segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Investimento estrangeiro: China reduz investimentos no Brasil em 74%. Maior queda desde 2014

Os investimentos diretos da China no Brasil caíram 74% em 2020, para US$ 1,9 bilhão. Foi o menor valor anual desde 2014, conforme estudo do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). Segundo o levantamento, que cobre o período de 2007 a 2020, os aportes chineses no país acumularam US$ 66,1 bilhões (R$ 343,2 bilhões), em 176 projetos.

Relação Brasil-China


Nesse período, o Brasil ficou com 47% dos investimentos totais da China na América do Sul. Em 2019, eles atingiram US$ 7,3 bilhões, com crescimento de 117% em relação a 2018. Já no ano passado, o volume recuou para US$ 1,9 bilhão, com queda de 74%.

Conforme o estudo, divulgado em 5 de agosto, os investimentos chineses no Brasil são concentrados nos setores elétrico (com 48% do total de 2007 a 2020) e petrolífero (com 28% do total). Também são feitos majoritariamente por 16 empresas estatais centrais – diretamente subordinadas ao Conselho de Estado da China – que responderam por 82% dos investimentos acumulados no Brasil de 2007 a 2020.

Brasil e China estabeleceram relações diplomáticas em 15 de agosto de 1974, durante o governo do general Ernesto Geisel, contrariando a “linha dura” da época. Com disso, em plena vigência da guerra fria, a medida contribuiu para aprofundar as relações comerciais que culminaram durante dos governos Lula e Dilma. E também na formação do BRICS, com Rússia, Índia e África do Sul.

No setor elétrico, um dos destaques é a State Grid – que levou, em leilões de concessão, a operação de grandes linhas de transmissão, como as que conectam a hidrelétrica de Belo Monte, e adquiriu o controle da CPFL. Outro é a China Three Gorges (CTG) – dona da hidrelétrica chinesa de mesmo nome e maior geradora privada de energia no Brasil. Segundo o CEBC, a maioria dos ativos dessas duas estatais fora da China está no Brasil.

No setor de petróleo, estão no Brasil a China Petrochemical Corporation (Sinopec), a China National Petroleum Corporation (CNPC), a China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) e a Sinochem. Elas têm investido principalmente em consórcios com a Petrobras para explorar campos de petróleo e gás na camada pré-sal.

Segundo o diretor de Conteúdo e Pesquisa do CEBC, Tulio Cariello, a concentração dos valores investidos nos setores elétrico e petrolífero está relacionada ao fato de que eles são intensivos em capital. Além disso, comparados a outros setores igualmente intensivos em capital, como transportes e logística, estão mais abertos a investimentos estrangeiros, em termos regulatórios e de oportunidades.

Por outro lado, a análise por número de projetos sugere que a concentração é menor, ponderou o diretor do CEBC. Dos 176 projetos com investimento chinês de 2007 a 2020, 31% são do setor elétrico, enquanto 28% são da indústria manufatureira.

São empreendimentos nos setores automotivo, eletroeletrônico, químico e de máquinas e equipamentos. Em valores, respondem por apenas 6% dos investimentos de 2007 a 2020, pois comprar ou construir uma fábrica é mais barato do que tirar do papel grandes obras de infraestrutura.

Também com valores relativamente menores, o setor de tecnologia da informação (TI) respondeu por 7% dos projetos registrados pelo CEBC em 14 anos. Entre os negócios mais conhecidos estão a compra do controle do aplicativo de táxis brasileiro 99 pela Didi Chuxing e o investimento da Tencent, dona do app de mensagens WeChat, no Nubank.

Em relação à forma de ingresso dos investimentos, 70% dos aportes de 2007 a 2020 se deram por meio de fusões e aquisições. Embora, tradicionalmente, esses investimentos movimentem menos a economia, já que não constroem ativos do zero, Cariello lembrou que muitas das empresas compradas pelos chineses estavam em dificuldades.

Segundo dados da Rede Acadêmica da América Latina e do Caribe sobre China (Rede ALC-China), citados pelo estudo, investimentos chineses em novos projetos no Brasil geraram 34,5 mil empregos de 2003 a 2020. Enquanto isso, as aquisições de investidores chineses teriam mantido um total de 140,4 mil postos de trabalho no país.

Investimentos estrangeiros diretos sofreram queda recorde


“Em 2020, a queda (nos investimentos estrangeiros) foi sentida de forma geral no mundo”, afirmou o diretor de Conteúdo e Pesquisa do CEBC, Tulio Cariello. Os investimentos mundiais da China, que chegaram a US$ 170 bilhões em 2016, recuaram para US$ 110 bilhões no ano passado.

No ano passado, os investimentos diretos no País (IDP), de todas as origens, tombaram à metade, para US$ 34,167 bilhões, conforme dados do Banco Central (BC). Ao mesmo tempo, o fluxo global de investimentos caiu 35% ante 2019, para US$ 1 trilhão, segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad).

Já os investimentos estrangeiros diretos (IED) atingiram o pior patamar dos últimos 12 anos no Brasil, tendo registrado valores inferiores aos da crise financeira internacional, em 2008. O aporte de capital estrangeiro diminuiu 35,4% no ano passado, em comparação com 2019. Em valores absolutos, a porcentagem representa uma queda aproximada de US$ 24 bilhões nos investimentos externos.

Os números fazem parte do relatório anual O Investimento Estrangeiro Direto na América Latina e no Caribe 2021, também divulgado na última quinta-feira, pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), ligada às Nações Unidas.

“O que a região tem de fazer para encarar um profundo processo de transformação? Explicitar planos estratégicos de recuperação e de investimento associados a setores dinâmicos para um grande impulso ambiental. Se não fizermos isso, o investimento estrangeiro direto irá para a Europa, a América do Norte e alguns países da Ásia”, afirmou a secretária-executiva da organização, Alicia Bárcena, em coletiva virtual.

“Os investimentos das transnacionais foram reduzidos e está se aprofundando a tendência dos investidores de ir para os países desenvolvidos. Os países desenvolvidos enviaram sinais muito claros de investimentos públicos que irão para setores estratégicos como infraestrutura, energia e sustentabilidade ambiental”, concluiu.

Um terço das exportações brasileiras foi para a China em 2020


Principal destino das exportações brasileiras, a participação chinesa em tudo que o país vende ao exterior avançou quatro pontos porcentuais em 2020. A parcela subiu de pouco mais de um quarto para um terço das exportações, batendo em 32,3%. Enquanto os chineses ganharam terreno, as exportações para os Estados Unidos caíram 27,6%.

“Apesar dos atritos com o Brasil, a China é pragmática e se planeja para o longo prazo. Eles sabem que, da mesma forma que Trump passou, Bolsonaro também vai passar”, diz Welber Barral, estrategista do Banco Ourinvest e ex-secretário nacional de Comércio Exterior.

Os chineses sonham com a volta dos anos de Governo Lula, quando o estreitamento das relações diplomáticas levou a China a se tornar o maior parceiro comercial do Brasil em 2009, mesmo após a crise mundial de 2008.

O primeiro passo para a aproximação com a China ocorreu em 2004, durante a comemoração do aniversário de 30 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países. Lula visitou a China e assinou com o presidente chinês Hu Jintao diversos documentos para fortalecer a cooperação bilateral.

Em novembro do mesmo ano, Hu Jintao retribuiu a visita vindo ao Brasil. O governo brasileiro decidiu conceder à China o status de economia de mercado, sob fortes protestos do empresariado brasileiro, em particular da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). Ainda em 2004, também foi fundado o Conselho Empresarial Brasil-China, dedicado ao diálogo entre empresas dos dois países.

Lula voltou à China em 2008, para participar da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, e em maio de 2009, quando a China superou os Estados Unidos e se tornou o principal parceiro comercial do Brasil. No ano seguinte, Hu Jintao participou na II Cúpula do BRICS, em Brasília. Em 2010 ocorreu ainda a reunião do foro bilateral ‘Brasil-China: Estratégias de Cooperação e Integração’, no Rio de Janeiro.

Em 2012, já sob Dilma Rousseff, as relações foram elevadas ao nível de “Parceria Estratégica Global”. No mesmo ano, estabeleceu-se o Diálogo Estratégico Global (DEG) e firmou-se o Plano Decenal de Cooperação (2012-2021). Os países fundaram conjuntamente o grupo BRICS, o Novo Banco de Desenvolvimento e o Arranjo Contingente de Reservas.

Em 2015, Dilma e Li Keqiang, primeiro ministro chinês, celebraram acordos que envolveram US$ 53 bilhões em investimentos e US$ 50 bilhões em financiamentos em obras de infraestrutura. Além de um fundo bilateral de cooperação, de US$ 20 bilhões.

De US$ 3,2 bilhões em 2001, a corrente de comércio Brasil-China passou para US$ 98 bilhões em 2019 (volume quase igual ao recorde alcançado no ano anterior, de US$ 98,9 bilhões). Em 2019, o Brasil exportou para a China um total de US$ 62,8 bilhões e importou US$ 35,2 bilhões. Em 2018, os montantes foram de US$ 64,2 bilhões e US$ 34,7 bilhões.

Com informações de pt.org.br .

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