segunda-feira, 29 de março de 2021

Epidemia: deputado Schuster de SC surpreende e sela abertura de segundo processo de impeachment contra governador

Quando se esperava uma votação em bloco dos cinco deputados estaduais que compõem o Tribunal do Impeachment para rejeitar o pedido de afastamento do governador do Estado de Santa Catarina ( SC ) Carlos Moisés da Silva ( do Partido Social Liberal - PSL ), coube a Laércio Schuster ( do Partido Socialista Brasileiro - PSB ) dar o último e surpreendente voto que selou a abertura do segundo processo de cassação do atual inquilino da Casa d'Agronômica ( residência oficial do governo do Estado de SC ) ( * vide nota de rodapé ). O voto de Schuster se somou aos dos cinco desembargadores que integram a corte especial, todos pela abertura do processo.

Relação difícil com Moisés fez Laércio Schuster levar um telefone vermelho ao plenário para ironizar a dificuldade de falar com o governador

Relação difícil com Silva fez Schuster levar um telefone vermelho ao plenário para ironizar a dificuldade de falar com Silva ( Foto : Rodolfo Espínola, Agência AL / Divulgação )

Schuster diz que seu voto não deveria ter surpreendido ninguém. Participante do primeiro julgamento de impeachment de Silva, o parlamentar lembra que já naquele momento - na votação decisiva - acompanhou o voto da maioria dos magistrados. Na época, foi um dos dois deputados ( com Maurício Eskudlark, do Partido Liberal - PL ) que votou pelo afastamento em outubro e um mês depois decidiu acompanhar a maioria pelo arquivamento do processo.

Como ainda há todo um julgamento pela frente, Schuster evita fazer prognósticos sobre um novo retorno de Silva ao cargo. Ressalta que ele terá até cento e vinte dias para apresentar sua defesa e "mostrar aos catarinenses que não tinha nada a ver com esta questão da compra fraudulenta dos duzentos ventiladores mecânicos e este pagamento de trinta e três milhões". Diz, no entanto, que pretende conversar com a vice-governadora Daniela Cristina Reinehr, que assume o governo interinamente nesta terça-feira ( trinta de março de dois mil e vinte e um ), e que vai sugerir que ela mude o comando da Secretaria de Estado da Saúde ( SES ).

A relação de Laércio com o governo Silva sempre foi de altos e baixos - mais os segundos que os primeiros. Ironizou a falta de diálogo de Silva com o parlamento colocando um icônico aparelho de telefone vermelho no plenário da Assembleia Legislativa do Estado de SC ( ALESC ). Na primeira fase do governo, mostrou-se incomodado com os privilégios dados pelo Centro Administrativo ao deputado estadual Ricardo Alba ( PSL) quando os temas envolviam o Vale do Itajaí. 

Na segunda fase, após o primeiro impeachment, também o desconforto mudou de endereço: o privilégio seria ao deputado estadual Jerry Comper ( do Movimento Democra´tico Brasileiro - MDB ). Na breve conversa por telefone, o parlamentar não deu nome a suas insatisfações - mas não deixou de falar sobre elas.

- Eu fui prefeito ( em Timbó ) e também aprendi em casa com o meu avô, que foi três vezes prefeito, que a melhor forma de governar é ouvindo as pessoas. Quanto mais eu ouvir as pessoas, menos eu vou errar.

Leia a entrevista:

Seu voto surpreendeu muita gente que acreditou na unidade dos cinco deputados na votação do impeachment para salvar Silva. Havia este acordo?

Não sei a quem surpreendeu. Quem acompanha minha atuação política sabe que eu levo muito em consideração a coerência. Quem acompanhou meu voto no julgamento do primeiro impeachment ( caso do aumento salarial dos procuradores, no final de outubro do ano passado ), vê que fui extremamente coerente. Quando a maioria do Tribunal de Justiça ( quatro dos cinco desembargadores, na época, votaram contra o impeachment ) votou em plenário que o governador não tinha cometido crime de responsabilidade, eu votei junto com os desembargadores. Nesta questão dos ventiladores mecânicos, pela minha formação em Direito, especialista em direito público municipal, eu sabia que todas as provas colhidas em oito mil páginas na Comissão Parlamentar do Inquérito ( CPI ) dos ventiladores mecânicos levariam este tema à imputação de crime de responsabilidade de Silva.

No primeiro impeachment o senhor inicialmente acompanhou o voto do magistrado Luz Felipe Schuch pela abertura do processo, na contramão dos outros quatro magistrados.

Isto, foram duas votações. Na segunda votação, quando a maioria dos desembargadores disse não ver crime de responsabilidade, eu votei com eles.

O senhor acha que Silva consegue voltar ao cargo?

Ele tem até cento e vinte dias dias para apresentar sua defesa. Foi justamente para isto que eu fiz meu voto, inclusive pela declaração do próprio Silva, dentro da CPI dos ventiladores mecânicos, quando ele não quis se defender naquele momento. Ele disse, está lá escrito, que no momento adequado, se ele for denunciado, ele iria se defender. Então, agora é uma oportunidade para Silva se defender. Ele tem até cento e vinte dias para mostrar para os catarinenses que não tinha algo a ver com esta questão da compra fraudulenta dos duzentos ventiladores mecânicos e este pagamento de trinta e três milhões de reais que não foram para a saúde de SC e nem retornaram aos cofres públicos.

O senhor teve uma relação complicada com o governo Silva desde o início. Chegou a levar para o plenário da ALESC um telefone vermelho para ironizar a falta de diálogo de Silva com os deputados. Por que esta relação entre o senhor e o governo nunca funcionou?

Infelizmente Silva não foi um homem público de gestão de governo. Nunca foi. Eu fui prefeito ( em Timbó ) e também aprendi em casa com o meu avô, que foi três vezes prefeito, que a melhor forma de governar é ouvindo as pessoas. Quanto mais eu ouvir as pessoas, menos eu vou errar. Com a minha experiência de oito anos como prefeito, quando ganhei prêmios, inclusive prêmio nacional do Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena Empresa ( SEBRAE ) como prefeito empreendedor do Brasil, o único de SC, eu vim com uma expectativa tão grande para o parlamento. Eu queria levar coisas que SC poderia desenvolver em todas as regiões, principalmente as que mais precisam da aproximação do Estado. Acreditei que com esta experiência, este espírito independente que eu tinha na ALESC, com a vontade de representar a região do Médio Vale do Itajaí que me elegeu, eu acreditei que neste espírito de mudança com que Silva chegou para governar SC com setenta e um por cento dos votos, iria estar ali para governar alguém que quisesse ouvir as pessoas, que ia estar próximo das pessoas, principalmente nas pequenas cidades. E não foi o que aconteceu. Eu bati algumas vezes na porta do governador e de seus secretários e encontrei dificuldade para levar um pouco de experiência e os nossos desafios. Por isto eu tive aquela ideia de colocar aquele telefone vermelho, porque na década de oitenta os governadores tinham aquele telefone para falar com a ALESC e os secretários. E quando aquele telefone tocava, era coisa séria. Foi tão emblemático que naquela mesma semana o governador me ligou, quis conversar comigo. Ali achei que ia iniciar uma aproximação em que o catarinense só iria ganhar. Infelizmente as coisas foram caminhando e as relações políticas e de governo culminaram no mais do mesmo. Aquele sonho que os catarinenses tanto esperavam de um governo moderno, independente, transparente e que ouvisse as pessoas não aconteceu.

O senhor espera que Daniela tenha um diálogo melhor com o parlamento quando assumir interinamente o governo? Já conversou com ela depois do julgamento?

Não conversei com ela. Pretendo, como tentei várias vezes conversar com Silva. Claro que pretendo conversar com Daniela. Ela tem uma grande oportunidade de demonstrar nestes meses a sua capacidade de poder gerir SC melhor. A única coisa que eu diria para ela, e quero tentar conversar esta semana, é a necessidade de ter pulso firme na gestão da pandemia. Ela precisa trocar urgentemente o secretário da SES ( André Motta Ribeiro ). Nós não aguentamos mais lockdown, não aguentamos mais restrições. O povo precisa trabalhar. Ela precisa cuidar com carinho desta questão da pandemia que vem muito forte nestes meses de março e abril. Se não gerirmos melhor todo o sistema público, vamos entrar num colapso. E que ela abra as portas do governo para ouvir não só os deputados, mas a cadeia produtiva, os trabalhadores, os catarinenses. Que ela saia do palácio, do ar condicionado, e vá ao encontro das pessoas, principalmente nas pequenas cidades. As pessoas querem sentir que SC tem um líder.


Com informações de:


Upiara Boschi, do jornal Diário Catarinense ( DC ) .


P.S.:


* Mais sobre o processo em:


https://claudiomarcioaraujodagama.blogspot.com/2021/03/epidemia-tribunal-admite-processo.html .

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