terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Responsabilidade social: quando o braço fica curto

Os problemas sociais que a ação administrativa converte em oportunidades logo deixam de ser problemas. Os outros, contudo, tendem a degenerar em queixas crônicas, se não em doenças degenerativas.

Nem todos os problemas sociais podem ser resolvidos mediante sua conversão em oportunidades de contribuição e desempenho. Com efeito, os mais sérios destes problemas tendem a desafiar esta abordagem.

Nenhuma empresa, por exemplo, poderia ter feito muito em relação à mais séria doença degenerativa dos Estados Unidos em toda a história - o problema racial. Ele nem mesmo podia ser manejado enquanto a sociedade não mudasse suas convicções e aumentasse sua conscientização - quando já era muito tarde, se não tarde demais. E mesmo que uma administração resolvesse o problema, as demais talvez não a seguissem. Talvez haja uma solução; mas, enquanto ela não for conhecida e visível, tampouco será usada. O problema continua agudo e insolúvel.

As empresas americanas tiveram de seguir a liderança de Ford entre mil novecentos e quatorze e mil novecentos e vinte - embora a escassez de mão de obra tivesse tanto a ver com isso quanto o exemplo de Ford ( * vide nota de rodapé ). Mas poucas empresas americanas imitaram a IBM ( * vide nota de rodapé ) e ainda menos empresas italianas emularam a Olivetti ( * vide nota de rodapé ), não obstante seu sucesso notório.

Qual é, então, a administração social da administração por estes problemas sociais que se tornaram crônicos ou descambaram para doenças degenerativas?

Eles são problemas da administração. A saúde do empreendimento é atribuição gerencial. Empresa saudável e sociedade enferma ou ao menos funcional. A saúde da sociedade é pré-requisito de empresa bem-sucedida e em crescimento.

E é tolice esperar que estes problemas desapareçam se apenas fosse olhado para o outro lado. Os problemas deixam de existir porque alguém faz alguma coisa.

Em relação a estes problemas, é melhor que a administração se certifique de que alguém de fato fez alguma coisa para solucioná-los. O fato de poucas - se é que houve alguma - empresas americanas terem seguido a IBM ( * vide nota de rodapé ) de poucas empresas italianas terem seguido a Olivetti ( * vide nota de rodapé ) é o fracasso da administração. Basicamente, não é muito diferente da incapacidade da administração de manter tecnologias e produtos competitivos. E tampouco as razões são muito diferentes - são miopia, indolência e incompetência.

No entanto, ainda restam as grandes, difíceis e perigosas disfunções da sociedade, os problemas sociais para os quais ninguém desenvolveu uma solução, e que aparentemente não podem ser solucionados nem mesmo atenuados mediante sua conversão em oportunidades de desempenho.

Até que ponto se pode esperar que as empresas - ou qualquer outra das instituições específicas da sociedade - lidem com estes problemas que não decorreram de impactos de suas operações e que não são conversíveis em oportunidades de execução do propósito e da missão da instituição? Em que extensão estas instituições, empresas, universidades ou hospitais devem ter permissão para assumir a responsabilidade?

A retórica de hoje tende a ignorar esta questão. "Eis aqui", disse o ex-prefeito de Nova Iorque, Lindsay, "o gueto negro. Ninguém sabe o que fazer com ele. Por mais que se esforcem os governos, os assistentes sociais e as comunidades, mais parece piorar a situação. Portanto, é melhor que as grandes empresas assumam a responsabilidade".

Compreende-se que o prefeito Lindsay tenha sido tão enfático na busca de ajuda ou de alguém que assumisse o problema. E o problema, que ainda não foi resolvido, é de fato desesperador, constituindo-se em grande ameaça para esta cidade, para a sociedade americana e para todo o mundo ocidental. Mas será que basta tornar o problema dos guetos negros em responsabilidade social da administração? Ou há limites para a responsabilidade social? e Quais são? Outras informações podem ser obtidas no livro Fator humano e desempenho, de autoria de Peter F. Drucker.

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