quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Direitos Humanos: prefeito demite professor por apresentar clipe "Etérea", do cantor "Criolo" a alunos em SC

A decisão do prefeito Clésio Salvaro (PSDB), de demitir o professor de Artes que expos o clipe Etérea, do cantor Criolo, durante uma aula da Escola Municipal Pascoal Meller na manhã da última terça-feira (24), repercute em Criciúma. Um grupo denunciará Salvaro ao Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) por homofobia e promoverá um protesto no próximo sábado (28).

Prefeito anunciou demissão do professor na noite desta quarta
Prefeito anunciou demissão do professor na noite desta quarta (Foto: Jhulian Pereira / Divulgação)



Em manifestação sobre o tema na noite desta quarta-feira (25), quando confirmou a demissão do professor, Salvaro usou o termo "viadagem" para definir o que, na sua ótica, estava ocorrendo em sala de aula. - Já estou determinando a imediata exoneração daquele professor - avisou. - Nós não permitimos, não toleramos - disse. - Essa viadagem na sala de aula nós não concordamos - completou. Em nota, a Secretaria Municipal de Educação confirmou o desligamento do professor e que o conteúdo por ele oferecido não constava no plano de aula e era considerado "inadequado".

Há uma versão mais recente de que o professor não teria sido demitido, ao contrário do que o prefeito informou, mas sim pedido desligamento do cargo. Ele encontra-se bastante abalado, está recebendo assistência psicológica e jurídica e avalia a possibilidade de mover ação contra o prefeito.

"Constrangedor para Criciúma"

Para a vereadora Giovana Mondardo (PCdoB), que lidera o grupo que monta a denúncia contra Salvaro ao MPSC, "esse assunto é constrangedor para Criciúma". - Me deparei com o vídeo do prefeito Salvaro preocupado com um clipe premiado pelo Grammy, apresentado por um professor de Artes para alunos de 14 e 15 anos retratando arte, o que é convencional e natural da vida em sociedade - pontuou.

A vereadora lembrou que os alunos são de nono ano da escola municipal. Ela apontou que Salvaro se esquiva de temas urgentes do cotidiano. - O termo que ele utilizou, que essa viadagem não será tolerada em sala de aula, além de homofóbico caracteriza um prefeito que abriu mão das pautas urgentes. Segundo o Ministério da Cidadania, são mais de 10 mil pessoas vivendo em situação de miséria aqui na cidade. Temos problemas sérios de desemprego, da vida real, que vão além da pandemia - afirmou.

Giovana recordou que não se trata de um caso isolado. - Em 2017 o prefeito já havia feito declarações assim - sublinhou. - O PCdoB e entidades como União Nacional LGBT, ABGLT, Mães pela Diversidade e OAB Diversidade também se posicionaram contra as falas preconceituosas do prefeito e também devem entrar judicialmente contra o prefeito de Criciúma - completou a vereadora.

Vereadora Giovana lembra que Salvaro já usou o termo "viadagem" em outra ocasião
Vereadora Giovana lembra que Salvaro já usou o termo "viadagem" em outra ocasião
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"A gente não está mais na Idade Média"

Um ato está sendo organizado para o próximo sábado, diante da prefeitura de Criciúma a partir das 14h. - Esse episódio mobilizou muitos jovens, homens e mulheres que se comprometem com o que falta, amar sem barreiras, superar o preconceito. A gente não está mais na Idade Média e talvez alguém tenha que avisar o prefeito, talvez tenha que ser eu - emendou Giovana.

Prefeito disse mais: "palhaçada"


Depois de o caso ter vindo à tona, a partir de denúncias de pais dos alunos envolvidos, o vereador Obadias Benones (Avante) procurou o prefeito para informa-lo. Benones postou vídeo nas redes sociais ao lado de Salvaro abordando o tema na noite desta quarta.

- Tivemos uma situação desagradável em uma escola nossa, alguns pais nos procuraram - disse o vereador. O prefeito parabenizou o parlamentar. - Eu estava em Florianópolis, retornei e tomei a providência. Ele foi demitido imediatamente, nós não toleramos esse comportamento inapropriado, dessas imagens erotizadas - reforçou. - Escola é lugar para aprender outras coisas, não essa palhaçada - destacou Salvaro.

Obadias Benones é jornalista e pastor evangélico, além de vereador em primeiro mandato e foi dele o projeto aprovado na Câmara e que tornou-se lei na semana passada em Criciúma, que proíbe o ensino de linguagem neutra em escolas municipais.

Adversária de Salvaro aprovou a medida


Uma das mais acirradas oponentes de Clésio Salvaro a partir da eleição do ano passado, quando terminou em terceiro lugar pelo PL, a advogada e jornalista Júlia Zanatta havia denunciado o caso ainda na terça-feira em suas redes sociais. Na noite desta quarta, ela também usou as redes sociais para se pronunciar.

- Foi bem rápida a ação da prefeitura. Teve uma repercussão enorme, tantos vieram me aplaudir, outros vieram me detonar. A militância LGBT não respeita nossas opiniões, ela ataca - afirmou. - Tivemos o vídeo do prefeito Salvaro dizendo que o vídeo na aula era uma viadagem. A militância LGBT, que me ataca, esses militantes estão chorando, votaram no cara e agora ele taca pau, chamando de viadagem. Eu, ao menos, não enganei vocês - provocou.

Bolsonarista reconhecida, Júlia ocupa cargo federal. Ela é coordenadora regional Sul da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur). Próxima da família Bolsonaro, Júlia advoga para o deputado Eduardo Bolsonaro, de quem é amiga pessoal.

Sindicato dos servidores apoia professor


A presidente do Sindicato dos Servidores Públicos de Criciúma e Região (Siserp), Jucélia Vargas, se solidarizou ao professor demitido, e já ofereceu apoio e incentivo para que ele mova processos visando reparar a situação.

- Eu espero que o professor faça a sua defesa, que processe a senhora Júlia (Zanatta) que faz questão de aparecer a partir de falas horrorosas, preconceituosas mais o discurso homofóbico do prefeito Salvaro, que tem por seu vídeo grande chance de ser processado por crime de homofobia, que é o que ele comete - disse a sindicalista.

Para Jucélia, faltou considerar o contexto no qual o professor exibiu o vídeo para os estudantes. - Pegaram um vídeo desconectado, sem buscar compreender o contexto, o conteúdo, qual a filosofia, o que o professor quis passar, para qual série foi dada, qual a visão dos alunos para compreender. Ofende a liberdade de cátedra, expoe a imagem de um profissional. É um momento horrível que estamos passando - afirmou. 

Presidente do Siserp apoia professor para processar o prefeito
Presidente do Siserp apoia professor para processar o prefeito
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- Em vez de olhar a educação como transformadora, com respeito à diversidade, ficam pegando coisas soltas, desconectadas e reduzindo a imagem de um professor - finalizou.


Com informações de:


Denis Luciano, do jornal Diário Catarinense ( DC )

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