sexta-feira, 15 de junho de 2018

Inovação: empresas incapazes de inovar estão fadadas à decadência e à extinção

A necessidade de inovar é mencionada - na verdade, enfatizada - em todos os livros de administração. Mas, além disso, os livros, em geral, prestam pouca atenção ao que a administração e a organização precisam ser e precisam estimular, para dirigir e tornar eficaz a inovação. A maioria das discussões salienta, quase exclusivamente, a função rotineira da administração, ou seja, a tarefa de manter e melhorar o que já é conhecido e o que, em grande parte, já está sendo feito. Pouca reflexão ou pouco espaço normalmente se dedica à função empreendedora de criar de maneira eficaz e deliberada o novo e o diferente.

Ao negligenciarem a administração da inovação, os livros só estão refletindo a realidade das empresas. todas as administrações enfatizam a necessidade de inovar. Mas poucas, nas empresas grandes e pequenas, organizam a inovação como tarefa distinta e importante. Decerto, nos últimos setenta anos, ou seja, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a pesquisa entrou na moda. Gasta-se muito dinheiro com ela. Mas, em muitas empresas, o resultado tem sido melhoria, em vez de inovação.

A afirmação é ainda mais inquestionável nas instituições de serviços públicos.

Havia boas razões no passado para que o foco na função administrativa menosprezasse a inovação. Quando, no começo, a administração se tornou de interesse geral, nos primeiros anos do século vinte, a grande nova necessidade era aprender a organizar, estruturar e orientar a organização humana de grande escala, que, de súbito, irrompia no cenário. A inovação, em grande parte, não era considerada, em absoluto, atributo dos gestores. Ela era vista como tarefa do inventor, que trabalhava na própria oficina, talvez com um ou dois ajudantes. e, mesmo quando o inventor foi substituído pelo laboratório de pesquisas organizado - o primeiro dos quais surgiu por volta do anos mil e novecentos - , a inovação continuava sendo entendida como tarefa de um especialista, ou seja, algo científico e técnico, e assunto para pesquisa.

Além disso, não havia muito escopo para a inova no período de mil novecentos e vinte a mil novecentos e cinquenta, quando já se fazia boa parte do trabalho básico da administração. Pois, ao contrário da crença comum, esses não foram anos de mudanças rápidas, na tecnologia ou na sociedade. Foram anos em que, de modo geral, a tecnologia se desenvolvia sobre alicerces construídos antes da Primeira Guerra Mundial, ou seja, antes de mil novecentos e quatorze e, em grande parte, antes do ano mil e novecentos. E, embora tenham sido anos de termenda turbulência política, as instituições sociais e econômicas estavam estagnadas. Com efeito, o mesmo se pode afirmar em relação às ideias sociais e econômicas. As grandes ideias revolucionárias que estiveram em voga nos últimos noventa anos são de pensadores que viveram ou, pelo menos, cujas raízes estão fincadas no século dezenove.

Agora, contudo, talvez o mundo esteja entrando em um período de rápidas transformações, mais comparável em seus aspectos básicos com as últimas décadas do século dezenove que com o passado imediato ao qual o mundo está afeito. Em fins do século dezenove, novas invenções importantes, que levaram quase imediatamente ao surgimento de um novo setor industrial, afloravam com intervalos de poucos meses, em média. Esse período começou em mil oitocentos e cinquenta e seis, ano em que se assistiu ao surgimento tanto do dínamo, de Siemens, quanto da tintura à base de anilina, e Perkins. E terminou com o desenvolvimento da moderna válvula eletrônica, em mil novecentos e onze. Entrementes, emergiram a máquina de datilografia e o automóvel, a Lâmpada elétrica, fibras têxteis artificiais, tratores, bondes, medicamentos sintéticos, telefone, rádio e avião - para mencionar apenas uma poucas. Nesse interlúdio, em poucas palavras, desabrochou o mundo moderno.

Em contraste, nenhum setor de atividade verdadeiramente novo irrompeu depois de mil novecentos e quatorze, até fins da década de cinquenta, quando os computadores se tornaram operacionais.

Entre mil oitocentos e setenta e mil novecentos e quatorze, a geografia industrial do mundo passou por rápidas transformações. Uma nova grande área industrial importante despontava, em média, a cada década ou algo parecido: Estados Unidos e Alemanha, entre mil oitocentos e sessenta e mil oitocentos e setenta; Rússia ocidental e Japão, os vinte anos seguintes; Europa Central ( ou seja, parte ocidental da região do antigo Império Áustro-húngaro e norte da Itália ), por volta de mil e novecentos. No período entre guerras, nenhuma grande área industrial nova se juntou ao clube industrial.

Agora, contudo, há sinais de rápidas mudanças, com Brasil e China, por exemplo, se aproximando do ponto de decolagem. é até possível que o Brasil já tenha atingido, na visão de Peter F. Drucker. Agora, em outras palavras, há sinais de que as relações econômicas básicas estarão em rápida mudança e fluxo. o abandono do dólar como principal moeda, em mil novecentos e setenta e um, pôs fim a um período em que o ontem era a norma e introduziu outra fase, de grandes e rápidas transformações e de importantes inovações na economia, na moeda e no crédito internacional.

Mas a necessidade de inovação será igualmente grande no campo social. E as instituições de serviços públicos também terão de aprender a gerenciar a inovação.

Da mesma maneira como o fim do século dezenove foi um período de grande atividade inovadora em tecnologia, assim também ocorreu com as instituições sociais e econômicas. E, do mesmo modo os cinquenta anos subsequentes à Primeira Guerra Mundial se caracterizaram como período de continuidade tecnológica, em qualquer lugar de rápidas mudanças e inovações, também foram anos de continuidade nas instituições sociais e econômicas. O governo como se conhece hoje foi criado em grande parte na época  da Primeira Guerra Mundial. A reforma do Governo Local, na Inglaterra, que começou em meados do século dezenove, deflagrou o trabalho de redefinição de uma das instituições mais antigas do ser humano, o governo; criou novas instituições e novos relacionamentos; e, acima de tudo, estabeleceu novas tarefas para o governo moderno. A construção do Estado do bem-estar social moderno começou pouco depois, na Alemanha de Bismarck. Mais ou menos na mesma época, na década de mil oitocentos e sessenta, os Estados Unidos fizeram uma grande contribuição para a arte e para a prática do governo: a comissão regulatória. Cada uma das reformas do New Deal, da década de mil oitocentos de trinta, foi discutida, elaborada, e, em muitos casos, posta em prática no nível local ou estadual, vinte anos antes, ou seja, na Era Progressista, pouco antes da Primeira Guerra Mundial.

A grande universidade americana foi criação inovadora de meia dúzia de brilhantes presidentes de universidades, entre mil oitocentos e sessenta e mil e novecentos. O hospital moderno foi basicamente projetado entre mil e novecentos e mil novecentos e vinte. As forças armadas assumiram a forma atual nos dois grandes conflitos de meados dos século dezenove, a Guerra Civil Americana e a Guerra Franco-Prussiana, de mil oitocentos e setenta. Desde então, o desenvolvimento tem sido linear - maiores exércitos, mais poder de fogo, mais blindados, porém, fundamentalmente, as mesmas estratégias e táticas e, na verdade, até a mesma ênfase na tecnologia de hardware. Mesmo inovações tecnológicas radicais, como o tanque e o avião, se integraram, em grande parte, nas estruturas de comando tradicionais e nas doutrinas militares tradicionais.

Agora, a necessidade de inovações sociais e políticas mais uma vez se torna urgente. As cidades modernas precisam de novas formas de governo. As relações entre as pessoas e o meio ambiente devem ser repensadas e reestruturadas. Os governos modernos não mais governam com eficácia. A crise do mundo é, acima de tudo, uma crise institucional que exige inovação institucional.

O empreendimento de negócios, sua estrutura e organização, a maneira como integra conhecimento no trabalho e trabalho no desempenho - e a forma como insere suas realizações e apresentam grandes oportunidades de inovação. Decerto, necessita-se nas esferas social e econômica de outro período de atividade inovadora, como viveu-se pela última vez na segunda metade do século dezenove.

No entanto, em acentuado contraste com o século dezenove, a inovação, de agora em diante, terá de basear-se nas organizações existentes. Grandes empreendimentos de negócios e, igualmente, grandes instituições de serviços públicos precisarão tornar-se cada vez mais capazes de organizar-se para a inovação, assim como para a administração.

Em primeiro lugar, elas controlam o acesso a recursos humanos e recursos de capital em grau inimaginável há cento e vinte anos. Mas também a proporção entre invenção ou pesquisa e os esforços necessários para converter os resultados da invenção ou da pesquisa em novos negócios, novos produtos ou novas instituições passaram por mudanças significativas. Hoje se aceita, mesmo como regra prática, que para cada dólar gasto com a geração de ideias é preciso gastar pelo menos dez dólares em pesquisa para converter a ideia em nova descoberta ou em nova invenção. Para cada dez dólares gastos com pesquisa, devem-se gastar pelo menos cem dólares em desenvolvimento, e para cada cem dólares gastos com desenvolvimento, algo entre mil e dez mil dólares são necessários para introduzir e consolidar um novo produto ou um novo negócio no mercado. E só se pode falar em inovação quando o novo negócio ou o novo produto se estabelece no mercado.

Inovação não é termo técnico. É termo econômico e social. Seu critério não é ciência nem tecnologia, mas uma mudança no ambiente econômico ou social, uma mudança no comportamento das pessoas como consumidores ou produtores, como cidadãos, como alunos ou como professores, e assim por diante. A inovação cria nova riqueza ou novo potencial para a ação, em vez de novo conhecimento. Isso significa que o grosso dos esforços inovadores terá de advir de lugares que controlam os recursos humanos e os recursos financeiros necessários para o desenvolvimento e marketing, isto é, dos atuais grandes agregados de pessoas e de dinheiro disponíveis - as empresas e as instituições de serviços públicos existentes.

A afirmação é ainda mais pertinente em relação às instituições de serviços públicos. Há cento e vinte anos, elas eram poucas e pequenas. A tarefa, então, era em grande parte criar novas instituições onde não havia nenhuma. Hoje, essas instituições são maciças e dominam o panorama social, político e econômico. Elas representam as burocracias, as concentrações de expertise, as atribuições e os programas hoje existentes e em curso. Se elas não puderem ser inovadoras, as novas de que são necessárias têm pouca chance de tornar-se inovações eficazes. É provável que sejam sufocadas pelos gigantes musculosos dos grandes governos e das grandes forças armadas, das grandes universidades e dos grades hospitais, e muitos outros.

Isso não significa que as pequenas empresas, ou mesmo o empreendedor solitário, não continuarão a desempenhar papel importante. Nada está mais longe da verdade que o mito populista segundo o qual o indivíduo isolado está sendo espremido do mercado pelos gigantes. As empresas inovadoras, em crescimento acelerado, dos últimos quarenta e cinco anos, todas começaram como pequenos negócios. E, de modo geral, as pequenas empresas se saíram muito melhor que os gigantes.

Em todos os setores de atividade, exceto naquelas em que se formam monopólios protegidos pelo governo ( por exemplo, ferrovias ), as pequenas novatas, que há poucos anos eram desconhecidas, conquistaram grandes posições no mercado e se mostraram mais que capazes de competir com os gigantes. Como já foi referido por Peter F. Drucker, essa situação é ainda mais inequívoca onde os gigantes, em consequência do crescimento natural ou de políticas deliberadas, se converteram em conglomerados. Na indústria química, na indústria  de equipamentos elétricos e em muitas outras, o gigante tradicional, a General Eletric, perdeu posição no mercado e fatia de mercado em muitas áreas - em geral, para forasteiras ( do ponto de vista norte-americano ) de pequeno ou médio porte, com inclinação inovadora.

As empresas tradicionais que na era da inovação não são capazes de inovar estão fadadas à decadência e à extinção. E a administração que, nesta época, não souber gerenciar é incompemetente e despreparada para a tarefa. A gestão da inovação se tornará, cada vez mais, não só um desafio para a administração, sobretudo para a alta administração, mas também a pedra angular de sua competência. Outras informações podem ser obtidas no livro Fator humano e desempenho, de autoria de Peter F. Drucker.

Mais em

http://www.administradores.com.br/artigos/empreendedorismo/inovacao-empresas-incapazes-de-inovar-estao-fadadas-a-decadencia-e-a-extincao/110971/  

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