sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Administração financeira: fundações bancando a sobrevivência de escolas profissionalizantes

O melhor investimento disponível no mercado, de longe, são as escolas profissionalizantes. seja uma escola de engenharia ou de medicina, de direito ou de biblioteconomia, de negócios ou de arquitetura, quando uma pessoa obtém graduação em uma delas, aumenta sua capacidade remunerativa vitalícia por um múltiplo substancial sobre o investimento realizado, isto é, o custo de sua educação.

Nem todas as escolas profissionalizantes produzem o mesmo retorno econômico, é claro. Contudo, mesmo aquelas com rentabilidade mais baixa ( provavelmente as escolas de educação, serviço social e biblioteconomia ) oferecem a seus alunos potencial para ter uma remuneração bem acima da média nos Estados Unidos da América ( EUA ). No entanto, financiar a educação profissional irá se tornar cada dia mais difícil, seja a escola subsidiada por impostos ou privada.

Os custos vêm aumentando muito mais rapidamente nas escolas profissionalizantes do que em universidades comuns. No entanto, o custo de boas escolas profissionalizantes ainda vai aumentar muito. Afinal, é nestas escolas - e não apenas em escolas de engenharia ou escolas de negócio - que os salários dos corpo docente estão se tornando tão pouco competitivos que já está ocorrendo uma séria evasão de cérebros. E, com o dinheiro para a alta educação se tornando cada vez mais escasso, os patrocinadores, sejam eles órgãos públicos ou privados, certamente diminuirão seu apoio a estas instituições - as escolas para a elite para os mais afluentes - , a fim de se concentrar no apoio à educação para as massas, em universidades comuns.

John R. Silber, presidente da Boston University, propôs, há muito tempo, que fosse preenchida a lacuna entre as riquezas que as universidades geram para seus formandos e sua própria penúria com um programa sob o qual os ex-alunos pagariam ao longo de cinco a dez anos o valor integral de seus estudos.

O problema com esta proposta é que ela poderá deter um número substancial dos candidatos mais capazes; contrair uma grande dívida já no começo da carreira é amedrontador, especialmente para pessoas jovens, de baixas renda.

Um programa de financiamento deste tipo também teria um evidente efeito discriminatório contra um formando que escolhesse dedicar a vida ao serviço público, em vez de ir atrás do dinheiro. Por exemplo, o médico que se dedica a pesquisas ou se torna um missionário no continente africano, em vez de optar por ser um cirurgião plástico, com consultório na Park Avenue; ou o advogado que se torna defensor público, em vez de especialista em aquisições de empresas.

Contudo, se a educação profissional for tratada como um investimento, o problema se torna bem mais simples. Os investimentos são pagos sem levar em conta o valor adicional criado por eles. Para se financiar a educação profissional - e isto é uma simplificação - , é preciso apenas retornar ao investimento uma fração do valor agregado por ele, isto é, do aumento da capacidade remunerativa vitalícia do formando.

Isto não seria um peso para a pessoa que escolhe se tornar um missionário médico; sua dívida seria zero. e nem seria um peso para o colega que ganha muito dinheiro como cirurgião plástico; ele teria como pagar. Uma proporção relativamente pequena do valor agregado por meio da educação profissional - no máximo, cinco por cento dos rendimentos do formando sobre a  receita mediana - deverá ser adequada para dar suporte à escola profissional e permitir que seja financeiramente independente. Desta forma, seria até mesmo possível apoiar uma faculdade - a maior parte das escolas vinculadas às universidades dos EUA está em péssima situação financeira. As universidades são, por assim dizer, a forne da pesquisa e desenvolvimento para as escolas profissionalizantes. Seria uma miopia gerencial cortar estes recursos, uma vez que eles podem gerar receitas com a venda de seus produtos.

No entanto, é exatamente isto que muitas universidades estão fazendo quando cortam o orçamento de suas escolas de graduação ao mínimo para treinar seus PhDs a assumir empregos de professor que não existem nas faculdades. Os principais produtos estas escolas de graduação são conhecimento e visão - e isto precisa ser apoiado de forma adequada com um grande número de estudantes de doutorado ou apenas alguns.

Se forem financiadas as escolas profissionalizantes por meio da avaliação do valor agregado da capacidade remunerativa vitalícia de seus formandos e então forem colocados, por exemplo, um décimo das receitas destas instituições em escolas de graduação, seria possível ter uma base financeira sólida para pesquisa e bolsas de estudo em todas as áreas, exceto as mais caras. Seria possível conseguir um grau de independência financeira que asseguraria que as bolsas de estudo para pesquisadores, sejam do governo ou da inciativa privada, iriam se tornar a cereja do bolo, e não o bolo propriamente dito.

Mas como seria possível organizar isto? Um modo - o mais fácil e perigoso - seria arrecadar através do sistema tributário.

Suponha-se que os formandos de escolas profissionalizantes obtivessem um número de registro distinto da Seguridade Social. Então, seriam necessárias apenas umas poucas linhas na declaração anual de imposto sobre a renda de qualquer natureza ( IR ) em que os contribuintes deduziriam uma quantia igual à mediana da receita familiar dedutível, calculariam cinco por cento da diferença e somariam o resultado ao imposto que deduziriam. Isto não seria mais difícil do que calcular o imposto de Seguridade Social dos autônomos, que já faz parte do formulário número mil e quarenta ( utilizado nos EUA ). Nenhuma mudança nas leis de tributação para fins caritativos - legalmente, isto é um pagamento de um compromisso de fins caritativos.

Peter F. Drucker dizia preferir, contudo, um mecanismo separado e não governamental, no qual seria possível chamar de corporação de crédito acadêmico ( CCA ). Seria, em tese, uma cooperativa para onde as universidades canalizariam suas demandas.

Uma das principais vantagens deste sistema seria que as demandas logo - talvez em cinco anos e, certamente, dentro de dez anos - se tornariam instrumentos financeiros, que poderiam ser negociados no mercado ou usados como papéis financiáveis, gerando, assim, um fluxo de caixa prematuro para as escolas profissionalizantes, com base em expectativas atuariais e na experiência de cobrança de penhor. Mais importante ainda e desejável, uma cooperativa deste tipo de manteria as escolas e seus recursos longe do governo.

Não consigo imaginar uma contribuição maior que as principais fundações dos EUA poderiam fazer hoje do que emular o que a Fundação Carnegie fez há cem anos, quando subscreveu a Teachers Insurance and Annuity Association ( assegurando assim, na opinião de Drucker, a sobrevivência da educação superior nos EUA ) e a Academic Credit Corporation ( ACC ).

E que dizer da possibilidade de que a exigência de um compromisso de retornar cinco por cento do valor agregado, especialmente se irrevogável e rigorosamente cobrado, inibiria os candidatos?

Certamente, se uma escola profissionalizante de pouca projeção fosse pioneira desta ideia, talvez perdesse possíveis candidatos, mas uma escola de prestígio - a Escola de Medicina da Harvard University, por exemplo, ou a Wharton School, da Universidade da Pensylvania - somente teria a ganhar. Isto porque há fortes indicativos de que um bom número de candidatos aptos já é inibido, hoje, pelo alto e crescente custo das escolas profissionalizantes. Se lhes fosse possível adiar o pagamento até que pudessem honrar os custos, isto é, até que tivessem a receita que a educação profissionalizante torna possível, eles poderiam e iriam se candidatar.

A não ser que as escolas profissionalizantes encontrem um meio de ser remuneradas quando seus formandos tiverem capacidade de desembolsar o valor agregado pela formação profissionalizante, logo irão descobrir que cobram um preço para a educação além do que um jovem pode pagar ( a não ser que seja filho de família rica ) e, ainda assim, não terão receita suficiente para manter o corpo docente, bibliotecas, laboratórios de pesquisa e outros equipamentos essenciais à atividade universitária. Outras informações podem ser obtidas no livro As fronteiras da administração, de autoria de Peter F. Drucker.

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