quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Primeiro setor: imprimindo centralidade à administração

É sabido que a administração ou gestão independe de propriedade, hierarquia ou poder. É uma função objetiva que deve fundamentar-se na responsabilidade pelo desempenho. É uma atividade profissional - a administração ou gestão é uma função, uma disciplina, uma tarefa a ser executada; e os gestores são os profissionais que praticam a disciplina, que executam as funções, que se desincumbem de suas tarefas. Já não importa que o gestor também seja proprietário; a propriedade é mero incidente em relação à função principal, que é gerenciar.

A sociedade no mundo ocidental era uma sociedade empresarial, ou de negócios - há noventa e cinco anos. Naquela época, as empresas eram, sem dúvida, as mais poderosas de todas as instituições - mais poderosas até que alguns governos. Desde a virada para o século vinte, contudo, a importância das empresas decresceu precipitosamente - não porque as empresas tenham ficado menores ou mais fracas, mas porque outras instituições cresceram com muito mais rapidez. As empresas já não são a instituição em si mais importante da sociedade; outras instituições também cresceram, para tornar-se tão ou mais importantes. A sociedade tornou-se pluralista.

Nos Estados Unidos, na década de setenta, nenhum empresário se compara em poder ou visibilidade com os magnatas da década de mil e novecentos, como J. P. Morgan, John D. Rockefeller ou - um pouco mais tarde - Henry Ford. Poucas pessoas hoje sabem o nome dos CEOs (Chief Executive Oficcer, ou Chefe Executivo de Ofício) das maiores empresas americanas. No entanto, os nomes os magnatas eram termos familiares. Nem mesmo as maiores empresas da atualidade se comparam em poder e até em riqueza relativa com aqueles magnatas, que eram capazes de manter o governo americano como refém.

As empresas perderam o poder. Nenhuma empresa hoje - tem uma fração do poder das grandes universidades de hoje. A conceber ou denegar acesso a empregos e padrões de vida. Nenhuma empresa e, de resto, nenhuma outra instituição jamais exerceu tanta influência na história americana. Com efeito, jamais se permitiu que nenhuma outra instituição fosse tão poderosa e influente.

Nos Estados Unidos da década de mil e novecentos, praticamente a única oportunidade de carreira que se abria para pessoas jovens e ambiciosas era em empresas. Hoje, há muitas outras, cada uma prometendo tanto (ou mais) renda e progresso quanto uma carreira em negócios.

Por volta do começo do século vinte, a parcela do produto nacional bruto (PNB) que não se destinasse à agricultura se concentrava na economia das empresas privadas. As instituições de serviços não empresariais, começando como o governo, respondiam, provavelmente, por mais que dez por cento do PNB não agrícola dos Estados Unidos, até a Primeira Guerra Mundial. Hoje, embora a agricultura também seja, em grande parte, atividade empresarial, mais da metade do PNB dos Estados Unidos é gerado ou envolve instituições de serviços, que não são empresas e não são responsáveis pelo desempenho econômico.

Atualmente, mais de um terço do PNB dos Estados Unidos vai diretamente para os governos federal, estadual e local. Outros três a cinco por cento vão para escolas não governamentais, ou seja, instituições privadas e religiosas, inclusive faculdades e universidades não governamentais. Outros cinco por cento do PNB, ou seja, dois terços de toda a conta referente a assistência médica, também são não governamentais, assim como não empresariais. Além disso, há uma grande variedade de instituições sem fins lucrativos, que respondem por outros dois a cinco por cento do PNB. Isso se adiciona aos cinquenta por cento ou talvez nada menos que sessenta por cento do PNB americano que não vai para o setor de negócios, mas que se destina a ou envolve instituições de serviços públicos.

Com efeito, ainda que a atual safra de radicais fale em sociedades de grandes empresas, as ações deles demonstram a consciência aguda de que as empresas já não são as instituições dominantes. Todos os períodos de inquietação pública desde o final das Guerras Napoleônicas, começaram com levantes contra as empresas. Mas a revolta contra a autoridade, que varreu os países desenvolvidos na década de sessenta, centrou-se nas instituições - em especial nas universidades - , que eram as mais estimadas pelos radicais de ontem e que se destacavam, assim dizendo, como entidades do bem há cinquenta ou sessenta anos.

As instituições não empresariais de serviços públicos não precisam de menos administração que as empresas. Talvez necessitem de mais administração.

Constata-se preocupação crescente com a administração de instituições não empresariais.

Entre os melhores clientes das grandes empresas de consultoria americanas nos últimos trinta ou trinta e cinco anos destacam-se órgãos públicos como o Departamento de Defesa, a prefeitura da cidade de Nova Iorque ou o Banco da Inglaterra. Quando o Canadá, em fins da década de sessenta, criou um serviço militar unificado, com exército, marinha e aeronáutica combinadas, a primeira conferência dos generais e almirantes canadenses não foi sobre estratégia; foi sobre administração. As ordens veneráveis da Igreja Católica estão envolvidas com estudos organizacionais e com desenvolvimento gerencial, com os jesuítas na liderança.

Um número crescente de alunos de cursos de gestão avançada não são executivos de empresas, mas sim, executivos de hospitais, das forças armadas, de governos municipais e estaduais e de escolas. A Harvard Business School até oferece um curso de gestão avançada para reitores de universidades.

A administração de instituições não empresariais será, de fato, objeto de preocupações crescentes. A gestão dessas entidades talvez se transforme no principal problema da administração, de um modo geral - talvez pelo simples fato de as deficiências da gestão das instituições de serviço público serem uma debilidade tão clamorosa, tanto nos departamentos de água municipais quanto nas instituições de ensino superior.

No entanto, a administração de empresas é sempre o exemplo típico. E qualquer texto sobre administração, como por exemplo este, precisa imprimir centralidade à administração. Outras informações podem ser obtidas no livro Pessoas e desempenhos, de autoria de Peter F. Drucker.

Mais em http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/primeiro-setor-imprimindo-centralidade-a-admininstracao/108515/

Nenhum comentário:

Postar um comentário