quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Epidemia: Polícia detalha motivos para inocentar o governador Silva de SC em compra fraudulenta

O Departamento da Polícia Federal ( DPF ) detalhou em quatorze páginas os motivos para inocentar o governador do Estado de Santa Catarina ( SC ), Carlos Moisés da Silva ( do Partido Social liberal - PSL ), afastado durante a investigação da compra dos duzentos ventiladores mecânicos por trinta e três milhões de reais com pagamento antecipado sem exigência de garantias sem entrega dos produtos ( * vide nota de rodapé ). O relatório parcial enviado ao ministro do Superior Tribunal de Justiça ( STJ ), Benedito Gonçalves, traz as justificativas dos agentes para indicar ao magistrado que não há indícios do envolvimento de Silva na negociação. A NSCTV ( afiliada da Rede Globo de Televisão - RGTV no Estado ) teve acesso à íntegra do documento.

Carlos Moisés da Silva, governador afastado de SC, em um dos seus últimos atos no comando do Estado antes do afastamento
Silva, governador afastado de SC, em um dos seus últimos atos no comando do Estado antes do afastamento ( Foto : Ricardo Wolffenbüttel / Secom )

Na quinta página do material, o delegado José Fernando Moraes Chuy, responsável pelas diligências, traz um relato dos investigadores sobre o material apreendido na busca e apreensão feita na Casa D'Agronômica ( residência oficial do governador ), em Florianópolis-SC: "com relação ao episódio supramencionado dos ventiladores mecânicos, muitos diálogos de Silva com pessoas aparentemente próximas levam a crer em sua inocência", diz o texto sobre o celular de Silva. Como exemplo, o relatório traz um diálogo entre Silva e o seu advogado, além de um grupo no WhatsApp onde os envolvidos "sempre tratam do assunto como sendo mentira de quem o acusa".

Para os investigadores, a leitura do processo de licitação leva a crer que a compra dos ventiladores mecânicos da empresa Veigamed "não contou a com a participação direta, ou mesmo indireta, de Silva". O trecho segue com a indicação do que foi investigado pela força-tarefa do Ministério Público do Estado de SC ( MPSC ), Diretoria Estadual de Investigações Criminais ( DEIC ) da Polícia Civil do Estado de SC ( PCSC ) e Tribunal de Contas do Estado de SC ( TCE - SC ): "nota-se no referido processo a participação ativa do então Chefe da Casa Civil ( CC ) o advogado Douglas Borba ( do Partido Progressista - PP ) , pessoa de confiança de Silva. É de Borba que parte a indicação de empresários para o fornecimento dos ventiladores pulmonares". Borba nega envolvimento na compra, e falou sobre isto em entrevista recente ao jornalista Upiara Boschi, do jornal Diário Catarinense ( DC ) ( * 2 vide nota de rodapé ).

Trechos do relatório sobre a investigação contra o governador Moisés
Trechos do relatório sobre a investigação contra Silva
( Foto : )

O relatório afirma que na minuta do processo de dispensa de licitação não há assinatura ou ciência de Silva. A confirmação eletrônica da compra saiu de Helton Zeferino, então secretário de Estado da Saúde ( SES ), segundo o documento, "sem qualquer ciência eletrônica do chefe do Poder Executivo Estadual ( PEE )". Para concluir trecho sobre a investigação, o delegado afirma: "Não se identifica a ciência de Silva acerca do processo de aquisição dos ventiladores mecânicos, processo este manejado pela SES e que não contou com a assinatura de Silva em documentos de pagamento, empenho, liquidação e repasse bancário". Zeferino também nega envolvimento nas irregularidades da compra.

Em relação ao grupo do WhatsApp que debatia as ações contra o coronavírus, citado nas investigações iniciais e do qual Silva fazia parte, o DPF entende que não parece haver qualquer conduta de Silva que pudesse caracterizar seu consentimento em relação aos fatos criminosos: "Pelo contrário, Silva, conforme sequência de mensagens existente no mesmo grupo, evidencia ter ciência de abertura de inquérito e ter ainda determinado correspondente ação judicial de constrição judicial".

Mensagem com citação a Silva

A mensagem que causou o envio do processo para o STJ por citar o termo "governador" também é analisada pelo DPF. Em uma conversa com uma pessoa chamada de "Germano", o empresário Samuel Rodovalho escreve "O que eu faço com o Governador me ligando? ( transcrição original )". Em outro dia, Samuel volta a fazer referência sobre isto e diz que estaria "na linha com o governador". Os investigadores do DPF, contudo, destacam que em depoimento à força-tarefa em SC, o empresário disse que as menções foram uma espécie de "blefe" diante da pressão de outros envolvidos. Silva defendeu-se que não conhecia os nomes citados, incluindo Rodovalho.

Na apuração sobre a destinação dos valores, detectou-se após o pagamento do Estado à Veigamed a transferência de elevadas quantias de dinheiro para outras contas. Dentre as transações bancárias, afirma o relatório, "não se identifica o aporte de valores para a conta de Silva ou para pessoas de seu entorno".

O depoimento dado ao DPF nesta semana, antecipado pelo jornalista Renato Igor do DC ( * 3 vide nota de rodapé ), também foi citado no documento. Silva disse que "não participa e nem autoriza compras", além de repetir a tese de que acionou os órgãos de segurança assim que tomou conhecimento da fraude na compra. Em determinado trecho do documento, o delegado Chuy ainda lembra que o trabalho do DPF deve ser técnico e cita a situação do cenário político local: "Estritamente técnica e totalmente afastada do complexo momento de acirramento político do Estado de SC".

Demais trechos da apuração

PF destaca a relevância da investigação sobre a compra dos respiradores
DPF destaca a relevância da investigação sobre a compra dos ventiladores mecânicos
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Sobre o restante da investigação, Chuy destaca que os fatos apurados sobre os ventiladores mecânicos "constituem ilícito penal grave". O delegado pontua, então, que a força-tarefa do MPSC, PCSC e TCE-SC já apontou autoria, inclusive com a prisão dos envolvidos e no afastamento dos ex-secretários da SES, Zeferino, e da CC, Borba: "As conclusões da força-tarefa apresentam-se muito bem fundamentadas e são irretocáveis".

O relatório agora será analisado pelo Ministério Público Federal ( MPF ), que emitirá um posicionamento para a decisão do STJ sobre o andamento da investigação.


Com informações de:


Ânderson Silva, do DC .


P.S.:


Notas de rodapé:


* Mais sobre o segundo processo de impeachment contra Silva em:

https://claudiomarcioaraujodagama.blogspot.com/2020/11/epidemia-tribunal-de-julgamento-rejeita.html .


*2 Mais sobre a entrevista de Borba em:

https://claudiomarcioaraujodagama.blogspot.com/2020/10/epidemia-borba-fala-depois-de-cinco.html .


*3 Mais sobre o depoimento de Silva em:

https://claudiomarcioaraujodagama.blogspot.com/2020/11/epidemia-governador-silva-de-sc-presta.html .

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