terça-feira, 20 de novembro de 2018

Gestão de pessoas: desejo de realizar, a cultura e as experiências

Entusiasta ardoroso da Teoria Y ( * vide nota de rodapé ), o falecido Abraham H. Maslow observou que as demandas na verdade eram maiores do que Peter F. Drucker havia previsto. Maslow passou um ano trabalhando em estreito entrosamento com uma pequena empresa no sul da Califórnia, que, na época, tentou praticar a Teoria Y. Maslow constatou que as exigências de responsabilidade e realização podiam ir muito além do que as pessoas comuns seriam capazes de suportar, a não ser as vigorosas e saudáveis. Ele criticou intensamente McGregor e a Drucker por desumanidade em relação aos fracos, aos vulneráveis, aos estropiados, que são incapazes de assumir os níveis de responsabilidade e de autodisciplina exigidos pela Teoria Y. Mesmo as vigorosas e saudáveis, concluiu, precisavam da segurança da ordem e da direção; e as fracas careciam de proteção contra o ônus da responsabilidade. O mundo, arrematou Maslow, não é povoado por adultos. Ele tem uma vasta quota de imaturos permanentes.

Maslow, embora sempre resoluto defensor da Teoria Y, concluiu que não basta remover as restrições. É preciso substituir a segurança da Teoria X ( * vide nota de rodapé ). Não pode simplesmente substituí-la.

Esta é, sem dúvida, uma ideia importante, que é demonstrada inequivocamente por todas as experiências com a Teoria Y.

Com efeito, um os amigos e discípulos mais próximos de McGregor comprovou a observação de Maslow. Warren Bennis, tam´bem emérito psicólogo industrial, e editor do livro póstumo de Mcgregor, The Professional Manager, tentou, em fins da década de sessenta, converter a Universidade de Buffalo, em Nova Iorque, de escola velha, cansada e desgastada, em importante instituição de primeira classe. A abordagem dele e dos colegas se baseava nitidamente na Teoria Y - mas sem oferecer estrutura, direção e segurança. O resultado, apesar de todo o entusiasmo, foi o mais absoluto fracasso. Em vez de realização, o que se via era a falta de direção, de objetivos, de controles e frustração - conforme relata Bennis ( que, mais tarde, se tornou presidente da Universidade de Cincinnati ).

Uma das conclusões do trabalho de Maslow é que a Teoria Y não é permissiva, como acreditam muitos de seus defensores. Ela não se confunde com liberdade sem restrições. Tampouco é, como argumentam seus críticos, indulgente e condescendente com os trabalhadores. Ao contrário, é uma abordagem severa, mais rigorosa sob muitos aspectos que a Teoria X e ir muito além - para que não seja considerada ônus muito pesado para os trabalhadores, aos quais faz exigências sobre-humanas.

Agora ficou claro que a Teoria X e a Teoria Y não são, como sustentava McGregor, teorias a respeito da natureza humana ( posição com a qual, a propósito, Peter F. Drucker dizia nunca ter concordado ). Resta ver se algum dia será possível saber o suficiente sobre a natureza humana para desenvolver teorias a respeito dela. Mas, até o momento, as evidências não são, de modo algum, conclusivas.

Todos sabem que, sem dúvida, há pessoas preguiçosas, assim como há, obviamente, pessoas diligentes. Muito mais importante, contudo, é que a experiência comum, do dia a dia, demonstra que as mesmas pessoas reagem de maneira muito diferente em diferentes circunstâncias. Elas podem ser preguiçosas e resistentes ao trabalho e a ponto de sabotá-lo em determinadas situações. Mas também podem ser motivadas e realizar em outras circunstâncias. Ou, no mínimo, há diferentes naturezas humanas que se comportam de maneira diferente sob condições diversas.

A moderna gíria americana ser refere a estar ligado ( turned on ) ou desligado ( turned off ) em relação a uma atribuição, a um professor, a um trabalho ou a um chefe. Esses termos têm sido criticados como desumanizadores. Eles se referem a pessoas, assim se diz, com se elas fossem aparelhos elétricos. Mas a experiência cotidiana mostra que a maioria das pessoas se comporta exatamente desta maneira. Elas reagem, em vez de agir. A motivação, o ímpeto, o impulso se situam fora delas.

Mas isso não é compatível com a Teoria X nem com a Teoria Y. Implica que não é a natureza humana, mas, sim, a estrutura do cargo e do trabalho que, com efeito, determina como as pessoas agirão e que tipo de administração exigirão.

Agora, também sabe-se que os indivíduos podem cultivar o hábito da realização, mas também podem desenvolver o hábito da derrota. Também isso não e compatível nem com a Teoria X nem com a Teoria Y sobre a natureza humana.

O trabalho mais conhecido nesta área é o de David C. McClelland, de Harvard. McClelland assumiu a posição de que o desejo de realizar é condicionado em grande parte pela cultura e pelas experiências, fatores que podem ser mudados mesmo em culturas não realizadoras como a dos sistemas de castas indiano. O estudo mais abrangente sobre o atual comportamento dos trabalhadores em contextos industriais em grande escala, o trabalho que o psiquiatra anglo-canadense Elliott Jacques conduziu durante muitos anos na Glacier Metal Company, em Londres ( junto com o CEO da empresa, Wilfred Brown ), sustenta as mesmas conclusões. Outras informações podem ser obtidas no livro Fator humano e desempenho, de autoria de Peter F. Drucker.

PS.: Nota de rodapé: O que são as teorias X e Y são melhor explicadas em 


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