sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Responsabilidade social: a compensação pelos impactos sociais

Cada um é responsável pelos próprios impactos, intencionais ou não intencionais. Esta é a primeira regra. Não há dúvida quanto à responsabilidade da administração pelos impactos sociais da organização. Eles são do interesse da administração.

Na história da Union Carbide, ( * vide nota de rodapé ), a principal razão por que a comunidade se voltou com tanta intensidade contra a empresa provavelmente não foi a poluição resultante de suas operações. A comunidade sabia tanto quanto a Union Carbide ( * vide nota de rodapé ) que a poluição era efeito colateral da produção e, portanto, incidental aos empregados de que dependia. Mas o fato de que a comunidade se ressentia, e com razão, era a recusa reiterada da Union Carbide ( * vide nota de rodapé ), durante muitos anos, em assumir responsabilidade.

Como se é responsável pelos próprios impactos, tende-se a minimizá-los. Quanto menores são os impactos de uma organização, além de seu propósito e de sua missão específicos, melhor ela se conduz, com mais responsabilidade atua, e mais responsável se torna como cidadã, vizinha e colaboradora.

Os impactos que não são essenciais e que não são parte da execução de seu propósito e de sua missão devem reduzir-se ao mínimo inevitável. Ainda que pareçam benefícios, eles se situam além das fronteiras adequadas de sua atuação e de seu controle, e, portanto, mais cedo ou mais tarde, serão consideradas imposições e, como tais, serão objetos de ressentimento e resistência.

Uma das principais razões pelas quais a administração, em seu próprio interesse, deve fomentar a autogovernança da comunidade de trabalho é exatamente o fato de as funções comunitárias da fábrica serem incidentais ao propósito da empresa. Não são essenciais. A empresa existe para produzir sapatos ou balas ou para emitir apólices de seguro. Qualquer controle que vá além do estritamente necessário para a execução de suas operação é incidental á função principal. É um impacto e, como tal, deve ser  minimizado, se não for possível eliminá-lo.

Os impactos são, na melhor das hipóteses, transtornos. Na pior das hipóteses, são danosos. Nunca são benéficos. Na verdade, sempre envolvem custos e ameaças. Os impactos consomem recursos, absorvem ou desperdiçam matérias-primas, ou, no mínimo, demandam esforços da administração. Contudo, nada adicionam ao produto ou serviço e em nada contribuem para a satisfação dos clientes. São atrito, ou seja, custos não produtivos.

Todavia, mesmo os menores impactos tendem a tornar-se crises e escândalos, bem como a impor sérios danos à empresa - ou a qualquer outra organização que desconsidere seus impactos. O que ainda ontem parecia inofensivo - e até benquisto - de repente se torna ofensivo, gera clamor público, converte-se em grande questão. Se a administração não assumir responsabilidade pelo impacto, refletir sobre ele e desenvolver uma solução ótima, a consequência será alguma reação pública restritiva ou punitiva, além da indignação crescente contra a ganância da empresa ou a irresponsabilidade da universidade.

Não basta dizer: "Mas o público não se opõe.". Acima de tudo, não é suficiente afirmar que qualquer iniciativa para enfrentar o problema será impopular, provocará ressentimentos entre os colegas e os associados, além de não ser indispensável. Mais cedo ou mais tarde, a sociedade considerará o impacto um ataque à sua integridade e cobrará alto preço daqueles que não atuaram com responsabilidade para eliminar o impacto para solucionar o problema.

Eis alguns exemplos.

Em fins da década de quarenta e princípios da de cinquenta, uma empresa automobilística americana tentou conscientizar o público americano. A Ford lançou carros com cintos de segurança. Mas as vendas sofreram quedas catastróficas. A empresa teve de recolher os carros com os cintos de segurança e abandonar toda a ideia. Quando, quinze anos depois, o público americano conscientizou-se em relação à segurança, os fabricantes de carros foram alvo de ataques violentos pela total falta de interesse pela segurança e por serem mercadores da morte. E as regulações daí resultantes foram elaboradas tanto para proteger o público quanto para punir as empresas.

Várias concessionárias de serviços públicos de eletricidade tentaram, durante anos, que as comissões estaduais de serviços públicos aprovassem combustíveis com baixo teor de enxofre e dispositivos antipoluição nas chaminés. As comissões as desestimularam sucessivas vezes, com o argumento de que o público tinha o direito de adquirir energia ao custo mais baixo possível. E observaram que, na formulação do preço, não admitiram custos referentes nem ao combustível mais caro nem aos equipamentos antipoluição, de acordo com a legislação vigente. Contudo, quanto a poluição atmosférica se tornou questão de interesse público, as empresas foram apedrejadas por empestear o meio ambiente.

As instituições de serviços públicos, do mesmo modo, pagam o preço por negligenciar seus impactos ou por considerá-los triviais. A Universidade de Colúmbia quase foi destruída por não ter assumido responsabilidade por um impacto, consolando-se com a ideia de que era algo trivial. a explosão que sacudiu os alicerces da instituição, em mil novecentos e sessenta e oito, decorreu de algo absolutamente inócuo e secundário: o plano de construir um novo ginásio destinado não só aos alunos, mas também aos residentes de um gueto negro nas redondezas. Porém, as causas da explosão eram muito mais profundas, ou seja, a convicção por parte dos estudantes e dos professores de que instituições educacionais liberais não devem preocupar-se com os vizinhos de uma comunidade negra.

Outro exemplo de impacto é o da empresa grande demais para o próprio bem e o da comunidade. A empresa grande demais, especialmente a empresa grande demais para a comunidade local, é ameaça para a comunidade, mas, acima de tudo, é ameaça para si mesma. Cabe à administração corrigir a situação, a bem da própria empresa ( ou da universidade ou do hospital ). Ignorar o problema é pôr o ego, o desejo de poder e as injunções da vaidade à frente do bem da instituição e da comunidade. Isso é irresponsabilidade. Outras informações podem ser obtidas no livro Fator humano e desempenho, de autoria de Peter F. Drucker.

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