sábado, 31 de outubro de 2020

Previdência social: a aposentadoria de quem entra para a "inatividade" mas continua ativo

Embora a abolição da aposentadoria com idade fixa ( compulsória - conhecida no Brasil como expulsória ) seja, ao mesmo tempo, inevitável e desejável, cria problemas sérios. Ela confronta os empregadores, sindicatos trabalhistas e autoridades governamentais com desafios inteiramente novos, para os quais nenhum deles está minimamente preparado.


1) O primeiro destes desafios, e de muitas maneiras o mais espinhoso, é o estabelecimento de critérios para aposentar pessoas que ficaram física ou mentalmente incapacitadas de continuar a trabalhar. Se, conforme a lei do Estado da Califórnia ( Estados Unidos da América - EUA ) claramente estabelece, não for mais permitido aposentar as pessoas por idade, então serão necessários outros critérios objetivos que não a idade ( ou seja, incapacidade física ou mental ). Quem estabelece estes critérios? Quem os administra? A lei da Califórnia fala em competência para realizar o trabalho. O que isto significa? Como isto é definido ? Quem define isto?


Sabe-se de setores de atividade que possuem critérios de aposentadoria diferentes da idade ( por exemplo, pilotos da aviação ou maquinistas de trem ), e estes critérios precisam ser estabelecidos antecipadamente. Sabe-se que são mais bem estabelecidos por acordo mútuo entre representantes de empregadores e de empregados. De fato, sabe-se que nada cria tão rapidamente um sindicato atuante do que a tentativa pelo empregador de estabelecer unilateral e arbitrariamente estes critérios. Além disto, sabe-se que os critérios precisam ser administrados de forma imparcial ( isto é, por profissionais externos com ou sem representação dos empregadores e empregados ). Acima de tudo, sabe-se que os mesmos critérios devem ser aplicados independentemente da idade. Se as pessoas mais velhas estão sendo aposentadas enquanto se permite que as pessoas mais jovens continuem a trabalhar, no mesmo nível e com as mesmas habilidades ou deficiências, existe, à primeira vista, um caso de discriminação. E, se não existirem critérios de competência para as pessoas mais jovens e nenhuma avaliação periódica de seu desempenho, provavelmente não será possível manter alguma alegação de incompetência contra as pessoas com mais idade, além de paralisia total ou coma. De fato, alguns sindicatos ( por exemplo, alguns sindicatos locais de motoristas de caminhão ) já estão dizendo que, mesmo um paraplégico, ao menos os suficientemente velhos, têm de ser mantidos na folha de pagamento ( "sempre há algo que possam fazer" ).


Para os empregos que exigem capacidade física que pode ser definida ( tempo de resposta para os pilotos de avião, por exemplo, acuidade visual ), estes padrões não chegam a ser um grande problema, embora passem anos antes que tenham sido elaborados. Mas o que dizer sobre empregos em que as exigências sejam:  capacidade de julgamento, habilidade de cooperar com as pessoas, capacidade e disposição para ouvir novas ideias, desempenho em salas de aula, e assim por diante? Em outras palavras, o que dizer de empregos de trabalhadores do conhecimento que cada vez mais se tornarão o centro da economia e do mercado de trabalho? Ninguém discutiu ainda padrões para eles.


Nas universidades, onde alguns poucos ilustres membros do corpo docente têm sido mantidos sob contrato anual para além da idade tradicional de aposentadoria, sujeito à sua capacidade física e mental de realizar o trabalho, a decisão normalmente é deixada a cargo do funcionamento administrativo, com ou sem a opinião do corpo docente. Raramente há a decisão de se encerrar o contrato; em vez disto, sugere-se ao colega que ficou senil que talvez seja melhor parar de trabalhar. Isto não mais deverá ser suficiente. Será necessário com urgência do devido processo que permita às organizações removerem pessoas que já não são mais iguais no trabalho, independentemente de contratos ou cargo acadêmico.


O problema que há agora, nos  EUA por exemplo, diz respeito aos juízes federais. Quando os fundadores dos EUA declararam que os juízes não poderiam ser removidos ( inamovibilidade ) exceto por impedimento, não esperavam que eles vivessem o suficiente para ficar senis ( e agora vivem ). Sabe-se que o poder judiciário federal precisará desenvolver alguma espécie de autocontrole. Precisará haver um órgão ( presumivelmente, um comitê do poder judiciários dos EUA, sob a presidência do Chefe de Justiça da Suprema Corte ) ( aos moldes do Conselho Nacional de Justiça  - CNJ - no Brasil ) que possa remover um juiz que tenha de deixado de ser competente ( o que o CNJ ainda não faz ). Mas como seria possível fazer isto com quantidades muito grandes de pessoas: engenheiros, contadores, pesquisadores, gerentes de vendas, professores, e assim por diante? Sem estas cláusulas, somente os advogados é que se beneficiarão com o prolongamento da vida ativa no trabalho.


Provavelmente, devem ser mantida a aposentadoria compulsória para pessoas que ocupam altos cargos, embora não aposentadoria compulsória do trabalho e do cargo aos mesmo tempo. Peter Ferdinand Drucker, já naquela época, sustentava que era mais indesejável para as pessoas em altos cargos ( seja em empresas, na academia ou no governo ) continuarem indefinidamente. Um vice-presidente de marketing que esteja com cinquenta anos pode ser removido, embora isto possa significar a compra das compra das cotas de seu contrato. Não faz sentido permitir que ele se torne inamovível quando completar sessenta e cinco anos, defendia Drucker.


Um motivo para não se permitir que as pessoas permaneçam em cargos elevados em idade avançada é que os pacientes não se dão conta da própria senilidade. se for deixar para as pessoas com mais idade decidirem, por si, quando sair dos cargos, haverá um risco de se ter a senilidade nos postos mais graduados. Já existem muitos exemplos de CEOs que resistem à aposentadoria e permanecem tempo demais. Certamente, o caso de Sewell Avery, da Montgomery Ward, de setetenta anos atrás, é o exemplo usual. Ao mesmo tempo, não há motivo para a pessoa com mais idade e ativa precisar parar de trabalhar. Não há motivo para o VP de marketing, em plena posse de suas faculdades mentais, não continuar a trabalhar como colaborador individual sênior ( encarregado da pesquisa de mercado ou de relações com clientes ou desenvolvimento de produto, por exemplo ). O necessário é tirar esta pessoa da linha de comando ou autoridade. Caso contrário, as mesmas regras devem ser aplicadas para manter os associados que não ocupam cargos de nível elevado. É preciso o desenvolvimento de abordagem semelhante para pessoas que trabalham no governo ou em universidades e escolas. É preciso conseguir mover pessoas para fora dos cargos elevados porque sua permanência é muito arriscada e por haver necessidade de abrir oportunidades para pessoas mais jovens. Também é necessário conseguir manter estes homens e mulheres em trabalhos úteis e produtivos se estiverem mental e fisicamente bem para continuar a trabalhar, e se quiserem fazê-lo.


2) Igualmente importante e talvez mais urgente é a questão dos direitos e benefícios das pessoas que permanecem além da idade pela qual poderiam aposentar-se com uma pensão decente. Tanto as empresas americanas quanto o governo não têm percebido o problema envolvido em casos deste tipo. Sob as leis e os contratos sindicais atuais, estas pessoas conservam todos os direitos pelo tempo de serviço, incluindo os direitos de promoção, remuneração e aumento salarial. Elas conservam plenos direitos pelo tempo de serviço em aso de demissão, embora possuam uma ampla pensão que lhes está disponível. Se for mantido este quadro, haverá o resultado ridículo e desigual de se manter o pleno emprego de cidadãos com mais idade cujos filhos já cresceram, que já não possuem pais idosos dependentes e que têm à sua disposição um valor de aposentadoria igual a seu salário ( por conta da diminuição da carga fiscal e do Medicare disponível para eles ), enquanto se demitirem adultos jovens, pais de família com filhos e pais dependentes. Portanto, ´nisto que os sindicatos trabalhistas terão de insistir, a menos que os empregadores atuais ( nos setores público e privado ) eleborem um sistema mais justo.


Sob as leis e os contratos sindicais atuais, estas pessoas mais velhas que permanecem trabalhando após terem alcançado a idade em que têm à disposição o pleno benefício de pensões e aposentadorias ainda continuará recebendo toda a gama de benefícios e assumindo todos os encargos dos benefícios. O homem ou mulher que permanece no emprego após a idade de sessenta e cinco anos, por exemplo, paga a contribuição total de Previdência social, assim como o empregador. A contribuição total parar o fundo de pensão continua sendo paga, apesar de o pagamento do benefício do empregado, nesta época, já ter sido plenamente integralizado. Sob muitos planos de saúde, o empregado que continue trabalhando após a idade de sessenta e cinco anos ainda precisa pagar as cotas totais da Blue Cross e da Blue Shild ( ou os prêmios de seguro correspondentes ), embora o Medicare forneça reembolso da maior parte de suas despesas médicas ( na verdade, um reembolso bem maior do que o de muitos planos de seguro-saúde ). Isto é claramente injusto. Trata-se de um custo desnecessariamente elevado sem o benefício correspondente, além de ser uma tolice. No entanto, este se tornará um encargo rotineiro sobre o empregador e o empregado, a menos que os empregadores e os sindicatos trabalhistas comecem a trabalhar agora no ajuste de seus planos á nova realidade, ou seja, a idade flexível para aposentadoria.


Os japoneses, inadvertidamente, resolveram o problema há muito tempo. A idade oficial de aposentadoria no Japão é de cinquenta e cinco anos. Ela foi estabelecida neste nível etário há cem anos, quando a expectativa de vida dos japoneses girava em torno de quarenta e três anos de idade. Hoje, o Japão tem a mesma expectativa devida que o Ocidente; assim, a idade de aposentadoria de cinquenta e cinco anos se tornou um anacronismo. Na verdade, o que os japoneses realmente possuem não é uma política de aposentadoria, e sim uma política de não se aposentar. a maioria dos empregados japoneses continua a trabalhar depois da idade de cinquenta e cinco anos, e muitos deles no no mesmo emprego e com o mesmo empregador, como antes. Entretanto, não são mais empregados permanentes, mas empregados temporários; isto significa que podem ser demitidos se os negócios enfraquecerem. Eles deixam de ter segurança no emprego. Não contam mais  o tempo de serviço. Não esperam mais promoções, nem têm direito a elas. E seus rendimentos diminuem em trinta a quarenta por cento. Ao mesmo tempo, em muitas companhias, estes empregados têm o direito preferencial de ser readmitidos caso queiram reverter a aposentadoria e estejam aptos física e mentalmente, mas somente como empregados temporários. A lógica disto, de acordo com os japoneses, é que, em geral, as pessoas com idade acima de cinquenta e cinco anos não têm mais filhos ou pais idosos dependentes. Seus gastos são menores. Como em muitos países, o governo paga suas contas de assistência á saúde. No entanto, eles representam um recurso valioso do qual poucos empregadores podem se dar o luxo de abrir mão.


3) Em geral, a abolição da aposentadoria em idade fixa ( ou o adiamento em idade fixa ) forçará cada vez mais os empregadores a criarem empregos permanentes de tempo integral ocupados por pessoas em tempo parcial. Um bom número de pessoas com mais idade não quer emprego em tempo integral e, à medida que estas pessoas forem entrando na terceira idade, o mais provável é que queiram trabalhos em tempo parcial. Isto vale também com relação a outra fonte importante de novos empregados no mercado de trabalho americano: a mulher com mais idade casada. Cada vez mais, os empregadores precisarão aprender a contratar pessoas para trabalhar em tempo parcial.


De muitas maneiras, é preferível estas pessoas trabalhando em tempo parcial. Em geral, elas não ficam trocando muito de emprego. Quando conseguem algo assim, procuram manter. Seu histórico em termos de faltas e de doenças é relativamente bom. Em geral, elas preferem ir para o trabalho, onde estão seus amigos, a ficar sozinhas em casa, sem ter com quem conversar a não ser os aparelhos domésticos. Porém, suas atitudes no trabalho são diferentes. Elas não reagem bem, por exemplo, à supervisão tradicional. Afinal, elas já têm tempo de trabalho suficiente, seja no antigo emprego ou na condução de um lar, para saber do que se trata o trabalho e para ter autodisciplina.


O empregado em tempo parcial precisa de benefícios diferentes. O empregado com mais idade, por exemplo, precisa de seguro-saúde complementar que cubra aquilo que não é coberto pelo Medicare. Ele não precisa de seguro-desemprego; ele possui Previdência Social ou a pensão de uma companhia. A mulher com mais idade casada que trabalha em tempo parcial não precisa de algum seguro-saúde próprio se estiver coberta pelo plano do cônjuge. Em outras palavras, os benefícios precisarão ser bem mais flexíveis para ter sentido. de acordo com o sistema atual, as pessoas em tempo parcial ou não possuem benefício algum ( embora os benefícios para elas provavelmente venham a se tornar uma grande demanda dos sindicatos trabalhistas ), ou desfrutam de benefícios que, na verdade, não fornecem qualquer benefício a elas. O grande desafio que os empregadores e os sindicatos trabalhistas ainda não enfrentaram é como dar ao empregado em tempo parcial ( seja a pessoa com mais idade que já passou da idade tradicional de aposentadoria ou a mulher com mais idade casada ) o máximo por seus dólares gastos em benefícios.


Cerca de quarenta por cento do mercado de trabalho americano do futuro provavelmente corresponderá a trabalhadores em tempo parcial: pessoas com mais idade que passaram da idade tradicional de aposentadoria, mulheres casadas e pessoas mais jovens ainda na escola ou na faculdade. Há um total despreparo para isto ( na verdade, totalmente inconscientes a este respeito ). Para quase todas as pessoas, o mercado de trabalho ainda significa adultos do gênero masculino trabalhando em tempo integral. na verdade, estes representam não muito mais do que um terço do mercado de trabalho ( com aproximadamente vinte e cinco por cento de mulheres adultas trabalhando em tempo integral ).


Não são apenas os empregadores e os sindicatos que estão aprisionados na realidade de cem anos atrás. Os números de emprego e desemprego são igualmente obsoletos, na medida em que não refletem a grande mudança do mercado de trabalho em que um grupo muito grane ( talvez proporcionalmente o maior grupo ) será de pessoas em tempo parcial, muitos tendo à sua disposição um apoio econômico além da renda de seu próprio trabalho, seja vindo d Previdência Social, da aposentadoria, do salário ou rendimento do cônjuge ou do apoio dos pais. Nem mesmo é sabido o tamanho do mercado de trabalho; há uma contagem de pessoas, mas nenhuma maneira de traduzir estes números em postos de trabalho em tempo integral que possam ser preenchidos. De forma semelhante, há um número total para pessoas potencialmente disponíveis para algum trabalho ( o chamado número de desempregados ), mas não há a menor ideia de quantos postos de trabalho os desempregados poderiam ocupar, pois não é sabido quantos poderiam trabalhar em tempo integral e quantos em tempo parcial. Não foi conseguido nem mesmo imaginar hoje a quantidade de produção adicional que está sendo perdida por conta do desemprego; todos os números amplamente divulgados sobre perda sofrida pela falta de pleno emprego se baseiam na suposição insustentável de que todos os apontados coo disponíveis para trabalhar e, portanto, como desempregados , estão disponíveis para quarenta e quatro horas semanais. Além disto, não é possível nem mesmo imaginar hoje a dificuldade econômica causada pelo desemprego porque não estão disponíveis informações em relação a outras fontes de renda á disposição de pessoas que poderiam ter empregos em tempo parcial se disponíveis, como, por exemplo, o pagamento de aposentadoria, o salario do cônjuge, o apoio dos pais ou os benefícios da Previdência Social e do seguro-desemprego.


Esta recusa em aceitar que o trabalhador em tempo parcial, especialmente o com mais idade, se tornou um elemento importante no mercado de trabalho americano já distorce grosseiramente a percepção e a política econômica. isto explica, por exemplo, por que os sindicatos trabalhistas e os economistas liberais falam de recorde de desemprego, muito embora o verdadeiro registro dos últimos anos seja o do número e proporção de adultos trabalhando, em tempo integral e em tempo parcial. Isto também explica por que, apesar da maioria liberal no Congresso Nacional ( CN ) dos EUA, não foram promulgadas políticas importantes destinadas a aumentar o nível de atividade econômica; com uma percentagem muito elevada ( embora desconhecida ) de desempregados disponíveis apenas para trabalhos em tempo parcial, há pouca pressão para se colocarem em prática políticas contra a depressão.


A recusa de encarar o contínuo aumento dos empregados em tempo parcial, portanto, já prejudica a formulação de políticas. Isto se tornará uma fonte de erros importantes se as pessoas com mais idade continuarem trabalhando em grande quantidade, como são obrigadas a fazer agora que a aposentadoria em idade fixa está rapidamente desaparecendo. Os empregadores e os sindicatos trabalhistas, em especial, não podem se dar ao luxo de persistir, acreditando que empregado necessariamente signifique trabalhador em tempo integral ( embora ambos, em geral, estejam convencidos disto ).


4) Atualmente, os trabalhadores são incentivados a permanecer no emprego ou a se aposentar. No futuro, haverá cada vez mais a facilidade de a entrada e a saída das pessoas do mercado de trabalho. As mulheres, por exemplo, costumam ter um emprego em tempo integral até a chegada do primeiro filho. Depois, normalmente saem do trabalho ( exceto em caso de divórcio ) até seu filho mais jovem atingir a idade de oito a nove anos. Em seguida, a maioria volta a trabalhar, só que em tempo parcial. No entanto, as pessoas que passam da idade tradicional de se aposentar estarão dispostas a ser trabalhadores que entram e saem do mercado. Elas, efetivamente, têm uma pensão à sua disposição. Ao mesmo tempo, muitas delas ( quase a maioria, talvez ) estarão dispostas a trabalhar. Atualmente, o empregado que se aposenta ( por exemplo, muito cedo ) encontra muita dificuldade para retornar ao mercado de trabalho. Os empregadores , em geral, não os querem; eles custam demais em contribuições. Pois, sob o atual sistema, os empregadores não podem distinguir empregados dependentes do plano de pensão e precisam, no máximo, de um direito de pensão complementar. A Previdência social desestimula as pessoas a trabalharem em qualquer idade quando passam a ter direito, inclusive , a benefícios reduzidos da Previdência Social. Esta é uma área que precisa de um novo pensamento, sob pena de a economia ficar sobrecarregada com os altos custos de benefícios que não beneficiam ninguém.


Especificamente, há de se pensar na Previdência Social. O sistema atual de Previdência Social foi estabelecido durante a Grande Depressão de mil novecentos e trinta e cinco, com o objetivo expresso de tirar o máximo possível de pessoas do mercado de trabalho. Cada vez mais, nos próximos anos, será preciso uma política oposta ( uma que incentive as pessoas a permaneceram trabalhando ). No momento, qualquer pessoa que ganhe menos do que a renda média  ( isto é, menos de quatorze mil dólares por família ) tem forte incentivo para parar de trabalhar quando alcança a idade em que tem direito ao pagamento integral da aposentadoria pela Previdência Social, ou seja sessenta e cinco anos. O rendimento pela Previdência Social é isento de impostos. O Medicare praticamente não tem custos ( nem impostos, é claro ), e os indivíduos cada vez mais têm á sua disposição alguma pensão paga pelo empregador - e boa parte dela também isenta de tributação. Se o empregados mais com mais idade, com baixa renda, recebe o valor bruto de cinquenta a sessenta por cento de seu salário atual na forma de Previdência Social e pensão ( e a Previdência Social normalmente lhe dá cinquenta por cento para começar ), atualmente está sendo penalizado se trabalhar e, na verdade, acaba perdendo renda.


É preciso uma política que incentive as pessoas a permanecer no emprego e a permanecer economicamente ativas ( o que também significa gerar menor arrecadação de impostos para o governo ). Esta política não pode penalizar a aposentadoria - no mínimo, por não ser politicamente aceitável. Na verdade, já se está a meio caminho desta política; e bem avançados. As pessoas com direito à Previdência Social obtêm agora cheques mais polpudos quando adiam a solicitação de pensão por aposentadoria. Entretanto, ainda é aplicada uma penalidade pesada para o trabalho entre as idades de sessenta e cinco e setenta e dois anos. todos que se encontram nesta faixa etária e ganham renda além de um pequeno valor perdem todos, ou quase todos, os benefícios da Previdência Social, embora tenham pago integralmente por eles. E ainda, claro, desconta imposto sobre a renda de qualquer natureza ( IR ) sobre o rendimento recebido. De fato, a menos que esta pensão seja bastante elevada ( mais de vinte mil dólares por ano ), seus ganhos pelo trabalho são, na verdade, tributados a uma taxa de cem por cento. Previsivelmente, esta situação não durará. A expectativa de Peter Ferdinand Drucker, na época, era que isto viesse a mudar antes da década de oitenta.


5) Os mais difíceis, mas também os mais importantes, problemas por que passa a aposentadoria em idade fixa se encontram no setor público. Os planos de pensão do setor privado têm problemas porque as pessoas vivem muito mais que o esperado ( mesmo há cinquenta anos ) e por causa da inflação. Entretanto, os planos de pensão do setor público, especialmente os estaduais e municipais, são ma bagunça e estão falidos. É razoavelmente certo que os empregados do setor público enfrentarão cortes acentuados naquilo que povo percebe cada vez mais como pensões exorbitantes. Drucker esperava, já naquela época, por exemplo, leis restringindo os funcionários do governo de receberem após a aposentadoria o rendimento ( ajustado pelos tributos ) da ativa. Atualmente, uma parcela substancial dos funcionários públicos aposentados ( ou inativos ) recebe rendimentos ( após o pagamento de tributos ) superiores aos salários recebidos quanto trabalhavam. Isto será considerado cada vez mais injusto e também cada vez mais incompatível com a sobrevivência dos Estados e Municípios e com sua viabilidade financeira.


Ao mesmo tempo, são impostas penalidades severas e injustas ao funcionário do serviço público. Os empregados do setor privado têm suas pensões garantidas legalmente após um máximo de dez anos de serviço, ou seja, após este período, possuem uma conta em seu nome com direitos de pensão definidos e assegurados após alcançarem a idade mínima para resgate. Os funcionários do setor público, principalmente os estaduais e municipais, não contam com esta garantia legal. Em geral, eles não possuem direito de pensão algum, a meso que tenham trabalhado para um empregador específico ( um Município ou um Estado ) por vinte anos. Depois deste período, têm direito a uma pensão muito grande sobre a aposentadoria antecipada. As pensões muito grandes para as aposentadorias antecipadas correspondem, com grande medida, a uma forma de distribuição de renda invertida. Elas tiram dinheiro dos pobres e dão para os ricos. Tipicamente, o capitão de polícia em uma grande cidade pede aposentadoria antecipada após vinte anos de serviço e consegue um emprego como chefe de polícia em um dos subúrbios afluentes por uma fração do salário que um subúrbio teria de pagar se ele não tivesse a substancial pensão por aposentadoria antecipada de seu primeiro empregador. Com os governos das grandes cidades e Estados se tornando cada vez mais insolventes sob a pressão do pagamento de pensões inadequadamente financiadas ou sem fundos, a pensão por aposentadoria antecipada ficará sob crescente ataque e não poderá ser defendida.


Ao mesmo tempo, será necessário um aprendizado acerca de garantia de pensões do serviço público da mesma maneira que agora há garantia de pensões do setor privado. Além disto, haverá de ser fazer um enfrentamento no setor público dos mesmos problemas enfrentados no setor privado de pensar em critérios para a aposentadoria, em direitos e benefícios das pessoas que continuam trabalhando após a idade tradicional de aposentadoria, no emprego em tempo parcial, no trabalhador com mais idade que sai e entra no mercado de trabalho e assim por diante. Outras informações podem ser obtidas no livro Rumo à nova economia, de autoria de Peter F. Drucker.


Mais em:


https://administradores.com.br/artigos/previd%C3%AAncia-social-a-aposentadoria-de-quem-entra-para-a-inatividade-mas-continua-ativo .    

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Conselho de administração: um lugar para pessoas eficazes e independentes

O Anúncio intitulado " Procura-se ajuda", abaixo,


"Procura-se ajuda

Grande corporação multibilionária procura membro profissional para o conselho de diretoria. Possuímos um plano de fortalecimento da função convertendo o trabalho de carimbador de decisões para o de uma ativa formulação de políticas. Requer de quarenta a cinquenta dias por ano de trabalho intenso. Salário elevado. Rara oportunidade. Presidentes de corporação e advogados não precisam se candidatar."


é o tipo de  comunicado que Peter Ferdinand Drucker dizia gostar de fazer a um candidato prospectivo para ocupar um assento no conselho de diretoria. Drucker dizia que não buscava apenas sangue novo, mas que redesenharia todo o conselho, pois, quando esta estrutura foi criada, centenas de anos antes, ninguém imaginou o mundo em que ela atualmente funciona ( e funciona mal ).


Em todo o mundo ocidental, os conselhos de diretoria estão sob ataque e estão sendo mudados. Nos países da lei germânica ( Alemanha, Holanda, Áustria e países escandinavos - Suécia, Noruega, Dinamarca e Islândia ), existe a codeterminação, ou seja, uma representação do sindicato trabalhista nos conselhos de administração. Na Suécia, o governo indica representantes públicos nos conselhos das grandes companhias. Nos Estados Unidos da América ( EUA ), um número crescente de grandes companhias coloca representantes de vários grupos minoritários ( negros, mulheres ou consumidores ) em seus conselhos. Cada vez mais, eles elegem membros políticos para representar o interesse público.


Estas mudanças não estão de forma alguma confinadas a conselhos de empresas. Talvez exista uma pressão ainda maior por mudanças nos conselhos convencionais de universidades, hospitais e sociedades profissionais. Um dos primeiros atos de Jerry Brows, quando eleito governador do Estado da Califórnia ( EUA ), foi colocar um representante dos estudantes no Conselho de regentes da University of Califórnia. Na America Medical Association, uma das maiores lutas em anos recentes centrou-se na demanda de médicos jovens para o treinamento de estagiários e residentes para sua representação no conselho da Associação Médica Americana ( AMA ) uma luta que, no final, venceram ). Agora estão pressionando pela participação nos conselhos de hospitais.


Todas estas pressões admitem que o conselho tem importância. Elas admitem que o conselho de diretores ou ou de curadores, seja de uma empresa, uma universidade ou de uma instituição de serviços, é verdadeiramente o órgão diretivo.


No entanto, há poucas evidências apoiando este pressuposto. Pelo contrário, anos de experiência indicam que o conselho se tornou um roi fainéant ( expressão francesa que significa rei ocioso ), um cerimonial impotente e uma ficção jurídica. Ele certamente não conduz os assuntos da empresa, nem em seu país nem na Europa. A vida no conselho não é interessante nem emocionante. Na verdade, é maçante. Os membros do conselho estão com mais frequência entediados pela rotina do que estimulados pela manipulação das alavancas do poder.


Em cada grande catástrofe empresarial dos últimos oitenta ou noventa anos, desde o colapso do Austrian Credit Anstalt em 1931, que forçou a Grã-Bretanha a abandonar o padrão-ouro e desencadeou o colapso do sistema bancário americano, até as falências mais recentes como as da ferrovia Penn Central e a Franklin National Bank, os membros do conselho foram aparentemente as últimas pessoas a serem informadas de que alguma coisa estava errada. De forma semelhante, na revolta estudantil do final dos anos sessenta, os conselhos das universidades foram pegos completamente de surpresa, sem a menor ideia de que um problema estava se formando. Os conselhos dos hospitais ( que, e acordo com a lei, são donos do hospital, têm todo o poder e tomam todas as decisões ) raramente se envolvem nas discussões sobre os custos, o controle e a política dos hospitais.


Além disto, os conselhos estavam totalmente desinformados e impotentes nos escândalos sobre suborno de empresas. O fato de a Lockheed estar distribuindo subornos, mal disfarçados de comissões, era um segredo conhecido muito antes de chegar às manchetes em mil novecentos e setenta e cinco e mil novecentos e setenta e seis. As únicas pessoas importantes que aparentemente não sabiam a este respeito eram os diretores da Lockheed. Os mesmos desconhecimento e impotência ficaram demonstrados pelos conselhos da Northrop e Gulf Oil nos escândalos de suborno daquelas empresas. Os administradores claramente não viram motivo para informar a seus conselhos e os conselhos não viram motivo para perguntar ( e não teriam recebido resposta se o tivessem feito ).


Alguns membros dos conselho, cientes de sua falta de poder, começaram a reclamar dizendo não ter alguma função e que ficam ocupados com trivialidades, mesmo quando querem fazer um trabalho sério. Drucker, por exemplo, participou por seis anos do conselho de uma universidade de Nova Jérsei que vinha apresentando elevado crescimento. Os membros do conselho estavam genuinamente interessados na universidade. Muitos tinham experiência considerável em ensino, pesquisa e administração. Outros haviam ocupado cargos políticos significativos. O conselho se reuniu pelo menos uma vez por mês, por volta das dezessete horas, e normalmente ficava trabalhando até meia-noite. No entanto, raramente chagava-se aos assuntos considerados mais importantes pelos membros do conselho: políticas educacionais; dirigir a faculdade; ou o relacionamento entre administração, alunos e professores.


Em vez disto, o tempo era tomado por discussões sobre licença-maternidade para professoras de espanhol, isenção de taxas para estudantes estrangeiros, promoções de pessoas sobre as quais nunca ouviu-se falar, ou aquisição de um terreno para construção do novo estacionamento. Em geral, havia a tentativa de discussão os assuntos que sabidamente eram mais importantes, questões em que também Drucker considerava competentes. No entanto, toda vez os membros do conselho eram duramente lembrados pela representante do Conselho Estadual de Ensino Superior ( que participava de toda reunião ) que a lei estadual os restringia às trivialidades tediosas. Porém, ela também dizia que a lei estadual legislava sobre licença-maternidade, promoções e estacionamentos; assim, eles seriam aprovados independentemente de como o conselho votasse.


A mesma situação existe mesmo em grandes empresas. As reuniões do conselho raramente vão além de trivialidades semelhantes: aprovação de um conjunto de promoções já tornadas fato consumado; aprovação de orçamentos de curto prazo que poucos membros do conselho conseguiam entender; aprovação dos resultados operacionais dos últimos meses, quando já haviam virado coisa do passado; ou debates animados sobre o direito de um gerente de filial de assinar cheques.


Muitos membros de conselho que Drucker chegou a conhecer tinham as próprias histórias de frustração, confusão ou perda de tempo. Muitos já não estavam mais dispostos ( incluindo Drucker à época ) a atuar em conselhos, pois não acreditavam que podiam dar alguma contribuição naquelas circunstâncias.


Se for para os conselhos funcionarem com um propósito sério, algumas mudanças importantes se fazem necessária. Apenas mudar os participantes não tornará o conselho mais eficaz. Por exemplo, os gestores da indústria alemã veemente se posiciona contra a extensão da codeterminação. No entanto, todo administrador alemão com quem Drucker dizia ter conversado teria afirmado que a codeterminação não fez alguma diferença, seja na forma como o conselho funciona ( ou melhor, não funciona ), seja na forma como ele dirige sua empresa. De forma semelhante, o conjunto de membros do conselho representando grupos minoritários ou mulheres ( ou consumidores ) nos conselhos americanos não representou qualquer diferença observável na maneira como as empresas vinham sendo dirigidas já naquela época.


A crise dos conselhos não é um problema de pessoas certas, como as discussões atuais tacitamente concluem. Sempre que uma instituição funciona mal na forma tão consistente quanto os conselhos de diretores funcionaram em quase todo grande fiasco empresarial dos últimos oitenta ou noventa anos, é inútil culpar os homens. É a instituição que funciona mal. As grandes organizações complexas ( sejam empresas, universidades ou hospitais ) mudaram tanto que o conselho tradicional, previsto pela lei e pelos costumes, não funciona mais e não pode mais funcionar.


As normas para os conselhos na lei corporativa dos EUA, bem como na Europa Ocidental, foram escritas em meados do século dezenove. Elas supõem uma empresa que é pequena e regional, se não local. Ela possui um ou dois produtos. É possuída por um número muito pequeno de indivíduos, tanto por pessoas que as fundaram quanto por sues descendentes. Por sua vez, a participação na empresa é a principal, se não a única, propriedade destas pessoas ou de suas famílias. Assim, elas têm forte interesse no desempenho e sucesso da empresa. Nesta situação, o conselho pode ser aquilo que a lei espera que ele seja, isto é, conhecedor próximo dos assuntos da empresa. Além disto, ele pode definir o direcionamento da gestão.


No entanto, esta é uma instituição bastante diferente da corporação multinacional, com multiplicidade de mercados, produtos e tecnologias; com fábricas em vinte países, laboratórios de pesquisa em cinco países e equipes de vendas em sessenta países; com uma estrutura administrativa complexa, e com seu controle acionário ( como em todas as grandes empresas de capital aberto americanas ) nas mãos de procuradores, e não de proprietários.


O conselho da universidade retroage à pequena faculdade pertencente a um grupo religioso e foi originalmente concebido para ligar a congregação protestante à sua própria instituição educacional. Comparando isto com as grandes universidades de hoje, com seus vinte e cinco mil alunos, quatro mil professores e oito mil outros empregados; suas seis camadas hierárquicas de vice-presidentes, diretores e presidentes; suas quarenta escolas e grandes departamentos; e seu orçamento de cem milhões de dólares. o conselho do passado se transforma em uma piada velha.


O conselho do hospital ainda reflete o tempo ( há pouco mais de um século ) em que o hospital era principalmente um lugar para o pobre morrer com o mínimo de decência. Naquela época, fazia sentido um conselho de hospital encarregado pela solicitação de doações de caridade da comunidade. Atualmente, o hospital é o centro de assistência médica e de avançada tecnologia médica da comunidade. É também a mais complexa instituição humana das redondezas, com uma profusão de serviços e profissões de assistência médica com que ninguém jamais sonhou há noventa anos. Quase toda a receita vem do pagamento de terceiros: do governo, da Blue Cross ou de seguro-saúde privado ( e vez de caridade ou pagamento direto de pacientes ). Um conselho composto por cidadãos locais bem-intencionados dispostos a emprestar seus nomes nos esforços de levantamento de fundos dificilmente poderia ser apropriado.


Certamente, o conselho não consegue fazer aquilo que a lei diz que ele deveria fazer, ou seja, administrar. Administrar qualquer uma das instituições complexas de hoje é um trabalho em tempo integral, e não para amadores, mesmo bem-intencionados, ágeis e experientes na direção de suas próprias instituições.


Mas onde isto deixa o conselho? Ele possui alguma função, ou é obsoleto?


Suas pessoas completamente diferentes, como John D. Rockfeller, pai do Standart Oil Trust, que pertence á história e ao folclore americano, e Franklin D. Roosevelt, pai do New Deal, consideravam os conselhos tradicionais puro excesso de peso. Ambos tentaram eliminá-los. Rockfeller precisou ter um conselho para sua companhia ( a lei assim o exigia ). Mas ele contornou a lei criando o conselho interno de executivos da companhia que se reunia cerca de uma vez por semana, mas que eram gestores da empresa no restante do tempo. Franklin D. Roosevelt, quando estabeleceu a Tennessee Valley Authority ( TVA ), vetou um conselho externo de diretores em tempo parcial. Em vez disto, deu ara a TVA o tipo de conselho interno no estilo Rockfeller de gestores em tempo integral. Ambos utilizaram os mesmos argumentos: "Existe um trabalho gerencial a ser feito. Isto requer trabalho em tempo integral e concentração exclusiva nos assuntos da empresa. Não se qualificam pessoas de fora em tempo parcial.".


Muitos executivos argumentaram que a única função do conselho atual é aquela que a Constituição americana determina para o vice-presidente: ficar sem um trabalho real até que haja uma crise de sucessão. Os conselhos modernos tendem a entrar em ação somente quando a gestão entra em colapso, seja pela morte do dirigente ou por seu absoluto fracasso.


Apesar do apêndice anacrônico em que muitos conselhos se transformaram, existe a necessidade de um conselho externo verdadeiramente eficaz e independente para as instituições grandes e complexas, sejam elas empresas privadas ou de serviço público. A necessidade não está principalmente ancorada no interesse público ou no desejo de tornar os conselhos democráticos. A necessidade não está principalmente ancorada no interesse público ou no desejo de tornar os conselhos democráticos. A necessidade é, acima de tudo, a da própria instituição: ela não pode funcionar bem em toda a sua complexidade a menos que conte com um conselho eficaz.


Se for necessária alguma prova disto, os escândalos de suborno de anos recentes 9 por exemplo, Lockheed ) as fornecem. Ali não era uma gestão pilhando uma empresa: pelo contrário, aquilo que a gestão fez foi pelos interesses da companhia e de seus empregados; e com respeito às vendas de aviões militares, até mesmo pelo interesse do país, de sua política externa e por seu balanço de pagamentos. Nenhuma lei conseguiria ter evitado estas ações. No entanto, qualquer pessoa de fora com objetividade teria visto, quase de imediato, que estes subornos eram grosseiramente antiéticos e irresponsáveis ( e que iriam, inevitavelmente, em u prazo não muito longo, prejudicar a companhia, ou até mesmo destruí-la ). Este tipo de irresponsabilidade ( e a irresponsabilidade bem-intencionada é o pior tipo ) somente um conselho externo poderia evitar.


Existem seis funções essenciais das quais somente um conselho eficaz pode se encarregar.


Em primeiro lugar, as instituições precisam de uma gestão forte e competente. Somente um conselho forte, eficaz e independente pode assegurar competência administrativa. Um conselho forte é necessário para remover uma alta administrativa que não seja totalmente competente. E somente um conselho forte pode forçar os dirigentes a fazerem planos adequados para preparar, treinar e testar sucessores para a alta administração.


A sociedade depende demais das instituições grandes e complexas para largar a alta administração à sua sorte. Hoje, no entanto, especialmente nas grandes companhias de capital aberto, o CEO, uma vez instalado, só pode ser removido através de um desastre ou de trombose das coronárias. é raro o conselho que ouse remover um presidente que serja meramente incompetente, quanto mais um que seja medíocre. No entanto, todas as partes interessadas das instituições importantes ( sejam elas acionistas, empregados, clientes ou contribuintes ) precisam ter uma razoável certeza de que a gestão de fato presta contas para um órgão independentemente de supervisão, auditora e controle, isto é, para um conselho genuíno.


Em segundo lugar, é necessário haver um órgão independente para garantir que perguntas cruciais sejam feitas: Qual é o negócio da organização e qual deveria ser? Qual é a missão? quais são os resultados válidos neste empreendimento? Quem é o público e quem são as partes interessadas na organização, e o que podem legitimamente esperar desta instituição? Quais são as principais correntes para o futuro? O que deve ser abandonado ou perder ênfase? Que novas coisas são necessárias?


Depois há as questões sobre as necessidades básicas de sobrevivência da instituição. De quanta inovação ela precisa para não se tornar obsoleta? Qual o crescimento mínimo necessário para ela não ficar marginal no mercado? Como distinguir entre crescimento que apresenta força e capacidade de desempenho e crescimento que seja meramente gordura ( como foi boa parte do crescimento dos anos sessenta em todas as instituições )? Ou o crescimento que é, na verdade, uma doença maligna degenerativa? Quanto de lucro é necessário para cobrir o custo de capital, fornecer o prêmio para os riscos do futuro e o capital necessário para os empregos do futuro?


Certamente, só a gestão consegue responder a estas perguntas. Mas alguém precisa garantir que elas estejam sendo feitas e analisadas. Os gestores tendem a adiá-las por um motivo perfeitamente razoável. Afinal, eles precisam primeiro operar os assuntos do dia-a-dia da instituição. e a crise operacional diária é algo previsível em qualquer instituição, especialmente nas grandes e complexas.


Em terceiro lugar, a instituição precisa de uma consciência. Ela precisa de um guardião dos valores morais e humanos e uma corte de apelação contra a tirania e o capricho, ou a igualmente prejudicial indiferença da rotina burocrática. Ela precisa de alguém de fora do trabalho cotidiano e das relações diárias que esteja preocupado com o que a instituição representa, quais são seus valores, o que ela considera certo e errado. Na instituição grande e complexa, o CEO raramente consegue desempenhar este papel, no mínimo porque precisa dar apoio aos associados na gestão, mesmo quando acha que eles estão sendo desleixados, insensíveis ou estão agindo errado. Afinal, o CEO precisa conviver com eles. A função consciência precisa de alguém que possa agir com independência e que tenha condições de ditar regras mesmo contra as pessoas mais valiosas e poderosas na organização. No entanto, no caso da Lockheed e de outros escândalos de subornos, as questões de consciência claramente nunca haviam sido feitas pelos vários conselhos ( da mesma forma que raramente nunca haviam sido feitas pelos vários conselhos ( da mesma forma que raramente são feitas pelos conselhos de hospitais ou universidades ).


Isto requer que os membros dos conselho ser reúnam regularmente com pessoas da organização que não pertençam à alta administração: com a média gerência, os encarregados e representantes sindicais; com professores e alunos; com estagiários, residentes, enfermeiras e pessoal de reabilitação física. Sua principal tarefa nestes encontros é escutar, no mínimo para saber o que está sendo feito corretamente e onde estão os pontos fortes. Principalmente, cabe ao conselho tornar claro, em geral só por sua presença, que alguém se preocupa com os valores, os padrões e a justiça.


Quase todos os executivos recuarão diante desta ideia. reclamarão que esta ação do conselho contornando a administração mina a autoridade da gestão. O perigo realmente existe. No entanto, o conselho mais antigo dos EUA, o Overseers of Harvard, tem sido feito exatamente isto por trezentos e cinquenta anos sem afetar a universidade. A maioria dos trinta membros do Conselho ( cada um deles ex-aluno eleito por todos os graduados ) dedica cerca de quinze dias por ano como membro do Comitê de Visita de uma escola ou departamento. Eles se reúnem com os professores e, com bastante frequência, com estudantes, fazendo uma auditoria no nível e direcionamento do ensino e da pesquisa, ouvindo ideias, propostas e reclamações e depois relatando para todo o Conselho de Overseers e para a administração da universidade. Além de levantar dinheiro, esta é a principal atividade dos Overseers.


Em quarto lugar, a própria gestão necessita de um conselho externo eficaz. Os gestores mais graduados precisam de pessoas com quem possam conversar em confiança, ponderar, pensar em voz alta. Eles precisam de pessoas com quem possam compartilhar suas questões, dúvidas e incertezas. Dentro de uma grande organização, não importando se ela é permissiva ou democrática, as pessoas da alta administração estão, necessariamente, isoladas e rigidamente circunscritas. Qualquer CEO precisa estar com a guarda levantada ao discutir seus pensamentos com os associados ou subordinados. Pois toda grande organização é uma fábrica de boatos, que interpreta bem ou mal até o comentário mais casual feito pelo chefe e o trata como um comando  ou uma decisão.


No entanto, mesmo o CEO mais decidido não consegue chegar a uma decisão sem muitas dúvidas e hesitações, sem pesar as alternativas, sem argumentar consigo mesmo. Um conselho eficaz que entenda a instituição, suas oportunidades e seus problemas ( e que, no entanto, esteja separado dos problemas em si ) não aliviará o CEO da solidão do comando. Mas, sem um conselho genuíno, o pessoal da alta administração fica prisioneiro das próprias posições.


Em quinto lugar, a administração de uma grande instituição precisa de uma janela que abra para o mundo exterior. Inevitavelmente, ela enxerga sua própria instituição como grande e importante, e o restante do mundo como pequeno ( se é que chega a enxergar o restante do mundo ). No entanto,  mente hospitalar, a mente universitária e a mente empresarial, embora inevitável, são tão limitadas quanto a mente militar dos generais. As pessoas da alta administração dentro de organizações grandes e complexas não conseguem chegar facilmente ao mundo real exterior. Portanto, precisam se certificar de que o mundo real consiga chegar até elas. Precisam de canais de percepção externa ( os grandes mestres na construção deles, a propósito, foram dois presidentes americanos - Abraham Lincoln e Franklin D. Roosevelt - que consultavam seus gabinetes de cozinha de pessoas independentes de fora da administração, para constante desgosto e escândalo de seus colegas oficiais de gabinete ).


Finalmente, as grandes instituições precisam ser entendidas pelos que representam as partes interessadas e pela comunidade. nenhuma pessoa de fora realmente entende o que está acontecendo no décimo-quarto andar ou na sala do presidente. Aquilo que parece tão óbvio para quem toma decisão no escritório executivo normalmente não é entendido pelo público de fora, a começar pelas pessoas que ocupam posições de responsabilidade dentro da organização.


Estas funções requerem um conselho bastante diferente daquele que foram herdados do século dezenove. Acima de tudo, os conselhos precisam aceitar a ideia de que possuem responsabilidade e, com ela, o seu próprio trabalho específico. Caso contrário, não conseguirão realizar nada. A primeira prioridade na modernização não é a mudança nos participantes do conselho.


Talvez a coisa mais importante seja aliviar os conselhos da maioria ( em alguns casos, de todas ) das tarefas de que são encarregados atualmente. A maior parte dela é trivial. Se o conselho realmente tiver de discuti-las, o tempo de três horas por ano deve ser suficiente.


Em seguida, vem a tarefa de desenvolver o plano de trabalho apropriado para o conselho: a avaliação sistemática dos executivos e de seu desempenho; a revisão sistemática de planos, políticas e direcionamento; a reflexão sistemática sobre grandes decisões. Não é suficiente, mesmo no caso do conselho mais capaz, reunir-se uma vez por mês com uma agenda preparada pela alta administração e oferecer sua sabedoria e conselhos. O conselho precisa trabalhar. Deve haver objetivos e metas contra os quais o conselho possa medir o próprio desempenho ( algo que praticamente não se ouve hoje ). Nas instituições maiores e mais complexas, o conselho provavelmente precisa de uma pequena equipe própria, da mesma forma que, por exemplo, os comitês do Congresso Nacional ( CN ) dos EUA desenvolveram equipes de apoio.


Quem deve pertencer aos conselhos? A começar, com algumas negativas. A maioria das pessoas que, tradicionalmente, sentam nas reuniões não deveria pertencer de forma alguma aos conselhos. Ninguém que seja fornecedor, tanto de bens quanto de serviços, deveria se sentar no conselho de uma instituição pela qual esperam ser pagos. Isto exclui o advogado, o banqueiro, o corretor e o consultor. Todos eles possuem possíveis conflitos de interesses entre seu papel como fornecedores e sua participação no conselho. a regra de orientação deve ser aquela do contador público, cujo cânone ético o proíbe de servir de qualquer companhia em que ele possa via a fazer auditoria.


Funcionários aposentados de uma companhia não pertencem ao conselho. Se sua experiência e orientação forem para ter um uso produtivo ( e isto, em geral, é altamente desejável ), deve-se adorar a prática japonesa e retê-los como consultores. No entanto, a pessoa não pode se aposentar e ainda supervisionar seu sucessor.


Até mesmo os membros do conselho mais fortemente procurados ( o presidente de uma companhia de mesmo porte, mas em outro campo de atividade ) não têm de estar em algum conselho. Dirigir uma companhia, ainda que de porte médio, é uma atividade que exige demais para liberar tempo para o trabalho sistemático que a participação em um conselho exige. Existe muito a ser feito para querer um membro de conselho ( não importa ao quão capaz ele seja ) que participe de uma grande quantidade deles - Hermann Abs, por exemplo, ex-chefe do maior banco da Alemanha, participava de cerca de cento e cinquenta conselhos de empresas ao mesmo tempo.


Já a definição de quem deveria efetivamente participar de um conselho é bem menos clara. Um motivo é que o mesmo conselho precisa de dois tipos deferentes de pessoas.


O primeiro tipo é o de representantes dos diversos grupos de interesse - investidores, empregados, clientes e outros grupos da comunidade. Estas pessoas são necessárias não porque as instituições devam representar a sociedade. A instituição precisa deles para trazer o mundo exterior para dentro dos campos de visão e de percepção isolados da administração, e também para facilitar a comunicação com um público cada vez mais fragmentado.


Tanto as políticas de codeterminação europeias quanto as tentativas bem mais pragmáticas dos americanos de trazer grupos de interesse para participar do conselho abordam um problema genuíno. Dos dois, talvez a abordagem americana faça mais sentido, apesar de toda a sua improvisação desajeitada. Ela reconhece que a instituição moderna possui uma grande quantidade de grupos de interesse distintos. A codeterminação, por outro lado, sujeita todos os grupos e interesses na comunidade e na economia ao interesse do produtos, representado pelo interesse dos investidores e empregados. Peter Ferdinand Drucker dizia acreditar que isto é bem mais um cartel de produtores direcionado contra o consumidor do que a democracia industrial que pretende ser.


O curioso é que, na maioria das discussões sobre representação de grupos de interesse, o maior, mais importante e menos representado raramente é mencionado. Isto é, os novos proprietários das grandes empresas dos EUA, os fundos de pensão dos assalariados do país. A retórica populista acusa os atuais conselhos de corporações de representarem somente os acionistas e de negligenciar os outros interesses da sociedade. No entanto, na típica corporação americana, o maior acionista não está representado raramente está representado.

Atualmente, os fundos de pensão possuem cerca de trinta por cento do capital das corporações listadas em Bolsa e provavelmente ainda mais do capital próprio das mil maiores. Isto já é suficiente para lhes dar o controle efetivo. Dentro de poucos anos, apenas pelo resultado da Lei de Reforma Previdenciária, eles acabarão possuindo cinquenta por cento ou mais. Mas o fundo, embora legalmente um proprietário, é um investidor. As pessoas que o dirigem são curadores. Eles não querem nem estão autorizados a sentar em um conselho; fazer isto seria uma violação de sua responsabilidade fiduciária. Seu dever é vender uma ação o mais rápido possível se não gostarem de uma companhia, de suas perspectivas ou da maneira como estiverem sendo administradas.


Porém, quem representa os proprietários, ou seja, os empregados da nação e seus fundos de pensão? E como? Este é um dos problemas mais importantes e mais difíceis que são enfrentados em relação à composição de conselhos de grandes empresas.


Não importa quais grupos de interesse são considerados com direito à representação no conselho, os membros que os representam serão essencialmente consultores, em vez de tomadores de decisão. Pois eles possuem um conflito de interesses e de lealdades inerente entre o dever como membros do conselho ( isto é, seu dever para com a instituição ) e sua responsabilidade junto aos grupos de interesse.


Uma ilustração. O CEO da Volkswagen da Alemanha ( empresa que passava por sérias dificuldades, há anos ) foi forçado a sair da companhia pelos membros dos sindicatos de seu conselho por haver proposto a construção de uma linha de montagem nos EUA. Os membros dos sindicatos concordavam que o mercado americano era o único bom mercado que havia sobrado para o Fusca, que embora obsoleto e quase invendável na Europa, ainda era, na época, o esteio da Volkswagen. os membros dos sindicatos também concordavam que os custos alemães haviam aumentado tanto que as exportações da Volkswagen não conseguiram competir nos EUA, ou somente por preços bem abaixo dos custos. No entanto, estes mesmos membros dos sindicatos disseram que não poderiam votar pelo melhor interesse da companhia, ainda que a sobrevivência em longo prazo da empresa estivesse em jogo. Em vez disto, teriam de votar de acordo com os interesses imediatos dos trabalhadores da Volkswagen e, portanto, se opor à exportação de empregos. Passados dez anos, mesmo os membros dos sindicatos do conselho da Volkswagen tiveram de aceitar a necessidade de uma fábrica nos EUA. Mas naquela época, a Volkswagen já havia perdido boa parte de seu mercado norte-americano. se vão conseguir retomar este mercado construindo uma linha de montagem com dez anos de atraso, é algo para ser comprovado; pois o mercado que a visão curta dos sindicatos perdeu para a Volkswagen foi ocupado pelos japoneses.


Nos EUA, alguns dos negros que foram eleitos para os conselhos de companhias enxergam seu papel como representantes da comunidade negra dentro e fora da companhia. Outros dizem que ser negro não tem nada a ver com sua atuação como diretor; eles consideram o interesse da companhia primordial. Mas Peter Ferdinand Drucker dizia, já naquela época, ter conhecido pessoalmente vários jovens negros muito competentes que, de forma categórica, se recusam a participar dos conselhos. Eles não viam isto como um modo de resolver o conflito ainda existente naquela época.


Os representantes de grupos de interesse que chegam mais perto da compreensão do problema são os conselhos suecos - ideologicamente, a propósito, os mais à esquerda de qualquer um dos participantes da nova geração entre os membros de um conselho. Quando foi aprovada a lei colocando seus representantes nos conselhos de companhias suecas, os sindicatos organizaram uma escola para diretores de companhia com um corpo docente composto por banqueiros, presidentes de companhias e diretores de companhias da Suécia. Os membros, explicou na época um de seus líderes, precisam aprender a servir de cujo conselho participam, atuando como consultores especializados, em vez de continuarem porta-vozes dos trabalhadores; caso contrário, perderão de imediato toda a integridade o verdadeiro órgão diretor.


Nas instituições maiores e mais complexas, estes membros precisarão dedicar bastante tempo e trabalho para seus conselhos. No mínimo, esta dedicação poderia ser de quatro a cinco dias por mês ( de quarenta a cinquenta dias por ano ). Em outras palavras, a tarefa requer vários membros profissionais em cada conselho. Cada profissional só poderia participar de um número bem pequeno de instituições. Devem ser eleitos por um período suficientemente longo para se familiarizar com a instituição; talvez de cinco anos ou seis anos. Provavelmente não deverão ter direito à reeleição imediata, para não ficarem presos à gestão. Devem ser bem pagos. Um membro profissional do conselho deve ganhar por suas quatro ou cinco participações em conselhos tanto quanto um executivo sênior posicionado na alta gerência.


Tais membros profissionais de conselhos ainda são bastante raros. Mas os dias de amadorismo estão claramente chegando a fim. Tanto a Comissão de Valores Mobiliários ( CVM do Brasil ou SEC dos EUA ) quanto os tribunais estão endurecendo as responsabilidades dos diretores, a ponto de ficar bastante arriscado participar de um conselho, exceto como uma tarefa séria e dedicada.


A participação no conselho costumava ser uma espécie de honra; normalmente não remunerada, mas um sinal de distinção. Os conselhos costumavam ser lugares acolhedores em que as pessoas se reuniam uma vez por mês por algumas horas e apoiavam as propostas da gestão. A mudança destes conselhos não é uma tarefa a ser feira principalmente pela lei ou pela alteração de seus participantes. É algo muito maior: mudar as tarefas e o trabalho do conselho pelo bem da própria instituição. Trata-se principalmente de um desafio para a alta administração. Pois o próprio funcionamento e legitimidade da gestão dependerão cada vez mais de um conselho independente e eficaz. Outras informações podem ser obtidas no livro Rumo à nova economia, de autoria de Peter F. Drucker.


Mais em:


https://administradores.com.br/artigos/conselho-de-administra%C3%A7%C3%A3o-um-lugar-para-pessoas-eficazes-e-independentes .

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Previdência social: a demografia, o déficit, a reforma e o impacto sobre a inflação

Nenhuma previsão de Peter Ferdinand Drucker foi recebida com maior desprezo do que a que fez na primavera de mil novecentos e setenta e seis dizendo que, em mais de dez anos, isto é, em meados de mil novecentos e oitenta, a idade obrigatória para aposentadoria seria empurrada para além dos sessenta e cinco anos de idade e a aposentadoria obrigatória em qualquer idade fixa seria completamente abolida. Sua previsão foi publicada pela primeira vez em O futuro dos negócios, editado para a Georgetown University por Max Ways ( Nova Iorque: Pergamon Press, em mil novecentos e setenta e oito.


Na época, acreditava-se quase universalmente que a aposentadoria iria logo se tornar obrigatória em uma idade inferior a sessenta e cinco anos, pois os sindicatos trabalhistas defendiam firmemente uma aposentadoria compulsória mais cedo: com a idade de sessenta anos ou, no máximo, sessenta e dois anos.


No entanto, passados mais de quinze meses da publicação daquele livro, a aposentadoria obrigatória foi banida noa maior Estado dos Estados Unidos da América ( EUA ), a Califórnia. Ao mesmo tempo, o Congresso Nacional ( CN ) dos EUA se movimentava para aumentar a idade para setenta anos. Hoje, é praticamente certo que a aposentadoria obrigatória em qualquer idade fixa está desaparecendo e será eliminada em todos os EUA. Esta mudança incrível, uma virada de cento e oitenta graus nas políticas nacionais, foi realizada apesar da forte oposição de todos os interesse: sindicatos trabalhistas, empresas, governo e academia.


Embora a mudança de políticas tenha chegado subitamente, suas causas ( demográficas, econômicas e políticas ) vinham sendo construídas havia muitos anos. O novo direcionamento da política poderia ter sido previsto havia vinte anos, em função das tendências registradas em estatísticas amplamente conhecidas. Pelo fato de as implicações políticas destas tendências não terem sido analisadas pelo governo, empresas, sindicatos, mídia ou academia, os EUA estão agora mal preparados para fazer os grandes ajustes que as novas políticas exigirão. A nação continuou a ver as questões de apolítica de aposentadoria ( e as questões mais visíveis de desemprego ) com uma mentalidade moldada pela Depressão. A atitude mental e emocional era tão rígida que os líderes da opinião pública americana puderam ignorar as amplas mudanças desde os anos quarenta. Nunca houve um exemplo melhor da necessidade de se examinarem as tendências com uma visão voltada para o futuro e enfrentando os problemas do futuro.


A presente mudança na política de aposentadoria é apenas ma( e não necessariamente a mais importante ) de todo um conjunto de mudanças que precisarão ser feitas ao longo da próxima década na forma como a sociedade olha e lida coma questão central dos empregos. Será necessário aprender que o desemprego, a palavra que dominou a discussão política por quarenta anos, não é mais a questão central. A economia precisa e pode absorver mais trabalhadores do que tem feito agora 9 desde que a estrutura da política pública e privada seja alterada para atender às condições reais do mercado de trabalho dos EUA ). Uma breve análise do que aconteceu com a aposentadoria compulsória a uma idade fixa permitirá um vislumbre da mudança mais ampla ( e dos problemas ) que há pela frente.


Politicamente, a demanda por uma idade de aposentadoria menos rígida se tornou irresistível por causa do crescente poder dos americanos mais velhos. As pessoas com mais de sessenta e cinco anos de idade correspondem à minoria com crescimento mais rápido ( e, de fato, a única minoria em rápido crescimento ). Eles são agora mais de dez por cento da população e serão quatorze por cento ou mais em dez anos. Entretanto, eles correspondem a uma proporção muito maior da população em idade de trabalho. As pessoas mais velhas se tornarão cada vez mais um grupo de pressão importante e extremamente poderoso que, diferentemente de qualquer outro, atinge todas as linhas políticas tradicionais, sejam econômicas, sociais, regionais, de gênero ou raciais.


A mudança de aposentadoria em uma idade fixa para aposentadoria com idade flexível é inevitável. E também é desejável em termos humanos. A aposentadoria compulsória com idade de sessenta e cinco anos condena á ociosidade e à inutilidade uma grande quantidade de pessoas saudáveis que querem trabalhar, ainda que em tempo parcial. A idade de sessenta e cinco anos como limite obrigatório de aposentadoria nos EUA foi estabelecido há mais de cem anos, quando a expectativa de vida e a expectativa de saúde eram muito menores. O que, na época ( mil novecentos e vinte ), era sessenta e cinco anos, agora corresponde á idade de setenta e cinco anos ou setenta e oito anos para homens e oitenta anos para mulheres. Por outro lado, a pessoa com sessenta e cinco nos hoje desfruta da saúde e da expectativa de vida de alguém com cinquenta e dois ou cinquenta e três anos de idade os idos da década de vinte.


Certamente, uma boa quantidade de pessoas passando dos sessenta anos de idade quer se aposentar, mas uma grande proporção daquelas que se aposentam ( seja quando se aposentam mais cedo ou quando continuam trabalhando até os sessenta e cinco anos de idade ) logo descobre que tudo o que queriam eram longas férias. Entretanto, sob a política tradicional da Previdência Social dos EUA e dos planos de pensão americanos, eles não podem retornar ao trabalho sem penalidades substanciais, se é que chegam a poder. A possibilidade de dar às pessoas a opção de adiar a aposentadoria, atrasando a aposentadoria compulsória ou abolindo-a por completo, foi um ajuste tardio ao grande sucesso do século vinte em ampliar a expectativa de vida e de saúde.


Também em termos econômicos, a aposentadoria postergada e a aposentadoria flexível são altamente desejáveis. Das pessoas nos EUA que agora atingem a idade de aposentadoria, a maioria ( três em cada quatro, ou mais ) tem o antigo ensino fundamental completo ou, no máximo, um ou dois anos do antigo ensino médio. São pessoas que trabalham principalmente como operários de fábricas, empresas de mineração ou prestadoras de serviços. Das pessoas jovens que agora entram na força de trabalho, cerca de metade tem escolaridade superior ao ensino médio e, pelo menos alguma faculdade. Pouquíssimos dos novos participantes no mercado de trabalho estão, portanto, disponíveis para os empregos liberados pelos aposentados. No geral, é enfrentada uma escassez de novos participantes no mercado de trabalho a caminho do momento em que os bebês dos baby boom ( uma referência à explosão populacional dos EUA dos nascidos após a segunda guerra mundial - entre mil novecentos e quarenta e seis e mil novecentos e sessenta e quatro ) estarão todos na força de trabalho ( muitos deles já estão e os novos participantes no mercado de trabalho sairão dos anos dos bebês do baby bust ( período de súbita diminuição da taxa de natalidade nos EUA de mil novecentos e sessenta e um a mil novecentos e oitenta e um ), que tiveram início em mil novecentos e sessenta e cortaram em trinta por cento o número de bebês nascidos. Em cera medida, isto está sendo compensado pela maior participação de mulheres jovens no mercado de trabalho ( agora tão alta quanto a dos homens jovens ). Mas esta mudança já foi consumada. De agora em diante, para os próximos vinte ou quarenta anos, o número de novos participantes no mercado de trabalho diminuirá continuamente e o número de recém-chegados disponíveis para os empregos liberados pelos aposentados será drasticamente reduzido.


A consequência prática mais óbvia desta mudança é que não é possível manter a aposentadoria compulsória na idade de sessenta e cinco anos e financiar as pensões de aposentadoria ( seja através da Previdência Social ou através de pensões privadas ). Em mil novecentos e trinta e cinco, quando a Previdência Social foi estabelecida, havia nove americanos trabalhando para cada americano com mais de sessenta e cinco anos. Em mil novecentos e setenta e sete, esta relação mudou para quatro por um. em mil novecentos e oitenta e cinco, foi de três por um. Além disto, há os sobreviventes, principalmente os viúvos, que eram muito velhos para voltar ao mercado de trabalho quando da morte de seus cônjuges. A taxa de dependentes ( isto é, a relação entre as pessoas no mercado de trabalho e aquelas que recebem aposentadoria ) já chega a três por um; existem noventa e dois milhões de americanos trabalhando e trinta e dois milhões aposentados ou recebendo como dependentes. Em mil novecentos e oitenta e cinco, esta relação caiu para dois vírgula vinte e cinco para um. Esta taxa de dependentes não leva em conta o fato de que uma proporção muito grande ( e crescente ) de novos participantes no mercado de trabalho, especialmente mulheres casadas mais velhas, não trabalha em tempo integral. Fazendo a equivalência para o tempo integral, taxa de dependentes já está bem abaixo de três por um, o que significa dizer que cada americano com emprego precisa transferir cerca de um terço de sua renda, através dos tributos de Previdência Social, das contribuições de fundos de pensão e cada vez mais através de impostos gerais para cobrir déficit previdenciário, a fim de financiar as pessoas mais velhas que recebem aposentadoria ou pensão.


Isto é política e economicamente insustentável. Significa que o encargo das pensões ( seja financiado pelo governo ou pelos empregadores ) está se tornando cada vez mais o maior peso sobre a economia, à frente da formação de capital, à frente da manutenção e construção de fábricas e equipamentos e à frente da criação de novos empregos. Também significa que a inflação se torne, sem dúvida, inevitável e insuportável. Outras informações podem ser obtidas no livro Rumo à nova economia, de autoria de Peter F. Drucker.


Mais em:


https://administradores.com.br/artigos/previd%C3%AAncia-social-a-demografia-o-d%C3%A9ficit-a-reforma-e-o-impacto-sobre-a-infla%C3%A7%C3%A3o .     

Adm. Cláudio Márcio. Candidato a vereador de Florianópolis pelo Partido dos Trabalhadores sob o Nro. 13 8 80. Pedido de contribuição financeira


Olá, companheiras e companheiros! 

Sou Cláudio Márcio. Candidato a vereador de Florianópolis pelo Partido dos Trabalhadores sob o Nro. 13 8 80. 

Pretendo representar você, trabalhadora e você, trabalhador na Câmara Municipal de Florianópolis. Por isto, peço a sua contribuição financeira para minha campanha eleitoral.

Deposite qualquer valor na Conta-Corrente: 19.873-0, Agência: 4428-8, do Banco do Brasil ( BB ) em favor de ELEIÇÃO 2020 CLAUDIO MARCIO ARAUJO DA GAMA VEREADOR, CNPJ: 39.053.659/0001-41 .

Sua contribuição é fundamental para que possamos nos orgulhar da nossa vitória. Muito obrigado!

Acompanhe os eventos da campanha em:

https://www.facebook.com/adm.claudiomarcioaraujodagama/ .

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Impeachment: vice-governadora de SC, Daniela entra em exercício após afastamento temporários do governador Silva

A vice-governadora do Estado de Santa Catarina ( SC ) Daniela Cristina Reinehr ( sem partido) será a nova governadora em exercício de SC. A decisão do tribunal de julgamento que afastou temporariamente do cargo o governador do Estado de SC Carlos Moisés da Silva ( do partido Social Liberal - PSL ), mas arquivou a denúncia contra a Daniela, surpreendeu quem apostava em um afastamento temporário de Silva e Daniela, o que abriria espaço para o presidente da Assembleia Legislativa do Estado de SC ( ALESC ), Julio Garcia ( do Partido Social Democrático - PSD ), assumir o governo. 

Quem é Daniela Reinehr, a nova governadora em exercício de SC
Quem é Daniela, a nova governadora em exercício de SC
( Foto : )

Daniela foi a primeira mulher eleita vice-governadora em SC e agora será a primeira a assumir o governo do Estado, ainda que de forma temporária. Ela já havia governado por dez dias em janeiro, durante férias de Silva.

Daniela comemora o arquivamento do impeachment após votação
Daniela comemora o arquivamento do impeachment após votação na ALESC
( Foto : )

A futura governadora em exercício tem quarenta e três anos de idade, é natural de Maravilha, mas morou a maior parte da vida em Chapecó, no Oeste do Estado de SC. É casada e tem dois filhos.

É advogada e trabalhou na área de Direito com temas relacionados a comércio exterior até o início da vida pública e a vitória como vice-governadora na chapa encabeçada por Silva, em dois mil e dezoito. Também atuou por três anos como policial militar no início da carreira e é produtora rural. Durante o mandato, fez defesas contundentes em temas que envolviam o agronegócio, como a tentativa de taxar agrotóxicos no segundo semestre de dois mil e dezenove.

A participação na política começou nos protestos de dois mil e treze e avançou durante as manifestações em favor da Operação Lava-Jato e que pediam o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em dois mil e dezesseis. Daniela despontou como liderança local dos movimentos que convocavam as mobilizações no Oeste. O alinhamento com a operação Lava-Jato e com Jair Bolsonaro levou à escolha pela filiação ao PSL com vistas à eleição de dois mil e dezoito.

Já no governo, Daniela se envolveu em algumas polêmicas na relação entre ela e o Silva. O pano de fundo costumava ser o mesmo: o alinhamento ou não entre Silva e o Bolsonaro.

Ao longo dos quase dois anos de mandato, Daniela em vários momentos buscou estabelecer uma relação mais próxima com Bolsonaro do que Silva, que em entrevistas deixou claro ter opiniões diferentes das do presidente em alguns temas. Fez visitas a Bolsonaro em Brasília, inclusive no período em que assumiu como governadora em exercício, em janeiro.

Em novembro de dois mil e dezenove, quando Bolsonaro confirmou que deixaria o PSL para criar um novo partido, o Aliança pelo Brasil, Daniela anunciou que seguiria o mesmo caminho e anunciou a desfiliação do PSL.

Vice-governadora acompanhou votação de pedido de impechment na Alesc
Daniela acompanhou votação de pedido de impeachment na ALESC
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Rompimento com Silva

Em junho deste ano de dois mil e vinte, escreveu uma carta em que rompeu definitivamente com Silva e criticou o afastamento dele de Bolsonaro. Reclamou também do isolamento imposto a ela em ações centrais do governo. Chegou a dizer que foi excluída de uma reunião por uma “suposta ‘insuficiência de cadeiras’”.

A esta altura Silva e Daniela já vinham em crise por episódios como a contratação do hospital de campanha, criticada por Daniela, e o endosso de Silva a uma carta de governadores em defesa da democracia após protestos pelo fechamento do Congresso Nacional ( CN ) e do Supremo Tribunal Federal ( STF ) – Silva assinou a carta, Daniela saiu em defesa de Bolsonaro.

Nos últimos meses, com o avanço do processo de impeachment ( * vide nota de rodapé ) que envolvia ambos, houve menos manifestações públicas de divergências entre ambos. Ainda assim, Daniela ganhou recentemente o apoio de políticos ligados a Bolsonaro, como a deputada federal Carla Zambelli ( PSL ). Silva, não. Mesmo assim, os acenos feitos ao bolsonarismo não foram suficientes para garantir os votos da bancada do PSL para evitar o processo de impeachment ( * vide nota de rodapé ) ainda na ALESC, em setembro. Na ocasião, ela teve apenas um voto a mais do que Silva, e teve o processo aceito por trinta e dois votos a sete.

Com a decisão desta sexta-feira ( vinte e três de outubro de dois mil e vinte ), Silva e Daniela novamente tomam caminhos opostos. Silva seguirá na tentativa de evitar a decretação de impeachment ( * vide nota de rodapé ) no julgamento definitivo e na busca para retornar ao cargo. Daniela, agora livre da denúncia que buscava também seu afastamento pelo mesmo motivo, agora não deve ter mais preocupações com defesa jurídica, já que no segundo processo de impeachment ( * 2 vide nota de rodapé ), ligado ao caso da compra dos duzentos ventiladores mecânicos com pagamento antecipado sem exigência de garantias e sem entrega dos produtos e que está em tramitação, ela foi excluída da denúncia ainda na primeira fase de avaliação na ALESC. Caberá a Daniela agora a missão de construir uma transição da gestão da qual fez parte para um novo governo, ainda que por ora sob o manto da interinidade.

Daniela fica no governo ao menos até julgamento do tribunal misto

Daniela deve receber posse oficialmente como governadora em exercício após o agora governador afastado ser notificado da decisão do tribunal de julgamento. Ela segue no cargo pelo menos até que o tribunal misto faça o julgamento do processo de impeachment ( * vide nota de rodapé ) de Silva, em um prazo máximo de cento oitenta dias. Depois disto, ela volta a ser vice-governadora caso a denúncia contra o até então chefe do Poder Executivo Estadual ( PEE ) seja arquivada ou permanece como governadora em definitivo se o impedimento ( * vide nota de rodapé ) de Silva for confirmado.


Com informações de:


Jean Laurindo ( jean.laurindo@somosnsc.com.br ) .


P.S.:


Notas de rodapé:


Mais sobre o primeiro processo de impeachment contra Silva em:

https://claudiomarcioaraujodagama.blogspot.com/2020/10/impeachment-afastamento-temporario-do.html .


Mais sobre o segundo processo de impeachment contra Silva em:

https://claudiomarcioaraujodagama.blogspot.com/2020/10/epidemia-auditores-de-sc-contradizem-ex.html .

Impeachment: afastamento temporário do governador Silva em SC é aprovado. Vice Daniela assume o governo

O afastamento temporário do governador do Estado de Santa Catarina ( SC ), Carlos Moisés da Silva ( do Partido Social Liberal - PSL ), foi aprovado na noite desta sexta-feira ( vinte e dois de outubro de dois mil e vinte ). O tribunal de julgamento, formado por cinco deputados e cinco desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado de SC ( TJSC ), decidiu por seis votos a quatro dar continuidade ao julgamento do processo de impeachment ( * vide nota de rodapé ) que pode determinar a deposição do chefe Poder Executivo Estadual ( PEE ) de SC.

Carlos Moisés e Daniela Reinehr começaram o mandato próximos, mas se distanciaram
Silva e Daniela Cristina Reinehr começaram o mandato próximos, mas se distanciaram
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​Já a vice-governadora, Daniela Cristina Reinehr ( sem partido ), ficou isenta de responsabilidade no voto do deputado Sargento Lima ( PSL ). Coube ao presidente do TJSC, Ricardo Roesler, o desempate que arquivou o processo contra a vice. A partir da próxima terça-feira ( vinte e seis de outubro de dois mil e vinte ), Daniela deve assumir o comando do governo estadual, segundo Roesler.​

Vice-governadora de SC comemora arquivamento de impeachment
Daniela comemora na ALESC arquivamento de impeachment
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- Sempre clamei pela justiça. Fiquei maravilhada com o altíssimo nível de nossos desembargadores. Agora é momento de muito trabalho, de união de esforços. Não vai ser uma tarefa fácil. Nosso Estado é privilegiado, com povo empreendedor e trabalhador, e muito potencial para ser desenvolvido - disse Daniela à rádio Central Brasileira de Notícias ( CBN ) / Diário 740kHz AM de Florianópolis, enquanto comemorava a decisão de Roesler.

Silva deixa cargo temporariamente

Silva, que não apareceu na Assembleia Legislativa do Estado de SC ( ALESC ) durante a votação, será comunicado oficialmente sobre a decisão do tribunal misto no primeiro dia útil subsequente à votação, o que ocorre na próxima segunda-feira ( vinte e seis de outubro de dois mil e vinte ), conforme previsto em regulamento. Silva será afastado de suas funções temporariamente, enquanto se prepara para enfrentar o julgamento que pode tirá-lo definitivamente do cargo. Ao mesmo tempo, encara mais uma votação de tribunal misto, sobre o segundo pedido de impeachment ( * 2 vide nota de rodapé ).

Daniela foi isenta de responsabilidade no voto do sargento Lima (PSL)

Daniela foi isenta de responsabilidade no voto do sargento Lima ( PSL )
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O processo que será julgado acusa Silva de crime de responsabilidade por uma decisão que equiparou os salários de procuradores do Estado ao dos procuradores da ALESC. O prazo para julgamento é de até cento e oitenta dias. Neste tempo ocorre a tramitação normal de um julgamento: apresentação de testemunhas e provas ou até de medidas judiciais, pela defesa, se entenderem que estão aptas.

-  É um período que pode ser abreviado ou estendido, conforme entendimento do tribunal - explica o professor de direito constitucional e eleitoral e conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil ( OAB - SC ) Rogério Duarte da Silva.

Após o julgamento, caso o tribunal julgador decida pela aprovação do impeachment de Silva, o afastamento de Silva eleito se torna definitivo.

Saída da Casa D’Ágronômica

Não há previsão legal para que Silva deixe a casa oficial do Estado durante o período que estará afastado para o julgamento do impeachment ( * vide nota de rodapé ), como esclarece o especialista Rogério Duarte da Silva. Segundo o especialista, Silva fica proibido de despachar no Centro Administrativo ( CA ), mas pode permanecer na Casa D’Agronômica ( residência oficial do governador do Estado de SC ).

- No no caso da Dilma ( quando afastada para o julgamento do impeachment ) não foi obrigada a desocupar a residência oficial. Acredito que seja um parâmetro para SC - avalia o professor de direito constitucional.

O que motivou o pedido de impeachment

O pedido de impeachment ( * vide nota de rodapé ) foi apresentado pelo defensor público Ralf Zimmer Junior após uma equiparação salarial entre procuradores do Estado – advogados que defendem e representam o governo estadual em ações – ao dos procuradores da ALESC. Conforme defende Zimmer, esta equiparação salarial seria ilegal e representaria crime de responsabilidade, porque precisaria ser feita por meio de projeto-de-lei ( PL ) e não através de processo administrativo.

Na prática, os salários dos procuradores do Estado passaram em média de trinta mil reais para trinta e cinco mil reais. Isto representaria um impacto de aproximadamente setecentos mil reais ao mês, segundo o pedido de impedimento ( * vide nota de rodapé ) de Silva aceito pela ALESC nesta quarta-feira.

Pela Constituição Federal ( CF-88 ) e pela Lei número mil e setenta e nove de milo novecentos e cinquenta, são considerados crimes de responsabilidade atos contra o livre exercício do Poder Legislativo Estadual ( PLE ), Poder Judiciário Estadual ( PJE ), Ministério Público do Estado de SC ( MPSC ) e poderes dos Estados, direitos políticos individuais e sociais, segurança interna do país, probidade na administração, lei orçamentária e cumprimento de leis e decisões judiciais.

Impeachment dos ventiladores mecânicos

Silva ainda precisa se defender de um segundo pedido de impeachment ( * 2 vide nota de rodapé ), aprovado na última terça-feira ( vinte de outubro de dois mil e vinte ) pelo plenário da ALESC por trinta e seis votos a favor, dois contrários, além de uma abstenção e uma ausência. 

O processo pede o impedimento de Silva por conta da compra dos duzentos ventiladores mecânicos por trinta e três milhões de reais com pagamento antecipado sem exigência de garantias e sem entrega dos produtos no início da pandemia do novo coronavírus, além de outras ações tomadas pelo governo durante a crise de saúde, como a tentativa de construção de um hospital de campanha, que acabou não se concretizando. Daniela foi poupada neste processo.


Com informações de:


Clarissa Battistella ( clarissa.battistella@somosnsc.com.br ) .


P.S.:


Notas de rodapé:

* Mais sobre o primeiro processo de impeachment contra Silva em:

https://claudiomarcioaraujodagama.blogspot.com/2020/10/impeachment-bastidores-estao.html .


*2 mais sobre o segundo processo de impeachment contra Silva em:

https://claudiomarcioaraujodagama.blogspot.com/2020/10/epidemia-auditores-de-sc-contradizem-ex.html .