda aguda do valor internacional do dólar, contudo, deverá melhorar a balança de pagamento dos EUA e aliviar fortemente o peso da dívida externa americana sobre a economia interna, restaurando o verdadeiro valor do dólar para os credores do país.

Por que, então a administração do presidente Ronald Reagan dos EUA ( sucessor de Carter ) esperou tanto tempo antes de agir para corrigir a óbvia sobrevalorização do dólar, especialmente frente ao iene ( moeda do Japão ) ? A sobrevalorização do dólar tem sido um dos principais fatores - ou talvez o principal fator - que contribuiu para o declínio tanto dos produtos manufaturados quanto dos agrícolas, fato universalmente aceito, pelo menos desde mil novecentos de oitenta e três. Apesar disto, em mil novecentos e oitenta e cinco, a política americana - e isto significa tanto o Federal Reserve Board ( o equivalente ao Banco Central dos EUA ) quanto o Tesouro - consistentemente visava a manter a taxa de câmbio do dólar ao maior valor possível, excluindo - ou assim parecia para a maioria dos observadores estrangeiros - qualquer outra consideração de meta ou de política econômica.

A resposta é, naturalmente, que o governo precisou de gigantescos empréstimos estrangeiros. Somente os japoneses, em mil novecentos e oitenta e cinco, lhe haviam emprestado entre cinquenta bilhões e sessenta bilhões de dólares, que podiam obter apenas por meio de seu superávit comercial com os americanos. Foram eles, portanto, que forneceram a parte do leão do dinheiro necessário para financiar o déficit orçamentário dos EUA. Confrontadas com as alternativas de cortar significativamente os gastos do governo ou tomar emprestado em âmbito interno e aumentar as taxas de juros, as autoridades do governo, compreensivelmente, devem ter concluído que a opção menos ruim era ter um déficit da balança comercial, com todas as consequências negativas para os empregos e para a posição competitiva de longo prazo americanos.

Mas, como a dívida externa dos EUA é em moeda americana, o credor externo poderá ser facilmente expropriado. São dispensáveis ações legais, inadimplência ou não reconhecimento da dívida. Tudo pode ser feiro sem pedir permissão aos credores e, certamente, sem sequer avisar a eles. É preciso apenas desvalorizar o dólar. Com efeito, entre junho ( quando o dólar teve um pico de duzentos e cinquenta ienes ) e fevereiro de mil novecentos e oitenta e seis, os credores japoneses dos EUA - principalmente o Bank of Japan ( BJ ), os principais bancos nipônicos e as grandes trading cmpanies - perderam um terço do valor de suas possessões em valores mobiliários do Tesouro americano, a forma como é feita a maioria dos investimentos japoneses nos EUA. ( * vide nota de rodapé ).

Ninguém nos EUA parece saber disto ou, pelo menos, ninguém fala no assunto, mas todos os elaboradores de políticas que Peter F. Drucker dizia ter chegado a conhecer no Japão - funcionários do governo, banqueiros, homens de negócio, professores de Economia - estavam, à época, inteiramente conscientes destas perdas. E estavam todos convencidos de que era algo inevitável. Embora alguns japoneses, especialmente entre os economistas, se preocupassem por temer que uma perda desta proporção pudesse ameaçar a solvência do sistema bancário do país, todos pareciam entender que este era um mal menor, comparado a qualquer outra alternativa viável na década de oitenta.

Do ponto de vista do Japão, não existe uma opção viável para restabelecer o equilíbrio comercial entre os dois países. Isto porque a causa principal não é o dólar sobrevalorizado nem a debilidade da indústria americana, a agressividade das exportações japonesas nem, muito menos, as barreiras de importação de produtos americanos. Caso estas barreiras fossem levantadas - o que seria extremamente desejável e já deveria ter sido feito há muito tempo - , a diminuição do déficit seria de, no máximo, de cinco a seis bilhões de dólares, de um total de cinquenta bilhões de dólares.

A causa principal é a drástica redução, no mundo todo, dos preços dos produtos primários, especialmente dos preços de produtos agrícolas e florestais. Comparados com os preços de bens manufaturados - especialmente os de grande valor agregado, como automóveis, máquinas fotográficas, eletrodomésticos e semicondutores, que constituem o grosso das exportações japonesas para os EUA - , s produtos primários têm hoje os preços mais baixos da história - incluído aí o período da Grade Depressão ( *2 vide nota de rodapé ). O Japão é o maior importador mundial de produtos primários e, com efeito, exceto a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas ( URSS  - atual Federação Russa ), o único grande importador mundial de alimentos, agora que o Mercado Comum Europeu ( MCE ) se transformou em exportador, e a China e a Índia atingiram o ponto de equilíbrio. e o Japão é o maior exportador mundial de bens manufaturados de alto valor agregado. Contrastando com isto, os EUA são o maior exportador mundial de produtos agrícolas e florestais. Se, levando isso em conta, o comércio entre EUA e Japão for ajustado, isto é, se a relação entre os preços de produtos primários e de bens manufaturados fosse ajustada para permanecer no mesmo nível que estava em mil novecentos e setenta e três, pelo menos um terço e talvez dois quintos do déficit comercial dos EUA frente ao Japão desapareceriam.

Entretanto, não há alguma medida que qualquer dos dois países possa tomar para corrigir este desequilíbrio: existe um excedente mundial de produtos primários que continuará ao longo dos próximos anos. Na verdade, a única ação que poderia ser tomada - e isto poderia acontecer se os EUA estivessem dispostos a iniciar uma guerra comercial com o Japão - seria se os orientais passassem a importar produtos primários ( algodão, tabaco, soja, trigo, milho, madeira, etc... ) de outro país. Eles poderiam fazer isto em menos de um ano, uma vez que já estão recebendo propostas de outros países para o fornecimento de grandes quantidades de todos estes produtos - a preços mais baixos do que os EUA estão vendendo, com uma taxa de câmbio mais vantajosa do que a de dólar-iene.

No entanto, os japoneses não conseguem vislumbrar alternativa política senão comprar dos americanos e, portanto, financiar o déficit dos EUA, mesmo correndo o risco de sofrer grandes perdas. De outra forma, o Japão teria de enfrentar uma taxa de desemprego ( estimada pelo menos o dobro da taxa americana, de sete por cento ) de uma magnitude que nenhum governo se arriscaria a aceitar. A economia interna do Japão tem se mantido estagnada desde o início dos anos oitenta e nenhuma das medidas adotadas pelo governo conseguiu reavivá-la. A pressão política no país é enorme. No entanto, o déficit do governo japonês já está em um nível tão elevado que aumentá-lo poderá desencadear um novo surto inflacionário. E o curto, porém severo, baque inflacionário sofrido pelos país em meados dos anos setenta convenceu muitos preocupados japoneses, especialmente no BJ e no Ministério das Finanças ( MF ), de que a resistência do país é baixa contra esta perigosa doença.

As exportações são responsáveis por cerca de quinze por cento dos empregos japoneses. Sem as exportações para seu principal cliente, a indústria automobilística e a indústria do aço ficariam em situação mais precária que a americana. Se, em mil novecentos e oitenta e cinco, a Nippon Steel ( NS ) já operava com baixíssimos sessenta por cento da capacidade ( dando, inclusive, prejuízo ), sem as exportações ela cairia para abaixo de quarenta por cento. Proporcionalmente, em comparação com a dos EUA, as indústrias do aço e automobilística são responsáveis no Japão por, pelo menos, o dobro da força de trabalho de operários. Este problema é agravado por três fatores em que a sociedade pós-guerra japonesa se baseia: a premissa do emprego vitalício; a inabilidade dos trabalhadores demitidos ou colocados à disposição de conseguir novos empregos tendo em vista a rigidez do sistema salarial do país; e pelo fato de o Japão não contar com um sistema de seguro-desemprego. Não surpreende, portanto, que os elaboradores e políticas prefiram sofrer perdas quase certas, mas futuras, sobre os empréstimos ao governo dos EUA a correr riscos políticos e sociais imediatos de conviver com altas taxas de desemprego no país.

Esta é a realidade econômica do relacionamento Japão-EUA. E explica, em grande parte, a razão pela qual os japoneses não ficaram até agora tão significativamente impressionados com as breves ameaças americanas de retaliação protecionista contra os produtos do país. Eles avaliam que os americanos dificilmente tomariam uma decisão que tanto ameaçaria sua já deprimida economia agrícola quanto forçaria os EUA a tomarem alguma providência em relação a seu déficit de governo. Até aqui, eles acertaram: os EUA ladram mas não mordem com sua boca sem dentes. Mas esta realidade indicaria também que o governo americano não consegue entender o que poderia ser feito.

Qualquer ação, por parte dos japoneses, que removesse barreiras para a entrada de empresas e produtos americanos não surtiria qualquer efeito material no desequilíbrio comercial. Mas poderia ser significativo impacto psicológico e remover um punhado de emoções que ameaçam envenenar o relacionamento entre os dois países. contudo, não passa de falta de entendimento da realidade política e econômica acreditar, como acreditava o presidente Reagan, que o Primeiro-Ministro japonês da época, Nakasone, ou qualquer outro líder político japonês, pudesse fazer concessões voluntárias. Ele devia ter espaço para culpar algum maldito estrangeiro, devia ser capaz ade dizer: "Fui forçado a ceder sob a ameaça das armas" - especialmente, porque a política japonesa estava sendo tão turbulenta naqueles dias que ninguém conseguia formar uma maioria confiável.

Mas a verdadeira implicação desta realidade é que a chave para o problema comercial EUA-Japão - e para o problema da posição competitiva dos EUA nos mercados mundiais, como um todo - não é m dólar mais barato, nem o aumento da produtividade americana ou custos comparativos de mão de obra mais baixos. Preços mais elevados de produtos primários ajudariam imensamente, mas há pouca possibilidade de que isto ocorra, em virtude dos superávits e da superprodução mundial. A raiz do problema americano é o déficit do governo dos EUA e a crescente dependência de empréstimos externos em prejuízo de o estímulo a poupança interna. Outras informações podem ser obtidas no livro As fronteiras da administração, de autoria de Peter F. Drucker.

P.S.:

Notas de rodapé:

* A lógica dos investimentos japoneses nos EUA é melhor detalhada em:


*2 O declínio do preços dos produtos primários é melhor introduzido em:

terça-feira, 30 de julho de 2019

Comércio internacional: os atalhos para a expansão ao mercado asiático

Nada parece mais óbvio para um ocidental do que a enorme dificuldade de fazer negócios com o Japão ou o mercado asiático com um todo. Mas nada espanta tanto os asiáticos quanto ouvir um ocidental exclamar: "Como isto é possível?".

"Apenas analise todas as empresas ocidentais que lideram seus respectivos mercados no Japão: IBM e Citibank, Coca-Cola, Amerecan Hospital Supply, chocolates suíços e barras de chocolate Mars, jeans Levi's e McDonald's. Há ainda diversas empresas estrangeiras, de menos porte, que também são líderes de seus mercados: por exemplo, a fabricante sueca de robôs especiais ou a fabricante de instrumentos analíticos do Meio Oeste americano. Partindo-se do princípio de que os produtos e serviços são de qualidade, o necessário para fazer negócios na Ásia é agir do jeito asiático.".

Mas este é exatamente o problema. O jeito asiático talvez não seja particularmente difícil, mas é bem diferente.

A primeira diferença - a que a maioria dos ocidentais tem mais dificuldade de compreender - é que não se faz negócios na Ásia. Um negócio não é uma atividade; é um compromisso. O agente de compras certamente encaminha seus pedidos, mas, antes, se compromete com um fornecedor - e com um relacionamento que, presumivelmente, é permanente ou, pelo menos, duradouro. E, até que o recém-chegado, seja asiático ou estrangeiro, dê provas de seu comprometimento recíproco, a agente de compras não comprará seus produtos, por melhor ou mais barato que sejam. O American Hospital Supply, hoje em dia, conta com a liderança do estritamente regulado mercado japonês, por exemplo, de assistência de saúde. Mas, quando iniciou suas atividades no país, em mil novecentos e quarenta e cinco, a empresa passou cinco anos batendo de porta em porta até conseguir assinar seu primeiro contrato. Com efeito, resultados rápidos no Japão quase sempre significam fracasso no final: você está fazendo negócio com as pessoas erradas.

O emprego vitalício ( prática japonesa ) - o comprometimento mais conhecido dos ocidentais - está, na verdade, se tornando um problema menor para o recém-chegado do exterior. Agências de emprego temporário estão florescendo no Japão, oferecendo de tudo, desde vendedores até secretárias e contadores. Mulheres maduras, com experiência anterior, reingressam no mercado como temporárias. Trabalhadores de chão de fábrica, que já não são necessários em grandes empresas por conta da automação, mas que não podem ser demitidos porque gozam de emprego vitalício, são recolocados por empréstimo. E profissionais e gerentes intermediários com experiência e boas conexões também estão disponíveis. Forçados a se aposentar de suas empresas japonesas aos cinquenta e cinco anos, estes profissionais se tornam disponíveis para as companhias estrangeiras.

Contudo, e todas as outras áreas, a ~enfase no comprometimento mútuo como base para fazer negócios está no crescimento. Isto é particularmente verdadeiro na área de serviços. O fabricante de um automóvel, de uma bomba ou de um refrigerador implicitamente se compromete a fornecer seus produtos enquanto ele durar.

Não faz muito sentido, portanto, tentar entrar no mercado japonês com um gigantesco investimento em uma instalação física. O modo mais inteligente é investir na construção de uma presença japonesa:investir em algumas pessoas e em seu treinamento em serviços, pesquisa e desenvolvimento de mercado e em promoções.

Acima de tudo, surte bom resultado investir, desde o começo, em ganhar reconhecimento como líder. a fidelidade à marca provavelmente é tão incomum no Japão quanto em qualquer outro país, mas reconhecimento de marca é muito importante. Quando se pregunta porque os supermercados em Tóquio vendem chocolate suíço, a resposta é: "Mas todos sabem que este é o melhor chocolate do mundo.". O reconhecimento da marca está por trás do sucesso no mercado japonês da Cross, em instrumento de escrita; da Millipore, empresa americana de Massachussetts, em tratamento de água; ou da Vickers Da Cost, corretora londrina de ações ( agora afiliada ao Citibank ), em câmbio de moeda estrangeira. Cada um destes exemplos de sucesso resultou da identificação de um nicho de mercado específico, seguido de um esforço concentrado para a obtenção de liderança.

Existem consideráveis diferenças estruturais ou culturais que não devem ser ignoradas. Uma delas - e os ocidentais logo se dão conta disto - é a regra de qual posto deve ser igual à idade dentro de um grupo social. Por exemplo, os gerentes de uma empresa. Dentro deste grupo, um jovem não pode ser o superior de um gerente mais velho. Por exemplo, Peter F. Drucker dizia não ter conhecido, pelos menos até os anos oitenta, alguma empresa japonesa em que o presidente seja mais velho que o chairman. Se, em uma empresa familiar, houver gerentes que não pertençam à família, mesmo o filho e herdeiro, em regra, não poderá fazer fazer parte da diretoria até que complete quarenta anos de idade. E um empregado público imediatamente se aposenta no instante em que um jovem for promovido antes dele. Entretanto, uma empresa estrangeira irá desejar - muito racionalmente - que um jovem de sua sede nos Estados Unidos da América ( EUA ) ou na Europa esteja à frente de sua subsidiária ou joint venture no Japão. Isto, em geral, condena o empreendimento ao fracasso. Os japoneses ficam paralisados - eles não sabem como se comportar. Para eles, a congruência de posto e idade não é um princípio da organização, mas da moralidade.

Tudo o que se precisa fazer, contudo, é recorrer a uma artimanha que os japoneses usam há séculos. O jovem não é um superior, e sim um consultor, ou consta da folha de pagamentos da empresa-mãe como agente de ligação e sequer aparece no mapa organizacional da subsidiária.

Outra grande distinção dia respeito à estrutura econômica: a posição do fabricante ou do fornecedor se baseis em diferença na estrutura financeira e em diferentes conceitos sociais. Ao fazer um supersimplificação, a expectativa é de que o fabricante ou fornecedor tanto financie o distribuidor quanto se responsabilize por ele. Uma razão para isto é que, no Japão, os distribuidores, sejam atacadistas ou varejistas, não têm fácil acesso a linhas de crédito. Os bancos foram originalmente organizados no sentido de canalizar a poupança pública para a indústria manufatureira - e, ainda hoje, é assim que entendem a si mesmos e sua função. Assim, espera-se que o fabricante financie a distribuição de seus bens. E, embora existam grandes e modernas empresas de distribuição - como lojas de departamento e cadeias de supermercados - , o grosso desta atividade ainda é executado através de empresas familiares de pequeno porte, ou por microatacadistas locais.

Isto explica a importância da trading company e o fato de que mesmo grandes fabricantes a utilizam para distribuir seus bens. Uma trading company é basicamente, um banco comercial para o atacadista ou para o varejista local e, secundariamente, a provedora de serviços administrativos para ambas, fornecendo as noções rudimentares de controle de inventário, contabilidade e até mesmo treinamento de pessoal. Novos entrantes, contudo, normalmente têm encontrado crescente dificuldade para se conectar a uma trading company. Experiências anteriores de empresas americanas com joint venture japonesas, como Mitsubishi, Sumitomo, Itoh ou Mitsui, funcionaram bem poque estes grupos podiam dar à joint venture acesso imediato ao financiamento da distribuição e aos serviços de distribuição e por meio de suas trading companies. Agora, a maior parte das trading companies estabelecidas já lida com produtos que competem com aqueles dos novos entrantes.

Este problema está melhorando, mas lentamente, no sentido de que os modernos sistemas de distribuição crescem. Por exemplo, os supermercados estão se tornando capazes tanto de se autofinanciar ( por meio de lucros retidos ) quanto de se autoadministrar ( sem um conselho de administração ) e, portanto, estão se tornando independentes das trading companies - ou até mesmo hostis a elas. No entanto, o novo entrante - especialmente a empresa ocidental - deve perceber que precisará criar uma linha de financiamento para seus distribuidores. Este procedimento foi o segredo do sucesso da coca-Cola no Japão, pois tornou o refrigerante, em poucos anos, líder de mercado no país. Mas o fabricante também ter á de organizar - e, em geral, fornecer - o serviço para seus produtos, uma vez que os revendedores locais não dispõem nem da mão de obra necessária nem da capacidade de gerenciamento.

Além disto, espera-se dos fabricantes que se responsabilizem por seus distribuidores e também pelos fornecedores. Isto está implícito em seu comprometimento. Geralmente, é trabalho do fabricante ajudar distribuidores ou fornecedores a obter o crédito bancário de que necessitam - talvez não pela garantia legal de seus empréstimos, mas por assumir a responsabilidade moral por seu pagamento. Espera-se também, embora em menor escala, que o fabricante os apoie, caso deparem com problemas: por exemplo, encontrando um comprador para a empresa distribuidora, em caso de morte de seu proprietário; ou um gerente executivo para um pequeno fornecedor, e assim por diante.

Contudo, o maior problema cultural para a empresa ocidental que deseja fazer negócios no Japão é a necessidade de um intermediário e a dependência que se cria sobre ele. Em grande parte, o governo japonês funciona por meio da concorrência entre diferentes facções, cada qual organizada na forma de um ministério. Por exemplo, o Ministério do Comércio Internacional e da Indústria ( MCII ), o Ministério das Finanças ( MF ), ou o Bank of Japan ( BJ ) - as três principais repartições na área econômica. Cada uma delas luta constantemente para aumentar seu poder e escopo de atuação, considerando os outros rivais. E cada uma delas é aliada a grupos na economia e na sociedade - por exemplo, determinada indústria ou facção política ou um candidato ao cargo de primeiro-ministro.

Esta é a razão pela qual até mesmo as grandes empresas japonesas não negociam diretamente com o próprio governo. Elas usam um intermediário, geralmente um alto funcionário aposentado do governo que conhece todos os meandros da máquina pública. Ele frequentou a mesma universidade que as pessoas hoje no poder frequentaram e, desta forma, consegue conversar com eles romando um drinque em um bar, e não no escritório. Por sua vez, ele será informado sobre a situação que se apresenta e como seu cliente, a empresa, deverá proceder para conseguir o que deseja. O intermediário poderá fazer perguntas difíceis e receber respostas francas e diretas. Mas, a não ser que o investidor estrangeiro tenha um parceiro japonês na forma de uma joint venture, nem sempre será muito fácil encontrar e identificar o intermediário mais adequado.

Sim, os amigos nipônicos estão certos quando dizem que é muito fácil fazer negócios no Japão, desde que sejam feitos do jeito que os japoneses fazem. Mas os amigos americanos também estão certos quando reclamam da enorme dificuldade de fazer negócios naquele país asiático. Mas será que eles têm escolha? Embora os japoneses não comprem muitos produtos importados, seu apetite por produtos fabricados em empresas dos EUA no Japão é aparentemente, insaciável. Segundo um estudo da McKinsey & Co., os japoneses gastaram, em mil novecentos e oitenta e quatro, oitocentos e sessenta dólares per capita em marcas americanas, em comparação com os duzentos e oitenta e sete dólares gastos por americanos em produtos japoneses. Outras informações podem ser obtidas no livro As fronteiras da administração, de autoria de Peter F. Drucker.

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https://administradores.com.br/artigos/com%C3%A9rcio-internacional-os-atalhos-para-a-expans%C3%A3o-ao-mercado-asi%C3%A1tico .

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Desenvolvimento: a convivência com o que há de errado e precário na economia

Ninguém, nos dias de hoje, fala de m milagre alemão, muito menos os próprios alemães. Não existem livros best-sellers sobre administração ao estilo alemão nem seminários do tipo "o que podemos aprender com os alemães?". Ainda assim, o desempenho econômico da Alemanha nestes últimos anos é tão impressionante quanto o do Japão - e mais sólido.

Há alguns décadas, a Alemanha produzia treze por cento de todos os bens industriais do comércio internacional e sua participação, já em um mercado expandido, em mil novecentos e oitenta e cinco, subiu para dezessete por cento. O país ainda está atrás dos Estados Unidos da América ( EUA ) - cuja participação é de vinte por cento. Mas a Alemanha está substancialmente à frente dos dezesseis por cento de participação do Japão. No entanto, a Alemanha não tem mais do que um quarto da população americana e apenas metade da do Japão. As importações industriais per capita do país são, portanto, quase o quádruplo das dos EUA e o dobro das do Japão.

E a Alemanha está bem mais equilibrada do que o Japão - que quase tem apenas um cliente dominante, os EUA, responsáveis por quase do total das principais exportações industriais do país. Diferentemente de praticamente todos os grandes exportadores japoneses, pesadamente dependentes dos clientes americanos, há apenas uma empresa na Alemanha, em bem pequena, a Porsche, que vende mais da metade de sua produção para os EUA. Nenhuma outra empresa do país exporta mais de dez por cento ou doze por cento de sua produção para o mercado americano. Um dólar agudamente desvalorizado representa uma dor de cabeça para boa parte das empresas alemãs, mas é uma calamidade para os fabricantes japoneses. No geral, não há u único cliente estrangeiro tão dominante que torne a Alemanha sua dependente.

é claro que existem problemas, alguns bem sérios. O desemprego, de nove por cento ( pode ser que este número esteja um pouco desatualizado quando este texto for lido ), embora em queda e mais baixo do que o da maioria dos países industriais da Europa, ainda é alto para os padrões da Alemanha. Entretanto, boa parte disto resulta, provavelmente, da demografia e se autocorrigirá. O baby boom alemão não arrefeceu a´te o final dos anos sessenta, isto é, seus ou sete anos após ter ocorrido nos EUA e mais de dez anos após o Japão. O resultado foi que grupos etários enormes estavam entrando no mercado de trabalho alemão até meados dos anos oitenta. Esta onda, contudo, já está passando e diminui rapidamente. Dentro de poucos anos, é provável que haja uma carência de jovens entrando na força de trabalho, o que leva a uma queda correspondente do desemprego.

Outro ponto delicado é a alta tecnologia. Até o momento, a Alemanha é uma séria concorrente apenas no setor de biotecnologia. ela está bem para trás em computadores, microeletrônica e telecomunicações. E, se o programa de capital e risco, patrocinado pelo governo, para novas empresas de alta tecnologia surtirá resultados, ainda será visto. Até o momento, o esforço alemão está concentrado, principalmente, em indústria mecânica de ponta ( por exemplo, bombas resistentes à corrosão ou a altas temperaturas; ou estufas automáticas ), e não em alta tecnologia.

A maior ameaça poderá ser os custos de mão de obra. A Alemanha está bem atrás tanto dos EUA quanto do Japão em automação de fábricas. Mas, embora os sindicatos alemães tivessem consciência da dependência do país em custos de mão de obra competitivos e tenham sido cometidos em sua demanda salarial, no momento que a atividade econômica estava se desacelerando, existissem crescentes sinais de que haveria pressão por aumento e fortes manifestações sindicais. Isto não poderia acontecer em um ano pior que o de mil novecentos e oitenta e seis, quando a então moeda alemã ( o marco ), estava se valorizando rapidamente frente ao dólar e, portanto, afetava diretamente os lucros das exportações e a posição competitiva do país. Se a economia germânica parasse em mio novecentos e oitenta e sete ou  em mil novecentos e oitenta e oito, teria sido, em grande parte, por conta dos custos de mão de obra, que a tornariam competitiva.

Apesar disto, as conquistas da Alemanha são suficientemente significativas para exigir maior atenção do que usualmente atrai. O que explica isto?

Existem, certamente, alguns fatores culturais. O principal deles é, provavelmente, o peculiar sistema alemão de treinamento de iniciantes, datado de cento e noventa anos. Jovens aprendizes que ingressam na força de trabalho passam três dias por semana no trabalho e dois e meio a três na escola durante aproximadamente dois anos. Assim, estas pessoas passam, simultaneamente, por experiência prática e por aprendizado teórico, tornando-se trabalhadores qualificados e técnicos treinados. E eles podem aplicar o que aprenderam na escola na manhã de sábado, em seu trabalho na segunda-feira pela manhã, e executar, na prática, na quarta-feira, a teoria que será explicada na aula do dia seguinte. Esta é, em grande parte, a explicação para o sucesso do país em aumentar a produtividade consistentemente: cria-se não só a atitude certa, mas também o fundamento teórico. Ficam abertas as portas também para a receptividade à mudança, exatamente da mesma forma que os círculos da qualidade funcionam no Japão,ou até melhor.

Entretanto, há também as políticas de governo. Os EUA têm louvado a economia da oferta ( supply-side economics ), embora venha praticando principalmente o keynesianismo nestes últimos anos. O governo alemão não faz muita louvação, mas pratica a economia da oferta pura, embora com grande moderação. O imposto sobre a renda de qualquer natureza ( IR ) sofreu cortes, em mil novecentos e oitenta e cinco, de oito bilhões de dólares - o equivalente nos EUA seria quase quatro vezes este valor. O governo naquele momento estava contemplando cortes ainda maiores para mil novecentos e oitenta e seis e mil novecentos e oitenta e sete. Talvez uma preparação para a reunificação que ocorreria em mil novecentos e noventa. Diversas empresas estatais foram, na prática, privatizadas, embora a extrema direita tenha vetado esta medida na maior delas, a estatal Lufhansa. Uma plêiade de regulações foi abolida ou abandada. Mercados de capital foram desregulados para permitir o acesso de pequenas e médias empresas ao mercado primário de ações, antes virtualmente fechado para elas.

Mas o verdadeiro segredo dos alemães provavelmente não é quem cultura nem governo e, sim, política de negócios. As gerências de primeira linha das empresas - com o apoio do governo e da opinião pública - tornaram a manutenção da posição competitiva de suas empresas e a prioridade número um e o principal objetivo de seu planejamento. Para quase todas elas, o mercado interno ainda é o maior cliente, assim como ocorre, é claro, com a maioria das empresas nos EUA e no Japão. Apesar disto, ao tomar uma decisão, as altas gerências alemãs, mesmo de empresas relativamente pequenas, provavelmente perguntarão em primeiro lugar: será que isto nos fortalecerá, ou enfraquecerá nos mercados mundias? estas são também as primeiras perguntas que um banqueiro alemão provavelmente fará ao analisar o financiamento de uma empresa. é também o principal argumento da direção das empresas, pelo qual, pelo menos até o momento, os sindicados demonstram interesse.

Os alemães gostam de acentuar o aspecto negativo; eles tendem a conviver com tudo que existe de errado ou precário na economia. Mas talvez faça sentido para quem está do lado de fora perguntar: Será que existe algo que seria possível aprender com as conquistas germânicas? Outras informações podem ser obtidas no livro As fronteiras da administração, de autoria de Peter F. Drucker.

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https://administradores.com.br/artigos/desenvolvimento-a-conviv%C3%AAncia-com-o-que-h%C3%A1-de-errado-e-prec%C3%A1rio-na-economia e

http://starton.top/2019/09/12/desenvolvimento-a-convivencia-com-o-que-ha-de-errado-e-precario-na-economia/ .

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Empreendedorismo: as rudimentares como base para as empresas de alta tecnologia

O empreendedorismo de alta tecnologia é a onda do momento na Europa, nos dias atuais. os franceses criaram um ministério poderoso encarregado de encorajar o empreendedorismo de alta tecnologia e torná-lo uma das principais prioridades do governo. Os alemães estão abrindo empresas financiadas por capital de risco segundo modelo americano e estão falando sobre ter seu próprio Vale do Silício. Eles até mesmo cunharam um novo termo - Untermehmer- Kultur ( cultura empreendedora ) - e estão se dedicando a redigir ensaios e organizando simpósios para discuti-los. Até mesmo os britânicos estão propondo que o governo ajude a criar novos empreendimentos de alta tecnologia em áreas como semicondutores, biotecnologia e telecomunicações.

Os europeus estão certos, é óbvio, ao se mostrarem preocupados com o aumento do abismo entre eles próprios e seus concorrentes americanos e japoneses. hoje em dia, sem capacitação e produção próprias em alta tecnologia, nenhum país pode esperar ser líder. No entanto, a crença europeia de que empreendedores de alta tecnologia são capazes de florescer por conta própria, sem estar incrustrados em uma economia empreendedora, é um equívoco total.

Uma das razões para isto é a política. A alta tecnologia por si só é a construtora dos empregos do futuro, e não dos empregos atuais. Para oferecer os novos empregos, tão necessários diante de uma crescente força de trabalho, o país precisa de uma grande quantidade de empreendedores de baixa tecnologia ou de nenhuma tecnologia - e os europeus não os desejam. Nos Estados Unidos da América ( EUA ), os empregos existentes nas mil maiores empresas listadas pela revista Fortune e nas repartições de governo diminuíram em cinco milhões de vagas nos últimos sessenta anos. O total de empregos, no entanto, aumentou de setenta e um milhões, em mil novecentos e sessenta e cinco, para cento e seis milhões, em mil novecentos e oitenta e quatro, por exemplo. Apesar disto, durante este período, a alta tecnologia ofereceu apenas cinco milhões de novos empregos, isto é, não compensou o que foi perdido nas indústrias pesadas de base e no governo. Todos os empregos adicionais da economia americana - trinta e cinco milhões - foram oferecidos por empreendimentos de média, baixa ou nenhuma tecnologia - fabricantes de instrumentos cirúrgicos, de equipamentos de ginástica para uso doméstico, de brinquedos, calçados esportivos, empresas de serviços financeiros, restaurantes étnicos e empresas aéreas de baixas tarifas.

Se a atividade empreendedora se confinar à alta tecnologia - e isto é o que os europeus estão tentando fazer - , o desemprego continuará a crescer à medida que as empresas pesadas básicas forem cortando a produção ou se automatizando cada vez mais. Nenhum governo - e, certamente, nenhum governo democrático - poderia, então, continuar a subordinar estas gigantes do passado, com todas as suas dificuldades, a um futuro incerto de alta tecnologia. Logo, logo, ele seria forçado pela realidade política a abandonar o apoio à alta tecnologia e redirecionar seus recursos para defender, subsidiar e salvar os empregadores existentes, especialmente as empresas pesadas de base, altamente sindicalizadas. As pressões para que isto fosse feito estão se avolumando rapidamente.

Na França, os comunistas saíram do governo, em mil novecentos e oitenta e três, exatamente por causa desta discussão. O Partido Socialista do Presidente François Mitterrand, especialmente sua poderosa e vociferante ala mais á esquerda, também estava cada vez mais insatisfeito com as políticas de alta tecnologia, que são, além disto, igualmente impopulares junto aos grandes empregadores. Com efeito, a Direita francesa, em sua tentativa de ganhar a maioria nas eleições parlamentares em mil novecentos e oitenta e seis, tornou a inversão das políticas industriais do Sr. Mitterrand sua principal plataforma eleitoral e passou a demandar que a França desse prioridade, à época,  aos empregos nas indústrias existentes e descartasse a política de empreendedorismo de alta tecnologia.

Na Alemanha, cresce regularmente a demanda para que se dê apoio a antigas empresas, a fim de manter empregos e se decline o acesso ao crédito e capital a novos empreendimentos. Os bancos já se encontram sob pressão de seus principais clientes, as empresas existentes, que esperam que eles não financiem qualquer eventual concorrente. Na Alemanha, os bancos são o principal canal - talvez o único - de obtenção de capital de crédito. Mesmo na Grã-bretanha, existe uma crescente pressão sobre o chefe de governo - especialmente dos membros de seu Partido Conservador, que temiam por seu destino nas eleições, pelo menos até que saísse o resultado dando à sigla a tão sonhada vitória. A pressão era para que o governo esquecesse todos os grandes planos a fim de encorajar o empreendedorismo de alta tecnologia e se concentrasse, em vez disto, na recuperação das antigas indústrias, que vão mal das pernas desde mil novecentos e oitenta e quatro, gestão da então Primeira-Ministra Conservadora, Margaret Thatcher.

Existe uma razão mais mais sutil, mas talvez mais importante pela qual o empreendedorismo de alta tecnologia com esta atividade. Falta o necessário apoio social. O empreendedorismo de alta tecnologia é o topo de uma enorme montanha - constituída de empreendedorismo de média, baixa e nenhuma tecnologia, permeando a economia e a sociedade - sobre a qual está alicerçado.

Nos EUA, seiscentos mil empresas são fundadas a cada ano - cerca de sete vezes mais do que nas prolíficas décadas de cinquenta e sessenta. Entretanto, não mais que um vírgula cinco por cento delas - cerca de dez mil por ano - são empresas de alta tecnologia. As quinhentas e noventa mil restantes variam de nenhuma tecnologia ( um novo restaurante étnico ou uma empresa de coleta de lixo ) a média tecnologia ( por exemplo, uma pequena fundição automatizada para a moldagem de peças especiais não ferrosas. entretanto, sem estas empresas, os empreendimentos de alta tecnologia estariam mortos no nascimento e não atrairiam, por exemplo, mão de obra altamente qualificada.

Na ausência de uma economia empreendedora, cientistas ou engenheiros teriam preferido ( como ocorre na Europa ) a segurança e o prestígio e um emprego em uma grande empresa. E um empreendimento de alta tecnologia precisa, além disto, de contadores, vendedores e gerentes. nenhum deles aceitaria trabalhar em novos e pequenos empreendimentos, de alta tecnologia ou não, a não se que isto se tornasse algo aceitável, para não dizer preferível. Há setenta anos, pessoas deste tipo, nos EUA, também preferiam as grandes empresas ou o governo para empregos e oportunidades de carreira. Hoje, o fato de eles estarem disponíveis para novos empreendimentos, apesar dos riscos e incertezas, é o que torna possível a economia empreendedora e os empregos criados por ela.

Mas o ímpeto para isto não teve origem na glamourosa atividade de alta tecnologia e, sim, na multiplicidade de empregos sem glamour, mas desafiadores, com boas oportunidades de carreira em todos os tipos de negócios de baixa ou  média tecnologia. São eles que proporcionam a existência de uma enorme economia empreendedora. A alta tecnologia oferece a imaginação, é certo, mas as outras empresas fornecem o pão de cada dia.

Além disto, as empresas de média, baixa ou nenhuma tecnologia permitem o financiamento da alta tecnologia. Ao contrário daquilo em que a maioria das pessoas acredita, os empreendimentos de alta tecnologia permanecem sem dar lucro por um longo tempo. A indústria mundial de computadores teve, em termos gerais, perdas durante trinta anos, só atingindo o ponto de equilíbrio no começo dos anos setenta. A IBM, certamente, ganhou muito dinheiro. Poucas outras - principalmente nos EUA - ficaram no vermelho nos anos sessenta. Mas estes lucros foram mais do que compensados pelas pesadas perdas das grandes empresas de eletrodomésticos: General Eletric ( GE ), Westinghouse, Siemens, Philips, RCA e outras. Da mesma forma, ainda decorrerão pelo menos dez anos antes que a indústria biogenética ou os fabricantes de robôs, como um todo, cheguem ao ponto de equilíbrio e, provavelmente, será possível dizer o mesmo, em termos gerais, a respeito da indústria de microcomputadores. Neste período, os empreendimentos de média, baixa ou nenhuma tecnologia proporcionarão o fluxo de lucros que financiará as necessidades de capital da alta tecnologia. Sem eles, dificilmente haveria capital disponível.

Até o momento, existe pouco reconhecimento destes fatos na Europa - e nenhum entre os governos deste continente. As coisas poderão mudar. O movimento empreendedor dos EUA teve início no anos setenta. A Europa Ocidental está claramente quinze anos atrasada em relação às mais importantes tendências demográficas americanas - o baby bust e a explosão de estudantes universitários. O baby bust sucedeu o baby boom. é o período entre mil novecentos e sessenta e um e mil novecentos e oitenta e um, especialmente nos EUA, local em que caiu a taxa de natalidade.

Nos EUA, estas tendências certamente são fatores que contribuem para a renovação de empreendedorismo. Com um enorme contingente  de baby boomers bem educados já com bons empregos, as oportunidades nas grandes empresas e no governo estão começando a se tornar escassas e os jovens que ingressam no mercado de trabalho desejam e estão ansiosos para se juntar a empreendimentos de pequeno e médio porte. Na Europa, os baby boomers estavam entrando no mercado nos anos oitenta.

Até aqui, no entanto, os governos europeus ainda se mostram hostis a empreendedores que não sejam das áreas de alta tecnologia ( na França, principalmente ). A legislação tributária europeia, por exemplo, os penaliza e restringe seu acesso a crédito e capital. Mas a sociedade do continente também desencoraja as pessoas, especialmente as jovens mais educadas, de fazer algo tão pouco refinado quanto ir trabalhar para qualquer um que não seja uma grande empresa já estabelecida ou o governo. A não ser que isto mude - , e até o momento, há poucos sinais de que isto venha a acontecer - , a paixão europeia anterior de alta tecnologia - o Concorde - , que terminou com muito pouca gloire, em um oceano de tinta vermelha, e sema liderança de empregos ou de tecnologia. Outras informações podem ser obtidas no  livro As fronteiras da administração, de autoria de Peter F. Drucker.

Mais em

https://administradores.com.br/artigos/empreendedorismo-as-rudimentares-como-base-para-as-empresas-de-alta-tecnologia . 


quarta-feira, 24 de julho de 2019

Epidemiologia: vigilância aumenta em 80% notificações de focos do Aedes em SC

O último relatório da Diretoria de Vigilância de Epidemiológica ( DIVE ) da Superintendência de Vigilância em Saúde ( SUV ) da Secretaria de Estado da Saúde ( SES ) do Governo do Estado de Santa Catarina ( SC ) divulgado neste mês de julho de dois mil e dezenove, aponta a presença do mosquito Aedes aegypti em cento e oitenta e dois municípios catarinenses. São vinte e um mil quatrocentos e sessenta e sete focos identificados entre trinta de dezembro de dois mil e dezoito a treze de julho de dois mil e dezenove. Comparando ao mesmo período do ano de dois mil e dezoito, quando foram mapeados onze mil novecentos e vinte e oito focos em cento e cinquenta e dois municípios, houve um aumento de oitenta por cento no total de notificações.


O gerente de zoonoses ( GEZOO ) da DIVE, João Augusto B. Fuck, explica que neste ano de dois mil e dezenove as temperaturas demoraram a cair e houve um forte período com calor e chuva nos meses de abril e maio, o que favoreceu a proliferação do mosquito.
– Nosso cenário é de risco, o número de focos é o maior desde que foram identificados os primeiros em SC no ano de dois mil e seis e este número vem aumentando ano a ano – comenta Fuck.

São noventa e quatro municípios de SC considerados infestados pelo Aedes, a maioria concentrados na região Oeste. O número cresceu vinte e oito por cento em relação ao mesmo período de dois mil e dezoito, quando eram setenta e três localidades.


Casos da doença

Atualmente o Estado possui três cidades condição de epidemia, todas no Litoral Norte: Itapema com seiscentos e seis casos autóctones ( contraídos no local ), uma taxa de incidência de novecentos e cinquenta e oito vírgula um casos por cem mil habitantes, seguida por Camboriú com trezentos e quarenta e um confirmações e quatrocentos e vinte e um vírgula nove casos por cem mil habitantes e Porto Belo que conta com oitenta e quatro ocorrências e quatrocentos e três vírgula dois casos por cem mil habitantes.

A Organização Mundial da Saúde ( OMS ) considera o nível de transmissão epidêmico quando a taxa de incidência é maior que trezentos casos por cem mil habitantes.
Em dois mil e dezenove, ao todo, foram registrados mil trezentos e setenta e um casos da doença contraída em SC e cento e treze importados. Apesar de ser um indicativo expressivo, Fuck comenta que o Estado já viveu situação pior, em dois mil e dezesseis, quando os casos da doença passaram de quatro mil e oito municípios estavam em situação de epidemia. Na época, foram registrados os dois únicos casos fatais de SC, em Chapecó e Pinhalzinho.

Desta vez, destaca-se uma migração das ocorrências do Oeste para o Litoral.
– O Brasil teve um aumento expressivo nos casos de dengue e o Litoral se torna suscetível por que há uma grande circulação de pessoas que podem trazer a doença consigo e iniciar um ciclo de contágio. Outro fator é o deslocamento desta população entre estas cidades. Por exemplo, alguém que trabalha em Itapema e mora em Porto Belo contrai a doença. A movimentação diária deste indivíduo favorece a propagação do vírus.

A DIVE afirma que esta é uma movimentação natural da doença, há períodos de retração, como ocorreu em dois mil e dezessete e dois mil e dezoito, e outros de avanço.


Novos subtipos

Fuck explica que a expansão dos casos também está ligada ao avanço de um novo sorotipo de dengue no Estado, a DEN-2. Segundo ele, este subtipo foi observado pela primeira vez aqui em dois mil dezessete, mas só agora está tendo um maior número de vítimas.

– De modo geral, notamos que o sorotipo DEN-2 está circulando mais em todo o Brasil. Acredita-se que a expansão dele aqui ocorreu provavelmente durante a temporada, quando alguém com infectado este subtipo passou em SC e iniciou o processo de transmissão.
A dengue possui quatro sorotipos DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. O indivíduo só pode ser contaminado uma vez com cada subtipo, adquirindo imunidade após a infecção. Estima-se que neste ano de dois mil e dezenove a prevalência seja do tipo 1. A DIVE realizou o procedimento para determinar os subtipos em duzentos e cinquenta e três amostras, destas, cento e oitenta e cinco deram positivo para o tipo um e cinquenta e oito para o tipo dois.


Concentração de Focos em SC


Mapa indicativo de locais com a presença do Aedes Aegypti
Mapa indicativo de locais com a presença do Aedes Aegypti
(Foto: )


POR ONDE O AEDES AVANÇA

Fatores cruciais para o aumento do número de focos

Prazo de notificação

Boa parte dos casos confirmados e divulgados neste mês foram notificados em
abril ou maio, isso por que para notificar a suspeita os médicos têm um prazo de até sete dias, após o exame de será realizado pelo Laboratório Central ( LACEN ) de Saúde Pública que recebe mais sete dias, após este processo ainda há um período de sessenta dias para inclusão no Sistema de Informação de Agravos de Notificação ( SINAN ).
— Isto faz parte do processo para garantir a confiabilidade dos dados. Muitos casos que aparecem nas estatísticas agora, durante o período mais frio do ano, foram diagnosticados e tratados semanas atrás. Inclusive, a gente vem observando que há uma queda gradativa em número de notificações — conclui Fuck.

Falta de inseticida
Desde junho SC já não tem estoque do inseticida Malathion EW, enviado pelo Ministério da Saúde ( MS ) para o combate à dengue. O produto mata o mosquito Aedes aegypti e é usado em locais próximos àqueles onde moram ou trabalham pessoas que estão contaminadas com o intuito de controlar a proliferação da doença. Sobre a falta do inseticida Fuck confirma que este fato pode ter sim contribuído negativamente para a proliferação da doença, porém não aponta este fato como um fator decisivo para a situação atual.
— Nós conseguimos manter as ações previstas até o produto acabar. O uso deste inseticida é para eliminar o mosquito adulto e não é só isso que vai resolver o problema. Não adianta eliminar ele adulto e manter os criadouros —
fala o gerente.

O produto permanece em falta no MS e não há previsão de envio para o Estado que também não tem a intenção de fazer a compra do inseticida. De acordo com o MS, esta é a última estratégia de enfrentamento da dengue. O órgão enfatiza que a prevenção só ocorre com a eliminação dos focos de multiplicação do Aedes aegypti.
Política de enfrentamento

É responsabilidade de cada município realizar as atividades de mobilização contra a Dengue. De acordo com o gerente de zoonoses da DIVE, Fuck, nota-se que a maioria das prefeituras agem apenas após o início do processo de transmissão, o que torna muito mais complexo o processo, facilitando a proliferação da doença.
Fuck explicou ainda que órgão têm regionais de saúde com a responsabilidade de prestar apoio técnico às administrações municipais, no auxílio para aplicação de inseticida e indicação de ações, por exemplo. Existem biólogos da DIVE nas dezessete gerências regionais de saúde ( GRSs ). Há também técnicos agrícolas alocados em cidades com altos níveis de transmissão como Florianópolis, Itajaí, Joinville, Xanxerê, Chapecó e São Miguel do Oeste. Estes profissionais seriam responsáveis por prestar auxílio caso a caso.
Maus hábitos

A DIVE pontua que embora hajam campanhas de conscientização nota-se que a população na prática não mantém os cuidados básicos para evitar a proliferação do inseto.
Segundo o primeiro Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes aegypti ( LIRAa ) feito pelo MS sessenta por cento dos criadouros estão nos quintais e dentro das residências, em recipientes que acumulam água parada.

— Não adianta de nada o Estado fazer a sua parte e as pessoas não agirem. É preciso controlar a presença do Aedes aegypti, não podemos pensar apenas na dengue temos também chikungunya e zika. Ainda não temos casos destas duas últimas, mas se temos o vetor temos a chance de isso ocorrer — alerta Fuck.

De acordo com a DIVE, com a entrada do frio o mosquito adulto acaba sendo eliminado, porém os ovos podem ser altamente resistentes, com período desenvolvimento chegando a vinte dias. Entretanto, Fuck destacou que em local seco eles podem durar por mais de dois anos esperando condições favoráveis para eclodir.
— O inverno impacta o ciclo de reprodução dele, mas não acaba com o problema, apenas adormece. É nessa estação o momento de agir contra o vetor, assim na próxima não teremos o risco de surto em nível de epidemia. — recomenda Fuck.


Contribua para eliminar o mosquito da dengue


Agente de saúde realizando ação de busca de focos
(Foto: )

A Diretoria ressalta algumas orientações para evitar a proliferação de focos, são elas:
Evite usar pratos nos vasos de plantas. Se usá-los, coloque areia até a borda;

Guarde garrafas com o gargalo virado para baixo;

Mantenha lixeiras tampadas;

Deixe os depósitos d’água sempre vedados, sem qualquer abertura, principalmente as caixas d’água;

Plantas como bromélias devem ser evitadas, pois acumulam água;

Trate a água da piscina com cloro e limpe-a uma vez por semana;

Mantenha ralos fechados e desentupidos;

Lave com escova os potes de comida e de água dos animais no mínimo uma vez por semana;

Retire a água acumulada em lajes;

Dê descarga, no mínimo uma vez por semana, em banheiros pouco usados;

Mantenha fechada a tampa do vaso sanitário;

Evite acumular entulho, pois ele pode se tornar local de foco do mosquito da dengue;
Denuncie a existência de possíveis focos de Aedes aegypti para a Secretaria Municipal de Saúde.

Com informações do jornal Diário Catarinense.

Protecionismo: ao contrário das intenções, cria desemprego e declina a indústria

Os japoneses não queriam acreditar em Peter F. Drucker quando este lhes afirmou, em mil novecentos e oitenta e dois, que o presidente dos Estados Unidos da América ( EUA ), à época, o ator Ronald Reagan, efetuaria cortes no fornecimento de equipamentos americanos para a construção do gasoduto Sibéria-Europa Ocidental. "Isto iria tirar a liderança da Caterpillar e dos EUA so setor de equipamentos de movimentação de terra e entregá-la, de mão beijada, para a Komatsu e para nós, japoneses! mas, na indústria pesada, a de equipamentos de movimentação de terra é a única com potencial de crescimento no longo prazo. nenhum governo tomaria uma decisão assim!". Vários dos supereducados japoneses quase o chamaram Drucker de mentiroso quando ele lhes disse que i impacto na posição competitiva de uma das principais indústrias pesadas dos EUA não seria nem levado em conta pelo governo ao tomar esta decisão. Não foi - nem poderia ter sido - , considerando a tradição política americana.

De forma semelhante, o impacto na posição competitiva dos bens manufaturados americanos nem foi discutido, em mil novecentos e oitenta e um, quando se tomou a decisão de combater a inflação basicamente mediante o aumento das taxas de juros, embora isto significasse elevar o valor internacional do dólar e colocar o preço dos bens americanos fora do mercado mundial.

Durante cento e noventa anos, desde o governo Andrew Jackson, na política americana, o pressuposto é de que a posição competitiva dos produtos manufaturados em mercados de exportação não é uma preocupação legítima do legislador.

É verdade que há uma longa tradição de proteger o mercado interno. Apesar de toda a retórica de livre mercado, o protecionismo é tão americano quanto a torta de maçã. E, pelo menos desde a Guerra Civil, a posição competitiva dos produtos agrícolas americanos dos mercados mundiais tem sido uma das principais preocupações dos políticos.

No entanto, há muito considera-se impróprio levar em conta o impacto das políticas públicas de governo nas exportações de manufaturados. Apenas um único presidente nestes últimos cento e noventa anos teve uma opinião diferente: Herbert Hoover. Para todos os demais, até mesmo aqueles mais pró-empresas, a preocupação com exportações dos políticos.

No entanto, há muito considera-se impróprio levar em conta o impacto das políticas de governo nas exportações de manufaturados era um tabu. Isto significava cuidar dos lucros dos homens de negócios gananciosos.

Por muito tempo, isto não causou qualquer problema. As exportações de manufaturados eram, na melhor das hipóteses, de importância marginal, representando não mais que cinco a oito por cento da produção - e menos ainda nas principais indústrias. Mas isto mudou significativamente nos anos sessenta. Os políticos e economistas ainda repreendem severamente as manufaturas americanas por sua negligência em relação aos mercados de exportações e, em inúmeros artigos publicados, imploram para que a indústria aprenda a vender no exterior. Entretanto, a indústria americana de manufaturados agora exporta uma proporção mais de duas vezes superior à sua produção do que o Japão. Efetivamente, o percentual exportado da produção industrial total dos EUA supera aquele de qualquer grande país industrializado, exceto a Alemanha.

Isto decorre, em parte, do multinacionalismo americano. As subsidiárias e coligadas das empreas americanas, longe de subtraírem empregos nos EUA, são as melhores clientes da indústria de produtos manufaturados que atuam no mercado interno. Boa parte da grande expansão das exportações de manufaturados americanos resulta, no entanto, de uma mudança muito real de atitude e de competência das empresas americanas, especialmente daquelas de médio e pequeno porte, de alta tecnologia. Em consequência, as exportações de bens manufaturados representaram, em mil novecentos e oitenta e dois, um em cada cinco empregos nas fábricas americanas.

Entretanto, este não foi um bom ano para o exportador, em parte por conta da recessão mundial da época, mas a razão principal foi a sobrevalorização do dólar. Fred Bergsten, ex-subsecretário do Tesouro dos EUA para a economia internacional e por muito tempo consultor de empresas privadas, reconhece que o dólar dez por cento mais barato teria elevado o nível das exportações americanas a um nível vinte e cinco por cento maior do que àquela época. As exportações teriam atingido quase um quarto de uma produção de manufaturados muito mais alta. Segundo o Sr. Bersten, o dólar sobrevalorizado custou mais empregos americanos na indústria manufatureira e criou mais desemprego do que as crises nas indústrias do aço e automobilística somadas. O mercado mundial ainda significa mais para o fazendeiro americano do que para o trabalhador da indústria: dois quintos ou quarenta por cento das vendas de produtos agrícolas contra um quarto ( vinte e cinco por cento ) ou um quinto ( vinte por cento ) das vendas de bens manufaturados. Mas, ainda em um ano ruim de vendas para a exportação, como mil novecentos e oitenta e dois, o mercado mundial era o maior cliente da força de trabalho industrial americana.

Nestas condições, não mais se justifica a tradicional separação entre política interna americana e preocupação com a posição competitiva do país nos mercados exportadores para bens manufaturados.

Existem três maneiras de se aumentar a percepção de importância do comércio exterior o processo de elaboração de políticas. A primeira - que poderia ser chamada de opção internacionalista - consiste em assegurar que o impacto de qualquer decisão seja cuidadosamente considerado. Isto é, essencialmente, o que os alemães fazem e, hoje, eles podem ser considerados os que mais se aproximam de praticar o verdadeiro livre-comércio de bens industriais. Uma das principais atribuições do ministro da Economia alemão é desenvolver um documento descrevendo as consequências para o comércio exterior das propostas de políticas governamentais. isto não garante, é claro, que todas as outras considerações se subordinem a esta. Peter F. Drucker chegou a cogitar a supor, por exemplo, que a administração Reagan teria seguido em frente tanto com sua estratégia de elevação das taxas de juros quanto com a de proibir o fornecimento de suprimentos para o gasoduto siberiano, ainda se tivesse considerado uma avaliação de impacto em ambos os casos. Mas, pelo menos, a posição internacionalista asseguraria que a competitividade internacional não seria sacrificada, ou prejudicada irreversivelmente e por falta de alternativas.

A segunda maneira de amentar a percepção de importância do fortalecimento competitivo na elaboração de políticas de governo poderia ser denominada posição nacionalista, segundo a qual uma decisão política não deveria enfraquecer a competitividade do mercado mundial. Pelo contrário, sempre que possível, deveria fortalecê-la. Esta é, essencialmente, a linha que o General Charles De Gaulle assumiu quando governou a França. Como todos os seguidores da realpolitik, de Richelieu a Henry Kissinger, o general não atribuiu alta prioridade à economia. Dinheiro, sempre acreditou um seguidor da realpolitik, nasce no cano de uma arma. Ainda assim, em cada grande decisão, De Gaulle cuidadosamente procurava a solução que reforçasse a posição competitiva da França na economia mundial - ou que pelo menos não prejudicasse o país.

A terceira maneira é a posição mercantilista, segundo a qual fortalecer a posição competitiva da indústria manufatureira de um país é a principal prioridade na elaboração das políticas públicas de um país às quais todas as outras considerações normalmente deverão subordinar-se. Os sucessores conservadores de De Gaulle, Pompidou e Giscard D'Estaign compartilhavam esta visão: era a posição tradicional da França desde o século dezessete. Mas os verdadeiros profissionais, hoje, são os japoneses.

Estas posições, claramente, se sobrepõem. Nenhum país, até hoje, seguiu uma destas tr~es opções de forma exclusiva. Além disto, nenhuma delas é igualmente viável para todos os países e qualquer momento. A posição mercantilista, por exemplo, é quase incompatível com as ambições dos grandes poderes, razão pela qual De Gaulle, com todo respeito pelas tradições francesas, não a assumiu. Apenas a primeira posição, a internacionalista, se encaixa facilmente na economia de livre-mercado e se mostra adequada às necessidades e realidades políticas dos EUA. Ainda esta opão representaria uma quebra radical em relação à política tradicional. Seria necessário haver mudanças substanciais no processo de elaboração de políticas e em acordos institucionais, como os comitês do Congresso Nacional ( CN ) dos EUA.

Contudo, é preciso ter a consciência de que salvaguardar o poder competitivo é uma preocupação legítima dos legisladores que necessita ser incorporada ao processo de elaboração de políticas governamentais. Como um quarto ( vinte e cinco por cento ) ou um quinto ( vinte por cento ) de toda a força de trabalho da indústria dependente da exportação de bens manufaturados para sua sobrevivência, o protecionismo deixa de cumprir sua função. Passa apenas a agravar o declínio industrial e cria desemprego. Mas, se um grande país, como os EUA, perder a força competitiva no mercado mundial, é quase certo que se torne crescentemente protecionista, por mais contraprodutivo que isto possa ser. Já é chegada a hora de abandonarem hábitos, retóricas e tradições de cento e noventa anos atrás para aumentar a percepção de importância da posição competitiva nos mercados de bens manufaturados e incorporá-la à elaboração de políticas de governo. Outras informações podem ser obtidas no livro As fronteiras da administração, de autoria de Peter F. Drucker.

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terça-feira, 23 de julho de 2019

Habitação: Polícia investiga suspeitos de fraudar contratos com a CEF

O Departamento da Polícia Federal ( DPF ) realiza operação para desarticular um grupo suspeito de fraude em financiamentos habitacionais. Na manhã desta terça-feira ( vinte e três de julho de dois mil e dezenove ) são cumpridos seis mandados de busca e apreensão em Joinville, em Florianópolis e São José, expedidos pela Justiça Federal de Santa Catarina ( JFSC ) determinando o bloqueio de valores para ressarcimento da instituição.
De acordo com o DPF, o grupo realizava os financiamentos mediante fraude, lavagem de dinheiro e inserção de dados falsos em sistema de informação. Das ordens judiciais, duas foram cumpridas em São José, em endereços residencial e comercial; um em Florianópolis, em endereço residencial e dois em Joinville, em residências.
As investigações apontaram que, entre dois mil e treze e dois mil e quatorze, foram obtidos diversos financiamentos habitacionais com a apresentação de documentos de comprovação de renda falsos para a Caixa Econômica Federal ( CEF ).

Com o esquema, o grupo criminoso gerou uma dívida no valor atual de mais vinte e seis milhões de reais, decorrente do não pagamento das respectivas parcelas.
Os investigados poderão ser indiciados pela prática, dentre outros, dos crimes de obtenção de financiamento mediante fraude, lavagem de dinheiro e inserção de dados falsos em sistema de informações.

Com informações do jornal Diário Catarinense.

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