sexta-feira, 12 de março de 2021

Epidemia: de palhaço a coveiro, Bolsonaro agoniza em queda de popularidade

Lourival Panhozzi está exausto. O presidente da Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abradif) junta-se a cientistas, pesquisadores e profissionais da área médica para alertar que o Brasil vive à beira de um colapso devido ao descontrole no número de óbitos por Covid-19. Indignado com a falta de comando nacional, atacou o não presidente Jair Bolsonaro.

“Bolsonaro disse que não é coveiro, né? Convido a ser coveiro para ficar um dia numa funerária. Só um dia, para acompanhar as famílias que estão perdendo parentes, para ter a real noção do que está acontecendo no Brasil. Não estamos sepultando urnas, estamos sepultando pessoas”, desabafou durante entrevista à rede CNN Brasil.

O líder da categoria aludiu ao episódio ocorrido em 20 de abril do ano passado. Naquele dia, um jornalista perguntava sobre os números da Covid-19 no Brasil, que já registrava mais de duas mil mortes e 40 mil casos, e Bolsonaro o interrompeu grosseiramente: “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de… eu não sou coveiro, tá?”

“O nosso setor está sendo testado ao limite. Várias regiões já estão trabalhando em sua capacidade máxima. E, se não forem tomadas medidas urgentes de contenção contra o descontrole no aumento de casos, nós vamos ter um cenário muito preocupante”, avisou o líder da Abradif.

Segundo Panhozzi, o Brasil tinha, antes, uma média de 100 mil óbitos por mês, mas o número se elevou muito em todo o país, principalmente no estado de São Paulo, e em algumas regiões já dobrou. “Em Mogi eu fazia sete óbitos por dia. Ontem fiz 23 em um dia”, afirmou na quinta (12) à noite, enquanto Bolsonaro, em sua live, explorava de maneira sórdida a tragédia de um suicídio para atacar medidas de distanciamento social.

“Caixão não é nossa única preocupação. Hoje mesmo soltamos uma nota pedindo às funerárias que suspendam as férias de todos. Os fabricantes não estão conseguindo nem matéria-prima para produzir as urnas”, informou. “Esse descontrole precisa parar. Se não for cortado, em mais 30, 40 dias estaremos em uma situação muito difícil.”

Ele acrescentou que, em 44 anos de trabalho, nunca tinha visto “uma tristeza tão reprimida, tão grande nas famílias”. “Estamos à beira do colapso. Estamos suportando, temos limites, mas é bom que a sociedade não teste o nosso limite”, finalizou.

Bruno Kelly

Famílias choram perda de entes queridos, em Manaus. Foto: Bruno Kelly.

Nicolelis: colapso sanitário vai evoluir para colapso funerário

Fundamentado na prática do dia a dia, o alerta de Lourival Panhozzi reforça o que já vem sendo apontado pela comunidade científica em pesquisas e projeções. Dois dias antes do desabafo do líder dos coveiros, o médico e neurocientista Miguel Nicolelis afirmou, na mesma CNN, que o Brasil não tem perspectivas concretas de sair dessa crise em 2021, e que o sistema de saúde brasileiro caminha para um colapso generalizado, levando ao colapso funerário visto em algumas cidades do mundo em 2020.

“As pessoas não vão ter para onde ir, vão começar a morrer nas suas casas, nas ruas, na porta dos hospitais. E aí o Brasil vai ter um colapso funerário, onde você não dá conta dos óbitos do país, não consegue manejar o volume de vítimas. Começa a ter infecções secundárias, contaminação de alimentos e do lençol freático. Você perde o controle do país”, alertou o professor da Universidade Duke, nos Estados Unidos.

O neurocientista lembrou que Porto Alegre já vivencia este drama. Na capital gaúcha, o hospital Moinhos de Vento teve de comprar contêineres para estocar os corpos porque não estava dando conta de manejá-los. Similar à tragédia que ocorreu em Manaus no ano passado.

No ritmo da pandemia no país, isso não estaria longe de ocorrer. “As UTIs pediátricas brasileiras estão chegando próximas ao colapso. A média de idade de internados está caindo para 30 a 40 anos e você vê o colapso iminente do sistema de saúde. O Brasil precisa, como outros países, entrar em um lockdown nacional”, defendeu.

As altas taxas de infecção podem dar ainda mais força ao surgimento de variantes – ou até de algo pior. “Estamos dando a chance ao coronavírus de promover bilhões de mutações que vão levar ao aparecimento de novas variantes e até um novo vírus, de acordo com combinações genéticas, o surgimento do SARS-CoV-3. Se começa a ter muitas mutações, você pode ter um rearranjo genético que pode gerar uma nova forma do vírus, que pode ser ainda mais infecciosa e letal”, descreveu o cientista.

Nicolelis lembra que a pressão não é mais só dos casos agudos de coronavírus, pois ainda há todos os casos acumulados do ano passado, que não receberam atendimento por causa dos hospitais lotados. Além disso, há um número enorme de pacientes com sequelas da doença que vão precisar de atendimento médico.

“Estamos falando de duas enormes demandas por serviços médicos, internações e unidades de terapia intensiva. E ainda há um terceiro grupo, que são de todas as doenças que estão represadas. Pacientes que estão sofrendo de doenças crônicas e agudas e precisam de cuidados médicos”, enumerou o cientista, para quem o Brasil tornou-se “o maior laboratório a céu aberto do vírus e nesse momento o maior cemitério do mundo na pandemia”.

Com informações de pt.org.br .

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