quinta-feira, 3 de maio de 2018

Futuro: as funções econômicas, políticas e sociais do lucro

INTRODUÇÃO

A maioria dos empresários parece não compreender o aspecto mais importante do lucro e da rentabilidade. e o que dizem uns aos outros e ao público sobre o lucro e lucratividade inibe tanto a ação empresarial quanto a compreensão pública.

Isso porque o fato essencial sobre o lucro é que não há lucro; há apenas custos.

O que é denominado lucro e apresentado como tal nas demonstrações financeiras das empresas é em grande parte custo quantificável genuíno, sob três aspectos:

1) Como custo inequívoco de um importante recurso, a saber, capital;
2) Como prêmio de seguro indispensável ao risco real - e, mais uma vez, em grande parte quantificável - das incertezas de toda atividade econômica e
3) Como custo dos empregos e das pensões de amanhã.

A única exceção, o único verdadeiro superávit das receitas sobre custos, é um autêntico lucro do monopólio, como o que agora está sendo exercido pelos governos dos países exportadores de petróleo (especialmente os árabes) por meio da Organização dos Países Exportadores de Petróleo ( OPEP ).

DESENVOLVIMENTO

1) Custo do capital

Todos os economistas sabem há duzentos anos que existem fatores de produção, isto é, três recursos necessários: trabalho, terra ( isto é, recursos físicos ) e capital. E todos devem ter aprendido nos últimos trinta anos que não há recursos gratuitos. Todos têm custos. Com efeito, os economistas estão muito à frente dos empresários na compreensão e aceitação custo do capital. Alguns elaboraram métodos elegantes para determinar o custo do capital e para medir o desempenho das empresas na cobertura desse custo.

Sabe-se que no período pós-Segunda Guerra Mundial, até o surgimento da inflação global, na década de sessenta, o custo do capital em todos os países desenvolvidos do mundo livre situava-se um pouco acima de dez por cento ao ano ( e que, decerto, era muito mais alto nas economias comunistas ). O custo do capital é o que os usuários devem pagar para levantar dinheiro no mercado. A propósito, esse custo apresenta pequenas variações entre as diferentes formas legais de levantamento de capital, como, por exemplo, entre empréstimos ou financiamentos bancários; emissão de títulos de dívida, ou bônus e emissão de títulos de propriedade, ou ações. Os fatores determinantes do curso do capital são, primeiro, aquilo que os economistas denominam custo verdadeiro ( true cost ) - que provavelmente gira em torno de três a quatro por cento ao ano; segundo, o custo um tanto elevado da administração do dinheiro, que, mesmo em grandes bancos muito eficientes, são de pelo menos dois por cento ao ano; terceiro, o risco de não recuperar o dinheiro que é um autêntico risco de perda - e é, evidentemente, muito mais alto para alguns usuários que para outros; e, finalmente, o risco de o dinheiro em si perder valor, ou seja, o risco da inflação. qualquer usuário de dinheiro, não importa a sua origem nem a forma legal da transação, seja de um banco, como empréstimo a curto prazo ou como hipoteca a longo prazo, seja pela emissão de títulos de dívida de longo prazo, como os do governo federal americano, ou ainda pelo lançamento de ações ordinárias, sempre terá de pagar os quatro tipos de custo do dinheiro - e todos os quatro são tipos genuínos.

Sabe-se que todas as empresas precisam pagar esses custos. Sabe-se que muito poucas empresas realmente auferem o suficiente para cobrir esses custos. O custo do capital no pós-Segunda Guerra Mundial raramente caiu abaixo de dez por cento ao ano e, nos anos inflacionários, efetivamente foi muito mais alto. Mas muito poucas empresas geram de maneira consistente, depois dos impostos, sete por cento do dinheiro empregado no negócio. Até agora, contudo, apenas umas poucas empresas parecem saber se cobrem ou não esses custos. E mesmo essas raras empresas jamais falam sobre isso a nunca se submetem a esse teste em suas demonstrações financeiras publicadas. No entanto, não cobrir o custo do capital é um fracasso tão grande não cobrir os custos dos salários e das matérias-primas.

Atividade econômica é a alocação de recursos reais a expectativas futuras. É, portanto, um compromisso com o risco e com a incerteza - envolvendo obsolescência de produtos, processos e equipamentos; mudanças nos mercados, nos canais de distribuição, nos valores dos consumidores; e nas transformações da economia, da tecnologia e da sociedade. As chances de qualquer compromisso com o futuro são sempre adversas; não é dado aos seres humanos conhecer o futuro. As probabilidades, portanto, tendem sempre para perdas, não para ganhos. E, em períodos de rápidas transformações, como o que vive-se ainda hoje, os riscos e as incertezas decerto não são menores.

Esses riscos e incertezas não são suscetíveis de determinação exata. Mas é possível aferir,e até mesmo quantificar, o risco mínimo desses compromissos com o futuro, com grau razoável de plausibilidade. Onde quer que se tenha feito essa tentativa, em qualquer empresa - e tanto na Xerox quanto na IBM, por exemplo, sabe-se que esse esforço se estendeu durante anos, em relação a produtos e tecnologia - , os riscos se mostraram muito mais elevados que os admitidos até pelos planos de negócios mais conservadores.

Os riscos de eventos naturais - incêndios, por exemplo - há muito são tratados como custos normais dos negócios. Uma empresa que não se dispõe a pagar prêmios de seguro adequados por esses riscos seria considerada no mínimo imprudente, por deixar em situação perigosa os ativos geradores de riqueza sob sua guarda. Os riscos e as incertezas econômicas, sociais e tecnológicas são menos reais. Também elas exigem prêmios de seguro adequados - cujo fornecimento é função do lucro e da lucratividade.

Portanto, a pergunta a ser feita por qualquer administração não é: "Qual é o lucro máximo que esta empresa pode gerar?", mas sim, "Qual é a lucratividade máxima necessária para cobrir os riscos futuros desta empresa?". E se a lucratividade ficar abaixo desse mínimo - como ocorre na maioria dos casos que Peter F. Drucker conheceu - , a empresa não consegue cobrir seus custos genuínos, arriscando-se em demasia e empobrecendo a economia.

O lucro também cobre os empregos e pensões do futuro. Ambos são custos das empresas e também custos da economia. O lucro das empresas, retido no negócio ou distribuído aos acionistas, é a maior fonte isolada de formação de capital para os empregos de amanhã e, pelo menos nos Estados Unidos, a maior fonte isolada de formação de capital para as aposentadoria se pensões de amanhã.

A definição mais satisfatória de progresso econômico é o aumento constante da capacidade da economia de investir mais capital em cada novo emprego e, assim, gerar empregos que proporcionem melhor padrão de vida, assim como melhor qualidade de trabalho e de vida. Em mil novecentos e sessenta e cinco, antes de a inflação ter tornado cada vez mais difícil a obtenção de cifras expressivas, o investimento por emprego na economia americana subira de trinta e cinco mil dólares para cinquenta mil dólares. As necessidades aumentarão de maneira bastante acentuada, pois as maiores necessidades e oportunidades de investimentos estão em setores como energia, meio ambiente, transporte, assistência médica e, principalmente, produção de alimentos, nos quais os investimentos de capital por emprego estão muito acima da média das indústrias de bens de consumo, que dominaram a economia americana nos últimos cinquenta anos.

Ao mesmo tempo, a necessidade de criação de empregos também está em forte aceleração - desfecho da explosão demográfica do pós-Segunda Guerra Mundial (baby boom), entre mil novecentos e quarenta e oito e mil novecentos e sessenta. Teremos de aumentar em um por cento ou quase um milhão, a oferta de emprego por ano, nos próximos anos, para que seja mantida uma quitação como a demografia. E, ao mesmo tempo, a quantidade de aposentados e pensionistas também continuará aumentando, quanto mais não seja porque os trabalhadores que se aposentam vivem cada vez mais, assim como também ocorre como os beneficiários de pensões. Qualquer empresa que não produza capital suficiente, ou seja, lucro bastante, para atender às necessidades dessa expansão nos empregos, nas aposentadorias e nas pensões, não está cobrindo nem os próprios custos previsíveis e quantificáveis nem os custos da economia.

CONCLUSÕES

Esses tipos de custos - os custos de capital, os prêmios de risco da atividade econômica e as necessidades de capital para o futuro - se sobrepõem em extensão considerável. No entanto, qualquer empresa deve cobrir de maneira adequada qualquer um desses custos que seja o maior no próprio negócio. Do contrário, estará operando com prejuízo autêntico, certo e provável.

Dessas premissas elementares extraem-se três conclusões:

1. Lucro não é peculiaridade do capitalismo. É pré-requisito de qualquer sistema econômico. com efeito, as economias comunistas exigem taxas de lucro muito mais elevadas. Seus custos de capital são mais altos, não só porque os custos de administração são muito mais altos nas economias centralizadas, mas também porque os riscos são elevados na falta de controles automáticos (ou semiautomáticos) dos sistemas de mercado. E o planejamento central aumenta as incertezas econômicas. Com efeito, as economias comunistas funcionam com taxas de lucro substancialmente mais altas, não importa que, por motivos ideológicos, sejam denominadas imposto sobre o faturamento, em vez de sobre o lucro. E as únicas economias que se podem considerar baseadas no planejamento do lucro são exatamente as comunistas, em que o produtor (o planejador estatal) impõe antecipadamente a lucratividade necessária, em vez de permitir que ela seja determinada pelas forças de mercado.

2. Os custos do futuro, os custos do risco e da incerteza, que são pagos pela diferença entre as receitas correntes e as despesas correntes de produção e distribuição, são realidades econômicas inescapáveis, tanto quanto os salários e os pagamentos a fornecedores. Como as demonstrações financeiras das empresas devem refletir a realidade econômica, esses custos também deveriam ser mostrados. Decerto eles não são conhecíveis com tanta exatidão quanto os custos de fazer negócios dos contadores. Mas eles são conhecidos e conhecíveis dentro de limites que provavelmente não são mais amplos nem mais confusos que a maioria dos números da contabilidade de custos ou que boa parte das cifras de depreciação - e talvez sejam mais importantes tanto para a administração das empresas quanto para a análise de seu desempenho.

3. Finalmente, é dever dos empresários, perante si mesmos e perante a sociedade, enfatizar que não existe essa coisa chamada lucro pode cobrir é responsabilidade econômica e social. Com efeito, é a responsabilidade econômica e social específica da empresa. Não é a empresa que gera lucro compatível com seu custo de capital genuíno, com os riscos de amanhã e com as necessidades dos trabalhadores e dos pensionistas de amanhã que dilaceram a sociedade. É a empresa que não cumpre essa missão. Outras informações podem ser obtidas no livro Fator humano de desempenho, de autoria de Peter F. Drucker.

Mais em

http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/futuro-as-funcoes-economicas-politicas-e-sociais-do-lucro/110373/

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