Todos são responsáveis pelo impacto de suas ações. Este é um dos princípios mais antigos da lei. Ele também se aplica à tecnologia. Fala-se muito sobre responsabilidade social. Mas certamente o primeiro aspecto não é a responsabilidade sobre o que a sociedade está fazendo, mas a responsabilidade pelo que cada um faz. Portanto, a tecnologia precisa ser considerada sob o aspecto da responsabilidade do empresário pelos impactos sociais de seus atos. Em especial, existe a questão dos impactos colaterais, ou seja os impactos que não fazem parte da função específica de um processo ou produto, mas que, necessariamente ou não, ocorrem sem intenção, sem agregar para a contribuição pretendida, e, na verdade, como um custo adicional ( para cada subproduto que não é convertido em um produto vendável, há, efetivamente, um desperdício e, portanto, um custo ).
O tópico da responsabilidade da empresa por seus impactos sociais é bastante grande. Porém, os impactos da tecnologia, independentemente da amplitude com que são divulgados na atualidade, estão entre os menores impactos. Mas eles podem ser substanciais. Portanto, o empresário precisa pensar em quais são estas responsabilidades e em como assumi-las.
Atualmente, existe um grande interesse por avaliação da tecnologia, ou seja, em antecipar os impactos e efeitos colaterais de novas tecnologias antes de seguir adiante com elas. o Congresso Nacional ( CN ) dos Estados Unidos da América ( EUA ) criou o Office of Technology Assessment ( ou Escritório de Avaliação de Tecnologia ). Espera-se que esta agência ( ou a que a substituir ) consiga prever como as novas tecnologias provavelmente se tornarão importantes, e quais os efeitos de longo alcance que provavelmente terão. Espera-se, então, que esta agência aconselhe o governo sobre quais tecnologias novas ele deve incentivar e quais tecnologias deve desestimular, ou até mesmo proibir totalmente.
Esta tentativa só poderá terminar em fiasco. As avaliações de tecnologias deste tipo provavelmente levarão ao incentivo das tecnologias erradas e ao desestímulo das tecnologias necessárias. Isto porque os impactos futuros das novas tecnologias estão quase sempre além da imaginação de qualquer pessoa.
O Di-cloro Di-fenil Tri-cloro Etano ( DDT ) é um exemplo. Ele foi sintetizado durante a Segunda Guerra Mundial para proteger os soldados americanos contra insetos vetores de doenças, especialmente nos trópicos. Alguns cientistas previram então o uso do novo produto químico para proteger também populações civis. Mas nenhum dos muitos homens que trabalharam no DDT imaginou aplicar o novo pesticida para controlar pragas de insetos infectando lavouras, florestas ou o gado. Se o DDT tivesse ficado restrito ao uso para o qual foi concebido, isto é, para proteção de seres humanos, nunca teria se tornado um risco ambiental; o uso com esta finalidade representava não mais do que cinco por cento ou dez por cento do total, no auge do DDT, em meados dos anos sessenta. os agricultores e silvicultores, sem muita ajuda por parte dos cientistas, perceberam que aquilo que matava piolhos nos homens também mataria piolhos em plantas, e fizeram com o DDT um ataque maciço ao meio ambiente.
Outro exemplo é a explosão populacional nos países em desenvolvimento. O DDT e outros pesticidas representaram um fator nesta questão. Da mesma forma que os antibióticos. No entanto, ambos foram desenvolvidos quase independentemente entre si; e ninguém que avaliasse qualquer uma destas tecnologias teria previsto sua convergência - de fato, ninguém previu. Porém, mais importantes como fatores causais da queda acentuada da mortalidade infantil, que desencadeou a explosão populacional, estavam duas tecnologias bastante antigas às quais ninguém prestou muita atenção. Uma era a medida elementar de saúde pública de manter a latrina e o poço distantes entre si ( conhecida pelos macedônios antes de Alexandre, o Grande ). A outra era a tela de arame para portas e janelas, inventada por um americano desconhecido por volta de mil oitocentos e sessenta. Ambas foram subitamente adotadas até mesmo por vilas tropicais atrasadas, após a Segunda Guerra Mundial. Juntas, foram provavelmente as principais causas da explosão populacional.
Ao mesmo tempo, os impactos da tecnologia que os especialistas preveem raramente ocorrem. Um exemplo é o boom do voo aéreo privado, que os especialistas previram durante e logo após a segunda Guerra Mundial. Eles diziam que o avião privado, de propriedade do piloto, se tornaria um veículo de transporte tão comum quanto ficou o automóvel Modelo T por volta da Primeira Guerra Mundial. De fato, especialistas entre urbanistas, engenheiros e arquitetos aconselharam a cidade de Nova Iorque a não seguir adiante com o segundo trecho do túnel Lincoln, ou com o segundo pavimento da ponte George Washington, e, em vez disto, construir alguns pequenos aeroportos ao longo da margem oeste do rio Hudson. Bastaria um pouco de matemática elementar para refutar esta avaliação de tecnologia: não há espaço aéreo suficiente para o tráfego suburbano por via aérea. Porém, isto não ocorreu a algum destes especialistas: ninguém percebeu, na época, como era finito o espeço aéreo. Ao mesmo tempo, quase nenhum especialista previu a expansão do tráfego aéreo comercial na época em que o avião a jato foi desenvolvido ou que isto levaria ao transporte em massa por via aérea, com a mesma quantidade de pessoas cruzando o Atlântico em um jato gigantesco doze vezes ao dia quanto as que costumavam ir uma vez por semana em um grande navio de passageiros. Na verdade, esperava-se que a viagem transatlântica crescesse rapidamente, mas, é claro, através de navios. Estes eram os anos em que todos os governos ao longo do Atlântico Norte subsidiavam, de forma maciça, a construção de novos navios de alto luxo, exatamente quando os passageiros desertavam dos navios e os trocavam pelos novos aviões a jato.
Alguns anos depois, todos diziam que a automação teria tremendo impacto econômico e social e praticamente não houve algum. O computador gerou uma história ainda mais estranha. No final dos anos quarenta, ninguém previa que o computador seria utilizado pelas empresas e os governos. Embora o computador fosse uma grande revolução científica, todos sabiam que seu principal uso seria nas ciências e nas guerras. Como resultado, o estudo mais amplo de pesquisa de mercado realizado naquela época chegou à conclusão de que o mercado mundial de computadores conseguiria absorver, no máximo, mil equipamentos até o ano dois mil. Passados somente vinte anos, havia aproximadamente cento e cinquenta mil computadores instalados no mundo, muitos deles fazendo as tarefas mais mundanas de contabilidade.
Em seguida, alguns anos depois, quando se tornou evidente que as empresas estavam comprando computadores para a folha de pagamentos ou cobrança, os especialistas previram que os computadores substituiriam a média gerência, de forma que não ficaria alguém entre o CEO e o contramestre. "A média gerência está obsoleta?", indagava um artigo amplamente citado publicado na Harvard Business Review no início dos anos cinquenta; e ele respondia a esta questão retórica com um sonoro "Sim. Exatamente naquele momento, começava uma tremenda expansão dos empregos de média gerência. Em todos os países desenvolvidos, os empregos de média gerência ( tanto nas empresas quanto nos governos ) cresceram nos últimos cinquenta anos cerca de três vezes mais rápido do que o total de empregos; e este crescimento ocorreu em paralelo ao crescimento no uso de computadores.
Qualquer pessoa que dependesse de avaliação de tecnologia no início dos anos cinquenta teria eliminado as faculdades de Administração, pois é provável que elas formariam profissionais que possivelmente não conseguiriam encontrar empregos. Felizmente, os jovens não ouviram estas previsões e afluíram em número recorde para as faculdades de Administração para conseguir empregos que o computador ajudou a criar.
Mas enquanto ninguém previa o impacto do computador sobre os empregos de média gerência, todo especialista previa um tremendo impacto do computador sobre a estratégia das empresas, a política das empresas, o planejamento e a alta administração ( em nenhum destes o computador teve, contudo o menor impacto ). Ao mesmo tempo, ninguém previu a verdadeira revolução na política e na estratégia empresariais nos anos cinquenta e sessenta, a onda de fusões e os conglomerados. Outras informações podem ser obtidas no livro Rumo à nova economia, de autoria de Peter F. Drucker.
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