Nos Estados Unidos da América ( EUA ), a ciência e a indústria costumavam desfrutar de uma relação de respeito mútuo baseada em uma convicção não explicada de que dependiam uma da outra. esta relação, embora distante, foi excepcionalmente produtiva tanto para a ciência quanto para a indústria.
A primeira mudança neste relacionamento tradicional nos EUA ocorreu após a Segunda Guerra Mundial. a pesquisa ficou em moda na indústria, assim como no governo. estes eram os anos em que o mercado de ações se valorizava para uma companhia dependendo de quanto ela gastava em pesquisa e em que um generoso centro de pesquisa parecido com os das universidades era considerado prova da competência da administração. De forma semelhante, nestes mesmos anos ( culminando no programa espacial da década de sessenta ) a ciência e a pesquisa cada vez mais eram vistas como marco de um programa de governo eficaz, bem planejado e devidamente progressista.
Durante os anos posteriores à guerra, a capacidade dos americanos em converter a ciência em aplicação industrial era considerada um evidente ponto forte tanto da ciência quanto da indústria dos EUA. Um tratado após outro destacava que os britânicos, por exemplo, eram equivalentes aos americanos em ciência. Mas eles não conseguiam converter as próprias realizações científicas ( em eletrônica, química de polímeros, computação, radares ou aviação ) em tecnologia, produtos e progresso econômico, como faziam os EUA.
Da forma semelhante, especialmente durante os anos Truman e Kennedy, a disposição, ou mesmo a ansiedade, dos políticos americanos e do governo executivo em aplicar a ciência ( tanto a exata quanto a humana ) ao estudo de problemas políticos e sociais e à concepção de programas políticos e sociais era vista, tanto interna quanto externamente, como uma grande realização característica dos EUA. A capacidade de inovação da sociedade americana era explicada em todo o mundo ( inclusive nos países sob sistema econômico capitalista do tipo comunista ) como resultante da sensibilidade dos cientistas americanos em relação às necessidades e oportunidades sociais e políticas, e aos valores e dinâmicas do processo político.
Em termos quantitativos, o relacionamento parece ser mais próximo do que nunca; e talvez ainda mais próximo na ciência da computação, na física nuclear e do estado sólido e na bioquímica. Pode-se argumentar que nada realmente mudou apesar de toda a conversa sobre a irrelevância da ciência ou sobre a maldade do imperialismo dos EUA verbalizada pelos críticos da Nova Esquerda, apesar do Vietnã, apesar da inflação, e assim por diante. Pode-se ainda afirmar que os desenvolvimentos altamente divulgados e altamente visíveis e os eventos de mídia 9 que geram manchetes ) são pouco mais do que espuma na superfície do oceano.
No entanto, ocorreu uma importante mudança, não nas realidades mensuráveis do relacionamento entre a ciência e os tomadores de decisão na indústria e no governo, mas no humor, nos valores e no significado do relacionamento. Atualmente existe desconfiança, desencantamento, até mesmo antipatia mútua e, pior, falta de interesse no outro em ambos os lados. Os cientistas americanos hoje, em grande número, tendem a suspeitar que o relacionamento tradicional era contaminado ou impuro. A indústria ainda declara honrar o relacionamento e respeitar a pesquisa. Mas suas atitudes não mais correspondem plenamente àquilo que ela declara. Quanto ao governo, existe agora uma forte tendência a julgar a ciência por aquilo que é politicamente conveniente ou que esteja na moda; isto é, de tentar subordinar a ciência, pura ou aplicada, a julgamentos de valor que são o oposto, e totalmente incompatíveis, com qualquer critério que pudesse ser chamado de científico.
Tanto na indústria quanto no governo, existe até mesmo uma dúvida crescente sobre se a ciência e a pesquisa levam efetivamente a resultados. Costuma-se argumentar que isto reflete o alongamento dos prazos resultantes da crescente complexidade e da especificação da pesquisa científica avançada de hoje. Mas não há evidências de que os prazos tivessem se alongado; o intervalo de tempo entre o conhecimento teórico e a primeira aplicação correspondentes aos mesmos sessenta ou setenta anos que têm sido até agora ( por exemplo, entre a teoria de Maxwell e a Westinghouse, entre a difração de raios X e o desenvolvimento do nylon e da polimerização por Carruthers, ou entre a mecânica quntica e os semicondutores ). O que está mudando não são os fatos, e sim a fé. Em ambos os lados, o clima está se tornando mais de distanciamento e talvez até mesmo de recriminação. Este é um clima perigoso, principalmente para a ciência e para os cientistas. Ambos os lados têm a perder, mas a ciência pode perder bem mais. Outras informações podem ser obtidas no livro Rumo à nova economia, de autoria de Peter F. Drucker.
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